As pílulas antidepressivas sabotaram a minha vida amorosa

Mulheres revelam como os antidepressivos acabaram com a sua libido

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  • Há quatro anos atrás, Katinka Blackford Newman finalmente colocou fora seus 5 medicamentos
  • Como disse previamente aqui no Mad in Brasil, Katinka reagiu muito mal às drogas antidepressivas
  • A medicação a colocou deprimida e suicida, alucinando como matar a si própria e os seus próprios filhos
  • Ela revela que a droga também leva a ter problemas sexuais – em até 58% dos casos
  • Suprimiu a sua libido, mas que readquiriu o seu desejo por sexo após interromper as pílulas
  • É muito triste, mas há uma minoria de usuários que se queixam de nunca mais haver recuperado a sua  função sexual.

É raro passar um dia que eu deixe de fazer uma oração de gratidão que minha experiência com antidepressivos não tenha terminado em minha morte ou em uma incapacidade permanente. Eu sou um dos estimados 1 a 4 por cento das pessoas que reage mal aos inibidores seletivos da reabsorção da serotonina (ISRS), que incluem Prozac, Seroxat, Cipramil e Cetralina.

A minha história começou quando me foi prescrito o antidepressivo Escitalopram para as noites de insônia, quando eu estava atravessando por um divórcio.

Em poucas horas eu me tornei perigosamente uma psicótica, alucinando que eu iria matar as minhas crianças.

Quando fui levada ao hospital, os médicos falharam em não reconhecer que eu estava sofrendo uma reação adversa à droga e me deram mais pílulas. Ao longo de um ano, eu me tornei tão doente que não conseguia sair de casa.

Por um golpe de sorte, eu fui levada a um outro hospital que me deixou de fora de todos os cinco medicamentos que estava a tomar – e em semanas eu estava melhor, de volta a trabalhar como cineasta e a treinar para uma meia-maratona.

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Isso foi há quatro anos atrás, e apartando os pesadelos e os flashbacks, eu saí ilesa e grata por estar viva.

Recentemente, eu cruzei com um grupo de pessoas que me deram uma outra razão para estar grata.

É porque – como um dos resultados de tomar antidepressivos – muitos não podem fazer sexo e eu posso.

Não é algo sobre o qual muitas pessoas ou médicos irão falar, mas a disfunção sexual é um conhecido efeito colateral dos ISRSs (inibidores seletivos de recaptação da serotonina).

Os sintomas podem incluir disfunção erétil, inabilidade para o orgasmo nas mulheres e dormência genital.

Ao redor de cinco milhões de pessoas no Reino Unido tomam ISRSs, e 58% delas podem estar experimentando esses tipos de efeitos colaterais de natureza sexual, conforme um estudo abalizado, publicado no Journal of Clinical Psychiatry em 2001.

Levando-se em consideração de que se trata de um dos estudos mais aprofundados sobre o tema, foi analisada a incidência de disfunção sexual provocada por antidepressivos em mais do que 1.000 pacientes tratados fora de hospital, e todos tinham uma vida sexual normal antes de serem tratados com antidepressivos.

Os pesquisadores investigaram o fenômeno com alguns dos mais populares ISRSs, incluindo a fluoxetina, melhor conhecida como Prozac.

David Healy, professor de psiquiatria em Cardiff University, acredita que a verdadeira dimensão da disfunção sexual devida aos ISRSs é muito mais elevada.

“A maioria das pessoas terá a experiência de entorpecimento genital 30 minutos após tomar uma pílula”, diz ele.

Por que os ISRSs fazem isso? A teoria do professor Healy é que eles causam danos nas células nervosas na medula espinal ligada à área genital.

“Nós sabemos, quando testadas em animais, que elas causam uma desintegração nas células nervosas da medula espinal.”

Durante o ano em que estive com antidepressivos, sexo era a última coisa que passava pela minha cabeça.

Eu também suponho que isso também era a última coisa na cabeça das pessoas que me encontravam na época, na medida em que a medicação me fez ganhar peso, emocionalmente instável, incapaz até mesmo de concluir uma sentença.

Depois que me livrei dos cinco diferentes medicamentos, o renascimento das emoções foi espantoso.

Mas eu levei um mês para que o meu interesse por sexo retornasse e ser eu mesma como era antes.

Eu fui muito sortuda, na medida em que o efeito na função sexual pode permanecer mesmo após você tenha parado de tomar antidepressivos.

A Disfunção Sexual Pós ISRS (conhecida como PSSD, porque em inglês é Post SSRI Sexual Dysfunction), é exatamente o que ela diz.

Tanto o homem quanto a mulher podem ser afetados, e isso dura semanas, meses, anos ou, em alguns casos, indefinidamente.

O professor Healy, que mantém um sítio na internet (website) onde as pessoas relatam efeitos adversos das drogas,  diz que há muitas pessoas entrando em contato se queixando de serem pacientes com a experiência desses sintomas.

Disfunção sexual não é algo que muitas pessoas se sentem à vontade para discutir, mas Kevin Bennet, 39 anos de idade, de County Durhan, decidiu heroicamente falar em nome dos que sofrem com PSSD.

A sua história começou em 1996, quando ele tinha 18 anos. Seus pais insistiram para que ele fosse a um médico, porque ele havia abandonado a Faculdade.

O clínico geral da atenção primária que tratou Kevin prescreveu Prozac para reduzir a sua ansiedade, na esperança que ele retomasse os seus estudos.

Em quatro dias, Kevin estava totalmente impotente. “Eu fiquei surpreso que a droga fosse tão poderosa ao ponto de causar impotência, porque eu pensava que isso fosse um problema que afetasse os homens idosos. ”

“Contudo, eu não estava em uma relação, e não estava particularmente preocupado com isso porque achava que o problema fosse um efeito colateral temporário. ”

Haviam outros problemas também: Kevin passou a ficar esquecido e sonolento durante o dia. Seu médico, pensando que fosse um sinal de depressão, dobrou a medicação.

As coisas não melhoravam, e por essa época Kevin decidiu fazer um treinamento para engenheiro de aquecimento central. Após quatro meses, Prozac não lhe trazendo benefício algum, Kevin resolveu interromper radicalmente o tratamento.

Em poucas semanas a sonolência de Kevin desapareceu, mas não houve nenhuma melhora em seu funcionamento sexual.

“Quando semanas se tornaram meses, eu comecei a ficar preocupado. ”  O seu primeiro encontro sexual, alguns meses após haver deixado de tomar Prozac, foi um desastre embaraçante.

Um ano mais tarde, em 1997, quando não aparecia sinal algum de melhora, Kevin escreveu à empresa que fabrica a droga, Eli Lilly, pedindo conselho.

Eles escreveram respondendo que Prozac não era a causa do problema, e que por conseguinte ele deveria consultar o seu clínico geral para buscar soluções.

(Desde 2011, a informação do produto tem trazido uma advertência que sintomas de disfunção sexual ocasionalmente persistem após a descontinuação do tratamento com Prozac).

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O médico de Kevin insistiu que a sua impotência deveria ser psicológica, assegurando-lhe que ele estaria bem assim que estivesse em uma relação.

Kevin continuo tentando ter relacionamentos, mas eles eram sempre inibidos pela sua impotência.

“As meninas achavam difícil aceitar que eu estivesse me sentindo atraído por elas, mas impotente, e assim os relacionamentos com frequência eram um fracasso. ”

Em 2002, Kevin conseguiu se envolver em um relacionamento de longo-prazo com uma garota que era muito compreensível, mas o fato persistiu com eles não tendo vida sexual.

Kevin finalmente persuadiu o seu médico da clínica geral para que o enviasse a um especialista, e nos próximos 18 meses ele se consultou com dois urologistas, um radiologista, um neurologista e um endocrinologista.

Testes, incluindo ultrassons e medidas de fluxo sanguíneo, mostraram que tudo estava funcionando normalmente.

Os especialistas concluíram que deveria ser o Prozac que estava sendo a causa, e Kevin foi aconselhado que o melhor a fazer seria terapia injetável, onde um relaxante muscular é injetado exatamente antes da relação sexual.

Com a idade de 27 anos, Kevin voltou a fazer sexo pela primeira vez.

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O inconveniente é que o sexo tinha que ser um evento planejado e as ereções podiam durar horas – “mas tendo sexo isso já era o máximo”.

Dez anos depois, a sua condição não melhorou. “É humilhante”, ele diz. “O que eu acho difícil aceitar é como me tornei impotente. ”

Kevin estava tão irritado que em 2007 ele tomou um voo para os Estados Unidos para dar uma palestra a profissionais a respeito de sua experiência.

Quais são os efeitos colaterais mais comuns?

Efeitos colaterais comuns devidos ao uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) podem incluir:

  • Sentir-se agitado, instável ou ansioso
  • Sentir-se e estar doente
  • Indigestão e dores no estômago
  • Diarreia ou constipação
  • Perda de apetite,
  • Tontura,
  • Não dormir bem (insônia), ou sentir muita sonolência
  • Dores de cabeça
  • Pouca motivação sexual
  • Dificuldades para alcançar o orgasmo durante o sexo ou masturbação
  • Nos homens, dificuldades para obter ou manter uma ereção (disfunção erétil)

NHS (National Health Service*) escolhe

Uma das reações dos médicos era que seus pacientes relutariam a tomar ISRSs, se eles soubessem que poderiam afetar de forma permanente as suas vidas sexualmente.

“Eu fiquei abismado que médicos poderiam realmente pensar que é OK não advertir as pessoas”, diz Kevin.

Ele também perguntou aos médicos do Reino Unido e a Autoridade Reguladora de produtos de Cuidados de Saúde (MHRA) se eles tinham outros casos relatados nas três últimas semanas.

Eles responderam dizendo que tiveram 1.420 casos relatados de disfunção sexual, com 290 persistindo após a droga ter sido interrompido.

Pode não parecer muito, mas o número de pessoas que relatam efeitos colaterais adversos ao sistema de MHRA é uma fração mínima daqueles afetados.

Quando as pessoas experimentam efeitos colaterais sexuais, um outro problema é que os médicos atribuem isso à doença mental que as drogas supostamente tratam.

Evidentemente, a indiferença sexual e a perda de libido são sintomas de depressão, mas qualquer um que experimentou entorpecimento genital causado por um antidepressivo sabe que não é psicossomático.

Para se ter uma ideia do impacto que o efeito colateral pode ter, basta você dar uma olhada em algumas das postagens do grupo de apoio na internet SSRIsex que tem 3.800 membros todos sofrendo de PSSD.

A postagem mais preocupante é o relato de um jovem com 28 anos de idade que se matou em outubro de 2010.

Ele escreveu: “Eu amo muito a vida, e isso tem sido muito difícil para todos. Eu não posso expressar o quanto estou triste com essa minha decisão. Eu estou com muito medo de viver uma vida com impotência e incapacidade.

Não permita que eles lhe convençam que isso é apenas depressão. Essas drogas são o problema, Fim da história. ”

Um porta-voz da Eli Lilly disse: “Não há nada mais importante para nós do que a segurança dos nossos remédios,

Quaisquer questões médicas sobre a fluoxetina foram abordadas em nossas apresentações de dados para reguladores e em revistas científicas e conferências há mais de 20 anos. ”

Texto Original: Katinka Blackford Newman. Publicado em The Daily Mail Em 20 de março de 2017.

Nota do Editor:

* National Health Service (NHS) é o equivalente ao nosso SUS, enquanto sistema de saúde público e universal.

** Não deixe de ver o vídeo de Katinka que está postado na seção Vídeos na página principal do Mad in Brasil, onde ela mostra ao público em geral um pouco de sua experiência de vida com as drogas psicotrópicas.

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E há o seu livro, onde Katinka narra em detalhes a sua experiência