Pacientes com Esquizofrenia Mostram Melhor Funcionamento Laboral Quando Fora de Antipsicóticos

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bernalyn ruizUtilizando dados do Chicago Follow-up Study, durante 20 anos pesquisadores acompanharam 139 pacientes que no começo do estudo haviam sido diagnosticados como psicóticos. Publicado em Psychiatry Research, o estudo relata que, embora os antipsicóticos tenham sido benéficos durante as internações agudas, durante o follow-up os pacientes sem antipsicóticos tiveram um funcionamento bem melhor do que aqueles que estavam fazendo uso de antipsicóticos.

“Evidências negativas sobre a eficácia em longo prazo dos antipsicóticos têm aparecido em nossos próprios estudos longitudinais e nos estudos longitudinais de Wunderink, de Moilanen, Jääskeläinena e colegas usando dados do estudo do Northern Finland Birth Cohort Study, dados das pesquisas dinamarquesas da OPUS, o estudo De Lincoln e Jung na Alemanha, e os estudos de Bland no Canadá (…) Esses estudos longitudinais não têm apresentado efeitos positivos para pacientes em uso de antipsicóticos em longo prazo para a esquizofrenia. Além dos resultados que indicam a raridade de períodos de recuperação completa por intervalos de tempo prolongados para pacientes com antipsicóticos, nossa pesquisa indicou uma taxa significativamente maior de períodos de recuperação para pacientes com esquizofrenia que estiveram fora dos antipsicóticos por intervalos prolongados “.

 Trabalho

Os autores deste estudo chamam a atenção para pesquisas anteriores que apontaram a falta de evidência sobre a eficácia dos antipsicóticos após 3 anos de uso. O artigo de Martin Harrow e colegas faz referência a uma pesquisa anterior que foi apresentada no estudo dinamarquês OPUS que demonstrou melhor funcionamento e maiores taxas de emprego em pacientes fora dos antipsicóticos, ao longo de dez anos.

Os autores deste estudo longitudinal que aqui estamos apresentando objetivaram medir o funcionamento do trabalho em pacientes com esquizofrenia submetidos a tratamento em longo prazo com antipsicótico em comparação com pacientes com esquizofrenia e sem antipsicóticos;  tomando como controle os parâmetros: a gravidade dos ‘sintomas’ e ‘situações pré-mórbidas’.

Utilizando dados do Chicago Follow-up Study, um estudo que examinou o funcionamento, o processo e a recuperação em distúrbios psicóticos, 139 pacientes – (esquizofrenia psicótica, n = 70); amostra de controle (transtorno de humor psicótico) n= 69) – foram acompanhados ao longo de um período de 20 anos de duração. Os pacientes foram recrutados e avaliados inicialmente durante a fase aguda da hospitalização, e seguidos aos 2 anos, 4 ½ anos, 7 ½  anos, 10 anos, 15 anos e 20 anos.

Dos 70 pacientes classificados com esquizofrenia, 58 foram acompanhados no período de 20 anos, 30 foram avaliados em todos os 6 seguimentos (2, 4 ½ , 7 ½ , 10, 15 e 20 anos) e 32 foram avaliados em 5 períodos. Dois pacientes foram avaliados em 4 seguimentos e 6 em menos de 4 seguimentos. 25 pacientes sempre receberam antipsicóticos prescritos e 15 não tiveram antipsicóticos prescritos a partir do 2o.ano de follow-up. Esses dois grupos de comparação foram utilizados na avaliação das diferenças em longo prazo entre os pacientes com antipsicóticos versus os que ficaram sem antipsicóticos.

Martin Harrow

O gráfico acima apresenta o funcionamento do trabalho dos pacientes a quem os antipsicóticos foram continuamente prescritos (n = 25) versus aqueles que viveram sem antipsicóticos nos últimos 18 anos (n = 15). Como a figura mostra, o único ponto do tempo do follow-up em que não houve diferença significativa entre o funcionamento do trabalho entre os dois grupos foi durante o período inicial de 2 anos.

Em cada um dos pontos de tempo restante, o grupo não medicado apresentou desempenho significativamente melhor no funcionamento do trabalho (.000 -.016). A partir da avaliação de 4 1/2  anos, mais de 65% dos pacientes que não estavam em antipsicóticos estavam trabalhando em meio tempo ou mais.

Além disso, os pacientes com antipsicóticos continuamente prescritos foram significativamente mais propensos a ter sintomas negativos do que aqueles sem antipsicóticos prescritos entre os 4 ½ anos e os 20 anos de seguimento, e aqueles com sintomas negativos apresentaram menor probabilidade de trabalhar em 4 dos 6 períodos de seguimento.

Controlando o prognóstico, os pacientes com mau prognóstico e fora dos antipsicóticos tiveram melhor funcionamento do que aqueles com antipsicóticos prescritos e igualmente com mau prognóstico. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos medicados e não medicados com bom potencial prognóstico, o que os autores apontam que pode ser devido ao pequeno número de pacientes com um bom prognóstico no começo da investigação.

Ao combinar todos os resultados dos 70 pacientes com esquizofrenia em todos os seis seguimentos, tomando como referência sintoma e funcionamento, os resultados não apoiaram o uso de antipsicóticos para melhorar o funcionamento, e a razão de probabilidade conduzida pelos autores demonstrou que aqueles sem antipsicóticos tiveram 1,76 vezes mais chances de funcionar adequadamente em comparação com aqueles em antipsicóticos.

Os resultados deste estudo aumentam a crescente literatura que demonstra a falta de efeitos positivos em longo prazo de antipsicóticos para pacientes identificados como tendo esquizofrenia. Os pesquisadores acrescentam que em outros artigos publicados eles relataram igualmente uma maior taxa de recuperação naqueles que estiveram fora dos antipsicóticos.

Em suma, os resultados deste estudo deixam claro que após a marca de 2 anos (em que as diferenças não são significativas), os fora de antipsicóticos têm melhores resultados. Os autores escrevem:

“Os dados indicam que qualquer hipótese baseada na visão de que os antipsicóticos facilitam o funcionamento do trabalho é extremamente duvidosa, uma vez que os resultados para o funcionamento do trabalho funcionaram fortemente (em níveis significativos) na direção oposta”.

 

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Harrow, M., Jobe, T. H., Faull, R. N., & Yang, J. (2017). A 20-Year multi-followup longitudinal study assessing whether antipsychotic medications contribute to work functioning in schizophrenia. Psychiatry Research256, 267-274. (Abstract)