Antidepressivos Aumentam o Risco de Morte

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Peter SimonsNova pesquisa, liderada por Paul Andrews na McMaster University, sugere que o uso de antidepressivos (AD) está associado ao aumento do risco de morte por qualquer causa, além de aumentar o risco de problemas cardíacos. Os TCAs mais antigos (antidepressivos tricíclicos) e os novos ISRS / IRSN (inibidores seletivos da recaptação da serotonina / inibidores da serotonina-norepinefrina) tiveram esse efeito, assim como outros medicamentos como os inibidores da MAO (monoamina oxidase).

Segundo Andrews, “nas amostras da população em geral, as ADs aumentaram o risco de mortalidade em 33% e o risco de experimentar um evento cardiovascular em 14%”.

 

Photo Credit: Flickr
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Outros pesquisadores propuseram que aqueles em antidepressivos possam ter uma depressão mais grave, aumentando o risco de morte independentemente se eles tomaram essas drogas ou não. No entanto, quando Andrews e seus colegas controlaram a depressão pré-medicação, o que eles descobriram foi que o risco aumentou. Quando a depressão pré-medicação foi contabilizada, os TCAs aumentaram o risco de morte em 26% e os ISRSs aumentaram o risco de mortalidade em 49%. Os medicamentos classificados como ‘outros’ (como bupropiona, mirtazapina, trazodona e inibidores de MAO) geraram um risco aumentado de 75% de morte.

Este achado é particularmente preocupante à luz da literatura de pesquisa que repetidamente vem questionando a eficácia dos medicamentos antidepressivos. Na verdade, Andrews escreve que “uma possível explicação é que o uso de AD só leva à uma redução transitória nos sintomas depressivos […] sintomas depressivos sob uso prolongado de AD (ou seja, meses ou mais) são maiores do que seriam sem medicação”.

Andrews e seus colegas explicam as maneiras pelas quais os antidepressivos afetam sistemas amplos em todo o corpo.

“Embora cada AD provavelmente tenha um perfil de sintoma distinto, há boas razões para suspeitar que todos eles degradam o funcionamento de alguns processos adaptativos no corpo”.

Os TCAs afetam principalmente os sistemas de norepinefrina e dopamina. De acordo com os pesquisadores, “Norepinefrina afeta o sistema nervoso simpático e partes do cérebro que envolvem atenção e excitação. A dopamina tem efeitos amplos, incluindo funções imunológicas, endócrinas, renais, gastrointestinais e pancreáticas, bem como a regulação do peso corporal e o tempo de vida saudável”.

Por sua vez, os ISRS / IRSNs afetam principalmente o sistema de serotonina, que é responsável por inúmeros processos corporais.

“A serotonina regula o crescimento, desenvolvimento, reprodução, atividade neuronal, digestão, função imunológica, termorregulação, reparo de tecidos, manutenção, equilíbrio de eletrólitos, função mitocondrial, e armazenamento, mobilização e distribuição de recursos energéticos. Ao bloquear o transportador no cérebro e na periferia, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que são os ADs mais amplamente prescritos, poderem potencialmente degradar inúmeros processos adaptativos”.

A pesquisa foi publicada na revista Psychotherapy and Psychosomatics. Andrews e os outros pesquisadores realizaram uma meta-análise para examinar todos os ensaios relevantes de medicamentos antidepressivos que relataram estatísticas detalhadas sobre a mortalidade e controlados para potenciais fatores de confusão. Dos 16 estudos incluídos na meta-análise, 11 examinaram principalmente pacientes cardiovasculares, enquanto os 5 restantes não. O número total de participantes foi de 378.400, dos quais 140.787 estavam tomando medicamentos antidepressivos.

Curiosamente, o uso de AD não parece aumentar o risco de pacientes que já tenham problemas cardíacos graves. Em alguns estudos anteriores, os antidepressivos demonstraram melhorar a mortalidade em pacientes cardiovasculares.

Os pesquisadores explicam que os ISRS e TCAs têm um efeito anticoagulante, o que pode ser bastante útil para as pessoas com problemas cardiovasculares. No entanto, eles observam que esse mesmo efeito pode ser problemático para a população em geral. Para a pessoa média, “ADs podem inibir a coagulação e assim aumentar o risco de eventos cardiovasculares, particularmente aqueles associados à hemorragia anormal (AVC hemorrágico, por exemplo)”.

Os pesquisadores sugerem que os médicos devem tomar muitos cuidados antes de prescrever ADs.

“Quando o paciente não tem doença cardiovascular, nossos resultados sugerem que o médico deve pensar duas vezes antes da prescrição, porque os ADs aumentam os riscos para a saúde, incluindo o risco de morte”.

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Maslej, M. M., Bolker, B. M., Russell, M. J., Eaton, K., Durisko, Z., Hollon, S. D. . . . Andrews, P. W. (2017). The mortality and myocardial effects of antidepressants are moderated by preexisting cardiovascular disease: A meta-analysis. Psychotherapy & Psychosomatics, 86(5), 268-282. DOI: 10.1159/000477940 (Link)

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.