‘Tiras com dose reduzida’ ajudam as pessoas que desejam interromper o uso de antidepressivos

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Peter SimonsUm novo estudo realizado por Peter Groot e Jim Van-Os revelou que as ‘tiras de redução (tapering strips) ajudam com êxito as pessoas a suspender o uso de antidepressivos. O estudo publicado na revista Psicosis encontrou que, finalmente, 71% foram capazes de ter êxito, ao usar esse novo processo com as ‘tiras de afunilamento’. Esse resultado foi especialmente importante, já que 62% dos participantes haviam no passado feito tentativas de interromper seus antidepressivos, e que foram infrutíferas justamente devido aos sintomas graves experimentados.

“Em muitas partes do mundo, os números de prescrição de medicamentos psiquiátricos continuam em ascensão, entretanto temos invertido pouco tempo e esforço em ajudar as pessoas a chegar ao fim do tratamento e que desejam parar de tomar antidepressivos, por exemplo” escreve o Dr. Groot. “Nosso último estudo observacional revelou claramente que os medicamentos antidepressivos são difíceis de serem interrompidos, e também demonstrou a eficácia da utilização da redução gradual das doses em tiras de afunilamento, para ajudar as pessoas a não ter ou a reduzir ao mínimo os sintomas desagradáveis. As tiras de afunilamento podem proporcionar um método confiável, seguro e fácil para os pacientes trabalharem com os médicos para a redução dos problemas acarretados com a abstinência.”

Tapering StripsAs ‘tiras de afunilamento’ são promovidas por uma organização holandesa sem fins lucrativos, Cinderella Therapeutics. O que são ‘tiras de afunilamento’?  São pacotes personalizados de medicamentos, em que cada pílula tem a mesma, ou uma dose ligeiramente menor, do que a anterior. Para o desmame de psicofármacos como os antidepressivos, os usuários podem utilizar essas tiras que se afunilam ao longo dos meses. Isso permite aos usuários ter maior controle sobre a duração do seu processo de redução e interrupção.

Sem o uso das ‘tiras de afunilamento’, apenas existem duas opções para o processo de retirada das drogas psiquiátricas (além da interrupção brusca). Os usuários podem fazer grandes saltos entre as doses que são disponibilizadas pelas empresas farmacêuticas, o que aumenta a probabilidade de graves sintomas de abstinência. A outra opção é esmagar ou abrir pílulas para tomar só um aparte da dose. Isso é problemático, já que não proporciona necessariamente a dose, pois a parte ativa da medicação pode não ser distribuída uniformemente pela pílula dividida, por exemplo.

Os usuários têm muitas razões para deixar de tomar antidepressivos. Em estudos anteriores, os efeitos adversos (tais como os efeitos sexuais secundários, aumento de peso e embotamento emocional) foram relatados por até 72% dos participantes. Os participantes também expressaram sua preocupação pelos possíveis efeitos dos medicamentos ao longo prazo de uso. Ademais, alguns participantes simplesmente sentiram que haviam melhorado o suficiente para definir se ainda necessitavam seguir tomando o medicamento.

Infelizmente, muitas pessoas que tentam interromper seu regime de medicamentos passam por dificuldades durante o processo. Isso de deve frequentemente aos sintomas de abstinência que podem ser severos e durar meses – ou inclusive anos. Esses sintomas são descritos como diferentes da reaparição dos sintomas depressivos (por exemplo, sintomas semelhantes a gripe, tonturas, ‘curtos-circuito no cérebro’).

No atual estudo, 895 usuários na Holanda tentaram interromper o uso de antidepressivos com o uso das ‘tiras de afunilamento’. A quantidade média de tempo que estes usuários tinham usado antidepressivos foi de 2-5 anos. 62% já haviam tentado anteriormente – a maioria havia tentado mais de uma vez.

Quase todos (97%) deles haviam experimentado sintomas de abstinência durante as tentativas anteriores. A metade deles (49%) haviam experimentado sintomas graves de abstinência, a qualificação de seus sintomas tendo sido no nível máximo do que é permitido pela escala utilizada (7 em uma escala de 1-7). Depois de usar as ‘tiras de afunilamento’, 71% foram capazes de interromper com êxito a sua medicação, o que é especialmente notável, já que 2/3 haviam tentado de maneira infrutífera anteriormente. Aqueles que conseguiram, utilizaram uma média de 2 ‘tiras de afunilamento’ ao longo de 56 dias.

A quantidade do tempo necessário para diminuir a medicação apareceu ser bem sucedida quando correlacionada com o período de tempo em que a pessoa estava tomando a medicação. Aqueles usuários que haviam estado por mais tempo com antidepressivos, esses necessitaram significativamente de mais tempo para com sucesso deixarem de tomar as drogas.

Ao final do estudo, uns 8% adicional dos participantes continuaram ainda a tentar diminuir seus antidepressivos. 4% dos participantes desistiram, devido aos efeitos graves da abstinência, ainda que com as ‘tiras de afunilamento’. Outros 6% haviam deixado de tentar interromper o uso de antidepressivos, devido ao reaparecimento de sintomas depresivos. A maioria dos participantes do estudo estava tomando paroxetina (Paxil: 47%) e a venlafaxina (Effexor: 43%).

“É alarmante encontrar que 97% de mais de 600 pessoas que tentaram deixar os antidepressivos haviam experimentado a síndrome de abstinência ”,  Dr. Jim Van Os, da Universidade Masstrict , escreveu depois da publicação do estudo. “O fato de que 49% delas tenham dito haverem experimentado o nível mais extremo da escala de gravidade, isso mostra que é imperdoável que os profissionais sigam minimizando ou ignorando este problema. A vida de milhões de pessoas está sendo impactada de maneira significativa.”

No mês passado, muitas pessoas ao redor do mundo foram introduzidas aos efeitos da retirada de antidepressivos, graças a um artigo do New York Times intitulado “Muitas pessoas que tomam antidepressivos acham que não podem mais deixar de tomar”.  Esse artigo põem em destaque as histórias de pessoas que tentaram parar a medicação antidepressiva, apenas para descobrir experiências de sintomas severos de abstinência, incluindo tonturas, confusão, e insônia, assim como náuseas e ‘curto-circuitos no cérebro’. Pior, muitos dos entrevistados receberam pouca ou nenhuma ajuda de seus prescritores e não foram advertidos de que os efeitos da abstinência poderiam ocorrer ou serem tão severos.

Infelizmente, os efeitos de abstinência dos antidepressivos não são novos para a comunidade científica – embora raramente sejam reconhecidos publicamente. Em um estudo de 2016, citado pelo artigo do New York Times, os pesquisadores entrevistaram pessoas que tomavam antidepressivos e descobriram que 73,5% haviam experimentado sintomas de abstinência. Os participantes também expressaram o desejo de mais e melhores informações sobre resultados a longo prazo, efeitos após a descontinuação e apoio para a supressão de antidepressivos. Metade dos participantes desse estudo indicou que se sentiam ‘viciados’ em antidepressivos.

O artigo do New York Times também citou outro estudo recente que descobriu que aproximadamente metade dos participantes não conseguia interromper os antidepressivos, por causa da gravidade experimentada com a retirada. Esse estudo também revelou que os prescritores geralmente não ajudam no processo de interrupção. Esse mesmo estudo relatou que 86% daqueles que suspenderam a medicação com sucesso se encontravam felizes com essa decisão.

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Groot, P. C., & van Os, J. (2018). Antidepressant tapering strips to help people come off medication more safely. Psychosis. → (link)

 

 

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.

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