“Tiras” para Facilitar a Retirada Gradativa das Drogas Psiquiátricas

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pgrootEm 2003, experimentei a pior depressão que tive em toda a minha vida e comecei a usar antidepressivos. Como paciente e como cientista, comecei a ler sobre depressão e sobre antidepressivos. Não demorei a descobrir que pode ser muito difícil parar de usar essas drogas. Para o antidepressivo que eu fazia uso, a Venlafaxine, é praticamente impossível ser interrompida essa droga sem se sofrer de fortes sintomas de abstinência. Basta um dia sem tomar a cápsula diária, para amanhã de manhã se experimentar os primeiros sintomas da retirada.

A melhor maneira de se minimizar os sintomas de abstinência é reduzir gradualmente a dose durante um período de tempo prolongado. Por quanto tempo? Ninguém sabe realmente. Isso pode diferir entre os pacientes. Se um paciente tiver a oportunidade de ter um tempo suficiente, acho que a maioria, senão todos os sintomas de abstinência podem ser evitados. O mesmo é verdadeiro para outros tipos de drogas, por exemplo os benzodiazepínicos, onde a dependência física após o uso crônico é um outro grande problema.

O dia 11 de julho passado foi o Dia de Conscientização sobre Benzodiazepínicos e também o aniversário da professora Heather Ashton, famosa por seu trabalho em ajudar as pessoas a se retirarem de drogas que são difíceis de serem interrompidas, como as benzodiazepinas. Ela tem defendido uma redução muito gradual, ao longo de períodos de meses e, se necessário, até anos. Ela também defende a escolha do paciente e que a tomada de decisão seja compartilhada, dizendo que os médicos que querem ajudar seus pacientes devem ouvi-los e trabalhar juntos durante o contato. A tomada de decisão compartilhada capacita os pacientes e os encoraja a assumir a responsabilidade pelo seu próprio tratamento.

Realizar um método gradual progressivo na prática diária acaba sendo muito difícil. Na minha opinião, o principal problema é que as diferentes doses necessárias para fazer o ‘desmame’ não estão disponíveis. Depois de tomar consciência desses problemas e com a ajuda de colegas (tendo eu uma longa história que aqui abrevio), me envolvi no desenvolvimento das chamadas ‘Tapering Strips’ (em português, algo como ‘Tiras para a Redução Gradual’). Atualmente essas ‘tiras’ estão disponíveis para pacientes na Holanda, para 24 medicamentos diferentes, incluindo os benzodiazepínicos clonazepam, diazepam, lorazepam, oxazepam e temazepam.

tapering strips

Como funciona? Uma ‘tira’ usa o mesmo princípio que empregamos com as moedas para se pagar algo com pequenas quantias de dinheiro. Podemos pagar 40 centavos usando três moedas – uma de 25, uma de 10 e uma de 5 centavos – ou 20 centavos usando duas moedas de 10 centavos ou quatro moedas de 5. Com as  pílulas, podemos fazer o mesmo. O que precisamos é de pílulas com baixas doses, para podermos juntar as doses que queremos.

O problema prático é como lidar com isso sendo cada paciente um paciente em sua singularidade. Descobrimos que uma solução prática para resolver isso estava prontamente disponível. Nós embalamos as pílulas para cada dose diária que vem separadas en ‘tiras’ em uma bolsa, ou seja, a medicação vem em um rolo formado por ‘tiras’. Cada rolo fornece medicação para um período de 28 dias.

Um tamanho único não funciona. Não é possível usar o mesmo cronograma para todos os pacientes que desejam parar com um determinado medicamento. Portanto, tivemos que apresentar uma solução flexível que fosse prática e permitisse que médicos e pacientes fizessem a escolha que julgassem a mais apropriada. O que surgiu foi um sistema modular, consistindo de uma série de ‘tiras’ diferentes para uma determinada droga. Isso oferece a possibilidade de se escolher diferentes horários para as doses de redução, usando uma ou mais ‘tiras’ consecutivamente.

Os médicos que prescrevem (as ‘tiras’), junto com os pacientes, nos têm dito que às vezes é necessário adaptar: deixar o paciente ir mais devagar ou dar ao paciente uma ‘pausa’ – permanecendo na mesma dose por um certo período de tempo, antes de continuar a diminuir a dose. Para permitir que os pacientes façam isso, é possível usar as chamadas ‘tiras de estabilização’. O que também ouvimos dos pacientes é que nem todos conseguem parar completamente, mas logram continuar usando seu fármaco em uma dose menor do que a dose que eles anteriormente usavam. Isso não é surpreendente, se você perceber que os medicamentos são prescritos nas mesmas doses-médias para todos os pacientes.

Nós trabalhamos com todo esse sistema ouvindo atentamente o que os pacientes e os médicos nos dizem. Nós também pedimos aos pacientes que usaram as ‘tiras’ que relatem quais foram as suas experiências. O que os pacientes nos dizem é que a redução com o uso de tiras torna muito mais fácil o processo. Eles sofrem menos sintomas de abstinência e estão muito satisfeitos com as tiras e as informações fornecidas.

Atualmente, a maioria das informações sobre as ‘tiras’ ainda está disponível apenas em holandês. A razão é que queríamos tornar as ‘tiras’ disponíveis para os pacientes o mais rápido possível e era mais fácil fazer isso se, por enquanto, nós limitamos a experiência ao nosso próprio país. Até o momento, nos sentimos confiantes de que o sistema que desenvolvemos está pronto para ser usado igualmente em outros países. Nem todas as informações foram traduzidas para o inglês ainda, mas estamos trabalhando arduamente para disponibiliza-las  o mais rápido possível. A informação mais importante, um protocolo provisório escrito pelo usuário (paciente), que esperamos seja comentado e endossado por comitês de diretrizes oficiais. Os formulários de pedidos para todos os medicamentos, para os quais as tiras estão atualmente disponíveis, podem ser encontrados em www. taperingstrip.org

Espero sinceramente que muitos pacientes se beneficiem com a experiência com as tiras.

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Nota dos editores: James Moore, renomado ativista britânico de ex-usuários, lidera um movimento que solicita às autoridades médicas do Reino Unido que ofereçam suporte para o uso das ‘tiras para redução’ de medicamentos psiquiátricos. Relembrando que hoje é uma experiência restrita à Holanda. A respeito, leia seu blog sobre a campanha no Reino Unido e assine a petição aqui. Nós aqui no Brasil poderíamos tomar alguma iniciativa nesse sentido. Vamos pensar juntos?

Um Novo Estudo Examina a Experiência do Usuário com a Descontinuação das Drogas Psiquiátricas

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Peter SimonsUm novo estudo, que acaba de ser publicado em Psychiatric Services, examinou as experiências dos usuários com a interrupção dos medicamentos psiquiátricos. Os pesquisadores descobriram que, embora seja possível retirar-se das drogas psiquiátricas, os profissionais de saúde mental pouco ajudaram durante esse processo. A equipe da pesquisa foi liderada por Laysha Ostrow, PhD, CEO da Live & Learn, Inc. Ela escreve:

Apesar dos inúmeros obstáculos e dos graves efeitos experimentados durante o processo de descontinuação das drogas psiquiátricas, os usuários de longo prazo das drogas psiquiátricas podem parar de tomá-las se tomarem tal decisão. Os indivíduos que interrompem as drogas psiquiátricas relatam que o autocuidado e o apoio social ajudam, mas que os profissionais de saúde mental poderiam ser muito mais úteis, solidários .

Photo Credit: Flickr
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Os protocolos da prática clínica recomendam que os tratamentos psicofarmacológicos para a maioria das preocupações em saúde mental sejam prescritos para que tenham um efeito de curto prazo e, em seguida, devem ser interrompidos. Contudo, os pacientes a quem foram prescritos esses medicamentos geralmente têm dificuldade em descontinuá-los, devido aos severos sintomas de abstinência que são experimentados.

O Estudo de Descontinuação / Redução de Medicamentos Psiquiátricos

Este atual estudo ficou conhecido como o estudo de Descontinuação / Redução de Medicação Psiquiátrica e, de acordo com Ostrow, “é a primeira pesquisa americana com uma grande amostra de usuários drogas em longo prazo e que optaram por interromper os medicamentos psiquiátricos”.

O estudo, financiado pela Fundação para Excelência em Saúde Mental (Excellence in Mental Health Care) – liderada por usuários atuais e por ex-usuários de medicamentos psiquiátricos -, procurou compreender experiências e estratégias em primeira mão de indivíduos que decidiram interromper medicamentos psiquiátricos, parando ou reduzindo o uso desses medicamentos.

Os pesquisadores pesquisaram 250 participantes, a maioria deles brancos (87%) e mulheres (76%). Os participantes podiam haver sido diagnosticados com mais de uma condição psiquiátrica; a maioria dos participantes (64%) teve diagnóstico de depressão, enquanto 41% foram diagnosticados com transtorno bipolar.  E 20% dos participantes foram diagnosticados com um transtorno psicótico.

Assim sendo, 76% dos participantes estavam tomando antidepressivos. 56% estavam tomando ansiolíticos. E 47% estavam tomando antipsicóticos. Os participantes também chegaram a tomar estabilizadores do humor (38%) e estimulantes (13%).

Todos os participantes estavam tentando parar um ou dois medicamentos prescritos. Todos tinham tomado seus medicamentos por pelo menos nove meses, embora a maioria (71%) dos participantes estivesse tomando medicação psiquiátrica há mais de nove anos. Quase dois terços dos participantes haviam passado um tempo em internação hospitalar.

“Entre aqueles que estavam em um período de mais de seis meses de uso, cerca de um terço (36%) optou por descontinuar,  um outro terço (31%) fez isso entre um a seis meses de uso, e o outro um terço (33%) em menos de um mês com drogas psiquiátricas, com metade deste último grupo (16% da amostra) optando parar de tomar ‘bruscamente’ “.

Quer dizer, mais da metade (54%) dos participantes no estudo conseguiram descontinuar com sucesso seus medicamentos psiquiátricos, e os pesquisadores descobriram que as pessoas geralmente estavam felizes com essa decisão. De acordo com Ostrow, “Daqueles que interromperam completamente, 82% estavam satisfeitos ou muito satisfeitos com sua decisão de descontinuar”.

RAZÕES PARA A DESCONTINUAÇÃO

Os participantes enumeraram muitas razões para querer parar de usar seus medicamentos. Entre os principais motivos foram:

  • Preocupações com os efeitos a longo prazo (74%)
  • Experimentando efeitos adversos (72%)
  • Sentindo que a medicação os impediu de auto-compreensão (48%)

34% disseram que encontraram um tratamento alternativo, enquanto que outros 34% disseram que se sentiram melhor mesmo sem qualquer tratamento.

29% disseram que a droga simplesmente não era eficaz, e 23% disseram que sua medicação havia parado de funcionar.

Os motivos apresentados neste estudo são consistentes com a literatura anterior. As pessoas com diagnóstico de doença mental têm sua expectativa de vida cortada em uma média de 25 anos, e pelo menos algumas das razões são atribuíveis aos efeitos adversos do uso prolongado de medicamentos – como problemas metabólicos e danos aos órgãos. Mesmo o uso a curto prazo é muitas vezes acompanhado de efeitos adversos severos.

Por exemplo, um estudo recente que examinou a experiência do usuário com o uso de antidepressivos descobriu que mais de 85% dos participantes experimentaram efeitos colaterais. As citações dos participantes incluíam sentir-se “desconectados e sem vida” e, comumente, “falta de desejo sexual e anorgasmia”, o que afeta intensamente os relacionamentos românticos dos participantes. Pesquisas também mostram que os efeitos colaterais sexuais podem persistir muito depois que o uso de antidepressivo é interrompido.

Além disso, as pessoas muitas vezes querem interromper o uso de medicamentos porque as drogas não estão tendo o impacto esperado nos sintomas. A eficácia dos antidepressivos, por exemplo, tem sido constantemente questionada. As meta-análises descobriram que o benefício dos medicamentos antidepressivos “pode ser mínimo ou inexistente em pacientes com sintomas leves ou moderados”.

EXPERIÊNCIAS DE RETIRADA

Ostrow escreve que “a experiência de descontinuação foi muitas vezes fisica e emocionalmente extenuante”. Mais de metade (54%) dos participantes classificaram seus sintomas de abstinência como “graves”.

Os sintomas de abstinência mais comuns neste estudo foram mudanças no sono (80%), aumento da ansiedade (76%), dificuldade em emoções (73%) e tristeza ou lágrima (70%).

Algumas experiências de retirada adicionais incluíram:

  • Fadiga (69%)
  • Sintomas tipo gripais (62%)
  • Problemas de memória e de concentração (61%)
  • “Sensações de choques elétricos” ou problemas neurológicos (61%)
  • Diarreia ou constipação (47%)

Os pesquisadores destacam que 44% dos participantes experimentaram pensamentos de suicídio e 36% experimentaram pensamentos de automutilação.  22% experimentaram psicose.

O QUE É ÚTIL?

Menos da metade (45%) dos participantes consideraram que o serviço de saúde mental havia sido útil no processo de retirada – embora quase todos (73%) recebessem serviços sistemáticos de profissionais de saúde mental.

Os participantes declararam que, em vez disso, o que de fato tinha ajudado havia sido o apoio de amigos e familiares, assim como práticas pessoais de autocuidado. 42% dos participantes relataram que os amigos que também tinham passado pela experiência de retirada dos medicamentos foram de grande ajuda, enquanto 41% relataram que os grupos de apoio na internet haviam sido úteis. 39% relataram que o apoio familiar havia sido benéfico.

As estratégias de autocuidado, avaliadas pelos participantes, foram as seguintes:

  • Autoeducação (por exemplo, leitura, pesquisa na internet sobre descontinuação) (76%)
  • Atividades ao ar livre (74%)
  • Dormir (67%)
  • Estar com animais de estimação (67%)
  • Dar expressão aos sentimentos (67%)
  • Exercício físico (66%)
  • Entretenimento como TV, filmes, leitura (63%)
  • Alterações dietéticas e nutricionais (57%)
  • Atenção Plena (mindfullness‘) / meditação (57%)
  • Estar na água / banhos (55%)
  • Hobbies (55%)
  • Diário / Escrita (46%)
  • Fitoterápicos e Produtos Naturais em geral (39%)
  • Estimulação reduzida (39%)
  • Oração / mantras / cânticos (38%)

PORQUE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL NÃO SÃO UMA AJUDA?

A literatura anterior descobriu que os profissionais de saúde mental podem ignorar a prevalência, os tipos e os perigos dos efeitos adversos. Os profissionais de saúde mental também foram criticados por não fornecerem o ‘consentimento informado’ adequado para as prescrições psicofarmacológicas. Por exemplo, em um desses estudos, os usuários que receberam antidepressivos declararam que:

“Na realidade, os psiquiatras se recusam a responder perguntas e se recusam a aceitar ou a discutir os efeitos colaterais”.

“Os efeitos colaterais não foram muito bem explicados pelo médico da atenção primária que fez a prescrição. A anorgasmia é um efeito colateral particularmente ruim”.

“Eu gostaria de ter ouvido mais sobre os efeitos colaterais … Eu tive que descobrir muitas informações quando estava em um estado difícil e ansioso”.

“Não me disseram todos os efeitos colaterais; na verdade, quando eu os investiguei e depois disse à minha médica o que eu havia descoberto, ela me disse que não tinha ideia de que o medicamento poderia me afetar da maneira como me afetou “.

Em outro estudo, quase metade dos entrevistados afirmou que seus médicos não comunicaram a duração do tempo que se esperava de manutenção com a medicação. Mais da metade deles não foram informados sobre possíveis efeitos de retirada.

CONCLUSÃO

De acordo com os autores do estudo atual,

“A interrupção da medicação psiquiátrica parece ser um processo complicado e difícil, embora a maioria dos entrevistados tenha relatado satisfação com a sua decisão. Pesquisas futuras devem orientar os sistemas de cuidados de saúde e os profissionais para melhor apoiarem a escolha do paciente e a autodeterminação quanto ao uso e descontinuação da medicação psiquiátrica “.

Ou seja, há uma necessidade clara que os profissionais de saúde mental ouçam as experiências dos usuários desses medicamentos. Os serviços de tratamento devem estar melhor equipados para orientar e apoiar os usuários no processo de travessia pelas experiências de descontinuação.

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Ostrow, L., Jessell, L., Hurd, M., Darrow, S. M., & Cohen, D. (2017). Discontinuing psychiatric medications: A survey of long-term users. Psychiatric Services, 68(7). https://doi.org/10.1176/appi.ps.201700070 (LINK)

Se Você Não Tem um Cérebro…

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Peter Breggin“Se você não tem seu cérebro, você não pode nunca mudar a sua mente. ”

Essas palavras me foram ditas pela minha esposa na noite passada e elas ativaram as minhas lembranças e pensamentos.

No início da década de 1970, sob forte pressão minha, Ted Kennedy, ainda que relutantemente, realizou as audiências do Comitê de Saúde para investigar o ressurgimento da lobotomia e formas mais recentes de mutilação cerebral ou psicocirurgia psiquiátrica. O senador Kennedy estava a favor dos tratamentos; ele pensava que eles eram científicos.

Eu estava fazendo uma campanha contra o ressurgimento da psicocirurgia em toda a Europa e América do Norte, falando em conferências aqui e no exterior, testemunhando no tribunal e no Congresso, dirigindo-me a agências federais, redigindo legislação para a criação de uma Comissão Federal de Psicocirurgia, organizando oposição e escrevendo artigos científicos e capítulos de livros. Isso tomou vários anos da minha vida.

No final, meus esforços levaram a que a maioria das psicocirurgias no mundo ocidental fossem interrompidas.

Na audiência do Senado sobre psicocirurgia, Kennedy me desafiou em um breve debate no qual ele perguntou retoricamente se eu seria também contra a cirurgia cardíaca, porque às vezes para melhorar a sua função o procedimento cirúrgico prejudica o coração, embora isso retarde perigosas arritmias, por exemplo.  Eu respondi, que na verdade, “Senador Kennedy, quando você danifica seu coração, isso pode afetar a circulação do sangue através da corrente sanguínea; mas quando você danifica seu cérebro, prejudica a expressão de sua alma aqui na Terra “.

Devo admitir que foi uma observação que fiz com raiva, o que não me ajudou, porque o New York Times voltou-se contra mim. O jornal afirmou falsamente que por motivos religiosos eu estava contra a psicocirurgia, e não a partir de bases éticas e científicas. Porém, o meu testemunho havia sido de fato muito científico.

Naquela noite, o confronto entre Kennedy e eu foi exibido na TV em Washington DC. O pessoal de Kennedy expurgou esse confronto da transcrição oficial da audiência. Muitas vezes eu desejei o clip original da TV com o meu breve debate com o senador.

O confronto entre eu e Kennedy simboliza o problema da psiquiatria. Muitos psiquiatras veem o cérebro sem mais reverência do que o coração ou o fígado. Se você receber um transplante de fígado, você ainda está lá; mas se você receber um transplante de cérebro, você se foi. E se você está afligido com drogas psicoativas, você achará mais difícil saber que você está lá.

Quando forçamos as pessoas a tomarem drogas psiquiátricas, ou quando mentimos para levá-las a tomar as drogas, não estamos prejudicando apenas o órgão de seu corpo chamado cérebro – estamos prejudicando a capacidade de pensar e sentir e conhecer e de se expressar. Estamos limitando sua personalidade e identidade, e a expressão de sua alma ou de seu espírito.

Drogas, tratamento de choque e lobotomia tornam muito mais difícil para os indivíduos entender e superar seus problemas emocionais. Essas lesões no cérebro e em seu funcionamento tornam difícil, e às vezes impossível, para as pessoas fazerem as melhores escolhas em suas vidas. É provável que permaneçam presas em um só lugar ou que piorem ao longo do tempo. Como a frase de Ginger tão apropriadamente expressou, “Se você não tem o seu cérebro, você nunca pode mudar de ideia”.

Sobre a Lei 13.438, de 26/4/17: Riscos e Desafios

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Em relação a lei 13.438, sancionada pelo Temer em abril de 2017, que obriga o estado brasileiro a avaliar risco psíquico em TODOS os bebês de 0 a 18 meses, está circulando pela internet um texto contendo análise crítica e algumas proposições para o problema em questão, uma iniciativa apoiada integralmente pelo Despatologiza e pelo MAD IN BRASIL.

Despatologiza infância

Este texto estará aberto para assinatura de todos os que concordarem com seus argumentos e propostas.

Os profissionais, instituições, usuários e familiares que quiserem assinar, deverão mandar mensagem com nome completo e instituição de pertencimento para o seguinte endereço eletrônico:  [email protected]

As assinaturas serão recebidas nos próximos 15 dias.

Leia na íntegra o texto.   

 

Sobre as Motivações e Consequências Clínico-Políticas da lei 13.438, de maio de 2017

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Luciano EliaQuem contestaria o valor inestimável de iniciativas voltadas para prevenir quadros como autismo (ou afecções similares, graves, sobrevenientes na infância)? Quem discutirá que, quando essas iniciativas tomam a forma da lei, supostamente o instrumento de garantia de direitos, esta vicissitude só poderia ser celebrada pela sociedade e pelos cidadãos de bem?

Questões e situações como esta que tentamos caracterizar acima são particularmente espinhosas, sobretudo pela sutiliza e complexidade de suas ambiguidades, plurivocidades, multiplicidades de intenções e fatores implicados nela, cujo exame crítico, que no entanto se impõe a toda postura não ingênua diante da realidade e dos fatos discursivos, pode assumir, com grande facilidade, um sentido antinômico ao direito, ao bem-estar e à ética do cuidado em matéria de política pública, principalmente envolvendo a saúde.

Este é o caso da Lei 13.438, sancionada em maio último, que, acrescentando um parágrafo ao Artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069, de 1990), torna:

“obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico”.

Ora, será que podemos sustentar, no rigor ético exigível de todo procedimento científico, que todas as crianças de 0 a 18 meses de vida devam ser submetidas a protocolos de testagem a fim de detectar possíveis indícios de risco para seu desenvolvimento psíquico? E isso independentemente de todo e qualquer indício real manifesto, porquanto a lei assevera claramente que a aplicação do referido protocolo é obrigatória a todas as crianças, do nascimento aos 18 meses.

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Existe nessa obrigatoriedade uma sanha evidente de controle prevencionista excessivo, abstrato, que prescinde do real para intervir sobre ele, nisso consistindo aliás o aspecto mais abusivo do excesso do controle. Podemos chegar a afirmar que o anseio deteccionista tende a produzir, no limite, os indícios que supostamente se pretendem detectar como se já foram existentes, uma vez que a investigação de um ainda-não-objeto-de-investigação o busca, o procura, e, portanto, em algum grau, o produz.

Entretanto, o aspecto mais grave que podemos identificar nesta lei, que foi sancionada sem que tenha havido qualquer discussão ampla na comunidade científica interessada e de percurso longo e qualificado neste campo, talvez nem esteja no aspecto performático de sua investigação abstrata e irreal, como assinalamos primeiro, mas nos efeitos de alastramento, em escala inimaginavelmente ampla, de “detecções” infundadas, sem suporte real algum.

Os protocolos e instrumentos de detecção, cuja aplicação a toda criança torna-se obrigatória prescindindo-se fragorosamente da realidade clínica, deixam assim de estar a serviço de uma ratio científica, para a qual eles são sempre úteis quando o bom cientista, o rigoroso, mesmo sabendo-os falhos, utiliza-os para abordar, estudar, investigar e intervir sobre um real concreto que assim confere âncora, bússola e baliza ao processo investigativo, reduzindo os riscos de seus indefectíveis erros. Sem isso, a embarcação navega à deriva, ou seja, ao sabor das correntes ideológicas dominantes nas águas do mar. Esses protolocos/instrumentos passam por um processo de fetichização que consiste em suplantar a prevalência do próprio objeto investigado (que, na operação, fora tornado irrelevante de saída) tornando-se, eles próprios, o foco e o eixo da operação, o que, incidentalmente, faz também com que a margem de erro e incerteza (própria a toda atividade científica séria e salutar e que a torna, em aparente paradoxo, mais e mais confiável) fique abolida. Resulta disso um método que consiste justamente em produzir o erro como forma sistemática, de funcionamento operacional, e não como acidente contingencial.

Podemos antever uma proliferação de diagnósticos de falsos quadros de autismo e outras modalidades de sofrimento psíquico, e não sua detecção rigorosa e o mais precoce possível – o que seria alta e absolutamente desejável. Ao invés de trabalhar em prol da detecção a mais tempestiva possível, aquela que seria feita no momento mais inicial de um processo real de adoecimento psíquico na infância, os profissionais e pesquisadores que propuseram e sustentam esta lei preferem operar na abstração de um controle do irreal, tentando produzir realidades que de outro modo possivelmente não seriam produzidas.

Será necessário dizer que uma tal postura atende aos dois senhores absolutos da contemporaneidade, que subjugam sem cessar a Ciência e o Estado: o Capital-em-si e o Controle da sociedade? A proliferação dos diagnósticos sem base real (isto é, preliminar ao diagnóstico mesmo – já que este, na conjuntura em que se inscreve esta lei, vem antes, é ele que é preliminar) serve ao mercado de psicofármacos – o mais rentável do mundo (o de fármacos, que já suplantou o de armamentos que até poucos anos ocupava a pole position) e às práticas de controle e adestramento comportamental, tão hegemônicas e dominantes no mundo atual. Não estamos diante da prevenção do autismo, mas da oficialização da mais clara psiquiatrização e medicalização da infância em escala nacional.

É por isso que é importante deplorar esta lei, e fazer o que estiver ao nosso alcance para barrá-la, impedir sua aplicação, revogá-la (já que, de forma surda e fora da luz do dia das discussões democráticas, ela foi sancionada), começando por exigir a maior participação possível de profissionais críticos no processo de sua regulamentação, em curso.

A luta pela detecção precoce e, portanto, do tratamento o mais cedo possível do autismo e quadros similares terá que utilizar outras vias, clinico-politicamente mais éticas e cientificamente mais rigorosas para sua execução.

 

Paulo Amarante: ‘Medicalizar Problemas Cotidianos Faz Mais Mal à Saúde do que a Depressão’

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Em uma entrevista dada ao blog do Centro de Estudos Estratégicos (CEE-Fiocruz), o Dr. Paulo Amarante, sanitarista e pesquisador da FIOCRUZ, alerta quanto aos danos produzidos pelas drogas psiquiátricas, em especial os antidepressivos. Trata-se de um sério problema de saúde pública, sobre o qual ainda mal começamos a ter consciência da sua extensão, bem como da incorporação desse fenômeno no cotidiano de milhares de brasileiros.

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Como é sublinhado por Paulo Amarante:

 “Começou-se a observar que esses medicamentos geram dependência e que sua suspensão e retirada sejam tão difícil quanto com uma droga ilícita ou com o álcool. E praticamente não há serviço especializado no mundo nesse tipo de desintoxicação. ”

Na entrevista dada à jornalista Eliane Bardanachvili, Paulo Amarante faz referência a iniciativas para que o público em geral – e os profissionais de saúde em particular – possam ter acesso ao que a literatura científica apresenta como evidências dessa ‘epidemia de transtornos mentais’, que está sendo condicionada sobretudo pela aliança entre a Indústria Farmacêutica e os interesses corporativos da Psiquiatria enquanto instituição. Paulo destaca duas referências: a publicação do livro do jornalista estadunidense Robert Whitaker, Anatomia de uma Epidemia, pela Editora Fiocruz; e este site do Mad in Brasil.  E para aprofundar o debate nacional, ele anuncia que haverá um Seminário Internacional sobre  Prescrição de Drogas Psiquiátricas, Causas e Danos, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-RJ), nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, com a presença de renomados nomes internacionais.

Leia a entrevista na íntegra.

Como Você Sabe se UMA DROGA EFETIVAMENTE FUNCIONA?

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Da revista Scientific American: a eficácia de um tratamento médico específico é muitas vezes altamente subjetiva e depende da definição de cada indivíduo do termo ‘eficaz’. Muitas drogas e medicamentos estão na área cinzenta entre efetivo, benéfico e inofensivo.

“Esses meios terapêuticos e seus ‘tratamentos’ – mais do que duvidosos – florescem na região desfocada, entre o que é efetivo, benéfico e inofensivo. Apesar de toda a vasta e disponível evidência de que a homeopatia não é mais eficaz do que um placebo, por exemplo, as pessoas que acreditam terem se beneficiado continuam a exaltar seu uso, e o mercado de medicamentos alternativos é avaliado em US $ 34 bilhões. Ironicamente, “Big Pharma” deu origem a “Big Alternativa” – dois lados da mesma moeda sem sentido.

Há, é claro, tratamentos produzidos através dos supostos meios mais rigorosos, os quais também muitas vezes não fazem muito de fato. Muitos medicamentos contra a tosse sem receita, por exemplo, não contêm nenhum ingrediente ativo, e os médicos têm dito aos pacientes que não desperdicem seu dinheiro por anos. Muitas pessoas vão reivindicar, no entanto, que tais meios foram de algum benefício depois de usá-los. A chave aqui é que há ainda outra distinção a ser feita entre os tratamentos que consideramos ‘efetivos’ e os meramente ‘benéficos’.

Artigo→­

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Mais de 1.000 usuários de Antidepressivos Descrevem Como a Sua Vida Pessoal foi Afetada

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Nova pesquisa, publicada em Psychiatry Research, apresenta relatos pessoais de usuários de antidepressivos e suas experiências com efeitos colaterais negativos – relacionados ao sexo, trabalho, socialização e saúde física. John Read e uma equipe de pesquisadores do Reino Unido exploraram o consentimento informado e o impacto das drogas psiquiátricas.

“Esta pesquisa, a segunda maior feita até hoje, confirma que os efeitos colaterais são muito comuns ao se tomar antidepressivos”.

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As elevadas taxas de prescrição de antidepressivos continuam a subir. Na Inglaterra, as prescrições duplicaram desde 2005. Da mesma forma, o uso de antidepressivos dobrou na Austrália entre 2000 e 2014, tornando-se a medicação mais comumente usada diariamente por 1 em cada 10 australianos. Em 2005, os antidepressivos eram a droga mais amplamente prescrita nos Estados Unidos e, até 2012, 1 em cada 8 adultos tinham incorporado o seu uso em sua rotina diária.

A eficácia dos antidepressivos para depressão, quando testada em estudos não-industrias e com a metodologia do duplo cego, não é diferente do placebo. Os autores citam evidências meta-analíticas que demonstram que “o efeito geral dos medicamentos antidepressivos de nova geração está abaixo dos critérios recomendados para significância clínica”.

Os pesquisadores afirmam que os custos nocivos do consumo de antidepressivos superam os seus potenciais benefícios, os quais demonstraram ser potencialmente maiores que os efeitos placebo apenas em indivíduos que apresentam sinais de depressão muito grave.

Os sintomas negativos que são os mais comumente relatados pelos usuários de antidepressivos incluem náuseas, dores de cabeça, boca seca, insônia, sonolência, diarreia, tonturas e constipação. Outros achados de estudos controlados com placebo também se concentraram em sintomas relacionados com os próprios medicamentos. Embora reconheçam o significado dessas descobertas, os autores deste estudo procuraram expandir a pesquisa existente para examinar como os antidepressivos impactam negativamente as pessoas em termos de suas vidas pessoais e interpessoais.

Atualmente, a pesquisa que abarca o maior conjunto de dados sobre o uso de antidepressivos e seus efeitos negativos na vida pessoal identifica experiências de dificuldades sexuais, dormência emocional, perda da sensibilidade para com os seus próprios sentimentos, agitação, redução de sentimentos positivos, suicídio e desinteresse com o cuidado para com os outros. Muito poucos estudos até hoje investigaram como os que prescrevem tais drogas tratam de informar os pacientes sobre os efeitos adversos e quase nenhum deles examinou os efeitos da combinação de outros medicamentos psiquiátricos com antidepressivos.

Read e seus colegas investigaram mais de 1.000 usuários de antidepressivos no Reino Unido sobre suas experiências de sintomas interpessoais e aqueles relacionados com a vida pessoal cotidiana. Para abordar as lacunas na literatura, eles também questionaram até que ponto os participantes foram informados sobre os efeitos negativos e também se estavam tomando simultaneamente outras drogas psiquiátricas. A pesquisa on-line foi projetada e divulgada pela Mind, uma instituição de caridade que atua no campo da saúde mental na Inglaterra e no País de Gales.

A maioria dos participantes que tomaram apenas antidepressivos (85,9% de 484) relataram efeitos colaterais do uso de antidepressivos. Dos efeitos relatados, os sintomas adversos relacionados à vida sexual (43,7), trabalho ou estudo (27%), saúde física (26,8%) e vida social (23,5%) foram os mais comumente endossados, seguidos por efeitos negativos em seus relacionamentos próximos (20,9%) e no grau de independência (10,5%). Foram incluídos comentários adicionais dos participantes sobre suas experiências com antidepressivos:

“Eu odeio isso. Isso me deixa emocionalmente embotado – por exemplo, eu tive que parar de toma-los depois de um recente falecimento na família, para garantir que eu pudesse chorar no funeral “.

“As drogas me deixam totalmente desconectada de tudo e sem vida”.

“Eu acho que está causando fadiga, entre outras coisas, então eu tive que deixar minhas horas no trabalho de tempo integral reduzindo para 3 dias por semana”.

“Isso afetou minha relação sexual com o meu parceiro, pois não desejava fazer sexo, e ainda sinto os efeitos disso agora, pois ele passou a ficar nervoso e a me perguntar por que eu há tanto tempo não estava interessada “.

“É muito difícil separar os efeitos dos medicamentos e os efeitos da doença”.

Os restantes 524 participantes relataram tomar antidepressivos junto com tranquilizantes ou pílulas para dormir, antipsicóticos e / ou estabilizadores do humor. Isso indica que pouco mais da metade dos 1.008 entrevistados estavam tomando dois ou mais medicamentos psiquiátricos. Além disso, quanto mais medicamentos forem os usados, mais graves serão os efeitos colaterais relatados.

“Apesar do seu aumento rápido, a polimedicação não pode ser descrita como uma abordagem baseada em evidências”, observa os autores, sublinhando que quase nenhum estudo examinou o impacto da polimedicação, muito menos as evidências encontradas para apoiá-la.

Aproximadamente 48% dos participantes que tomaram antidepressivos indicaram que receberam suficientes informações sobre a medicação, enquanto cerca de 40% relataram que não. A porcentagem restante dos respondentes observou que eles não tinham certeza ou não conseguiam se lembrar. Curiosamente, os homens (53,5%) foram significativamente mais propensos a informar que receberam informações suficientes do que as mulheres (46,8%). A idade esteve positivamente relacionada com a não obtenção de informações adequadas, de modo que os mais velhos se sentiam menos informados com relação aos sintomas adversos.

Com respeito ao consentimento informal, os comentários adicionais dos participantes foram os seguintes:

“Na realidade, os psiquiatras se recusam a responder perguntas, bem como a aceitar ou a discutir os efeitos colaterais”.

“Os efeitos colaterais não foram muito bem explicados pelo clínico na atenção primária. A anorgasmia (a incapacidade de chegar ao orgasmo) é um efeito colateral particularmente ruim “.

“Gostaria de ter ouvido mais sobre os efeitos colaterais … Eu tive que descobrir muitas informações quando me encontrava em um estado difícil e ansioso”.

“Não me disseram todos os efeitos colaterais; na verdade, quando eu os investiguei e depois disse à minha médica, ela admitiu que não tinha ideia de que a prescrição poderia afetar-me da maneira que me estava afetando “.

De um modo geral, os resultados desta pesquisa assinalam o quão é extremamente comum experimentar sintomas negativos ao tomar medicamentos antidepressivos, particularmente aqueles sintomas relacionados ao funcionamento pessoal e interpessoal.

“Ao reduzir a depressão, as drogas também podem estar reduzindo todos os sentimentos e, assim, substituindo os sentimentos dolorosos por um forte vazio emocional, tanto em termos pessoais quanto, como consequência, em termos interpessoais.”

Curiosamente, 85% dos participantes disseram que para eles os medicamentos antidepressivos estavam sendo pelo menos ” suficientemente eficazes”. Os autores oferecem o seguinte contexto para entender esse achado da investigação:

“Muitas pessoas sentem-se menos deprimidas ao tomar ADs [antidepressivos], mas parece que isto é principalmente por causa da expectativa criada pelos processos envolvidos na prescrição e no tratamento das pílulas, e não pelos produtos químicos nele contidos”.

Eles acrescentam que, no maior estudo realizado sobre sintomas pessoais negativos relacionados ao antidepressivo, “um dos maiores preditores de eficácia percebida foi a qualidade da relação entre quem prescreve e o paciente”.

Finalmente, os achados ressaltam a importância do consentimento informado, explorando sintomas além do domínio biomédico e desencorajando as taxas crescentes de polimedicação promovidas por psiquiatras.

***

Read, J., Gee, A., Diggle, J., & Butler, H. (2017). The interpersonal adverse effects reported by 1,008 users of antidepressants; and the incremental impact of polypharmacy. Psychiatry Research. http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2017.07.003 (Link)

 

Sintomas de Interrupção das Benzodiazipinas (ansiolíticos)

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Os membros do grupo Recuperando das Benzodiazepinas  (Benzodiazepine Recovery) criaram um vídeo sobre os sintomas frequentemente debilitantes da interrupção de benzodiazepinas.

Video →­

Benzodiazipines Withdrawal

Fabricantes de Risperdal Processados na Justiça pelo Desenvolvimento de Mama em Meninos

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Barbara Liston
Barbara Liston

Andrew Yount, de Tennessee, era um paciente com quatro anos de idade com problemas de comportamento e um diagnóstico de TDAH, quando seu médico prescreveu Risperdal, no verão de 2003.

A droga era um poderoso antipsicótico para adultos, comercializada de forma agressiva para as crianças pela Johnson & Johnson (J&J) para atingir o objetivo de vendas de bilhões de dólares por ano.

No Natal, depois que Andrew tomou Risperdal durante quatro meses, as fotos de férias mostram que este menino pré-escolar havia desenvolvido seios como os de uma jovem nas fases iniciais da puberdade.

O médico que prescreveu Risperdal para Andrew não sabia o que os estudos da J & J mostravam: que a droga elevava os níveis do hormônio prolactina que desencadeava o crescimento de seios femininos, conhecido como ginecomastia, em uma porcentagem significativa de meninos que tomavam o remédio.

E uma vez que o crescimento dos seios foi iniciado, não há mais volta.

“Havia sido disparado o processo, e as células começam a fazer o que elas devem fazer. Quer dizer, elas continuarão a crescer de forma desproporcional “, disse Mark Solomon, um especialista médico no efeito colateral da ginecomastia de Risperdal, que foi testemunha do caso Andrew em um tribunal de Filadélfia em junho de 2016.

Hoje, aos 18 anos, Andrew é um homem completamente adulto com peitos pendurados em tamanho 42D.

E ele não é o único. Milhares de meninos e jovens estão indo aos tribunais de todo o país para processar a J & J pela ginecomastia causada por tomar Risperdal quando crianças pequenas. A condição é irreversível, exceto pela remoção cirúrgica.

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Pedro from Tampa

Coletivamente, eles se tornaram conhecidos como os Meninos Risperdal, depois que um punhado dos homens agora crescidos concordaram em participar de uma sessão de fotos e entrevistas para ajudar a divulgar a sua história. O resultado está publicado no risperdalboys.com.

Alguns dos Meninos Risperdal ganharam processos judiciais e veredictos contra a J & J, incluindo um julgamento de US$ 76 milhões no caso Yount em 2016. Foi o maior pagamento até o momento. Os veredictos baseiam-se na questão de saber se a comunidade médica foi devidamente avisada sobre os efeitos colaterais da ginecomastia provocados pelo Risperdal.

A J & J tem se recusado vigorosamente a reconhecer a sua responsabilidade e insiste em que os consumidores foram devidamente avisados sobre os efeitos colaterais.

Os Meninos Risperdal são vítimas de uma estratégia enormemente lucrativa usada pela J&J e outras empresas farmacêuticas para aumentar a receita, ao conseguirem que os médicos prescrevam seus medicamentos para pacientes para quem a droga nunca havia sido previamente planejada. São os chamados medicamentos prescritos “fora do rótulo”, e isso significa que os pacientes são transformados, em essência, em cobaias ao tomarem um medicamento que nunca foi comprovado ser seguro ou eficaz para sua condição médica.

Que as empresas farmacêuticas são motivadas muito mais por lucros do que por compaixão é evidenciado pela falta de acompanhamento das empresas para determinar se esses pacientes fora do rótulo se beneficiaram ou foram prejudicados pela droga.

No caso de Risperdal, a agência FDA aprovou a droga em 1993 para tratar esquizofrênicos adultos. Mas a porcentagem de esquizofrênicos na população dos EUA é muito pequena para a droga ganhar dinheiro segundo os padrões da Johnson & Johnson. Assim, no final da década de 1990 e no início dos anos 2000, a equipe de marketing da J & J se concentrou em convencer os médicos a prescrever Risperdal para dezenas de milhares de crianças pequenas com uma variedade de problemas de comportamento, segundo testemunhos.

Embora seja ilegal que as empresas farmacêuticas comercializem uma droga para um grupo não aprovado pela FDA, os médicos podem prescrever drogas como acharem conveniente.

A FDA rejeitou explicitamente vários pedidos da J & J para aprovar a droga para crianças, porque a empresa não tinha dados suficientes para mostrar que seria seguro, de acordo com o depoimento do ex-comissário da FDA, David Kessler.

De acordo com a Lei 360 publicada on-line, Kessler também declarou no tribunal que “cerca de 20% do Risperdal prescrito antes do início dos anos 2000 foi usado em crianças e adolescentes”.

Além das crianças, a J & J incentivou os médicos a prescrever Risperdal fora do rótulo para idosos com demência, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA. Risperdal não obteve a aprovação da FDA para uso em idosos, e descobriu-se mais tarde que essas pessoas estiveram sob um risco aumentado de derrame cerebral depois de tomar a droga.

A J & J pagou US $ 2,2 bilhões em 2013 para liquidar reivindicações criminais e civis pelo Departamento de Justiça dos EUA, por haver pago propinas aos médicos para prescreverem Risperdal e outras drogas fora do rótulo e para conseguirem com que esses médicos persuadissem a seus colegas médicos para que fizessem o mesmo. Na liquidação, a J & J pagou multas por violações da lei e responde a processos civis com base na Lei de Reclamações Falsas, de acordo com o DOJ. O caso foi um dos maiores procssos de fraude em saúde na história dos EUA. Denunciantes de dentro da empresa tinham avisado aos agentes federais do que vinha se passando.

“J & J e a Janssen sabiam que Risperdal apresentava certos riscos para a saúde das crianças, incluindo o risco de níveis elevados de prolactina, um hormônio que pode estimular o desenvolvimento mamário e a produção de leite. No entanto, um dos Objetivos do Manual de Estratégia da da Janssen era crescer e proteger a quota de mercado da droga junto a pacientes infantis / adolescentes. Janssen instruiu seus representantes de vendas a recorrer a psiquiatras infantis, bem como a instalações de saúde mental que tratavam principalmente de crianças, comercializando Risperdal como um medicamento seguro e eficaz para sintomas de vários distúrbios da infância, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, desordem desafiadora de oposição, transtorno compulsivo-obsessivo e autismo “, afirmou o DOJ em comunicado de imprensa.

No mesmo ano, a empresa reportou vendas mundiais totais de US $ 71,3 bilhões, de acordo com um comunicado de imprensa da empresa.

Se penalidades de bilhões de dólares estão sendo contabilizada pela indústria farmacêutica como algo que implica em um custo aceitável para fazer negócios, o cálculo não leva em conta o custo das vidas irreparavelmente danificadas.

O dano aos Meninos Risperdal não é apenas físico, mas emocional e psicológico.

Tão cedo quanto com seis anos, Andrew estava se recusando a tirar a camisa na frente de seu próprio médico.

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Eddie from Oklahoma

Eddie, de Oklahoma, participou do documentário fotográfico, descrevendo como o bullying o levou a se retirar para um mundo solitário, ficando sozinho em casa em frente a uma tela de vídeo.

“Eu tinha mamilos maiores do que a maioria das meninas no ensino médio”, disse Eddie no documentário Risperdal Boys.

Ele teve a sorte de que SoonerCare de Oklahoma viesse a pagar sua mastectomia.

Alguns dos Risperdal Boys descrevem as suas tentativas para amarrar seus seios para torná-los menos visíveis, e não encontrando ninguém para namorar. Depois de ter sido abordado primeiramente por uma menina e depois por um menino em sala de aula, Arturo de Pontiac disse que deixou a escola e nunca mais voltou.

Como J & J sempre minimizou a conexão entre Risperdal e ginecomastia, Isaiah, de Flint, passou por testes de câncer antes que seus médicos, buscando encontrar uma resposta para desenvolvimento incomum de sua mama, descobrissem os níveis elevados de prolactina.

Talvez um dos mais conhecidos dos Risperdal Boys seja Austin Pledger, um jovem homem do Alabama em seus 20 anos. Sua mãe Benita falou por ele no tribunal durante seu julgamento contra J & J. A família do Austin ganhou o primeiro veredicto do júri contra J&J – um jurado na Filadélfia concedeu a Austin US $ 2,5 milhões.

A mãe do Austin, Benita, lembra da primeira receita preenchida para Risperdal, em 2002, quando seu filho tinha oito anos de idade, como tratamento para a irritabilidade associada ao autismo. O médico que prescreveu Risperdal para Austin recebeu o completo tratamento de comercialização do Risperdal apresentado pelo representante local de vendas da subsidiária da J & J e Janssen. O representante de vendas visitou o médico pelo menos 20 vezes, duas vezes mais vezes que Austin viu o médico, de acordo com testemunhas.

Austin ficou em Risperdal por cinco anos. Quando era adolescente, Austin tinha seios femininos cheios.

No julgamento, Benita descreveu como Austin colocava uma toalha sobre seus peitos quando ele saia do chuveiro, para que assim não os visse quando de frente ao espelho, e como ele uma vez bateu intencionalmente seus seios contra a mesa da sala de jantar.

J & J reconheceu em seu relatório anual de 2016 que a empresa enfrenta 18.500 ações judiciais pessoais em todo o mundo relacionadas ao Risperdal. Muitos dos meninos precisam de ajuda para pagar uma cirurgia plástica dispendiosa para desfazer o dano da droga.

De todos os pedidos de Risperdal apresentados contra a J & J, pelo menos três são conhecidos por terem sido resolvidos pela empresa na véspera do julgamento.

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Arturo from Pontiac

Desde o caso de Yount, os juízes do tribunal de delito de massa da Filadélfia impediram que quatro casos chegassem a um júri por motivos técnicos. As quatro decisões estão sob recurso. A J & J também está apelando dos veredictos contra a empresa.

Haverão mais casos Risperdal nos próximos meses.

Os novos casos trarão o tipo de publicidade que a J & J não precisa, com as recentes semanas a mostrar manchetes preocupantes. Bloomberg informou que a J & J perdeu seis dos sete maiores veredictos sobre a responsabilidade do produto em 2016. Além do julgamento de $ 76 milhões de Yount, os jurados deram ganho de causa a dois pacientes para implante de quadril, em um total de US $ 1,5 bilhão, além de três mulheres que alegando que o talco da empresa havia causado câncer de ovário obtiveram quase que US$ 200 milhões. Alguns dos veredictos foram reduzidos pelos juízes, e alguns devem ser apelados. A empresa reconhece mais de 100 mil processos judiciais pendentes, incluindo casos envolvendo alegações de que seu diluidor de sangue Xarelto causa sangramento não controlado e que a sua malha pélvica se deteriora e causa danos internos. Bloomberg informou que 17 casos de responsabilidade por produtos contra a empresa envolvendo morte e lesões foram esperados para julgamento em 2017.

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