Um levantamento realizado pela Funcional Health Tech, recentemente publicado no site da CNN, aponta que o consumo de antidepressivos entre adultos de 29 a 58 anos aumentou 12,4% no último ano. A pesquisa analisou importantes dados de mais de 2,5 milhões de favorecidos do programa Benefício Farmácia, comparando os período entre junho de 2023 a maio de 2024 e o período de junho de 2024 a maio de 2025.
Dentro desse levantamento, a pesquisa aponta que os antidepressivos já ocupam o segundo lugar entre os medicamentos mais utilizados, ficando atrás apenas dos antibióticos. Enquanto isso, o uso de ansiolíticos apresentou queda de 10,6%. Esses números refletem tanto mudanças nos hábitos de prescrição quanto um cenário social marcado pelo estresse, insegurança econômica e intensificação das pressões da vida contemporânea.
Embora parte dos especialistas associe o aumento à maior abertura da sociedade para discutir sobre saúde mental, os dados também evidenciam uma tendência de reforço à medicalização do sofrimento psíquico. A centralidade das indústrias farmacêuticas no “cuidado” ainda se sobrepõe a alternativas que poderiam integrar dimensões sociais, comunitárias e coletivas do tão falado cuidado em saúde mental.
A matéria aponta que segundo o IBGE, 10,2% dos brasileiros com 18 anos ou mais, já receberam diagnóstico médico de depressão, e quase metade dessas pessoas usava antidepressivos nas semanas anteriores à pesquisa. O crescimento desse consumo, portanto, não pode ser visto isoladamente: ele se conecta a um modelo de saúde que prioriza a prescrição em detrimento do acesso a políticas públicas de cuidado ampliado.
Como aponta Vieira na matéria:
“Esses dados confirmam que o crescimento do uso de antidepressivos entre adultos não é isolado: está associado a uma prevalência significativa da doença, desigualdade de acesso ao cuidado em saúde mental e às pressões da vida moderna. Isso reforça que saúde mental é um tema crítico e urgente para políticas de Saúde”.
Esse quadro reforça a urgência de se pensar a saúde mental para além da lógica biomédica, considerando a influência das desigualdades sociais e a necessidade de oferecer múltiplos caminhos de cuidado. Mais do que contabilizar o aumento no uso de medicamentos, é fundamental debater os efeitos da medicalização excessiva e garantir que o cuidado seja integral, acessível e não reduzido a soluções farmacológicas.
Links citados na matéria: https://www.funcionalhealthtech.com.br/