Um novo estudo realizado por Jeffrey Vittengl na Truman University descobriu que tomar medicamentos antidepressivos resultou em sintomas de depressão mais graves após nove anos.
O estudo, publicado em Psicoterapia e Psicossomática, examinou os resultados ao longo de um período de nove anos, incluindo a gravidade da depressão inicial, bem como outros fatores. Vittengl dividiu o tratamento em categorias e comparou-as com aquelas pessoas que não receberam algum tratamento formal em saúde mental:
- tratamento inadequado sem medicação (menos de oito sessões de terapia)
- tratamento inadequado, incluindo medicamentos (menos de quatro consultas com o médico)
- tratamento adequado sem medicação (pelo menos oito sessões de terapia)
- tratamento adequado com medicação (pelo menos quatro consultas com o médico)
Dos participantes com depressão, 38,1% não receberam tratamento, 25,2% receberam tratamento inadequado com medicação, enquanto 13,5% receberam tratamento adequado com medicação. 19,2% receberam tratamento inadequado sem medicação, e apenas 4,1% receberam tratamento adequado sem medicação.
Os resultados foram surpreendentes. Mesmo depois de controlar a gravidade da depressão, os participantes que tomaram medicação apresentaram sintomas significativamente mais graves no seguimento de nove anos do que os participantes que não o fizeram. Na verdade, mesmo as pessoas que não receberam nenhum tratamento melhoraram muito mais do que aqueles que receberam medicação. A “adequação” do tratamento não pareceu fazer muita diferença.
Esses resultados se somam a um conjunto de pesquisas que indicam que os antidepressivos pioram os resultados a longo prazo. Em um artigo publicado em 1994, a psiquiatra Giovanni Fava escreveu que “as drogas psicotrópicas realmente pioram, pelo menos em alguns casos, a progressão da doença que deveriam tratar”. Em um artigo de 2003, ela escreveu: “Uma tendência estatística sugeriu que, quanto mais tempo se está no tratamento medicamentoso, maior a probabilidade de recaída “.
Pesquisas anteriores também descobriram que os antidepressivos não são mais eficazes do que o placebo para depressão de leve à moderada, e outros estudos questionaram se esses medicamentos são efetivos mesmo para depressão grave. Também foram levantadas preocupações sobre os riscos para a saúde de tomar antidepressivos – como um estudo recente que descobriu que tomar antidepressivos aumenta o risco de morte em 33% (ver o post do Mad in Brasil).
De fato, estudos têm demonstrado que até 85% das pessoas se recuperam espontaneamente da depressão. Em um exemplo recente, os pesquisadores descobriram que apenas 35% das pessoas que sofreram depressão apresentaram um segundo episódio dentro de 15 anos. Isso significa que 65% das pessoas que sofrem de depressão provavelmente nunca mais a experimentará.
Os críticos de achados anteriores argumentaram que não é justo comparar aqueles que recebem antidepressivos com aqueles que não o fazem. Eles argumentam que a gravidade da depressão inicial confunde os resultados – aqueles com sintomas mais graves podem ser mais propensos a serem tratados com antidepressivos. Assim, de acordo com alguns pesquisadores, mesmo que antidepressivos tenham funcionado tão bem quanto psicoterapia ou para os que não receberam qualquer tratamento, aqueles tratados com antidepressivos ainda apresentariam resultados piores – porque eles apresentavam sintomas mais graves no começo.
É por isso que, no atual estudo, Vittengl incluiu a gravidade inicial e posterior da depressão em sua análise, bem como outras variáveis que podem fornecer explicações alternativas para os resultados. Isso fornece um contra-argumento direto para aqueles que argumentam que a gravidade inicial confunde os resultados.
É por isso que, no atual estudo, Vittengl incluiu a gravidade inicial e posterior da depressão em sua análise, bem como outras variáveis que podem fornecer explicações alternativas para os resultados. Isso fornece um contra-argumento direto para aqueles que argumentam que a gravidade inicial confunde os resultados.
Para este fim, ele usou dados do Midlife Development in the United States Survey, que acompanhou a gravidade da depressão, bem como os tipos de tratamento utilizados ao longo de nove anos. Os dados foram coletados em três períodos (1995-1996, 2004-2006 e 2013-2014), e 3.294 participantes permaneceram no estudo ao longo do terceiro período de investigação.
A pesquisa coletou dados sobre depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, além de outras condições médicas, história familiar das condições de saúde mental e trauma da infância. Dados adicionais incluíram fatores de personalidade, suporte social, funcionamento diário e uso de álcool. Como toda essa informação foi incluída na pesquisa, Vittengl conseguiu adicioná-la em sua análise.
Ele descobriu que, embora esses fatores tenham impactado os sintomas depressivos, eles estiveram igualmente presente entre os vários grupos. Ou seja, a gravidade inicial da depressão prevê a falta de melhora, mas isso acontece tanto se a pessoa está tomando medicação ou não. Portanto, não explica como os resultados podem ser piores com a medicação.
Talvez a limitação mais notável do estudo de Vittengl seja sua distinção entre tratamento “adequado” ou “inadequado”, baseado unicamente no número de sessões (porque foi o rastreado na pesquisa). Este pode não ser o melhor indicador de se os participantes estavam recebendo cuidados suficientes. No entanto, isso não afeta seus achados gerais, comparando o tratamento com a medicação ao tratamento sem medicação e o grupo que não recebeu tratamento algum.
Embora Vittengl escreva que os antidepressivos podem ter um benefício imediato e de curto prazo, ele argumenta que o uso de longo prazo parece prejudicial. Seus resultados sugerem que, em geral, as pessoas realmente melhoram a longo prazo se não buscam nenhum tratamento, o que não ocorre com quem está em medicamentos antidepressivos. A psicoterapia, por outro lado, parece não ter efeitos prejudiciais. No entanto, mesmo não os que não tiveram qualquer tratamento formal no campo da saúde mental foram mais bem sucedidos na redução dos sintomas após nove anos do que os que estiveram em uso de medicação.
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Vittengl, J. R. (2017). Poorer long-term outcomes among persons with major depressive disorder treated with medication. Psychotherapy and Psychosomatics, 86, 302-304. doi: 10.1159/000479162 (Link)