Revisão de estudos com antidepressivos pediátricos descobre evidências de falta de benefício

Revisão de estudos em antidepressivos pediátricos constata que a grande maioria é negativa nos resultados primários e há o aumento do risco de suicídio.

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RebeccaDavid Healy, Joanna Le Noury e Jon Jureidini apresentam sua reanálise de dados de pesquisas com antidepressivos pediátricos, em um novo artigo publicado no International Journal of Risk and Safety. Depois de classificar os estudos como positivos ou negativos de acordo com medidas de resultados primários, os autores descobriram que todos os 20 estudos conduzidos entre 1990 e 2005 foram negativos em seus resultados primários. Todos os 20 também resultaram em “um excesso de suicídio em quem estava em tratamento ativo”.

“Apesar dos desacordos sobre os dados que impulsionam o uso desses medicamentos, na prática os ‘antidepressivos’ podem ser os medicamentos mais comumente utilizados por meninas adolescentes, e os serviços de saúde mental infantil estão atraindo cada vez mais atenção”, escrevem Healy, Le Noury e Jureidini.

Captura de tela de domínio público do curta Curious Alice (1971), baseado no livro Mundo Encantado de Alice, de Lewis Carroll.
Captura de tela de domínio público do curta Curious Alice (1971), baseado no livro Mundo Encantado de Alice, de Lewis Carroll.

As prescrições de antidepressivos para adolescentes nos países ocidentais aumentaram nos últimos anos, apesar de uma breve queda no uso após o alerta da caixa preta de 2004 feita pela FDA. O CDC estima que entre 2011-2014, quase 13% dos adolescentes americanos estavam usando antidepressivos, com o uso das drogas pelas meninas sendo duas vezes maior do entre os meninos.

O uso disseminado de antidepressivos pediátricos persiste, apesar das dúvidas persistentes sobre a força dos resultados dos ensaios clínicos nos quais a aprovação regulatória dos medicamentos foi baseada. São esses resultados que Healy, La Noury e Jureidini reexaminam em seu estudo recentemente publicado. Sobre a questão do uso extensivo de antidepressivos entre adolescentes, os autores escrevem:

“Esse aumento no uso provavelmente decorre da visão positiva da eficácia e da suposta ausência de danos, informações veiculadas na literatura que chega ao público em geral. Até mesmo dicas de como aumentar a eficácia têm contribuído para as prescrições… ”

Os autores mapearam a história de aprovação regulatória dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), incluindo um ensaio de fluoxetina que foi apoiado pelo NIMH em 1997 que “relatou um benefícios”, e que forneceu uma base parcial para sua aprovação pela FDA para o tratamento da depressão adolescente. Preocupações posteriores surgiram em relação aos ‘benefícios e segurança’ dessas drogas para crianças e adolescentes, o que levou, em 2004, a uma advertência da FDA colocada em caixa preta. Nos últimos anos, estudos reavaliando dados de Pesquisa de Controle Randomizado com antidepressivos descobriram que os medicamentos apresentam benefício limitado e até mesmo danos potenciais a crianças e adolescentes.

Para o artigo atual, os autores examinaram todos os estudos sobre antidepressivos pediátricos realizados de 1990 até os dias atuais – 35 no total – e classificaram seus resultados como positivos ou negativos vis-à-vis os resultados primários dos estudos. Eles o fizeram revisando os Relatórios de Estudos Clínicos (CSRs), uma revisão da FDA de 2004, revisões da FDA da aplicação pediátrica da fluoxetina, bem como os relatórios da empresa clinicaltrials.gov. Os trabalhos avaliados incluem estudos da paroxetina, sertralina, fluoxetina, venlafaxina, citalopram, nefazodona, mirtazapina, duloxetina, L-Milnacipran, vortioxetina e vilazodona.

Os autores descobriram que todos os 20 ensaios realizados entre 1990 e 2005 foram negativos em medidas de resultados primários. Dois ensaios com a fluoxetina que forneceram a base para a aprovação regulatória do medicamento, e cujos resultados foram considerados positivos, revelaram ser na verdade negativos após a revisão.

Dos 15 estudos realizados desde 2006, revisados pelos autores, quase todos foram negativos em resultados primários. Além disso, os autores verificaram que todos os ensaios entre 1990 e 2005 mostram um “excesso de suicídio no tratamento ativo”. Eles também descrevem outros danos documentados dos ISRSs em crianças e adolescentes, que incluem entorpecimento genital, obstrução da velocidade de crescimento, ganho de peso e dificuldades com a descontinuação dos antidepressivos.

Healy e seus co-autores observam que as pesquisas com antidepressivos pediátricos para o TOC e ‘outros estados de ansiedade’ produziram alguns resultados primários positivos. Em suas recomendações finais, eles sugerem que as pesquisa de controle randomizado e as práticas de prescrição clínica poderiam se concentrar mais estreitamente no ‘efeito terapêutico’ específico dos ISRSs que é a ansiólise (descrita por alguns usuários como “entorpecimento emocional”), uma das características originais dessa classe de drogas e dos antidepressivos tricíclicos. Eles sugerem que concentrar-se nesse efeito como foco principal de estudos e tratamento “ajudaria a tornar mais racional a prática clínica ”. Sobre esse assunto, eles escrevem:

“Existe outra maneira de pensar sobre a utilidade clínica dessas drogas. Isso significaria um retorno ao pensamento que deu origem aos ISRSs, que foi um esforço para tornar mais visível um efeito terapêutico específico”.

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Healy, D., Le Noury, J., & Jureidini, J. Paediatric antidepressants: Benefits and risks. International Journal of Risk & Safety in Medicine, (Preprint), 1-7. (Link)