Nova Revisão da Literatura sobre o ‘Diálogo Aberto’

Estudos mostram a relevância da implementação do 'Diálogo Aberto' e que ele pode potencializar os processos de avanço no campo da desinstitucionalização.

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O método do ‘Diálogo Aberto’ (Open Dialogue) é o tema deste recente artigo publicado pela revista Ciências e Saúde Coletiva. Os autores Luciane Prado Kantorski (Universidade Federal de Pelotas) e Mario Cardano (Università degli Studi di Torino) são os responsáveis pelo artigo  O diálogo aberto e os desafios para sua implementação – análise a partir da revisão da literatura, no qual realizam uma ampla revisão da literatura acerca do método do Diálogo Aberto, buscando identificar seus princípios e possíveis contribuições para o processo de desinstitucionalização.

A revisão foi realizada em outubro de 2015 e rastrearam estudos publicados sobre a abordagem, os critérios de inclusão foram: estudos teóricos, de revisão e de pesquisa quantitativos e qualitativos que tratassem do Diálogo Aberto, de seus princípios, concepções, abordagem, experiência, método, tratamento e de seus resultados. Foram analisados estudos publicados em língua portuguesa, espanhola, italiana, francesa e inglesa.

O artigo é importante porque copila material teórico sobre o Diálogo Aberto, assim como os resultados clínicos da abordagem, permitindo uma visão ampla e embasada sobre os reais benefícios da abordagem finlandesa e seus desafios numa possível implementação. Os autores trazem dados de estudos quantitativos e qualitativos de curto, médio e longo prazo, dando assim uma perspectiva temporal dos resultados.

https://wideopenminded.wordpress.com/2015/05/25/open-dialogue-the-human-approach/

A experiência de mais de 20 anos divulgada nos artigos pesquisados mostram evidências que relacionam o tratamento do Diálogo Aberto à redução, em pacientes psicóticos, do uso de neurolépticos, à redução no número de dias de internação hospitalar, menos sintomas residuais, à maior integração social pelo estudo e trabalho em tempo integral, e que são reveladoras da potencialidade do método de tratamento. Para o avanço dos estudos sobre o tema, os autores sugerem a realização de pesquisas relacionadas às habilidades sociais, autonomia, inserção da pessoa em diferentes tipos de emprego e em diferentes fases e programas escolares, bem como sobre composição e densidade de rede social. Ademais, estudos qualitativos que enfoquem aspectos subjetivos do tratamento, das reuniões, da interrupção do uso de psicofármacos, também de aspectos organizativos e culturais envolvidos na implementação do Diálogo Aberto.

Nesse sentido, os autores concluem ser de fundamental relevância a implementação do Diálogo Aberto, podendo potencializar os processos de avanço no campo da desinstitucionalização. O método do Diálogo Aberto coloca em questionamento posições hierárquicas na equipe, relações de poder entre profissionais e pacientes, além de retirar a centralidade do psicofármaco como instrumento principal de tratamento, para dar lugar ao diálogo.

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KANTORSKI, Luciane Prado; CARDANO, Mario. O diálogo aberto e os desafios para sua implementação – análise a partir da revisão da literatura. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 24, n. 1, p. 229-246,  jan. 2019 (Link)

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Graduada em Psicologia pela UERJ, especialista em Terapia Familiar pelo IPUB/UFRJ, com ênfase em saúde mental. Pesquisadora auxiliar do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial(LAPS/ENSP/Fiocruz) Produtora e apresentadora do podcast Enloucast. Além de atuar como psicóloga clínica. Áreas de interesse: Saúde Mental, Terapia Sistêmica, Diálogo Aberto, Construcionismo Social, Medicalização e Patologização da vida