Estrutura, Vínculo e Rede de apoio da Família de um Usuário

Familiares identificados como cuidadores de pessoas diagnosticadas com transtornos psiquiátricos, também vivenciam situações de vulnerabilidade social, e necessitam de apoio e cuidado.

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A Revista de Enfermagem UFSM publicou recentemente um artigo sobre os familiares que convivem com pessoa diagnosticada com transtorno mental. Buscou-se  analisar a estrutura, os vínculos, a rede de apoio de uma família, com o auxílio do genograma e do ecomapa. A pesquisa foi de tipo qualitativa exploratório e descritivo. Utilizou-se entrevista semiestruturada norteada pelo Guia para Avaliação e Intervenção na Família.

Os autores iniciam o artigo encalecendo o que estão considerando como família, um “sistema aberto interconectado com outras estruturas sociais.” A família não se resume a laços sanguíneos, estendendo-se a todos aqueles com quem a pessoa possa compartilhar relações de cuidado, vínculos afetivos, de convivência e parentesco.

Em relação ao contexto de cuidado em saúde mental, os familiares desenvolveram um papel colaborativo no cuidado e assistência da pessoa em sofrimento psíquico, através do auxílio em atividades cotidianas, desde o autocuidado, passando pelo lazer, até ajudando no trabalho e inserção social do sujeito, entre outras atividades. Entretanto, a família pode sentir dificuldades em assumir esse papel, por motivos de sobrecarga, gastos financeiros, agressividade do familiar, etc.

Os autores acreditam que o uso do genograma e ecomapa podem contribuir com a realização de intervenções que busquem melhorar os vínculos afetivos e o cuidado aos usuários e seus familiares. Assim como, auxiliar os profissionais de saúde a planejarem estratégias conjuntas com a família, contribuindo com o enfrentamento dos problemas enfrentados pela família.

A família escolhida para a realização da entrevista foi o casal Ana e Abel (nomes fictícios), pais de três filhos, um deles é Alex de 34 anos (nome fictício), internado cerca de 30 vezes e diagnosticado com deficiência intelectual moderada.

” A construção compartilhada do genograma e ecomapa possibilitou que a família relatasse seu cotidiano e suas relações, tornando mais claros aspectos do seu contexto, o que pode ser relevante para o levantamento de dados e posterior intervenção.”

Nota-se que quando há ausência ou pouca participação de alguns membros da família, a sobrecarga de outros membros aumenta, ocasionando internações e prejuízo na relação entre familiares. Já as relações fortes, bem como o apoio e auxílio entre os familiares refletem no cuidado prestado, pois propiciam mais segurança, conforto e tranquilidade para o(a) cuidador (a).

“A vulnerabilidade psicossocial da família que convive com pessoa com transtorno mental é um fator que repercute no processo de cuidado prestado a ela, considerando a importância e o papel que é atribuído aos familiares.”

A escassez de serviços substitutivos às internações de longa permanência, assim como a ausência ou número reduzido de Residências Terapêuticas, aumenta a chance de ocorrer internações e sobrecarga dos familiares.

O estudo apresenta limitações, pois foi realizado com apenas uma família, mas é um convite para a reflexão do papel da família no cuidado, ampliando o debate para a realidade de vulnerabilidade, que muitos familiares se encontram, e por sua vez, ilustra a necessidade das família de apoio e cuidado.

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Cattani AN, Ronsani APV, Welter LS, Mello AL, Siqueira DF, Terra MG. Família que convive com pessoa com transtorno mental: genograma e ecomapa. Rev. Enferm. UFSM. 2020. (Link)