Consciência Relacional

Nós não somos apenas nosso cérebro, somos muito mais que isso. Somos nossa relação com os outros e com o mundo.

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Recentemente, foi publicado o livro Você não é o seu cérebro! do autor Felipe Stephan Lisboa. Felipe é psicólogo  e Mestre em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ. O livro conta com ótimos ensaios sobre psicologia, neurociências e cinema.

Gostaria de destacar o primeiro ensaio cujo título dá nome ao livro. Para dar início a reflexão, o autor escolhe duas histórias que ilustram bem a temática: a notícia de 2011 sobre um empresário que planejava transferir seu cérebro para um robô, com o objetivo de se tornar imortal; e a história ficcional do filme O homem com dois cérebros (1983).

O que há de em comum entre essas duas histórias? Ambas carregam a ideia de que tudo o que somos, pensamos e sentimos se resumiria ao nosso cérebro. É claro, que negar a importância do cérebro para a vida humana seria loucura. Não é essa a questão. Afinal, podemos perceber a importância desse órgão usando o exemplo das crianças anencéfalas, que no geral, não vivem mais que poucos dias.

No entanto, o autor defende que o cérebro não é o único responsável por sermos quem somos. Nós precisamos de um corpo, e precisamos de um mundo para esse corpo interagir.

“Você não é o seu cérebro. Você tem um cérebro, sim. Mas você é um ser vivo que está ligado a um ambiente, você tem um corpo e interage de forma dinâmica com o mundo. (Alva Nöe)”

O filósofo Alva Nöe, falando sobre consciência, afirma que esta não é material (não é algo que ocorre dentro do nosso cérebro), mas sim relacional. Ou seja, a consciência está na dinâmica das relações.

“Como bem aponta Nöe no livro Our of our heads, a atividade neural é necessária, mas não suficiente para explicar a consciência de nós mesmos e do mundo.”

Para exemplificar o que afirma Nöe, o autor usa o amor como exemplo. Quando pensamos ou nos encontramos com a pessoa amada, existem regiões do nosso cérebro que são ativadas. Mas, isso não reduz o amor apenas a uma atividade cerebral. O amor está na relação entre as pessoas e delas com o mundo.

“Somos o todo, e não uma parte; somos nossas relações com os outros e com o mundo.”

O autor termina citando o sociólogo Nobert Elias que afirma “nós somos partes uns dos outros” e não apenas um pedaço de carne, um órgão ou o nosso cérebro.

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LISBOA, F. S. Você não é o seu cérebro. In: ____. Você não é o seu cérebro: e outros ensaios sobre psicologia, neurociências e cinema. Curitiba: Appris, 2020. p. 15-20.