As Pílulas para a Depressão podem Transformar Alguém em um Assassino?

Último documentário da BBC One 'Panorama': "uma prescrição para assassinato?"

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fernando_foto_definitivaEm uma entrevista chocante, um homem que se considera um pai amoroso conta como ele matou seu filho durante um episódio psicótico, causado, segundo ele, por medicação psiquiátrica.

Ele se chama David Carmichael, 59 anos de idade. Matou seu filho Ian, 11, durante um episódio psicótico cujas evidências sugerem haver sido provocado por uso de antidepressivo.

David Carmichael
David Carmichael

Um juiz determinou não ser ele “criminalmente responsável por sofrer de um transtorno mental”

David sempre acreditou que sua psicose foi causada por um tipo de antidepressivo conhecido como ‘inibidor seletivo de reabsorção de serotonina’ (ISRS).

Seu filho Ian tinha epilepsia e uma leve dislexia, mas não tinha outros problemas além de ficar um pouco atrasado com a sua leitura. David era um pai entusiasmado e dedicado, um treinador de esportes de Toronto, Canadá, que passava a sua vida profissional trabalhando com crianças. Quando David tirou a vida de Ian durante um episódio psicótico, ele estava convencido de que sua esposa, Beth e sua filha Gillian, iriam agradecê-lo por se livrar do “intolerável” fardo que Ian havia se tornado para eles.

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David foi julgado por homicídio em primeiro grau, mas o juiz determinou que ele não era “criminalmente responsável, por sofrer de um transtorno mental”. Dois psiquiatras forenses o diagnosticaram com uma “grande depressão com episódios psicóticos” quando matou Ian. David foi enviado para um hospital psiquiátrico onde passou quatro anos. Em 4 de dezembro de 2009, ele recebeu liberdade absoluta, e uma constatação de culpa, sem antecedentes criminais.

É uma história verdadeiramente chocante e amargamente trágica. David sempre acreditou que sua psicose tenha sido causada pela paroxetina (vendida no Brasil como Pondera, Aropax ou Cebrilin).

Embora os antidepressivos pareçam funcionar para algumas pessoas, seus efeitos colaterais são bem conhecidos: sonolência, náusea, insônia e perda de libido são alguns dos mais frequentes. No entanto, a literatura científica também relata outros efeitos colaterais bem mais graves, como ansiedade, agitação; e ainda alucinações e delírios paranoicos, que, embora mais raros, podem ter um impacto devastador.

A cineasta Katinka Blackford Newman, descreveu aqui no Mad in Brasil suas experiências terríveis. Horas depois de tomar sua primeira dose de antidepressivo Katinka se tornou psicótica.

A experiência de Katinka B. Newman e de David Carmichael faz parte de um documentário da BBC “Panorama”, que será exibido amanhã, dia 26 de julho, no Reino Unido.

The Murder

http://www.bbc.co.uk/programmes/b08zjyp1

Mais de 60 milhões de prescrições para antidepressivos foram escritas apenas no Reino Unido em 2015.

No Brasil, nós não temos os números; mas é muito provável que igualmente seja elevadíssimo o número de brasileiros tomando antidepressivos.

É bem verdade que muito poucas pessoas se tornam suicidas ou homicidas, mas de acordo com David Healy, professor de psiquiatria na Universidade de Bangor e crítico líder dos antidepressivos, uma em cada 1.000 pessoas que tomam a medicação antidepressiva é gravemente afetada.

“Provavelmente há até 2.500 suicídios adicionais na Europa desencadeados por algum antidepressivo ISRS”, afirma o professor Healy, que fundou um site que ajuda a identificar potenciais riscos de drogas, que você pode acessar a partir de um link postado na primeira página do Mad in Brasil.

Em março de 2012, 28 estudantes e professores belgas e holandeses foram mortos quando o treinador jogou o ônibus contra a parede de um túnel. Os investigadores contratados pelos pais descobriram que o motorista estava em processo de descontinuação da Paroxetina. Eles acreditam que ele se matou enquanto sofria de delírio causado por níveis flutuantes da droga.

No mesmo ano, na estreia de um filme de Batman em Aurora, Colorado, James Holmes, um estudante de doutorado de 24 anos, sem registro de violência, matou 12 pessoas e feriu 70. Perguntas têm sido levantadas sobre se o antidepressivo que ele tomava desempenhou um papel relevante.

Andreas Lubitz, o piloto alemão que, em 24 de março de 2015, jogou deliberadamente o avião da Lufthansa nos Alpes franceses, matando todas as 150 pessoas a bordo, estava tomando antidepressivos, incluindo a mirtazapina.

O professor Healy acredita que David Carmichael estava “muito provavelmente” sob o controle da psicose induzida pelo antidepressivo quando ele matou Ian.

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Mail On lineSe você quer ler na íntegra a matéria da edição de hoje (25 de julho) do Mail clique aqui.

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Katinka NewmanA respeito da experiência de Katinka Blakeford Newman com antidepressivos e o drama que ela teve que enfrentar, confira a recente matéria do The Times (23 de julho de 2017).