Um novo artigo, publicado no Journal of the Royal Society of Medicine, encoraja mais empatia nos cuidados de saúde. Os autores abordam as barreiras existentes para os cuidados empáticos e também fornecem recomendações sobre como fornecer ‘medicina baseada em empatia’. Os autores, liderados por Jeremy Howick, diretor do Oxford Empathy Program da Universidade de Oxford, escrevem:
“O paradigma atual da saúde está causando o desgaste do profissional e resultados com os pacientes muito abaixo do que é possível. Visto que a melhora na comunicação empática beneficia os pacientes, e que não está sendo implementada consistentemente, uma mudança é necessária e requisitada “.
Os profissionais enfrentam muitas barreiras para se comunicarem com os seus pacientes empaticamente, como não terem tempo suficiente, estarem sobrecarregados, uma grande quantidade de papelada a ser preenchida, e a assistência ser orientada por metas instrumentais e/ou estratégicas. “Como resultado, os pacientes sofrem, afirmando que os clínicos não se comunicam adequadamente, muitas vezes deixando suas necessidades e preocupações insuficientemente abordadas”, escrevem os autores. Eles explicam:
“A medicina baseada em evidências tem tentado – com sucesso variável – garantir que novas intervenções produzam mais benefícios do que danos. No entanto, o foco na evidência tem tido como consequência não intencional que o foco esteja em exames, tratamentos e metas, enquanto o valor terapêutico do encontro clínico tem ficado perdido “.
Pesquisas têm frequentemente mostrado que o cuidado empático melhora os resultados dos pacientes e, portanto, os autores afirmam que “o cuidado empático é uma intervenção baseada em evidências”. O cuidado empático ajuda a reduzir a dor e a ansiedade em pacientes enquanto diminui o estresse e o desgaste entre os profissionais.
A empatia pode ser comunicada pelos profissionais ao reservarem um tempo para conversar com os pacientes, oferecendo encorajamento e usando sinais verbais e gestos físicos para comunicar interesse e compreensão. Os autores identificam três componentes da empatia no trabalho clínico:
- “Tentando, na medida do possível, entender a situação, os sentimentos e a perspectiva de outra pessoa, reconhecendo as dificuldades em colocar-se no lugar de outra pessoa;
- Comunicando essa compreensão, verificando sua precisão;
- Agindo a partir desse entendimento de uma maneira solidária “.
Os autores pedem um novo paradigma, onde “a comunicação empática do paciente / profissional seja entendida como uma intervenção efetiva de pleno direito”. Nessa mudança de paradigma, as experiências dos pacientes são valorizadas e o planejamento das ações é feito de forma colaborativa.
Os autores afirmam: “A medicina baseada em empatia promete melhorar os resultados dos pacientes, reduzir o desgaste do profissional e economizar dinheiro”. Eles identificam duas mudanças nos cuidados de saúde que ajudarão a fornecer uma medicina baseada em empatia.
Em primeiro lugar, os autores recomendam usar a tecnologia como um auxiliar para a comunicação empática, e não como uma barreira. Isso está de acordo com sugestões de outros pesquisadores para usar a tecnologia para melhorar o atendimento ao paciente. Os autores recomendam que a tela do computador fique de frente ao profissional e ao paciente e que tenha dados do histórico médico que foram coletados eletronicamente, tudo isso sob o olhar atento do paciente. A tecnologia também pode ser usada para coletar o feedback do paciente. Eles escrevem:
“Também é verdade que aspectos da prestação de cuidados de saúde podem tornar os profissionais menos propensos a expressar empatia – pressão do tempo, prioridades conflitantes, burocracia, etc. Ao restabelecer o encontro clínico como o coração da saúde e explorar as tecnologias disponíveis, isso pode mudar.”
Em segundo lugar, os autores enfatizam que os profissionais precisam ser apoiados sistemática e institucionalmente no fornecimento de cuidados empáticos e, portanto, uma mudança cultural deve ocorrer. Eles recomendam que a empatia seja modelada por todos os profissionais de saúde, não apenas em relação aos pacientes, mas entre os colegas. Eles escrevem: “Essa cultura seria ainda mais apoiada se os profissionais de saúde fossem recrutados por seus desejos e capacidade de estar em sintonia com o outro, além das suas habilidades técnicas”. Os pesquisadores também recomendam a inclusão de cuidados empáticos no treinamento médico.
Os autores observam corretamente que “os praticantes geralmente não têm empatia. Em vez disso, eles são obrigados a trabalhar dentro de um sistema que valoriza as metas em relação às pessoas “. Portanto, é necessário que haja uma mudança de paradigma que ofereça suporte aos que prestam cuidados empáticos, pois, em última instância, isso irá melhorar a experiência de pacientes e profissionais de saúde.
****
Howick, J., & Rees, S. (2017). Overthrowing barriers to empathy in healthcare: Empathy in the age of the Internet. Journal of the Royal Society of Medicine. Advance online publication. doi:10.0141076817714443. (Link)