Antidepressivos no tratamento da insônia

Os resultados de uma meta-análise da Cochrane mostram que a prática comum de prescrever antidepressivos para tratar a insônia não é apoiada por evidências atuais.

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psimonsUma nova meta-análise no Banco de Dados Cochrane de Revisões Sistemáticas examinou ensaios clínicos randomizados e controlados de medicação antidepressiva para o tratamento da insônia. Os autores, liderados por Hazel Everitt, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, descobriram que haviam muito poucos estudos, de pequena amplitude, cada um com muitos problemas metodológicos. A revisão do Cochrane conclui que “as evidências não apoiavam a prática clínica atual de prescrever antidepressivos para insônia”.

     “No geral, a qualidade das evidências foi baixa devido a um pequeno número de pessoas nos estudos e a problemas com a forma como os estudos foram realizados e relatados”, dizem Everitt e seus colegas.

Photo Credit: Pixabay
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Além disso, os autores escrevem que os efeitos colaterais foram subnotificados ou não relatados em todos os estudos que examinaram, tornando impossível fornecer consentimento informado sobre os riscos e benefícios dos medicamentos. Da mesma forma, não houve estudos de longo prazo.

Drogas “hipnóticas” como benzodiazepínicos e drogas “Z” são aprovadas para tratar insônia, mas preocupações foram levantadas sobre tolerância e dependência. Por esse motivo, as diretrizes recomendam que sejam usadas por até quatro semanas. Intervenções psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), também são fornecidas para a insônia, mas muitas vezes não são acessadas. Por esta razão, os médicos podem recorrer a outras soluções, como os antidepressivos.

Everitt e seus colegas escrevem que, embora os antidepressivos não tenham aprovação da FDA para o tratamento da insônia, eles são comumente prescritos para esse fim. Os dois mais comuns são trazodona e amitriptilina.

“Os efeitos dos ISRSs em comparação com o placebo são incertos, com poucos estudos para chegar a conclusões claras”, escrevem os pesquisadores. “Pode haver uma pequena melhora na qualidade do sono com o uso a curto prazo de doxepina em baixas doses e trazodona em comparação com o placebo. A tolerabilidade e segurança dos antidepressivos para insônia é incerta devido à notificação limitada de eventos adversos. Não houve evidência de amitriptilina (apesar do uso comum na prática clínica) ou uso prolongado  para insônia. ”

A revisão incluiu 23 ensaios clínicos randomizados e controlados de antidepressivos, com um total de 2.806 participantes. Os estudos foram todos publicados antes de 2016. Ensaios clínicos randomizados e controlados são considerados a mais alta qualidade de evidência – embora isso não os impeça de ter problemas metodológicos. A revisão também incluiu ensaios com participantes com condições comórbidas (como depressão ou ansiedade), o que é útil, uma vez que essas comorbidades são comuns em situações da vida real.

Os pesquisadores analisaram três estudos que compararam os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) com placebo (dois com paroxetina e um com fluoxetina); seis estudos que compararam antidepressivos tricíclicos (ADTs) com placebo (cinco com doxepina e um com trimipramina); sete estudos que compararam a trazodona ao placebo; e um estudo que comparou a mianserina ao placebo.

Eles concluíram que as evidências disponíveis eram de baixa qualidade, insuficientes para demonstrar que essas drogas eram eficazes no tratamento da insônia. Em alguns casos, o estudo não mostrou melhora, como o estudo da fluoxetina. Foi notável que não houve um único estudo sobre a eficácia da amitriptilina para a insônia. A trazodona se saiu um pouco melhor, havia pelo menos alguma evidência de melhora no sono no curto prazo, embora seus estudos tenham sido marcados por limitações metodológicas, falhas na identificação de efeitos adversos e falta de acompanhamento em longo prazo, .

Além de pedir mais pesquisas sobre antidepressivos para insônia, Everitt e seus colegas escrevem que “os profissionais de saúde e os pacientes devem estar cientes da escassez atual de evidências de antidepressivos comumente usados para o controle da insônia”.

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Everitt, H., Baldwin, D. S., Stuart, B., Lipinska, G., Mayers, A., Malizia, A. L. . . . Wilson, S. (2018). Antidepressants for insomnia in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, 5(Art. No.: CD010753). doi: 10.1002/14651858.CD010753.pub2 (Link)

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.