Antidepressivos Mitigam a Capacidade para Sentir Empatia

Um novo estudo sugere que tomar antidepressivos prejudica a empatia, enquanto que a experiência da depressão em si não afeta a empatia

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A empatia é parte integrante da socialização humana. É como mostramos aos outros que entendemos e nos importamos com o estado emocional deles. Mas o que acontece se os medicamentos que você está tomando diminuírem essa capacidade? Um novo estudo sugere que tomar antidepressivos prejudica a empatia, enquanto a experiência da depressão em si não faz o mesmo.

A pesquisa foi liderada por Markus Rütgen e Claus Lamm, da Universidade de Viena, na Áustria. Foi publicado na revista Translational Psychiatry.

Photo Credit: U.S. Army photo

Pesquisadores anteriores sugeriram que a depressão em si resulta em menor empatia em relação aos outros. No entanto, essa pesquisa é limitada por uma falha significativa – quase inteiramente conduzida em pessoas que estão tomando antidepressivos. Um problema adicional com pesquisas anteriores é que elas se concentraram na empatia autorrelatada – que não é confiável em estudos de depressão.

No presente estudo, os pesquisadores procuraram resolver essas duas falhas com o desenho do projeto de pesquisa que fizeram. Primeiro, eles compararam pessoas com um diagnóstico de depressão (“TDM aguda”) sem estar a tomar antidepressivos para pessoas sem diagnóstico de depressão (grupo de controle ‘saudáveis’). Eles então fizeram o mesmo teste depois que os participantes tiveram três meses de uso de antidepressivos. Três diferentes antidepressivos foram usados: escitalopram, venlafaxina e mirtazapina, cada um com efeitos ligeiramente diferentes no sistema de serotonina.

Além disso, ademais de pedir aos participantes que relatassem seus níveis de empatia, os pesquisadores usaram uma tomografia computadorizada de ressonância magnética funcional. Eles usaram os testes padrão de fMRI para conectividade funcional entre partes do cérebro associadas a respostas empáticas à dor. Enquanto eram submetidos ao scan do cérebro, os participantes assistiram a vídeos de uma pessoa que sofria de dor por cerca de seis minutos e meio.

Os resultados? Pessoas com diagnóstico de depressão não foram diferentes daquelas do ‘grupo de controle dos saudáveis’ em termos de resposta empática, conforme medido pelo fMRI.

Os pesquisadores escrevem que isso indicava “uma resposta empática ‘normal’em pacientes com TDM aguda antes de serem submetidos a tratamento antidepressivo”.

No entanto, após três meses de tratamento com antidepressivos, as pessoas tiveram muito menos ativação nas áreas do cérebro associadas à empatia. Não houve diferença com base em qual o antidepressivo foi o usado.

Curiosamente, a empatia autorrelatada também mudou: após os participantes tomarem antidepressivos por três meses, eles relataram que era significativamente menos desagradável observar uma pessoa com dor por seis minutos e meio. Segundo os pesquisadores:

“Após três meses de terapia, os pacientes mostraram respostas neurais diminuídas em áreas do cérebro selecionadas a priori que são ativadas de forma confiável pela dor empática (IA bilateral e CCAM), e relataram um decréscimo do afeto desagradável em resposta à dor de outros.”

O estudo, portanto, demonstrou que os medicamentos antidepressivos facilitam a observação de outros com dor e que esse efeito é detectável no cérebro.

Em sua conclusão, os pesquisadores sugerem que a falta de empatia em relação aos outros “pode ser um efeito colateral vantajoso enquanto uma função protetora”.

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Rütgen, M., Pletti, C., Tik, M., Kraus, C., Pfabigan, D. M., Sladky, R., . . . Lamm, C. (2019). Antidepressant treatment, not depression, leads to reductions in behavioral and neural responses to pain empathy. Translational Psychiatry, 9(164). https://doi.org/10.1038/s41398-019-0496-4 (Link)

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.