Alguns terapeutas são melhores em formar alianças com clientes do que outros

Os pesquisadores constataram que alguns terapeutas são melhores em estabelecer uma boa aliança com seus clientes, o que acaba levando a melhores resultados de tratamento.

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A aliança terapêutica – a ligação entre terapeuta e cliente – tem sido consistentemente ligada a melhores resultados na terapia. Em um novo estudo, os pesquisadores descobriram que uma parte significativa dessa aliança é determinada pela habilidade do terapeuta em se conectar com os clientes.

Eles escrevem: “Parece que alguns terapeutas são consistentemente (isto é, com cada um de seus clientes) melhores em formar alianças do que outros e esses terapeutas tendem a ter melhores resultados gerais de tratamento com seus pacientes”.

Como o discurso acerca de uma crise de saúde mental na sociedade continua a crescer, especialmente em resposta a tempos incertos, incluindo a pandemia da COVID e a instabilidade política e econômica, muitas pessoas estão à procura de tratamento. Em um novo estudo, publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology, uma equipe internacional de pesquisa investigou se os efeitos do terapeuta moderam a relação entre a aliança terapêutica e os resultados do tratamento. Os pesquisadores incluíram Bruce Wampold, conhecido em psicologia de aconselhamento por seu trabalho sobre os fatores comuns que tornam os terapeutas eficazes.

Os autores observam, “A aliança terapêutica refere-se à colaboração mútua entre paciente e terapeuta em metas e tarefas da psicoterapia, juntamente com o vínculo terapêutico entre ambos”. Várias metanálises em larga escala têm demonstrado que a aliança terapêutica é um preditor robusto do sucesso do tratamento…. O impacto da aliança também tem sido demonstrado em várias condições de saúde mental”.

O que é conhecido como “efeito terapeuta” é outra descoberta consistente na pesquisa psicoterapêutica, na medida em que os terapeutas diferem em sua eficácia de influenciar os resultados do tratamento. Embora muitos dos atributos do terapeuta que levam a melhores resultados não tenham sido completamente estudados, a pesquisa tem mostrado um efeito positivo da empatia do terapeuta. Mesmo enquanto clínicos e pacientes muitas vezes discordam em sua avaliação da terapia, os efeitos do terapeuta conforme os que costumam ser avaliados pelos pacientes ainda representam uma parte significativa da aliança. Eles também citam a repetida descoberta de que terapeutas com capacidade de formar fortes alianças com seus clientes tendem a ter melhores resultados de tratamento.

Como as descobertas anteriores sobre os efeitos dos terapeutas na relação entre a aliança e os resultados, os pesquisadores quiseram atualizar a ciência através da realização de uma meta-análise. Replicando e ampliando pesquisas anteriores feitas sobre o tema há uma década, através de 153 estudos os pesquisadores calcularam um índice de efeito terapeuta, o Patient-Therapist Ratio (PTR). Para levar em conta outras variáveis que poderiam influenciar o efeito terapeuta, os pesquisadores controlaram para o diagnóstico de transtornos de personalidade, uma medida usada para avaliar a aliança terapêutica, a fonte de medida da aliança e do resultado (avaliada pelo paciente, terapeuta ou observador), e o desenho da pesquisa.

Os autores escrevem: “Se a maior parte da variação na qualidade da aliança se deve à influência dos clientes, os esforços e métodos de tratamento dos terapeutas terão um impacto limitado sobre o resultado da aliança. Entretanto, se os terapeutas forem responsáveis pela maior parte da variação da aliança, então nossos esforços para melhorar as habilidades dos terapeutas no desenvolvimento de alianças fortes e no desenho de tratamentos que se concentrem em melhorar a aliança terão resultados de retorno importantes”.

Após utilizarem modelos meta-analíticos de vários níveis para analisar estatisticamente o impacto do efeito do terapeuta (PTR) sobre a aliança terapêutica e seus resultados, eles descobriram que ele ainda teve um impacto estatisticamente e clinicamente significativo, mesmo quando fazendo o controle das outras variáveis mencionadas anteriormente. Os autores dizem que seus resultados fornecem evidências de que o treinamento de terapeutas em habilidades de relacionamento irá melhorar a aliança terapêutica e, portanto, seus tratamentos serão mais eficazes.

Embora concluam que os efeitos do terapeuta como um todo são significativos, os autores mencionam a necessidade de mais pesquisas sobre o que torna os terapeutas mais ou menos eficazes. Eles citam algumas evidências de que terapeutas mais eficazes demonstram habilidades interpessoais em situações desafiadoras, fluência verbal, expectativas positivas para o resultado do tratamento, persuasão, expressão emocional, calor, aceitação e compreensão, capacidade de sintonia com os pacientes e capacidade de resposta durante as rupturas na aliança.

Os autores relatam que ainda pode haver outras variáveis que impactam a aliança – que ainda não foram controladas. Considerando explicações alternativas para o porquê do índice PTR de efeitos terapeutas serem preditivos do resultado da aliança, eles mencionam que terapeutas mais efetivos não tiveram menor número de casos. Embora com clínicos de saúde mental e sistemas sobrecarregados com a demanda, levar tempo para encontrar um bom psicoterapeuta ainda poderia valer a pena para um tratamento mais eficaz.

“Em conclusão”, os autores escrevem, “os terapeutas que geralmente formam fortes alianças entre uma série de pacientes tiveram maior probabilidade de ter resultados positivos em comparação com os terapeutas que geralmente tinham alianças mais fracas entre os pacientes”. Ou seja, a variabilidade dos terapeutas na aliança foi apoiada meta-analiticamente como sendo mais relevante do que a variabilidade dos pacientes para melhores resultados pós-tratamento”.

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Del Re, A. C., Flückiger, C., Horvath, A. O., & Wampold, B. E. (2021). Examining therapist effects in the alliance–outcome relationship: A multilevel meta-analysis. Journal of Consulting and Clinical Psychology89(5), 371–378. https://doi.org/10.1037/ccp0000637 (Abstract)

[trad. e edição Fernando Freitas]