Pesquisadores alertam sobre “Atrofia Cerebral” em crianças prescritas com Antipsicóticos

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Em um novo comentário, os pesquisadores discutem as evidências de que os medicamentos antipsicóticos podem causar atrofia cerebral – especialmente em crianças, cujos cérebros ainda estão se desenvolvendo. O artigo foi escrito por Tarun Bastiampillai, Peter Parry e Stephen Allison na Universidade Flinders na Austrália, e foi publicado no Australian and New Zealand Journal of Psychiatry (ANZJP).

Os autores escrevem que uma ideia aceita na psiquiatria é que as crianças são mais suscetíveis aos efeitos adversos dos antipsicóticos de segunda geração, tais como obesidade, diabetes e sedação. Entretanto, as mudanças no cérebro provocadas pelos antipsicóticos são um assunto mais controverso. Alguns psiquiatras sugeriram que a própria psicose é responsável pela atrofia cerebral e que os medicamentos podem proteger o cérebro através da redução dos sintomas.

Infelizmente, de acordo com Bastiampillai, Parry e Allison, isto não se encaixa com os resultados das pesquisas. Eles citam um estudo de 2011 onde uma maior duração do uso de antipsicóticos e uma dose mais alta de medicamentos antipsicóticos foram ambos associados à perda de volume cerebral. Os pesquisadores controlaram fatores de confusão, tais como duração da “doença” psicótica, gravidade dos “sintomas” e abuso de substâncias. Isto sugere que a “gravidade da doença” não pode ser usada para explicar essa perda de volume cerebral.

Da mesma forma, estudos em macacos e ratos mostram que quando animais saudáveis são expostos a antipsicóticos, eles perdem em média 8-11% de seu volume cerebral, especialmente no córtex cerebral frontal. Os pesquisadores testaram tanto o haloperidol quanto a olanzapina, o que significa que este efeito foi encontrado tanto para os antipsicóticos de primeira geração quanto para os antipsicóticos de segunda geração mais novos.

Essas descobertas são especialmente preocupantes à luz das recentes evidências de que são prescritos antipsicóticos às crianças na ausência de quaisquer sintomas psicóticos – e geralmente, sem nenhum diagnóstico de saúde mental.

Os autores citam um artigo de 2015 na JAMA Psiquiatria onde os pesquisadores relataram que “a maioria dos jovens tratados com antipsicóticos não tiveram nenhum diagnóstico registrado em seus dados de reivindicações de cuidados de saúde” – significando que as crianças estão sendo prescritas antipsicóticos como um controle comportamental, ao invés de tratar uma condição diagnosticada.

Olfson, King e Schoenbaum – os autores desse artigo de 2015 – escrevem que esses problemas comportamentais são limitados a fases do desenvolvimento, o que significa que a maioria das crianças provavelmente aprenderá melhores maneiras de lidar e se comportar, sem a necessidade de medicamentos com efeitos colaterais perigosos e comuns e que podem estar prejudicando o cérebro em desenvolvimento das crianças.

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Bastiampillai, T., Parry, P., Allison, S. (2018). Can antipsychotic medication administered for paediatric emotional and behavioural disorders lead to brain atrophy? Australian & New Zealand Journal of Psychiatry, 1-2(4867418797419). doi: 10.1177/0004867418797419. (Link)