Um artigo a ser publicado em breve no Journal of Affective Disorders (Revista dos transtornos afetivos em tradução livre) descobriu que, enquanto a corrida-terapia e os antidepressivos têm efeitos semelhantes nos sintomas depressivos, a primeira é muito melhor para a saúde física dos participantes.
O estudo dividiu os participantes em dois grupos, um que recebeu antidepressivos e outro que participou de sessões supervisionadas de corrida de 45 minutos. Enquanto os participantes que receberam tratamento com antidepressivo experimentaram deterioração da saúde física, aqueles que receberam a terapia de exercícios como tratamento, viram melhorias. Os autores escrevem:
“Embora as intervenções tenham efeitos comparáveis na saúde mental, a
corrida-terapia superou os antidepressivos no quesito saúde física devido a
maiores melhorias desse grupo, bem como à maior deterioração no grupo de
antidepressivos”.
A pesquisa se propôs a comparar os efeitos de antidepressivos e exercícios como tratamentos para participantes com depressão e transtornos de ansiedade. Para atingir esse objetivo, os autores dividiram 141 participantes entre 18 e 70 anos em dois grupos, um que recebeu o antidepressivo Escitalopram e outro que recebeu a corrida-terapia. Alguns participantes do grupo antidepressivo receberam a prescrição de um segundo antidepressivo (Sertralina), caso o primeiro fosse ineficaz. Os participantes do grupo de
corrida foram encorajados a correr por 45 minutos 2 ou 3 dias por semana.
Os participantes podiam escolher a qual grupo seriam designados ou optar por serem alocados aleatoriamente a um dos grupos. Como resultado da preferência dos participantes, 45 se juntaram ao grupo de antidepressivos e 96 ao grupo de corrida-terapia. Os participantes receberam avaliações básicas antes das intervenções e após 16 semanas do início do uso de antidepressivos ou da prática de exercícios. As avaliações incluíram fatores de saúde mental (diagnóstico e gravidade dos sintomas) e saúde física
(frequência cardíaca, variabilidade da frequência cardíaca, peso, função pulmonar, circunferência da cintura, pressão arterial, etc.). Os participantes foram excluídos da pesquisa com base em sete critérios de exclusão:
1. Uso de antidepressivos nas últimas duas semanas
2. Uso de outros psicotrópicos (excluindo benzodiazepínicos)
3. Exercício regular
4. Diagnósticos de saúde mental que não sejam depressão ou
transtornos de ansiedade
5. Risco de suicídio
6. Médicos que desaconselham qualquer uma das intervenções (por
exemplo, pessoas com problemas cardíacos graves)
7. Gravidez
82,2% dos participantes do grupo de antidepressivo e 52,1% do grupo de corrida aderiram ao protocolo de tratamento. No grupo de corrida-terapia, 14 participantes (15%) nunca iniciaram o tratamento e 16 (17%) participaram de 9 sessões ou menos.
Enquanto o grupo de antidepressivo observou uma melhora ligeiramente mais rápida nos sintomas de saúde mental, as taxas de remissão não foram significativamente diferentes na marca de 16 semanas. 43,3% do grupo de corrida-terapia e 44,8% do grupo de antidepressivos tiveram remissão de seus sintomas na conclusão do estudo. Os autores observam que a remissão não significou ausência de sintomas e que mesmo esses participantes “ainda apresentavam considerável sintomatologia depressiva e de ansiedade”.
Em relação à saúde física, o grupo de corrida apresentou melhorias significativas, com diminuição da frequência cardíaca, pressão arterial e circunferência da cintura e aumento da função pulmonar. Por outro lado, o grupo de antidepressivo viu uma deterioração de sua saúde física com aumento de peso (3kg em média), pressão arterial, triglicerídeos e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca.
Os autores mencionam duas limitações da pesquisa. Primeiro, relativamente poucos participantes estavam dispostos a serem aleatoriamente designados a um grupo de tratamento (15%), o que tornou esse grupo muito pequeno para a realização de análises separadas. Em segundo lugar, os participantes preferiram, em sua maioria, participar do grupo de corrida-terapia, tornando o grupo de antidepressivos muito menor. Os autores concluem:
“Mostramos que, embora a medicação antidepressiva e a corrida-terapia não diferissem significativamente em quesitos estatísticos nos resultados de saúde mental… usuários de antidepressivos mostraram uma diminuição na variabilidade da frequência cardíaca e aumentos na circunferência da cintura, pressão arterial e níveis de triglicerídeos, sugerindo um aumento da incidência de síndrome metabólica e maior risco cardiovascular. O grupo de corrida apresentou diminuição tanto dos componentes da síndrome metabólica quanto da frequência cardíaca, o que indicou, por sua vez, efeitos protetores sobre os incidentes cardiovasculares. No geral, este estudo mostrou a importância do exercício na população deprimida e ansiosa e adverte contra o uso de antidepressivos em pacientes fisicamente pouco saudáveis”.
Uma pesquisa recente mostrou que o exercício trata a depressão leve a moderada, assim como os antidepressivos. Uma revisão descobriu que os efeitos do exercício na depressão provavelmente são subestimados devido ao viés de publicação. A prática de exercício também parece proteger contra a depressão, apenas 15 minutos de exercício 3 vezes por semana pode ser associado a menos sintomas depressivos em adultos mais velhos. Outra
pesquisa também descobriu que pessoas que fizeram o equivalente a 2,5 horas de caminhada rápida por semana tiveram um risco 25% menor de depressão.
Pesquisas mostraram que os antidepressivos não são melhores do que um placebo para 85% das pessoas. Uma outra pesquisa descobriu que os antidepressivos são “amplamente ineficazes e potencialmente prejudiciais”. Pesquisa semelhante mostrou que os antidepressivos são ineficazes para crianças e adolescentes.
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Verhoeven, J. E., Han, L. K. M., Lever-van Milligen, B. A., Hu, M. X., Révész, D., Hoogendoorn, A. W., Batelaan, N. M., van Schaik, D. J. F., van Balkom, A. J. L. M., van Oppen, P., & Penninx, B. W. J. H. (2023). Antidepressants or running therapy: Comparing effects on mental and physical health in patients with depression and anxiety disorders. Journal of Affective Disorders. https://doi.org/10.1016/j.jad.2023.02.064 (Link)
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Tradução:
Leticia Paladino : Graduada em Psicologia pela UERJ, doutoranda em Saúde Pública pela ENSP/Fiocruz, mestre em Saúde Pública pela ENSP/Fiocruz e especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela ENSP/Fiocruz. Pesquisadora e Colaboradora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS/ENSP/Fiocruz).