No dia 18 de maio de 2024, o site O Globo realizou uma publicação sobre a história da holandesa Zoraya ter Beek que optou pela eutanásia. A entrevista aponta os fortes impactos associados a saúde mental, impactos esses que percorrem desde a infância de Zoraya, quando ela foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno da Personalidade (não sendo especificado durante a entrevista qual era), depressão crônica, ansiedade e trauma. Mesmo sendo realizado tratamentos ao longo de 10 anos, ela continuou “sentindo-se suicida”.
Com o passar dos anos foram realizados inúmeros tratamentos através de medicamentos, tratamentos intensivos, incluindo psicoterapia, e mais de 30 sessões de eletroconvulsoterapia – ECT (tratamento que é feito por meio de sessões nas quais são colocados eletrodos na cabeça do paciente de acordo com as necessidades de seu tratamento).
A história de Zoraya ganhou mais visibilidade após ser publicada pela rede The Free Press, em abril, aonde ela relata que decidiu pela morte assistida após seu psiquiatra afirmar que havia tentado de tudo, mas que não havia mais nada que pudessem fazer por ela.
“Na terapia, aprendi muito sobre mim mesma e sobre os mecanismos de enfrentamento, mas isso não resolveu os problemas principais. No início do tratamento, você começa esperançoso. Achei que iria melhorar. Mas, quanto mais o tratamento dura, a esperança começa a se perder” – Refletiu.
Depois de 10 anos de tratamento, ela afirmou que “não sobrou nada” em que pudesse apostar. logo após o fim das sessões de eletroconvulsoterapia (ECT) que ocorreu em agosto de 2020, foi tomada a decisão. Ter Beek teve inicialmente esperança, no entanto, o tratamento duro faz a esperança se dissipar, passando assim por um período “aceitando” que não havia mais opções antes de solicitar a morte assistida ao governo em dezembro daquele ano.
‘Nunca hesitei’
A Holanda foi o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia ativa que na prática é quando se administra diretamente uma substância letal na pessoa que deseja morrer e geralmente é realizada por um médico, já o suicídio assistido é quando a própria pessoa auto administra uma dose letal de um fármaco, prescrita por um médico. Ambas as práticas possuem considerações éticas, legais e culturais que varia entre países e jurisdições, tanto que algumas regiões permitem uma prática ou ambas sob certas condições, enquanto outras proíbem completamente.
Na Holanda uma pessoa pode solicitar a eutanásia quando “passa por um sofrimento insuportável, sem perspectiva de melhora”, pontuando que o pedido deve ser feito “com seriedade e plena convicção”. O texto prevê que um médico e um especialista independente determinem que o paciente sobre insuportavelmente e sem esperança de melhora.
Crianças a partir dos 12 anos que sofrem por conta de doenças graves e incuráveis, cujos cuidados paliativos não são mais suficientes para aliviar o sofrimento, é autorizada a eutanásia por meio da legislação, permitindo mortes misericordiosas para jovens menores que sofrem “insuportavelmente e sem esperança”.
Todo o procedimento é realizado por diversas etapas, entre elas estão: uma longa lista de espera para a avaliação do caso, ser avaliado por uma equipe, ter uma segunda opinião sobre sua elegibilidade, e mesmo após a decisão essa mesma decisão será revisada por outro médico independente. Sendo um processo “longo e complicado” podendo levar anos, e mesmo sendo legal ainda há muitos médicos que não estão dispostos a se envolverem com a morte assistida de pessoas com sofrimento mental.
Ter Beek recebia uma grande quantidade de mensagens tanto negativas quanto mensagens pedindo para que ela não finalizasse com o processo, chegando ao ponto de ser necessário a desativação das suas redes sociais. Após conhecer a sua equipe médica, sua morte assistida deve ocorrer dentro de algumas semanas (data não revelada).
Como que para anunciar sua desesperança, ter Beek tem uma tatuagem de uma “árvore da vida” na parte superior do braço esquerdo, mas “ao contrário”.
“Enquanto a árvore da vida representa crescimento e novos começos”, ela enviou uma mensagem, “minha árvore é o oposto. Ela está perdendo suas folhas, está morrendo. E quando a árvore morreu, o pássaro voou para fora dela. Não vejo isso como se minha alma estivesse indo embora, mas sim como se eu estivesse me libertando da vida.” – Zoraya ter Beek
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