A revista Schizophrenia Bulletin publicou recentemente um estudo sugerindo que níveis mais elevados de comportamento sedentário e inatividade física estão associados a pior desempenho cognitivo em pessoas diagnosticadas com esquizofrenia. Aqueles com baixos níveis de comportamento sedentário curiosamente apresentaram melhor tempo de reação motora e processamento cognitivo em níveis significativos.
A evidência para a relação entre atividade física e bem-estar mental está em constante expansão. As pesquisas têm mostrado que as pessoas que recebem um diagnóstico de transtorno psicótico e de depressão têm uma menor atividade física em seu cotidiano e que a atividade física pode ajudar as crianças com TDAH a melhorar a concentração.
Além disso, pesquisas que analisam a atividade física e a cognição dentro da população em geral demonstraram que um nível mais alto de comportamento sedentário está associado a pior desempenho cognitivo ao longo da vida útil. Embora tenha havido uma proliferação de estudos explorando o impacto da atividade física em pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, poucos têm voltado a sua atenção para o comportamento sedentário dentro desta população.
Este novo estudo teve três objetivos. Primeiro, comparar níveis de comportamento sedentário entre indivíduos diagnosticados com esquizofrenia e indivíduos de controle. Em segundo lugar, explorar a relação entre o comportamento sedentário e a cognição em pacientes versus os de grupo de controle. Por fim, os autores procuraram determinar se existe uma associação independente entre comportamento sedentário ou baixa atividade física e desempenho cognitivo entre os participantes diagnosticados com esquizofrenia.
Cento e noventa e nove pacientes identificados como portadores de esquizofrenia foram recrutados nas enfermarias psiquiátricas de longa permanência de um hospital em Taiwan. Os participantes tiveram que ser ‘estabilizados’ e com a mesma medicação nos últimos três meses. Eles foram comparados a 60 participantes de controle pareados por idade, sexo e IMC. O funcionamento cognitivo foi avaliado com o Sistema de Teste de Viena e o Teste de Pegboard Grooved. O comportamento sedentário foi definido como “qualquer atividade de vigília caracterizada por um gasto de energia </ = 1,5 equivalentes metabólicos” (por exemplo, sentado prolongadamente, permanecendo na postura reclinada durante o dia). Ele foi medido usando o ActiGraph, um acelerômetro tri-axial. Outras variáveis coletadas incluem idade, sexo, tabagismo, consumo de álcool, síndrome metabólica e fatores de risco metabólicos, sintomatologia positiva e negativa e medicação.
Os pacientes que foram diagnosticados com esquizofrenia com um comportamento significativamente mais sedentário tiveram pior desempenho em todas as medidas cognitivas do que aqueles indivíduos do grupo de controle. Quer dizer, dentro do grupo de pacientes, aqueles com níveis mais baixos de comportamento sedentário apresentaram melhor tempo de reação motora e processamento cognitivo do que aqueles com altos níveis de comportamento sedentário. Baixos níveis de atividade física foram independentemente associados com pior atenção e concentração, e menor velocidade de processamento e destreza manual.
Este estudo acrescenta evidências da associação entre os níveis de atividade física e bem-estar mental, especificamente o funcionamento cognitivo em uma amostra de indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia. Não são surpreendentes as descobertas de que o comportamento sedentário está associado a um menor tempo de reação motora e à pior velocidade de processamento, mas essas descobertas proporcionam uma nova compreensão.
É importante notar que há um grande número de possíveis fatores que agem como coautores, mediadores e moderadores (por exemplo, sintomas positivos, diagnósticos de comorbidade, sintomas negativos, duração da doença, estigma, apoio social, antipsicóticos, outros medicamentos, etc.) e que podem potencialmente ter um efeito sobre a atividade física e a cognição. Também deve ser observado que os participantes neste estudo estavam estabilizados e em tratamento antipsicótico.
Os autores deste estudo objetivaram analisar o comportamento sedentário objetivo (utilizando o acelerômetro) da atividade física (baixa) e descobriram que os dois estão independentemente associados com o funcionamento cognitivo. Em última análise, este estudo baseia-se na pesquisa existente sobre os mecanismos pelos quais a atividade física produz impactos na neurocognição.
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Stubbs, B., Ku, P. W., Chung, M. S., & Chen, L. J. (2016). Relationship Between Objectively Measured Sedentary Behavior and Cognitive Performance in Patients With Schizophrenia Vs Controls. Schizophrenia Bulletin, sbw126. (clique aqui)