O The Guardian, jornal britânico, lançou um programa semanal chamado “Minha vida no sexo”, uma coluna na qual os leitores podem escrever e falar sobre sua vida sexual.
Em 8 de junho de 2018, foi publicado um artigo chamado “Depois de tomar antidepressivos, meus genitais pareciam entorpecidos”. Uma mulher de 30 anos descreveu como ficou com disfunção sexual pós-ISRS (PSSD), desde que parou com antidepressivos (ISRS) há oito anos. Você pode encontrar o artigo no link acima.
Muitas vezes há mais relatos de PSSD de pacientes do sexo masculino do que de mulheres, de modo que o artigo é útil para aumentar a conscientização de que a condição afeta ambos os sexos. Curiosamente, vários dos que deixaram comentários no site do The Guardian assumiram erroneamente que o autor era do sexo masculino.
O artigo destacou a questão específica da dormência genital. Esta é uma das marcas registradas do PSSD e pode ajudar a esclarecer que um doente está experimentando um efeito farmacológico e não um problema psicológico.
Artigos sobre o PSSD na mídia são bastante raros. Para quem ainda não viu, temos uma página em nosso site que lista artigos da mídia sobre PSSD e disfunções sexuais relacionadas. Apesar do fluxo constante de artigos de notícias sobre antidepressivos e até mesmo sobre os efeitos colaterais sexuais, há sempre relutância dos jornalistas quando se trata de PSSD. Isso torna ainda mais surpreendente que o The Guardian realmente tenha publicado algo nesse sentido.
Respostas
Comentários sobre artigos da Internet variam significativamente em qualidade, que podem rapidamente se tornar em algo sem interesse ou cair em abuso. Não obstante, ainda pode ser interessante analisá-los para se ter uma ideia de como o público responde. Nesse caso em tela, houve um total de 307 comentários, que podem ser visualizados no artigo principal no site do The Guardian.
Várias pessoas parecem que entenderam mal que o autor estava descrevendo efeitos colaterais que persistiram após a interrupção da droga, ao invés de efeitos colaterais enquanto ainda em um antidepressivo. Vários comentários também pareceram errar ao não se darem conta de que o artigo era primariamente sobre dormência genital e não simplesmente sobre perda de libido.
No geral, no entanto, as respostas foram bastante favoráveis e certamente mais razoáveis do que é frequentemente o caso quando se discutem os danos dos antidepressivos. Talvez isso seja porque fazia parte de uma série sobre a vida sexual das pessoas, em vez de ser enquadrada como uma peça especificamente sobre antidepressivos. Também pode ter ajudado que os comentários tenham sido moderados.
Algumas pessoas ficaram chocadas e desapontadas com a atitude do médico em demonstrar pouco interesse ou preocupação com a disfunção contínua do autor. Houveram sugestões de que a pessoa deveria mudar de médico.
Talvez os comentários mais interessantes tenham sido de pessoas que declararam ou sugeriram que podem elas mesmas estar sofrendo do mesmo problema:
- “Há três anos atrás tomei ISRSs por algumas semanas e minha função ainda não se recuperou completamente.”
- “Tomei ISRSs há uns bons dez anos e, embora menos grave que seus sintomas quando em uso, nunca mais fui o mesmo desde então.”
- “Os médicos não conseguem enfatizar esse problema. Meu ex tinha exatamente o mesmo problema com antidepressivos, e não foi avisado que tal condição persistiria mesmo depois de parar os antidepressivos.
- Eu fui recomendado a tomar antidepressivos por uma médica – eu questionei o risco de PSSD (porque pode também afetar mulheres) – ela me disse que aquelas pessoas contando essas histórias online estavam inventando! ”
- “Absolutamente entendo e compartilho dos mesmos sentimentos com você. Eu costumava gozar facilmente em minhas relações sexuais. Em 1997, eu estava em ISRSs por alguns meses, e não consegui gozar uma vez sequer. Quando eu saí alguma sensibilidade retornou, mas ainda é dez vezes mais difícil de atingir o orgasmo do que costumava ser. Tenho certeza de que esse é um efeito colateral muito pouco relatado porque é vergonhoso conversar com seu médico sobre o assunto. ”
- “Sou do sexo masculino e tomei ISRSs há 20 anos. Demorei muito tempo para me recuperar deles sexualmente; por muito tempo, na verdade, e vem a lembrança de como as coisas haviam sido murchadas, e eu fiquei com a sensação incômoda de que fiquei com uma perda residual ”.
- “… Passei meses lutando contra os sintomas de abstinência (que os médicos dizem não existir) por desistir dos medicamentos ISRSs. Mas tendo finalmente conseguido, a função sexual tornou-se ainda pior – na medida em que passei a querer sexo de novo-, mas simplesmente eu não conseguia administrá-lo em nenhuma circunstância. Isso foi há um ano e o problema persiste até hoje sem nenhum sinal de melhora – agora parece ser permanente! ”
- “Oi. Experiência semelhante. Perdi todo o interesse por cerca de dez anos e nunca pensei que eu seria capaz de aproveitar isso novamente. Por sorte, tenho um parceiro que é paciente e gentil e que está comigo há vinte anos. Nós apenas experimentávamos, até descobrirmos o que funcionava melhor para nós. Muito, muito, muito devagar, comecei a sentir a sensação de volta. Não é bem o que me lembro dos meus 20 anos, mas deixa os dois satisfeitos … agora com 39 anos e com uma vida sexual completamente ativa (finalmente!)
- “ … Eu também me recusei a tomar antidepressivos desde os 25 anos. Difícil, mas consegui desenvolver mecanismos de enfrentamento para superar o pior de tudo. ”
- “É bom para um escritor poder falar sobre essa condição horrível. Eu também tenho sofrido isso depois de me ter sido prescrito aos 17 anos o Prozac. Meus genitais estão entorpecidos desde então, mesmo que eu tenha interrompido a medicação cinco anos atrás. ”
- “Para mim, eles notaram o sintoma, mas não acreditavam que pudesse ser um sintoma permanente depois de interromper os medicamentos. Eu também sofri por anos e, infelizmente, estou absolutamente certo de que isso não é psicológico ou relacionado à ansiedade. É uma absoluta falta física de sexualidade ou prazer sexual. Começou imediatamente depois que comecei a usar o AD – ingenuamente, eu nem sabia que era um efeito ”.
- “Eu também tive esse efeito colateral horrível depois de tomar o AD há alguns anos atrás. Isso afetou todos os aspectos da minha sexualidade – não tenho desejo físico, não sinto prazer sexual – em termos sexuais, sinto como se estivesse completamente morta.”
- “A falta de libido, sensação, desejo, prazer (não apenas no sexo, mas na música, qualquer coisa) pós-ISRS é absolutamente um resultado possível. Um estado permanente. É tão real (para aqueles entre vocês que não experimentaram e tentam explicar isso), é como um membro amputado. Eu tomei um ISRSI em 1994, por apenas quatro meses. Eu passei a sofrer com essa falta de alegria, emoção e sensação sexual desde então. ”
Notícias dos EUA
Em 28 de junho de 2018, o site do US News and World Report publicou um artigo sobre saúde chamado “Você tem efeitos colaterais sexuais com os antidepressivos que parou de tomar?” Foi escrito por Michael O. Schroeder e focado nas publicações recentes do RxISK no International Journal of Risk & Safety in Medicine.
Há citações da Dra. Audrey Bahrick, uma das autoras originais revisadas por pares sobre a condição, bem como do professor Dee Mangin, diretor médico da RxISK.
Houve também uma interessante contribuição da Dra. Eliza Menninger. O artigo afirma:
“Dr. Eliza Menninger, que dirige um programa de saúde comportamental no McLean Hospital, em Boston, diz que nunca ouviu pacientes expressando sérias preocupações sobre os efeitos colaterais sexuais depois de interromper a medicação. Na maior parte, os efeitos colaterais sexuais parecem desaparecer depois que os pacientes param de tomar o medicamento, diz Menninger.”
Observem os termos “na maioria das vezes” e “parecem desaparecer”. O artigo passa a citar diretamente a Dra. Menninger, quem diz:
“Alguns podem ainda se queixar de haver ainda um problema, mas eles não parecem tão incomodados com isso – e eu não sei se é um problema tão ruim quanto quando eles estavam no ISRS”.
Isso parece estar de acordo com o que alguns de nós do RxISK, e outros, vêm dizendo há muito tempo. Embora alguns portadores de PSSD tenham uma forma grave da doença, é provável que hajam outros – talvez até uma porcentagem maior de pacientes – com sintomas menos graves que ou não percebam que são afetados, ou que não os atribuam a um medicamento que não estão mais tomando, ou que não se importam com o problema devido à perda de libido. Nós exploramos essas questões em nosso post de 2016 – Quão comum é o PSSD.
Lyon Capitale
Lyon Capitale é uma revista francesa que abrange uma gama de tópicos, incluindo saúde. Em 28 de junho de 2018, eles publicaram um artigo chamado “Un antideppresseur peut-il détruire votre vie sexuelle?” Que se traduz como “Um antidepressivo pode destruir sua vida sexual? ”
O artigo discute o tópico dos efeitos colaterais sexuais persistentes após o uso de antidepressivos, incluindo transtorno da excitação genital persistente (PGAD). As publicações de periódicos recentes do RxISK são mencionadas e há também uma contribuição do Professor Healy.
No momento, o artigo apenas pode ser acessado via pagamento e não temos certeza se, ou quando, ele será disponibilizado gratuitamente.
Esperamos que esses artigos tragam conhecimento do PSSD e do PGAD para um público mais amplo. Somos gratos ao autor anônimo do artigo do The Guardian e a Michael Schroeder e Ariane Denoyel por ajudarem a aumentar a conscientização sobre essas condições que potencialmente mudam por completo a vida.