Nova pesquisa sugere que anormalidades cerebrais na ‘esquizofrenia’ podem resultar dos antipsicóticos

O estudo descobriu que a redução da espessura cortical e da área de superfície do cérebro associada à "esquizofrenia" pode resultar do uso de drogas antipsicóticas.

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Peter SimonsUm novo estudo publicado em Biological Psychiatry descobriu que a espessura cortical reduzida e a área da superfície do cérebro estão correlacionadas a um diagnóstico de esquizofrenia, mas que essas diferenças podem ser explicadas pelo uso disseminado de medicamentos antipsicóticos.

Os pesquisadores relataram que “os tamanhos do efeito foram duas a três vezes maiores nos indivíduos que receberam medicação antipsicótica em relação aos indivíduos não medicados”.

Na verdade, os pesquisadores descobriram que, nos que diz respeito à espessura cortical, os participantes com diagnóstico de esquizofrenia, que não estavam medicados, não eram significativamente diferentes daqueles sujeitos saudáveis do grupo controle.

Os pesquisadores fazem parte do grande consórcio mundial chamado ENIGMA Schizophrenia Working Group. O estudo incluiu dados de 9 572 participantes em 39 testes mundiais (4.474 foram diagnosticados com esquizofrenia; 5.098 foram sujeitos de controle “saudáveis”). Os pesquisadores examinaram dados sobre a espessura cortical e a área da superfície do cérebro em geral.

Os pesquisadores descobriram que os indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia tinham córtices mais finos do que os do grupo de controle em áreas específicas e córtices mais espessos do que os de controle em outras áreas. No entanto, quando os participantes foram agrupados com base no uso de medicamentos, os pesquisadores descobriram que os participantes com esquizofrenia não medicados não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação aos saudáveis do grupo de controle.

O tamanho do efeito de redução da espessura cortical foi duas vezes maior para os participantes que usaram antipsicóticos de segunda geração. Por sua vez, para aqueles que tomam antipsicóticos de primeira geração, o tamanho do efeito foi três vezes maior quando comparado aos participantes não medicados.

Os pesquisadores também notaram que as mais elevadas doses de medicação “estavam significativamente correlacionadas com o córtex mais fino em quase toas as regiões do cérebro”.

Nessas análises, os pesquisadores controlaram possíveis variáveis intervenientes, como a idade quando o diagnóstico da esquizofrenia foi dado, duração dos sintomas, gravidade dos sintomas, idade atual e sexo. No entanto, mesmo após o controle da gravidade dos sintomas, as pessoas diagnosticadas com esquizofrenia em uso de antipsicóticos reduziram significativamente a espessura cortical, enquanto as que não foram medicadas não foram significativamente diferentes daquelas saudáveis que do grupo de controle.

Os pesquisadores descobriram que a área da superfície do cérebro foi menor em média para os participantes com diagnóstico de esquizofrenia do que para os participantes do grupo controle e que esse achado não foi explicado pelo uso de medicamentos. No entanto, eles também observam que este achado envolveu um tamanho de efeito muito menor do que seus outros resultados – indicando que houve sobreposição significativa na área de superfície entre os grupos.

Os pesquisadores escrevem que futuros estudos sobre as diferenças cerebrais devem ter o cuidado de incluir o uso de medicamentos como um potencial fator interveniente. Eles sugerem que isso poderia ser um fator que contribui para o fato de que, mesmo após várias centenas de estudos sobre a espessura e a área de superfície cortical na esquizofrenia, um consenso ainda não tenha sido formado.

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van Erp, T. G. M., Walton, E., Hibar, D. P., Schmaal, L., Jiang, W., Glahn, D. C. . . . Turner, J. A. (2018) Cortical brain abnormalities in 4474 individuals with schizophrenia and 5098 control subjects via the Enhancing Neuro Imaging Genetics Through Meta-Analysis (ENIGMA) Consortium. Biological Psychiatry. Published online ahead of print. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2018.04.023 (Link)