Adversidade social e ser Vítima de Violência aumentam o risco de experiências psicóticas em cinco vezes

Pesquisadores analisam fatores presentes na urbanidade que levam ao risco de experiências psicóticas

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bruizA pesquisa tem citado com frequência a urbanidade, quer dizer morar em um ambiente urbano, como sendo um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas associados à psicose. Um novo estudo, publicado no Schizophrenia Bulletin, examina o impacto da urbanidade, das condições adversas da vizinhança e de ser vítima de crimes violentos, para o desenvolvimento de experiências psicóticas durante a adolescência. Os autores, liderados por Joanne Newbury do King’s College de Londres, determinaram que adolescentes criados em áreas urbanas versus os criado em áreas rurais eram significativamente mais propensos a relatar experiências psicóticas e que, quando combinadas, as condições sociais da vizinhança e a vitimização por violência estavam significativamente associadas a experiências psicóticas adolescentes.

“A maioria das pesquisas anteriores sobre o surgimento de experiências psicóticas adolescentes concentrou-se nos fatores de risco no nível individual e atualmente pouco se sabe sobre o impacto potencial de estruturas macro, como urbanismo e processos sociais de vizinhança, assim como a fragmentação social e a criminalidade”. Newbury e os coautores escrevem.

Photo Credit: Katie McKeown, “Urban vs. Rural,” Flickr
Photo Credit: Katie McKeown, “Urban vs. Rural,” Flickr

A urbanidade é um fator de risco bem aceito para a psicose. Além disso, numerosos estudos confirmaram taxas mais altas de transtornos do espectro psicótico em populações urbanas. Um estudo de 2015 descobriu que de 1990 a 2010, as taxas de esquizofrenia nas áreas rurais permaneceram estáveis em 0,36%, enquanto que as taxas nas áreas urbanas aumentaram para 0,68%. Os autores do presente estudo apontam que as pesquisas muitas vezes focalizaram os fatores de nível individual, e deram muito pouca importância para o impacto potencial das estruturas de nível macro e dos processos sociais da vizinhança para que essa relação seja melhor explicada.

Em sua pesquisa, Newbury e sua equipe procuraram analisar o que significa viver em centros urbanos que contribuem para esse risco maior. Analisando dados do Reino Unido, Newbury e seus colegas buscaram testar sua hipótese de que “uma das razões pelas quais os jovens em ambientes urbanos correm maior risco de fenômenos psicóticos é que eles experimentaram um maior acúmulo de adversidades sociais no nível de vizinhança e experiências pessoais de violência durante a seu crescimento.”

Os autores deste estudo testaram suas hipóteses usando dados longitudinais de 2.063 gêmeos britânicos do Environmental Risk (E-Risk) Longitudinal Twin Study. Os fenômenos psicóticos adolescentes foram capturados por meio de uma medida de auto-relato que incluiu itens como “Preocupa-me que minha alimentação esteja envenenada”. A urbanidade foi determinada pelo CEP da família e com base na definição fornecida pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS) Rural – Definição Urbana para pequenas áreas geográficas. Consistiu em 3 categorias (características da vizinhança em área rurais, em áreas intermediárias e em áreas urbanas foram determinadas por pesquisas enviadas a residentes próximos dos participantes. De particular interesse foram os fatores: coesão social e desordem na vizinhança.

“Estávamos interessados em [esses fatores] porque coletivamente capturam as características da vizinhança que poderiam influenciar de forma plausível o risco de fenômenos psicóticos, como confiança e apoio entre vizinhos e sinais físicos e sociais de ameaça na vizinhança. ”

A coesão social foi capturada por itens que acessassem se os vizinhos compartilhavam valores, confiavam e se davam bem uns com os outros. A desordem nos bairros foi capturada por questões que tinham como objetivo determinar se problemas específicos, como ataques e roubos, assaltos e vandalismo, afetavam sua vizinhança. Informações sobre Vitimização de Crimes Pessoais foram coletadas através de entrevista e usando a 2ª Revisão do Questionário de Vitimização Juvenil (JVQ-R2). Itens incluídos: desde que você tinha 12 anos, “alguém bateu ou atacou você de propósito com um objeto ou arma como um pau, pedra, arma, faca ou qualquer coisa que doesse? ” A privação no nível de bairro foi determinada pela Classification of Residential Neighborhoods (BOLOTA). As categorias incluem: “empreendedores ricos (25%), prosperidade urbana (5,3%), confortavelmente alternativo (13%), meios moderados (26%) e  “duramente pressionados “(26%). Por último, dados da família e nível individual foram coletados e contabilizados, como a situação socioeconômica familiar, o histórico psiquiátrico familiar, a dependência de álcool e cannabis, entre outros.

Os autores deste estudo descobriram que à medida que o ambiente urbano aumentava as experiências psicóticas também aumentavam. Além disso, ao controlar as potenciais variáveis intervenientes no nível da família e do indivíduo (por exemplo, nível de coesão da família, histórico psiquiátrico familiar) e privação no nível da vizinhança, a associação permaneceu significativa.

Além disso, os resultados mostraram que as experiências psicóticas foram mais comuns entre os adolescentes que viviam em bairros com níveis mais baixos de coesão social e níveis mais altos de violência na vizinhança. Por último, enquanto a adversidade social do bairro e a vitimização do crime foram independentemente associadas de forma significativa com experiências psicóticas adolescentes, o efeito combinado foi cinco vezes maior do que um sozinho.

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Newbury, J., Arseneault, L., Caspi, A., Moffitt, T. E., Odgers, C. L., & Fisher, H. L. (2017). Cumulative effects of neighborhood social adversity and personal crime victimization on adolescent psychotic experiences. Schizophrenia Bulletin44(2), 348-358. (Link)