A Prevalência do Uso de Benzodiazepínicos no Brasil

Apesar dos conhecidos efeitos colaterais dos BZDs, ainda são amplamente usados no Brasil. Políticas de combate ao excesso de prescrições poderiam ajudar a diminuir os casos.

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O estudo Prevalence of and pathways to benzodiazepine use in Brazil: the role of depression, sleep, and sedentary lifestyle (Prevalência e caminhos para o uso de benzodiazepínicos no Brasil: o papel da depressão, sono e estilo de vida sedentário) realizado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Prevention Research Center – Oakland, CA, USA e publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, determina a prevalência do uso de benzodiazepínicos (BZD) e investiga os efeitos diretos e indiretos do consumo de álcool, estilo de vida sedentário (SL), sintomas depressivos (DS) e insatisfação com o sono (SD) no uso de BZD.

O II LENAD – Levantamento Nacional de Álcool e Drogas foi utilizado para selecionar 4.607 indivíduos de 14 anos ou mais, incluindo uma amostra de 1.157 adolescentes (entre 14 e 18 anos). A metodologia para a seleção amostral foi a de amostra probabilística estratificada em 3 estágios: seleção de 149 municípios usando o método probabilidade proporcional ao tamanho (PPT); seleção de dois setores censitários para cada município, totalizando 375 setores, também usando PPT; e dentro de setor censitário, oito domicílios foram selecionados por amostragem aleatória simples, seguido pela seleção de uma pessoa dentro de cada domicílio para ser entrevistado, usando um questionário estruturado.

Os resultados mostram que aproximadamente um em cada dez brasileiros fizeram uso de BZDs em algum momento da vida, ademais o consumo depois dos 60 anos foi menor do que pessoas entre 49-59 anos, sendo um fato surpresa para os pesquisadores. Também foi constatado um menor uso entre adolescentes (2,7%) do que o previamente relatado em outro estudo brasileiro (5%) e um estudo europeu (5,6%). Já a prevalência do uso de BZD quando considerado o gênero, é maior entre as mulheres.

O artigo alerta que os BZDs são amplamente usados no tratamento de desordens do sono. Quando tratamentos não farmacológicos não são providenciados, o risco do uso indevido é uma preocupação comum. Os autores do artigo afirmam que os profissionais de saúde deveriam encorajar abordagens não farmacológicas para desordens do sono, tais como atividade física.

Por último, os pesquisadores estimam que existam mais de 13 milhões de usuários de BDZs no Brasil. E concluem  que a combinação da falta de políticas efetivas para combater o excesso de prescrição, o mercado ilegal de BDZs e os insuficientes esforços para educar a população sobre os riscos associados ao BDZs poderiam ter um importante papel nesse cenário.

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MADRUGA, Clarice S. et al . Prevalence of and pathways to benzodiazepine use in Brazil: the role of depression, sleep, and sedentary lifestyle. Braz. J. Psychiatry,  São Paulo ,  v. 41, n. 1, p. 44-50, Feb. 2019. (Link)

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Graduada em Psicologia pela UERJ, especialista em Terapia Familiar pelo IPUB/UFRJ, com ênfase em saúde mental. Pesquisadora auxiliar do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial(LAPS/ENSP/Fiocruz) Produtora e apresentadora do podcast Enloucast. Além de atuar como psicóloga clínica. Áreas de interesse: Saúde Mental, Terapia Sistêmica, Diálogo Aberto, Construcionismo Social, Medicalização e Patologização da vida