Um novo artigo, publicado em European Neuropsychopharmacology, reúne evidências crescentes que vinculam os alimentos que ingerimos, nosso humor e a saúde mental. O artigo explora o campo emergente da psiquiatria nutricional que está cada vez mais encontrando evidências de uma forte associação entre uma dieta pobre e problemas de saúde mental, como transtornos de humor e depressão. Embora esse campo de pesquisa ainda esteja surgindo, os resultados iniciais são promissores e sugerem que a nutrição pode ser uma parte essencial de qualquer abordagem para a saúde mental preventiva.
“A composição, estrutura e função do cérebro dependem da disponibilidade de nutrientes apropriados, incluindo lipídios, aminoácidos, vitaminas e minerais. Portanto, é lógico que a ingestão e a qualidade dos alimentos tenham um impacto na função cerebral, o que torna a dieta uma variável modificável para atingir a saúde mental, o humor e o desempenho cognitivo. Além disso, hormônios intestinais endógenos, os neuropeptídeos, os neurotransmissores e a microbiota intestinal são afetados diretamente pela composição da dieta ”, escrevem os pesquisadores, liderados por Roger Adan, médico e pesquisadores do University Medical Center Utrecht, na Holanda.”
Embora o vínculo entre saúde física e nutrição seja aceito há muito tempo, alguns agora estão sugerindo que abordar a nutrição pode ser uma abordagem útil para o tratamento e prevenção de desafios à saúde mental. Mesmo que a maioria das pesquisas sobre a associação ainda esteja surgindo, dados iniciais sobre a influência da nutrição na depressão apontam haver um forte vínculo. Os pesquisadores sugerem que abordar a nutrição não seja um tratamento independente das demais condições de saúde mental. Ainda assim, essas abordagens nutricionais devem ser uma parte importante de uma abordagem holística de tratamento.
O presente artigo destaca várias revisões sistemáticas e metanálises que demonstram uma probabilidade reduzida de depressão com a adesão a dietas ricas em frutas, vegetais, peixes e grãos integrais. Estudos posteriores mostraram reduções semelhantes na depressão e melhoria do bem-estar com a adesão à dieta mediterrânea, e outros vincularam dietas ricas em açúcar refinado e gorduras saturadas ao aumento da hiperatividade.
Os autores destacam o campo emergente da psiquiatria nutricional, que nasceu dessas descobertas promissoras. O campo examina dietas para específicos problemas de saúde mental, bem como para o bem-estar geral. Por exemplo, o artigo discute estudos que encontraram indivíduos com distúrbios como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade(TDAH) e Transtorno do Espectro do Autismo(TEA), que podem se beneficiar de uma rigorosa eliminação de determinadas dietas. Tais estudos demonstraram uma redução de até um terço dos sintomas em crianças com TDAH.
O campo da psiquiatria nutricional também examina o papel dos suplementos vitamínicos e minerais e a importância do microbioma. “Estudos têm mostrado que deficiências de vários nutrientes, principalmente vitaminas, prejudicam a cognição. O vínculo é mais forte com a vitamina B12 (sua deficiência causa fadiga, letargia, depressão, falta de memória e está associada a mania e psicose), tiamina (vitamina B1; sua deficiência causa beribéri com dormência como sintoma do SNC e encefalopatia de Wernicke), ácido fólico ( vitamina B9; sua deficiência tem efeitos prejudiciais no neurodesenvolvimento no útero e na infância; e os déficits estão associados a um maior risco de depressão durante a vida adulta) e niacina (vitamina B3; sua deficiência causa pelagra com demência como resultado). ”
Enquanto o campo continua buscando a entender o papel da nutrição na saúde mental, são necessárias mais pesquisas para compreender todo o efeito. “Os dados epidemiológicos atuais sobre nutrição e saúde mental não fornecem informações sobre causalidade ou mecanismos subjacentes … No entanto, vários estudos relataram fortes correlações entre uma dieta saudável e bem-estar mental, o que pode ajudar a informar futuras recomendações sobre dieta”, escreve Adan e a equipe.
O objetivo do presente artigo é destacar descobertas promissoras e incentivar mais pesquisas para continuar a entender os benefícios que a nutrição pode ter na saúde mental. “Associações claras entre dieta e saúde cognitiva e mental na idade adulta foram estabelecidas, mas, atualmente, nos falta uma compreensão detalhada dos mecanismos metabólicos e celulares que sustentam essas associações”.
Este artigo, além de abordar pesquisas em andamento sobre os efeitos da nutrição na saúde mental, chama a atenção para o potencial de cuidados preventivos de saúde mental em termos propriamente políticos. Os autores também fornecem uma ferramenta que pode ser usada para capacitar as pessoas a saberem mais sobre as conexões entre sua saúde mental e o que elas consomem. Os autores concluem:
“A compreensão aprimorada dos mecanismos de como a nutrição afeta a saúde mental e a cognição guiará o desenvolvimento de novas intervenções nutricionais e conselhos baseados em evidências que promoverão e manterão a aptidão cerebral ao longo da vida. A promoção de hábitos alimentares que levam a uma melhor saúde mental e a identificação e validação de componentes nutricionais individuais críticos melhorarão a sustentabilidade em nossos sistemas de saúde e reduzirão os custos econômicos associados à má saúde mental e ao declínio cognitivo. ”
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Adan, R. A., van der Beek, E. M., Buitelaar, J. K., Cryan, J. F., Hebebrand, J., Higgs, S., … & Dickson, S. L. (2019). Nutritional psychiatry: Towards improving mental health by what you eat. European Neuropsychopharmacology.