Prevalência do Uso de Psicofármacos em Familiares Cuidadores

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Recentemente, a revista Ciência e Saúde Coletiva publicou um artigo sobre o uso de psicofármacos por parte dos cuidadores de pessoas diagnosticadas com transtorno mental, associando-os ao sentimento de sobrecarga. Trata-se de um estudo transversal, realizado com cerca de 537 familiares de usuários de Centros de Atenção Psicossocial de uma região do estado do Rio Grande do Sul.

Dos entrevistados, 63,3% eram mulheres, com média de 51 anos de idade; 38,5% possui apenas até 4 anos de estudo; quanto à renda, 41,2% referiu renda per capita de até 1
salário mínimo. A prevalência do uso de psicotrópicos na população estudada foi de 30%.  Entre aqueles que faziam uso de algum psicotrópico, a classe mais utilizada foi a dos antidepressivos (47,20%), seguida pelos ansiolíticos (33,54%), antiepiléticos (24,22%), antipsicóticos (6,21%) e por último, hipnóticos e sedativos (1,86%).

Percebeu-se que houve maior prevalência de uso de psicotrópicos entre os familiares
que não compartilhavam as ações do cuidado (35,53%). Sentimento de sobrecarga esteve fortemente associado ao uso de psicotrópicos, foi observado que quanto maior o grau de sobrecarga, maior a prevalência do uso de psicotrópicos, chegando a 60,1% entre aqueles com sobrecarga intensa.

Existem poucos estudos brasileiros sobre a prevalência de uso dos psicofármacos na população alvo. Os pesquisadores não acharam estudos anteriores sobre o tema, e consideram que esse pode ser um campo importante de investigação para futuros estudos. O estudo é considerado importante pelos pesquisadores, pela alta prevalência de familiares que fazem uso de psicofármacos. Assim, o serviço tem um papel importante em promover o cuidado desses familiares para não serem prejudicados pelos efeitos adversos ou dependência dos psicofármacos.

Como sugestão para estudos futuros, os pesquisadores sugerem a adoção de um recorte longitudinal que possibilite acompanhar a evolução dos casos ou mesmos testar a influência de outras ações terapêuticas no padrão de uso de psicotrópicos pelos familiares assistidos.

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REICHEL, Carlos Alberto dos Santos et al . Uso de psicotrópicos e sua associação com sobrecarga em familiares cuidadores de usuários de centros de atenção psicossocial. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 26, n. 1, p. 329-337,  Jan.  2021. (Link)

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Graduada em Psicologia pela UERJ, especialista em Terapia Familiar pelo IPUB/UFRJ, com ênfase em saúde mental. Pesquisadora auxiliar do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial(LAPS/ENSP/Fiocruz) Produtora e apresentadora do podcast Enloucast. Além de atuar como psicóloga clínica. Áreas de interesse: Saúde Mental, Terapia Sistêmica, Diálogo Aberto, Construcionismo Social, Medicalização e Patologização da vida