A Arte como Estratégias de Construção Coletiva e Social

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O artigo de Paulo Amarante, para a revista Observatório , traz o percurso histórico da utilização da arte e do trabalho no campo da saúde mental brasileira. Amarante aponta que o psiquiatra, Juliano Moreira, foi quem introduziu a arte nos manicômios brasileiros. Após ele, Osório César criou a Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery. Casado com Tarsila do Amaral, conseguiu o reconhecimento da arte dos alienados. Já Nise da Silveira, militante política e social, criou o Museu do Inconsciente que reúne as obras de ex-internos do antigo Hospício Pedro II, sobre os quais são desenvolvidas pesquisas. Iniciativa admirada no mundo todo.

A relação da arte com a psiquiatria era, a principio, de cunho terapêutico: a arte-terapia. François Tosquelles introduziu o Clube Terapêutico Paul Balvet, instituição autônoma gerida pelos internos com base no trabalho e na criação artística. Desenvolviam atividades de artesanato, pintura, costura, música e teatro, entre outras. E representavam um enfrentamento ao modelo totalitário e hierárquico do hospital psiquiátrico.

“Essa experiência contribuiu vigorosamente para o processo atual vivenciado no Brasil e em outros países que apostam e investem em uma transformação dos saberes e das práticas em saúde mental, valorizando a voz de todos os sujeitos envolvidos, reconhecendo e potencializando suas possibilidades e seus protagonismos, e consolidando a importância do trabalho e da arte como estratégias de construção coletiva e social.”

Mas foi com Franco Basaglia que o trabalho com arte vai influenciar mais fortemente o cenário brasileiro. Através da criação de cooperativas sociais, com o objetivo de incluir pessoas em vulnerabilidade social, superou a concepção de “trabalho terapêutico” para se tornar trabalho produtor de vidas, de valores e de trocas sociais. A principio, as cooperativas repercutiram no campo da arte-cultura através da produção de vídeos, rádios, companhia de teatro e outras iniciativas artísticas. Posteriormente, manifestações artísticas foram usadas para dialogar com a sociedade sobre as práticas de violência e exclusão produzidas pela psiquiatria e suas instituições.

“Muitos dos projetos de arte-cultura passaram a se inscrever nessa concepção de economia solidária criativa, na medida em que se configuram como trabalhos culturais que geram recursos para os participantes, produzem reconhecimento, no sentido proposto por Axel Honneth, e promovem direitos, cidadania e emancipação.”

Com a reforma psiquiátrica brasileira, uma das políticas que ganhou importância na saúde mental é o campo da cultura e da diversidade cultural, tendo um papel estratégico na inclusão social e nas trocas interpessoais.

“A arte-cultura é fundamentalmente uma forma de intercâmbio entre pessoas, entre subjetividades e entre culturas diversas.”

As iniciativas de arte-cultura realizadas por sujeitos que vivenciam algum sofrimento emocional ou psíquico, são instrumento para desenvolver novos significados, novos sentidos e novos imaginários sociais sobre a loucura. A arte transcende o objetivo terapêutico, possibilitando a produção de novas subjetividades e sentidos.

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AMARANTE, Paulo. Do trabalho terapêutico e da arte-terapia à cidadania e à transformação do lugar social da loucura. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 31, 2022. (Link)