Um novo estudo descobriu que de 10 pessoas que estavam totalmente recuperadas de seu primeiro episódio de esquizofrenia (PEE), aquelas que não tomavam antipsicóticos se saíram melhor em termos de funcionamento cognitivo, social e de papeis sociais- e chegaram à recuperação total mais rapidamente. A pesquisa foi liderada por Susie Fu da Universidade de Oslo, Noruega. Ela foi publicada em Psychiatry: Interpersonal and Biological Processes.
De acordo com Fu, “Os achados desafiam algumas das opiniões vigentes sobre o tratamento medicamentoso de pacientes do PEE. Para um subgrupo de pacientes do PEE, o tratamento medicamentoso contínuo não é necessário para manter baixos níveis de sintomas. Estes pacientes mostram um bom funcionamento sustentado uma vez que totalmente recuperados”.
Os participantes vieram do Estudo de Recuperação da Esquizofrenia de Oslo. 31 pessoas foram encaminhadas aos pesquisadores depois que seu primeiro episódio de esquizofrenia foi diagnosticado, e os pesquisadores acompanharam seu progresso por sete a oito anos. No último acompanhamento, 10 dos participantes foram considerados “totalmente recuperados”.
O estudo prossegue examinando as diferenças entre os 10 que estavam totalmente recuperados. No último acompanhamento, seis dos 10 já não estavam mais tomando medicamentos antipsicóticos. Dois deles nunca haviam começado o seu uso e os outros interromperam a medicação durante os oito anos do estudo (na maioria das vezes com a ajuda de seu prescritor).
Os seis que não estavam tomando medicamentos se recuperaram mais rapidamente do que aqueles que continuaram tomando o medicamento. Ou seja, era mais provável que eles tivessem se recuperado, enquanto que aqueles que continuaram tomando medicamentos demoraram mais para alcançar o objetivo de “recuperação total”.
Os pesquisadores também descobriram que estar tomando medicamentos antipsicóticos na verdade aumentou a probabilidade de recaída psicótica – uma descoberta que também foi demonstrada em outros estudos. Todos os quatro participantes que ainda estavam tomando antipsicóticos experimentaram recaídas, enquanto que nenhum dos participantes que não estavam tomando as drogas teve recaída.
Para refutar descobertas como estas, os defensores dos medicamentos antipsicóticos frequentemente argumentam que talvez as pessoas que pararam de tomar os medicamentos o tenham feito porque estavam indo melhor.
No entanto, os pesquisadores dão duas razões para que isso seja improvável. Primeiro, eles compararam o funcionamento das pessoas no início do estudo. Aqui está o que os pesquisadores dizem sobre isso:
“No começo do tratamento, os participantes não medicados não eram mais saudáveis do que os participantes medicados. Muito pelo contrário: Os participantes não medicados tinham as maiores deficiências no funcionamento do papel social e um nível mais alto de sintomas no começo do tratamento”.
Em segundo lugar, os pesquisadores perguntaram por que as pessoas pararam de tomar o medicamento. A razão mais comum é que eram os efeitos adversos. Ou seja, as pessoas pararam de tomar o medicamento porque estava afetando negativamente as suas vidas devido aos efeitos colaterais, não porque elas estavam se saindo melhor.
Os pesquisadores também observam que a recuperação pode parecer diferente para cada indivíduo. Embora todos os 10 participantes preenchessem os critérios para uma recuperação completa, “as mudanças foram significativamente maiores quando os indivíduos estavam sem medicamentos antipsicóticos do que com medicamentos, com respeito à velocidade de processamento e funcionamento laboral”.
As diretrizes atuais, como as liberadas pela Associação Psiquiátrica Americana, sugerem que há um alto perigo de recaída após a interrupção do tratamento antipsicótico; portanto, sugerem tratamento de “manutenção” – continuidade do uso antipsicótico após a recuperação da psicose inicial.
Entretanto, Fu cita a evidência de que o maior perigo de recaída pode ser devido aos efeitos de abstinência dos medicamentos antipsicóticos. De acordo com Fu, os medicamentos antipsicóticos desregulamentam o sistema dopaminérgico, levando à abstinência e à recaída quando são removidos do sistema.
O estudo foi limitado em sua pequena amostra (apenas 10 participantes). Além disso, havia 28 pessoas que não preenchiam os critérios para uma recuperação completa, e seus dados não foram incluídos no estudo.
O que este estudo mostra, porém, é que das 10 pessoas que se recuperaram completamente sete ou oito anos após o tratamento inicial (de uma coorte de 31), seis não estavam tomando medicação. Essas seis, além disso, haviam se recuperado mais rapidamente do que os usuários de medicamentos, não tiveram recaídas durante os oito anos (enquanto que as pessoas que tomavam os medicamentos tinham), e tiveram recuperações mais robustas, na medida em que tiveram maiores melhorias na cognição, no social e no funcionamento do papel. Além disso, de forma notável, os seis sem uso desses medicamentos tinham sintomas mais graves e estavam mais prejudicados no começo do tratamento.
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Fu, S., Czajkowski, N., & Torgalsbøen, A. (2019). Cognitive, work, and social outcomes in fully recovered first-episode schizophrenia: On and off antipsychotic medication. Psychiatry: Interpersonal and Biological Processes. doi: 10.1080/00332747.2018.1550735 (Link)
[trad. e edição Fernando Freitas]