Um golpe decisivo para a hipótese da serotonina para a depressão

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Em Psychology Today: “Quase tão logo foi lançada em 1965 pelo psiquiatra de Harvard Joseph Schildkraut, a hipótese da serotonina para a depressão – reduzida e simplificada pelo marketing farmacêutico à teoria do ‘desequilíbrio químico’ da depressão e da ansiedade – foi objeto de pesquisa crítica e encontrou falhas.

A má posição da hipótese na literatura científica, no entanto, quase não afetou a sua vida após a morte, em livros didáticos, em ambientes clínicos e de tratamento, e em aplicativos e websites de saúde mental. Tampouco dissipou o uso contínuo da frase como “forma abreviada” entre médicos e pacientes e em ambientes do dia-a-dia, inclusive para estados e condições mentais bem diferentes [. . .]

Corte para os dias de hoje

Uma nova e importante revisão da pesquisa – a primeira de seu tipo a rever exaustivamente as evidências, publicada hoje na revista Molecular Psychiatry– … encontrou que “não há evidência de uma conexão entre níveis reduzidos de serotonina ou de atividade e depressão”.

A revisão por pares – que representa uma das mais altas formas de evidência na pesquisa científica – foi extrapolada a partir de meta-análises e revisões sistemáticas sobre depressão e níveis de serotonina, receptores e transportadores, envolvendo dezenas de milhares de participantes.

Embora “a hipótese da depressão por serotonina ainda seja influente”, Moncrieff e co-autores observaram, citando livros de texto amplamente adotados publicados ainda em 2020 e pesquisas indicando que “85-90 por cento do público acredita que a depressão é causada por baixa serotonina ou um desequilíbrio químico”, a pesquisa primária indica que “não há suporte para a hipótese de que a depressão é causada por baixa atividade ou concentrações de serotonina”.

[. . .] No comunicado à imprensa Moncrieff explicou:

Os pacientes não devem ser informados de que a depressão é causada por baixa atividade de serotonina ou por um desequilíbrio químico e não devem ser levados a acreditar que os antidepressivos funcionam conforme essas hipotéticas e não comprovadas anormalidades. Em particular, a idéia de que os antidepressivos funcionam da mesma forma que a insulina para diabetes é completamente enganosa. Não entendemos exatamente o que os antidepressivos estão fazendo ao cérebro, e dar este tipo de desinformação às pessoas impede que elas tomem uma decisão informada sobre se devem ou não tomar antidepressivos”.

Convidado a extrapolar as conclusões da revisão para a Psychology Today, Moncrieff acrescentou:

“O uso de antidepressivos atingiu proporções epidêmicas em todo o mundo e ainda está aumentando, especialmente entre os jovens. Muitas pessoas que os tomam sofrem efeitos colaterais e problemas de abstinência que podem ser realmente graves e debilitantes. Um dos principais fatores desta situação é a falsa crença de que a depressão é devida a um desequilíbrio químico. Já é hora de informar ao público que esta crença não está fundamentada na ciência'”.

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