Nota em Defesa da Reforma Psiquiátrica e de uma Política de Saúde Mental Digna e Contemporânea

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Através do seu Grupo Temático de Saúde Mental, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco assina o manifesto de docentes e pesquisadores brasileiros da Saúde em defesa da Reforma Psiquiátrica e de uma política de Saúde Mental digna e conteporânea.

ABRASCO

A assistência à saúde mental no Brasil atravessou profundas e importantes mudanças desde a promulgação da constituição de 1988. A Lei 10.216, de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental – e que foi conquistada após anos de espera, veio dar o enquadre legal para a transformação da rede de serviços públicos. Entre os anos de 2001 e 2014 houve uma expansão importante de serviços comunitários (como os Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente) chegando em 2006 a importante inversão do padrão do gasto público. Hospitalocêntrico no regime militar passa a ter os recursos gastos majoritariamente com os serviços comunitários e não com hospitais. Com isso, o Brasil alinhava-se com uma inconteste tendência mundial, desde o final da segunda guerra mundial, de qualificação de cuidados comunitários para os portadores de doenças mentais, próximos às suas famílias, com respeito e liberdade.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira – diferente do exposto pela Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, na última reunião do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde – Conass, e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde – Conasems, nesta quinta-feira, 31 de agosto, vem se desenvolvendo de acordo com as orientações propostas pela Organização Mundial da Saúde – OMS, pela Organização Pan-americana de Saúde – OPAS em suas indicações de reestruturação da atenção em saúde mental articulada à rede de serviços territoriais, inseridos na comunidade onde vivem os usuários, suas famílias, amigos e referências pessoais e reabilitadoras, de forma a viabilizar a substituição de hospitais e manicômios como espaços preferenciais de cuidado.

O sistema de saúde brasileiro como um todo encontra-se ameaçado pelo sub financiamento, falta de planejamento e de avaliação e gestão, e, ao abandono de uma política de formação e qualificação permanente de seus atores.

A despeito de seu crescimento, o modelo brasileiro de assistência à saúde mental ainda precisa de expansão de serviços comunitários onde existam leitos cobrindo o cuidado nas 24 horas, e leitos complementares em hospitais gerais para a intervenção responsável nas crises emocionais e uso prejudicial de drogas. Tais serviços foram os que menos se expandiram em todo o território nacional, deixando as redes de atenção frágeis e pouco potentes, o que tem sido argumento para justificar o retrocesso primitivo aos lugares de exclusão e violência por gerentes pouco informados e qualificados para a evolução tecnológica e científica do cuidado mental.

O coordenador do Ministério da Saúde para Saúde Mental Álcool e outras drogas, Quirino Cordeiro merece enfático repúdio pelas suas proposições levadas ao Conass e Conasems quando defendeu a expansão dos hospitais psiquiátricos num contexto de congelamento de investimentos por vinte anos no Sistema Único de Saúde.

Tal proposta é obscurantista, retrógrada e anticientífica. Vale destacar que, ao longo de pelo menos 10 anos de implantação da Reforma Psiquiátrica, um grande número de trabalhos publicados, em periódicos nacionais e internacionais, e mesmo uma importante publicação no renomado periódico Lancet, têm apresentado evidências dos inegáveis efeitos positivos da Reforma Psiquiátrica Brasileira sobre a vida de usuários e usuárias de saúde mental que têm acesso aos serviços territorializados.

O nosso compromisso, portanto, é com a ampliação e fortalecimento desse modelo, e não com o seu retrocesso e desestruturação.

Grupo Temático de Saúde Mental da Abrasco.

Confira na página da ABRASCO →

Precisamos Falar sobre Diego?

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SP - ABUSO EM ONIBUS / SAO PAULO - GERAL - O ajudante de serviços gerais Diego Ferreira de Novais (2 D), de 27 anos, é levado por agentes da Polícia Civil para o 2º Distrito Policia, em São Paulo (SP), neste sábado (2). Diego que havia sido preso nesta semana por ejacular em uma mulher dentro de um ônibus, foi detido novamente por atacar outra passageira dentro de um coletivo na região da Avenida Paulista. 02/09/2017 - Foto: LEONARDO BENASSATTO/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Rita AlmeidaTrabalho como profissional da saúde mental e sou militante da Reforma Psiquiátrica Brasileira desde 1995. Já fui coordenadora de CAPS e supervisora institucional em saúde mental indicada pelo Ministério da Saúde. Minha dissertação de mestrado tratou sobre o lugar e a função da “loucura” nas instituições e na cultura. No meu doutorado (em curso) também vou tratar da maneira como lidamos com nossos mal-estares na contemporaneidade, mais precisamente, vou pensar sobre a medicalização como estratégia para tal lida. Digo isso porque o que vou escrever a seguir parte da minha prática e, também, do meu percurso acadêmico.

Existem, basicamente, dois modos de pensar a “loucura” ou mesmo as formas de delinquência. O mais comum é pensarmos em tais “desvios” como um problema meramente individual, ou seja, aquele sujeito desviante é uma espécie de “maçã podre” decorrente da sua condição ou escolha particular, nesse caso, precisa ser eliminado, ser retirado da convivência das demais “maçãs” ou ser transformado numa “maçã saudável”. Este é um modo simplista de pensar e que gera propostas igualmente simplistas, como, por exemplo, a de que combateremos a criminalidade eliminando (matando, prendendo, exilando) os criminosos ou a de que teremos uma sociedade mais saudável eliminando (matando, prendendo, exilando) os doentes mentais.

Um outro ponto de vista – que eu partilho, e a partir do qual pensamos quando defendemos a mudança do modelo manicomial para um modelo aberto – entende que um possível “desvio”, apesar de manifestar num indivíduo singular, quase sempre é resultante daquilo que acontece em seu meio social e cultural. Tal modo de pensar não desresponsabiliza o sujeito pelos seus atos desviantes ou criminosos, mas convida a sociedade a compartilhar a responsabilidade pelo mesmo, na medida em que todo sujeito – em especial os que estão fora da curva – funcionam como uma espécie de “para-raios” do modus operandi da sociedade em que vivem. Pensando desse modo, é possível analisar uma sociedade ou uma instituição a partir dos seus pontos desviantes, ou seja, muito mais do que singularizar uma doença social, o sujeito desviante denuncia as falhas e os pontos cegos de uma sociedade ou cultura. Inclusive, é importante destacar – porque isso varia muito – o que uma determinada sociedade considera desviante diz muito sobre como ela é.

Mas, vamos ao ponto que interessa aqui que é tratar do caso exaustivamente debatido e escarafunchado esta semana, o caso de Diego Novais, de 27 anos, mais conhecido como o “tarado” que ejaculou numa mulher no ônibus. Independente do crime, do ato antissocial, imoral, machista, ou como queiram chamar, de Diego, vou me propor a pensar o Brasil atual a partir dos últimos acontecimentos envolvendo tal sujeito. Como faria no meu trabalho de supervisora/analista – no qual tentamos verificar quais os problemas institucionais e relacionais determinado caso denuncia e aponta – vou inverter meu olhar e, ao invés de focar em Diego e seu comportamento sexual desviante, vou me dirigir para o modo como a sociedade lidou com Diego, e analisá-la.

Primeiramente, é importante dizer que esta não pretende ser uma análise científica ou acadêmica, será apenas uma avaliação superficial feita a partir da minha Linha do Tempo do Facebook e de comentários que li em notícias na internet nos últimos dias. Vamos às análises que fiz:

  1. Somos machistas:

Ainda que o ato de Diego não tenha sido motivado por machismo, mas, ao que parece, por uma disfunção cerebral pós-cirúrgica (e isso é totalmente possível), seu ato trouxe a tona a fato de inúmeras mulheres serem molestadas e assediadas em transporte público e se sentirem vulneráveis e sem apoio para fazerem denuncia quando se sentem abusadas e violentadas, nessas e em outras situações. Além do mal-estar e do constrangimento do abuso e da violência, sofrem também por não se sentirem acolhidas e respeitadas pelos instrumentos da justiça. A elas cabe, invariavelmente, a culpa pelo abuso ou violência masculina.

  1. Não somos republicanos:

É um argumento recorrente quando tratamos de casos que causam comoção, tal como este, trazer a questão para o âmbito da nossa vida privada, como se isso devesse fazer diferença. “E se fosse sua filha?” “E se fosse sua mãe?” – são perguntas frequentes. Nossa confusão histórica entre o público e o privado, nos faz imaginar que um juiz ou um profissional da saúde pública, por exemplo, deverão decidir de modo diferente, caso se trate de alguém do seu círculo privado. Não digo que isso não aconteça por aqui, exatamente pela nossa cultura do “jeitinho”, mas não devíamos contar com isso, e muito menos com tal argumento. É claro que, se fosse membro da minha família, eu poderia estar emocionalmente afetada o que, provavelmente, me impediria de ter uma intervenção republicana. Talvez, tal fato me levasse a um ato desesperado e intempestivo, mas eu, sinceramente, espero que alguém que esteja com a “cabeça fria”, que tenha conhecimento de causa, que pense nos dois ou mais lados da questão e que leve em conta as leis vigentes (ainda que eu não concorde com elas), possa tomar a melhor decisão possível.

  1. Somos violentos:

Ao menor sinal de desagravo nosso potencial violento alcança níveis alarmantes. Lógico que muitos valentões e valentonas de rede social são, na verdade, covardes que usam da mediação digital para dizerem o que não teriam coragem de dizer em outra situação, e muito menos fazer, mas, de todo modo, o que as pessoas dizem que desejariam fazer com um sujeito como Diego é bem pior do que o que ele fez. Acreditamos na intervenção violenta como medida corretiva, mas, sobretudo, como aceitável e justificável em muitos casos.

  1. Somos punitivistas:

A maioria de nós ainda defende que as medidas tomadas pela justiça devam ter caráter de punição e não de ressocialização ou reintegração. E em casos como o de Diego, a justiça deve se parecer como algo próximo à vingança. Seguindo a premissa da punição, esperamos que a justiça aja rapidamente e não deixe “furos”, ou até que ela seja capaz de prever um crime que não aconteceu, baseada num acontecimento anterior. A reintegração e a ressocialização demandam mais cuidado e tempo, a punição é mais rápida e imediata. Optar pela ressocialização, apesar de ser mais saudável para toda a sociedade, pode deixar mais lacunas e questões em aberto, por exigir uma maior cautela e tempo para agir. Todavia, nesses casos onde a comoção social é grande exigimos uma punição rápida e eficaz, e que feche totalmente a questão.

  1. Somos manicomiais:

A Reforma Psiquiátrica Brasileira levou anos de muito debate e luta para se estabelecer e evitar algumas das atrocidades que vitimavam os doentes mentais. Em nome do bem estar da sociedade, os manicômios se tornaram um depositário daquilo que dela era considerado dejeto e escória; uma verdadeira máquina de matar e violar os Direitos Humanos. Pela via da Reforma, o Brasil (apesar dos retrocessos que estamos assistindo depois do Golpe Parlamentar que instituiu o Governo Temer) possui uma política de saúde mental avançada em termos de humanização e garantia de direitos e cidadania. O encarceramento do doente mental ainda é uma prática comum mundo afora. Nesse sentido, o manicômio é uma instituição que vive seus últimos suspiros por aqui, no entanto, ao menor sinal de comoção coletiva, diante de atos de loucura, clamamos por ele. Ou seja, apesar de todos os avanços das últimas décadas, o isolamento e o encarceramento do “louco” ainda são vistos como saída, não para cuidar do doente, mas, simplesmente, para proteger a sociedade do mesmo.

  1. Somos moralistas:

Me chamou muita a atenção a desproporção da comoção social que o caso suscitou, comparada a gravidade do ato do infrator, isso num país que mata uma mulher a cada hora e meia por feminicídio (segundo dados do IPEA de 2013). Me pareceu que se a vítima tivesse levado um tiro na cara não estaríamos tão escandalizados. Além disso, pelos comentários que vi por aí, a sexualidade e o desejo sexual, incluindo os excessivos e desviantes da norma, são território eminentemente masculino. A moral que está posta ainda reprime e sufoca a sexualidade da mulher, discurso presente mesmo entre as feministas mais aguerridas. A sexualidade feminina ainda é recoberta de mitos. Resumindo um pouco: mulheres não tem desejo sexual, caso tenham, conseguem mantê-lo sempre sob controle e não são afeitas a “taras” e compulsões.

  1. Somos religiosos:

Para quase todos os problemas que surgem, a resposta, “tá faltando Deus no coração” parece caber, e, com relação a Diego, não tem sido diferente. O demônio também é constantemente convocado a ser o elemento explicativo para tal situação. Como não suportamos ver essa humanidade insana, indomável, trágica e errática que habita em todos nós e que pode vir à tona, tal como veio em Diego, preferimos delega-la ao outro estranho; ao diabo. Mas, curiosamente, mesmo os não religiosos, nutrem um modo de pensar mágico. Ainda que o cerne não seja Deus ou o Diabo, acreditam que haja um único responsável pela situação e, portanto, uma única solução que vai resolver todo o problema. Acreditam num ideal qualquer que nos salvará para sempre de todo e qualquer mal-estar e nos trará o paraíso na Terra; sem Diegos, sem juízes que liberam Diego, sem mães que não conseguem fazer Diego seguir tratamento, sem erros médicos em cirurgias de Diego, sem acidentes automobilísticos que desencadeiem uma doença orgânica em Diego; e por aí vai…

O título do meu texto é uma pergunta – Precisamos falar sobre Diego? – e não por acaso. Toda vez que um caso desses vem à tona, devíamos pensar sob que prisma devemos falar ou opinar publicamente. Este caso foi um exemplo maravilhoso para entendermos que, não devemos falar sobre Diego. Não conhecemos o sujeito, sua situação ou sua condição, não sabemos exatamente o que houve, desconhecemos seu diagnóstico, os processos que ele responde e suas particularidades, portanto, qualquer julgamento feito a Diego, ao seu laudo ou ao seu processo legal é irresponsável e infrutífero, podendo até mesmo gerar danos maiores. No entanto, podemos sim, falar a partir de Diego, assim como eu tentei fazer aqui. Desse modo, entendemos que Diego é apenas um catalizador das nossas chagas sociais e que, eliminá-lo não irá curá-las. Todavia, podemos pensar nossas mazelas a partir de Diego, assim, seremos capazes de fazer algo de produtivo e verdadeiramente terapêutico para a sociedade como um todo, e também para Diego.

Sei que é bem difícil pensar assim, mas faço um convite a tal exercício. Diego é uma espécie de dejeto, se pensarmos naquilo que almejamos para um ser humano, entretanto, ele fala mais das nossas fraquezas e misérias, do que gostaríamos. Por isso, rejeitamos Diego e queremos evitá-lo ou eliminá-lo de todo modo. Entretanto, uma sociedade minimamente saudável – e é só o que podemos almejar – entende que criar modos de lidar com Diego é fundamental para o bem de toda a coletividade, e não apenas dele. É fácil fazer isso? Não, é bem difícil! Mas quem disse que estou propondo o mais fácil?

Antes que usem o item dois e me perguntem: “Duvido se fosse você a levar uma esporrada de um estranho no coletivo?”, vou responder. Acharia péssimo. De um estranho, no coletivo, não curto. Nesse caso, pode ser que eu estivesse impossibilitada de ter qualquer atitude sensata, inclusive de escrever esse texto, mas, certamente, haveria alguém apta a escrevê-lo. É assim que funciona quando vivemos numa coletividade que se pretenda republicana.

Michelle Carter Parte III: Ministério Público Vai Atrás da Testemunha-Perito para que Interrompa o Seu Blog 

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With her defense attorney Joseph Cataldo at left, Michelle Carter listens to her sentencing for involuntary manslaughter for encouraging 18-year-old Conrad Roy III to kill himself in July 2014. Thursday, Aug. 3, 2017. She was sentenced Thursday to 15 months in jail for involuntary manslaughter. (Matt West/The Boston Herald via AP, Pool)

bregginParte III de uma série de relatórios sobre Michelle Carter. As partes I e II podem ser lidas aqui e aqui.

Na manhã de 11 de agosto de 2017, o juiz Lawrence Moniz, que presidiu o julgamento do “suicídio por mensagens de texto” de Michelle Carter, atuou sob solicitação do Ministério Público do distrito para que fosse realizada uma audiência de emergência. O propósito expresso da promotora Katie Rayburn foi impedir que eu escrevesse este blog ou qualquer outra coisa sobre o julgamento recentemente realizado (carta de apresentação, Public Record 55). Embora o julgamento tenha sido concluído, o Ministério Público queria manter o controle sobre a narrativa a respeito da menina que, aos dezessete anos, supostamente falou com um menino mais velho para se matar.

Condenar Michelle Carter de homicídio culposo por supostamente fazer com que Conrad se matasse, ao lhe dizer para que voltasse a um caminhão cheio de monóxido de carbono, não foi suficiente para o Ministério Público. Os promotores argumentaram que a jovem de vinte anos de idade deveria passar de 12 a 15 anos na prisão estadual. Mas o Ministério Público do Estado de Massachusetts recebeu uma dura derrota, quando o juiz Moniz condenou Michelle a apenas 15 meses em uma Casa das Correções local. O juiz Moniz mostrou mais indulgência ainda, permitindo que Michelle permaneça livre durante o período em que haverá um longo processo de recurso.

A audiência extraordinária em 11 de agosto de 2017 foi unilateral (‘ex parte’), significando que a parte em risco pela ação judicial não estava presente ou representada. O que tenho escrito foi objeto da audiência, e nem eu, nem minha representação legal, nem os advogados de Michelle Carter, que me trouxeram para o caso, estavam na audiência.

O escritório do Ministério Público manobrou o sistema jurídico para que apenas a voz do promotor pudesse ser ouvida em audiência pública naquele dia. Este drama orquestrado permitiu que o Ministério Público fizesse acusações prejudiciais, falsas e incontestadas, destinadas a interromper este blog. O movimento do promotor tornou-se um comunicado de imprensa e o tribunal transformou-se um palco para desacreditar o perito de Michelle Carter na presença dos meios da comunicação escrita e televisiva. Eu só vim a saber sobre o que aconteceu, depois que a audiência acabou e a mídia começou a me telefonar.

Meus aliados naturais para esta audiência de emergência foram os dois advogados de Michelle, que normalmente teriam dado voz ao meu ponto de vista. Mas os advogados de Michelle receberam a chamada a menos de 24 horas do início da audiência. Um advogado estava fora da cidade em férias e o outro estava em um julgamento. Eles não podiam comparecer à audiência com tão pouco tempo e eu não tive a oportunidade de fornecer uma refutação às acusações inflamadas do Ministério Público.

O Ministério Público pediu ao juiz Moniz para que eu fosse impedido de qualquer outro e futuro escrito sobre o julgamento de Michelle Carter, assim como sobre qualquer aspecto desse caso (carta de apresentação, Registro Público 55). Este movimento extraordinário, denominado restrição prévia ou censura pré-publicação, é um grande ataque à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa.

O movimento apresentado ao juiz continha falsidades e alegações infundadas sobre o que tenho escrito e até mesmo sobre minhas pretensas intenções para futuras publicações. Sem evidência alguma, o Ministério Público alegou que eu planejava colocar os registros médicos selados (embargados) do falecido namorado de Michelle nos meus recém-publicados arquivos da Michelle Carter.

Eu fui o único perito psiquiátrico ou médico no julgamento de Michelle Carter, e poucos outros tiveram o conhecimento ou a oportunidade de examinar o comportamento do Ministério Público e o veredito do julgamento. Ora o Ministério Público estava determinado a manter o controle da narrativa do caso, arruinando a minha credibilidade no espaço público.

Sufocando o meu exame crítico do julgamento e seus problemas, assim também estão a proteger a indústria de drogas psiquiátricas e evitando o exame mais aprofundado do papel que as drogas psiquiátricas desempenharam ao arruinar a vida de Michelle Carter e do jovem que se matou.

A situação atual

Após a audiência de 11 de agosto de 2017, meu advogado conseguiu enviar uma refutação ao gabinete do Ministério Público e ao juiz Moniz, bem como aos advogados da Michelle Carter. Na minha resposta, rejeitei as alegações falsas do Ministério Público e tranquilizei o juiz sobre continuar a aderir ao embargo nos registros médicos de Conrad Roy. Eu tinha a permissão de Michelle Carter para usar seus registros para o meu blog e, portanto, o Ministério Público não podia contestar isso. O juiz programou uma audiência de acompanhamento em 21 de agosto, desta vez na presença dos advogados da Michelle.

Estamos agora aguardando a opinião escrita final do juiz. Espero que ele rejeite totalmente a restrição anterior da minha escrita, mas danos consideráveis já foram feitos. O Ministério Público mais uma vez usou a sua autoridade de procuradoria e de ter acesso à mídia para deslegitimar todos os pontos de vista do caso Michelle Carter, exceto o seu próprio.

A ameaça da censura pré-publicação

Em sua carta de apresentação de 10 de agosto de 2014 para a sua moção, o Ministério Público disse ao juiz Moniz: “O Estado solicita a este tribunal que Peter Breggin suspenda qualquer publicação, descrição de qualquer informação que tenha recebido no decorrer deste caso até que haja uma nova notificação do Tribunal “(Registro Público 55). Eles estavam tentando antecipadamente proibir-me de falar ou escrever sobre algo que eu aprendi com o caso Michelle Carter, presumivelmente incluindo qualquer coisa nos registros públicos e qualquer coisa que eu testemunhasse enquanto perito.

Na lei americana, as poucas exceções que permitem restrições prévias incluem intervenções do governo federal baseadas em segurança nacional em tempo de guerra, e até mesmo isso é objeto de controversas.

A resistência à restrição prévia ou à censura pré-publicação é historicamente central para a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. O juíz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Warren Burger, escreveu: “As restrições anteriores ao discurso e à publicação são a violação mais séria e menos tolerável dos Direitos da Primeira Emenda”.

Parar a publicação de escritos antes da sua publicação desafia a Primeira Emenda. Prevenir ou punir as pessoas, antecipadamente ou não, de falar ou escrever sobre o conhecimento geral de um caso legal, incluindo seu testemunho público no julgamento, provavelmente não tem precedentes.

Então, o que está movendo o Ministério Público a tomar medidas tão extremas para tentar parar esse blog e qualquer outra coisa que eu possa escrever sobre o caso?

A importância da escrita sobre Michelle Carter

A condenação de Michelle Carter por acusações de homicídio culposo, por supostamente dizer ao namorado que voltasse ao seu carro para morrer de intoxicação por monóxido de carbono, foi uma enorme injustiça. Isso em si é motivo suficiente para que alguém escreva sobre o caso e eu sou um dos poucos em posição para fazê-lo.

Michelle não só foi condenada injustamente, visto que dois ou mais anos antes do julgamento o Ministério Público havia começado a submete-la- a uma crítica pública devastadora, isto para que ela parecesse um monstro. Michelle merece ter a sua história contada por alguém que não está ali para prejudicá-la.

Existe também um motivo de saúde pública e segurança para escrever sobre o caso. À Michelle e ao seu namorado, Conrad Roy, foram prescritas drogas antidepressivas que contribuíram para a ruína de suas vidas jovens e, eventualmente, para a vida de suas amadas famílias. O público, as profissões de saúde e da justiça, bem como as instituições científicas, educacionais e políticas da sociedade, todos precisam conhecer os danos que as drogas psiquiátricas estão infligindo a milhões de crianças e jovens.

Quão incomum é a tentativa do Ministério Público de interromper meu blog?

No passado, eu não apenas escrevi blogs e artigos científicos sobre os meus casos legais, mas escrevi um livro inteiro, Medication Madness (‘Loucura de Medicação’) com base em várias dúzias de casos legais. As décadas que passei escrevendo sobre meus casos legais forneceram uma fonte importante de informações científicas sobre os efeitos adversos das drogas psiquiátricas na vida mental e no comportamento das pessoas.

Como ocorreu no caso de Michelle Carter, algumas vezes os juízes colocaram um lacre em registros de outros casos em que testemunhei. Isso geralmente é feito para proteger os interesses das empresas farmacêuticas, mas neste caso foi para proteger a privacidade do falecido Conrad Roy. Em todos os casos, tentei o meu melhor para aderir a essas restrições.

Por exemplo, segurei a publicação de informações importantes que eu havia analisado de um caso de responsabilidade do produto Paxil contra a GlaxoSmithKline. Não escrevi sobre o que eu sabia até que outro juiz mais tarde liberou os documentos. Então, publiquei uma das minhas mais importantes séries de escritos científicos sobre a negligência da empresa de drogas, que não alertou sobre os riscos de suicídio, violência, excesso de estimulação e mania em crianças e adultos. (Para mais informações, vá aqui e aqui.)

Também incorporei a informação aos meus livros para profissionais e para o público em geral. Em suma, a informação de casos legais é uma das fontes mais importantes de informação sobre os efeitos adversos de drogas que prejudicam não só os indivíduos, mas também a segurança pública.

Ao longo desta longa história de escrita sobre casos legais, ninguém até agora tentou usar os tribunais para impedir que eu escrevesse sobre qualquer coisa. Na minha discussão sobre as ações do Ministério Público com vários advogados experientes, nenhum deles já ouviu nada parecido, incluindo o processo de chamar uma audiência unilateral (‘ex parte’) de emergência sobre uma questão que normalmente seria tratada fora do tribunal com um bate-papo amigável entre o Ministério Público e o advogado da defesa.

Como o ataque do Ministério Público foi extremo a respeito de Michelle?

Em 1989, Joseph Wesbecker derrubou e matou oito pessoas, ferindo mais 12. Ele perpetrou esse assalto em seu antigo local de trabalho no Kentucky. Em 1999, Eric Harris, o atirador em Columbine High no Colorado, junto com Dylan Klebold, chocou a nação e criou muitos imitadores. Harris e seu grupo mataram 12 estudantes e um professor, enquanto feriam mais 20 alunos e outro professor. Mais recentemente, em 2012, fui consultor da defesa na fase de condenação do julgamento de James Holmes. Holmes levantou-se na frente da tela de cinema em um cine em Aurora, Colorado. Fortemente armado, ele matou 12 pessoas e feriu outros 70 em um tiroteio.

Eu também fui perito em vários outros casos legais em que homens mataram seus colegas de trabalho, amigos, namoradas, esposas ou filhos. Em um caso, uma mãe atirou e matou seu próprio filho e tentou matar a sua filha a golpes com um bastão de beisebol. Em outro caso, um menino de dezesseis anos, um ano mais novo do que Michelle Carter, esfaqueou um amigo até à morte, enquanto estava sentado com outro amigo.

Em nenhum desses casos, o Ministério Público instigou tanto ódio contra o agressor como o gabinete do Ministério Público de Bristol County em Massachusetts contra Michelle Carter. Ao tentar sufocar a apresentação de Michelle sob uma luz mais equilibrada, o Ministério Público continuo o seu assalto implacável contra Michelle, mesmo depois que seu julgamento tenha terminado com uma condenação. O Ministério Público se recusa a abandonar a sua necessidade de controlar o que o mundo pensa de Michelle Carter. Se alguma vez houve uma disparidade no poder e um mau uso do poder, pelos promotores, é o que está ocorrendo entre os procuradores do Estado de Massachusetts e Michelle Carter.

O Ministério Público atacou Michelle tão violentamente na imprensa que milhões de pessoas passaram a odiá-la sem saber nada sobre ela enquanto pessoa. Quando ela estava entrando no tribunal para a sentença, uma multidão estava reunida e, pelo menos, uma pessoa foi exibida na TV, gritando contra ela: “Mate-se!” Para que estas milhões de pessoas fossem levadas a criticar Michelle, a principal senão não a única fonte de sua informação foi o fluxo de dados altamente seletivos que saíram dos gabinetes do Ministério Público para serem distribuídos aos meios de comunicação de massa.

A persistente campanha do promotor para assassinar o personagem Michelle é especialmente notória à luz do verdadeiro caráter e situação de Michelle. No momento da morte de Conrad, Michelle era uma adolescente vulnerável e muito amorosa, sofrendo com sérios problemas emocionais e médicos. Além disso, como todos os casos citados nesta seção, Michelle estava sob a influência de drogas antidepressivas que geralmente causam reações e comportamentos emocionais compulsivos e destrutivos, especialmente em pessoas jovens. Finalmente, Michelle estava enredada em um relacionamento muito autodestrutivo com um jovem mais velho, emocionalmente atormentado, que estava empenhado em completar uma de suas muitas tentativas de suicídio.

Assim como ela não estava emocionalmente preparada para lidar com os problemas de Conrad, Michelle estava menos preparada para atravessar uma implacável campanha de ódio internacional dirigida contra ela pelos meios de comunicação através dos promotores que representam o Estado de Massachusetts.

Os fatores incomuns no caso de Michelle

Eu sou um psiquiatra especializado nos efeitos nocivos das drogas psiquiátricas. O fator comum que me levou a cada um dos muitos casos de violência horrível que mencionei foi a exposição a antidepressivos prescritos perto ou durante seus supostos crimes. Descobri que os medicamentos desempenharam um papel em cada uma dessas tragédias. No caso de Michelle, ela havia recebido Prozac com 14 anos de idade por anorexia e depressão, e tinha sido mudada para Celexa nos três meses antes da sua personalidade ter sido tão radicalmente alterada, quando ela passou a ficar irritada, agressiva e até excessivamente auto-assertiva a tal ponto a encorajar Conrad a realizar seus planos para se suicidar.

Em outras palavras, a exposição à neurotoxicidade dos antidepressivos, bem como a outros medicamentos psiquiátricos, é o fator comum em todos os casos que descrevi.

O fator incomum, encontrado apenas no caso Michelle Carter, é a incrível inocência juvenil e até mesmo a deslumbrante infantilidade do suposto criminoso adolescente. Na hora do suicídio de Conrad, Michelle era inocente em muitos sentidos da palavra.

Michelle era uma menina ingenuamente dedicada a ser tão amorosa e útil quanto humanamente possível para todos que ela conhecia, e ela estava entre os jovens mais amados por colegas e adultos em sua pequena comunidade.

Michelle também era inocente no sentido de viver uma vida relativamente protegida. Ela teve pouca ou nenhuma exposição a alguém que estivesse emocionalmente torturado e constantemente expressando pedidos desesperados de ajuda para acabar com seu sofrimento. Conrad tentou suicídio muitas vezes antes de se matar e pediu-lhe que o ajudasse a ter sucesso uma última vez. Conrad também empurrou os esforços de Michelle para salvá-lo durante um período de dois anos, rejeitando todos os conselhos dela para que ele buscasse ajuda. Ele a manteve como prisioneira emocionalmente isolada, alertando-a de que a única coisa que o faria a odiá-la seria se ela contasse a alguém sobre sua determinação em se matar.

Ela também era inocente porque ninguém havia contado a ela e ela não sabia que drogas antidepressivas muitas vezes provocam uma grande variedade de reações emocionais, algumas potencialmente graves na faixa etária de Conrad e de Conrad. Os antidepressivos não só aumentam a frequência do suicídio, mas também fazem com que os jovens se tornem hostis, irritados, emocionalmente instáveis e até maníacos. Isso prejudica seu julgamento e muitas vezes causa uma deterioração em sua condição geral.

Na Parte 1 desta série fiz uma revisão de vários estudos, mostrando que até 50% das crianças desenvolverão alguns efeitos adversos, muitas vezes de natureza antissocial, como irritabilidade, agressão e perda de empatia. Os antidepressivos frequentemente causam comportamentos antissociais em todas as faixas etárias, porém com as taxas mais altas em crianças e adultos jovens.

Eu tenho escrito extensivamente sobre os perigos de antidepressivos em livros e artigos científicos. Com uma farta documentação científica, meu livro Medication Madness conta dezenas de histórias trágicas de pessoas que foram conduzidas para se comportar mal e para cometer assassinatos e caos por estarem em drogas psiquiátricas. No meu site, forneço um centro de recursos gratuito chamado www.123antidepressants.com. Aí eu ofereço muitos estudos científicos organizados por tópicos.

Michelle também era inocente legalmente na medida em que não quebrou nenhuma lei existente em Massachusetts quando, no final de dois anos, começou a encorajar Conrad a cumprir a sua longa ambição de se matar. O que levou o Tribunal de Apelações de Massachusetts a criar uma nova lei antes de Michelle ser julgada retroativamente por um crime que não existia no momento em que ele foi alegadamente cometido.

Finalmente, faltou intenção criminosa a Michelle. Cerca de dez dias antes de Conrad morrer, ela sucumbiu e finalmente concordou em encorajar Conrad a cumprir a sua ambição de morrer. Nos episódios desta história que se sucederam, nós podemos descobrir que Conrad queria e pediu ajuda para acabar com seu sofrimento e que o levasse ao céu. Em seu estado prejudicado, Michelle pensou que ela estava ajudando-o a ir para o céu, e em no estado dele igualmente prejudicado, ele agradeceu em sua nota de suicídio por ela ser tão solidária e amorosa com ele.

Talvez a própria inocência de Michelle, tanto em seu caráter quanto em suas ações, reforçou a decisão cruel do Ministério Público de Bristol para realizar uma campanha orquestrada para fazer de Michelle Carter um objeto de ódio – alguém que não poderia ficar impune, independentemente dos fatos ou das leis existentes no Estado de Massachusetts sobre homicídio culposo. Eu sugiro que a sua inocência “reforçou” a decisão deles de destruir na mídia e depois na sala do tribunal Michelle do pré-julgamento – e agora mesmo depois de sua condenação e sentença. Nós podemos achar que o Ministério Público pode ter outros motivos mais pessoais também para acumular essa crítica tão cruel e amarga sobre Michelle.

Revelações adiante

Esta série sobre Michelle Carter em Mad foi brevemente interrompida pela intervenção do Ministério Público em seu esforço para parar as publicações. Durante esse período, fiquei relativamente silencioso por respeito aos procedimentos judiciais.

Os relatórios futuros desta série incluirão como o escritório do Ministério Público, que retratou Michelle como uma mentirosa que exagerou tudo para chamar a atenção, tentou basear todo seu caso em algo que Michelle disse em um momento de remorso e culpa mais de dois meses após a morte de Conrad.

TDAH: Abordagens Alternativas ao Modelo Biomédico

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A questão do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) cada vez mais chama a nossa atenção. E há diferentes formas de enfrentar essa problemática, sob o ponto de vista da ‘des-medicalização’.

Veja aqui → um site que busca diálogos com alternativas ao modelo hegemônico biomédico para abordar essa problemática.

 

Ameaça de Fechamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

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O desmantelamento do Estado brasileiro – promovido pelo Governo Temer e seus aliados nos estados – é evidente em nosso cotidiano. Afinal de contas, o documento do PMDB “Uma Ponte para o Futuro”, quando ainda Temer era o vice-Presidente de Dilma, já anunciava com todas as letras o projeto da CASA-GRANDE.  Trata-se da versão tupiniquim do projeto do capitalismo em sua fase atual, conhecido como ‘anarcocapitalismo‘.

Não pode escapar do projeto de desmonte do Estado o seu sistema de saúde pública: as estruturas do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Exemplar: o desmonte dos CAPS.

O que está ocorrendo no Rio de Janeiro é um sinal de alerta.

Veja a matéria a seguir → 

E não perca esse depoimento → de um usuário sobre o papel do CAPS em sua vida.

 

Suicídios em Menores de 13 anos: Um em cada 5 dias

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Na CNN: de 1999 a 2015, 1.309 crianças de 5 a 12 anos morreram por suicídio nos EUA. Isso significa que, em média, uma criança menor de 13 anos morreu de suicídio quase que a cada cinco dias – durante esses 17 anos.

“Esse estudo examinou suicídios em 17 estados de 2003 a 2012, e demoliu os fatores a separar as idades de 5-11 e 12-14.

Problemas de relacionamento – como discussões ou outros problemas com amigos e parentes – foram o fator mais comum para ambos os grupos. Dadas as idades, os problemas, naturalmente, seriam mais propensos a envolver questões de namorado / namorada no grupo com mais idade.

Os problemas de saúde mental documentados foram igualmente prevalentes em ambos os grupos (cerca de 33%). Mas as diferenças nos tipos de problemas mentais foram intrigantes.

O transtorno de déficit de atenção foi mais comum no grupo de 5-11, enquanto o conjunto de 12-14 o mais provável foi o adolescente haver sido diagnosticado com depressão, disse a autora principal do estudo, Arielle Sheftall.”

Artigo →

Suicídio crianças

O Que Está Acontecendo?

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DavidHealyphoto11Isto parece que chegou do nada. A lista dos copiados (e-mails) faz com que pareça ser qualquer coisa, menos espontâneo. Simon Wessely foi recentemente destituído da presidência do Royal College of Psychiatrists e é um dos curadores do CMS (Science Media Center). Paul Summergrad e Jeff Lieberman são ex-presidentes da APA. JL ofereceu opiniões sobre o caso Holmes. Não há nenhuma indicação de AF (Allen Frances) ter assistido o Programa.

(Nota dos Editores do Mad in Brasil: o debate entre AF e DH é a respeito do recente Programa da BBC, Panorama, A Prescription for Murder, sobre as possíveis relações entre antidepressivos e assassinatos em massa. Allen Frances é nada mais e nada menos do que o coordenador-chefe do DSM-IV.  David Healy é professor de psiquiatria na Bangor University, no Reino Unido, psiquiatra, psicofarmacologista, cientista e autor de inúmeros livros. A troca de e-mails entre os dois expressa o debate atual na Psiquiatria. Para facilitar que você leitor tenha acesso ao conteúdo das várias das referências mencionadas por DH, tomamos a liberdade de anexar links ao texto original do seu blog. E para ver a íntegra do Programa clique aqui →)

Prescription for murder

From: Allen Frances <[email protected]>

Date: 6 August 2017 at 00:53

Subject: Dear David.

To: David Healy <[email protected]>

Cc: Simon Wessely , Barney Carroll , Paul Summergrad , Jeffrey Lieberman , Ronald Pies

Eu assisti a essa história com profundos receios. Sei que você teve boas intenções; mas também considero que você foi extremamente entusiástico ao declarar categoricamente que os medicamentos foram o fator causal desses assassinatos em massa, quando haviam tantos outros possíveis fatores contribuindo e que não há nenhuma prova real de que os medicamentos estavam entre eles. Quando você faz declarações tão extremas isso reduz a sua credibilidade, como também torna mais difícil para pessoas que como eu estão tentando reduzir o excesso de medicamentos, ao mesmo tempo em que não se incentiva o uso adequado (contra as falsas afirmações de extremistas que de alguma forma culpam todos os problemas psicológicos aos medicamentos). Eu sei o quanto de publicidade você já adquiriu e que você deve se sentir de algum modo obrigado a dizer tais coisas. Minha recomendação seria que você elabore com mais profundidade sobre as dificuldades de se estabelecer a causalidade e os benefícios essenciais das medicações psicológicas, bem como os consideráveis riscos. Ao agir diferentemente, você se torna responsável por pacientes que estão abandonando, ou se recusando a começar, o uso de medicamentos dos quais podem desesperadamente necessitar. Proteger as pessoas de medicações desnecessárias é o mais nobre que você pode fazer, mas isso não deve resultar em pessoas assustadas desnecessariamente com relação aos medicamentos. O que você acha?

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Allen Frances (@AllenFrancesMD) tweeted at 4:06 PM on Sat, Aug 05, 2017:

Eu constantemente alerto para o mau uso dos medicamentos

Mas é ir longe de mais acusar os medicamentos pelos assassinatos em massa

Ignora-se o papel do transtorno psíquico/armas/contexto social https://t.co/gpJ2JpHOzw

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On Aug 6, 2017 4:36 AM,

“David Healy” <[email protected]> escreveu:

Allen

Com todo o respeito, você está muito longe do alvo.

Primeiro, apesar de ter havido uma campanha cuidadosamente orquestrada, a resposta dos pacientes e de muitas outras pessoas tem sido muito positiva.

Eu acho que o melhor caminho para isso é dar-lhe duas coisas para ler – um trecho publicado no BMJ de Gwen Adshead que está anexado e a minha resposta abaixo.

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Re: Antidepressivos e assassinatos: justiça negada

Dr Adshead perde o alvo que está por detrás desse Programa. Este não era um programa para tentar provar que os antidepressivos podem causar homicídio. Isso já foi reconhecido por promotores, agências reguladoras e pessoal da indústria farmacêutica. Já em 1982, o pessoal da Pfizer observou que esta classe de drogas (ISRS) era conhecida por causar essas reações.

O Programa tampouco foi se a sertralina causou que James Holmes cometesse os assassinatos em Columbine High School. Tendo eu passado um tempo com ele, minha opinião é que isso aconteceu graças à medicação; e muito mais poderia ter sido apresentado no documentário para persuadir os espectadores sobre a veracidade dessa relação entre a droga e a chacina.

A questão principal foi essa. Se já foi reconhecido que essa droga pode causar eventos como esse, e se as provas podem ser apresentadas, como nesse caso, por que a equipe jurídica de Holmes não executou essa prova?

A resposta em parte reside no fato de que a literatura acadêmica sobre ISRSs é quase que inteiramente escrita por fantasmas (‘ghost-writers’) e não há acesso aos dados gerados pelas pesquisas feitas com essas drogas. O BMJ (British Medical Journal) e outras revistas desempenham um papel relevante para essa situação ser como é. Isso significa que, para absolver Holmes, um advogado deve persuadir um júri de que a maioria dos acadêmicos e diários são culpados por não aderirem às normas da ciência.

Holmes estava em um dilema como o do caso aqui no Reino Unido conhecido como Guildford Four  Parafraseando Lord Denning sobre esse caso “Se a sua [a deles] história está certa, isso seria algo tão terrível e que não pode ser. Os prisioneiros condenados erroneamente devem permanecer na prisão, ao invés de serem libertados e arriscar a se perder a confiança pública na lei “.

Holmes tinha um defensor público. Se ele fosse rico o suficiente para pagar um advogado que tivesse disposição para enfrentar o desafio, ou se o crime houvesse sido menos horrível, as coisas poderiam ter sido diferentes. A maioria de nós podemos acabar por nos dar mal com um dos cerca de 100 medicamentos – incluindo drogas respiratórias, para a pele e medicamentos cardíacos, que os promotores ou as empresas já indicaram que podem causar risco de violência – sendo envolvidos no mesmo dilema jurídico em que Holmes esteve / está .

Houve muitos comentários, coordenados pelo Science Media Center, dizendo que este programa difamou um grupo útil de drogas. Precisamos encontrar algum equilíbrio entre criar alarmes sobre uma droga e garantir que não comprometamos o direito de uma pessoa inocente a ter um julgamento justo.

*#@

Deixe-me explicar algumas coisas com mais detalhes. O programa Panorama tinha muito mais detalhes sobre Holmes e sua avaliação do que poderia ser apresentado; e provavelmente o Programa acabou sendo muito sutil, para o seu próprio bem (ou talvez para o meu bem). Chamar essa sutileza de falha do jornalismo da BBC, isso está tão longe da verdade. Foi uma das melhores coisas que já fizeram na minha opinião.

Em segundo lugar, eles se referem aos julgamentos concluídos contra a Pfizer, mostrando que a sua droga pode causar psicose e agressão – o que a Pfizer já optou por colocar na bula, a partir de 1994 (veja o link abaixo). Infelizmente são poucos os médicos que entendem o que está acontecendo aqui. Eles veem uma bula dizendo algo como “tem havido relatos de violência e psicose em nossa droga, então estamos incluindo isso aqui” e leem isso como – veja como esta empresa é maravilhosamente transparente e responsável, a tal ponto que está colocando bula isso, mesmo que sejam relatos insanos de pessoas excêntricas e da cientologia – vou eu acreditar nisso? Não seja ridículo!

Na verdade, o que está acontecendo é que a Pfizer e outras empresas têm relatos de que não importa o jeito como buscam dourar a pílula, eles não podem explicar isso de outra maneira, mas que é a sua droga o que provavelmente causa tais tipos de coisas.

Isso é consistente com as determinações da Pfizer para seus estudos com voluntários saudáveis feitos em 1982, de que a sertralina pode causar reações comportamentais, incluindo agitação / suicídio e agressão / homicida e que esta classe de drogas (os ISRS) é bem reconhecida por produzir isso. 1982!

Parte do problema que o campo possui é que os dados são inacessíveis. Se alguém puder me dizer como pode oferecer opiniões de expert na ausência dos dados, eu estaria interessado em ouvi-lo. Quanto mais avançarmos com essa charada de basear pontos de vista ou diretrizes em artigos de autores fantasmas (‘ghostwritten’), menos credibilidade teremos todos. Certamente, o 329 Study colocou essa questão à luz.

O segundo ponto é esse. Antes que este programa fosse divulgado, o CMS apresentou declarações de figuras de alto escalão, incluindo Wendy Burn, Presidente do Royal College of Psychiatrists, para criticar o Programa, em termos que não tinham nada a ver com o que estava no Programa. Como foram as suas declarações sobre a estigmatização da doença mental. Ela mais tarde confessou que não havia visto o Programa quando fez tal declaração. Ela não tem experiência nesta área. Não está claro para mim que tenha sido ela a autora da sua declaração. O SMC tem coordenado declarações que têm pouco a ver com os problemas reais que estiveram no cerne do Programa.

O que são os SMC? Eles estão ligados ao Sense about Science (Sentido sobre Ciência). Simon provavelmente pode lhe contar mais sobre isso. Minha opinião é que a ideia original era razoável – cientistas como ele estavam sob o ataque do que poderíamos chamar de ativistas. Ele provavelmente tinha muito menos hostilidade para lidar como o que eu tive que enfrentar ao defender ECT no passado. A ideia era garantir que a autêntica ciência tivesse uma audiência.

A realidade de hoje é que é financiado por dinheiro público quase que qualquer corporação importante que você pode pensar cujos interesses cruzam com os cuidados de saúde. O SMC tem acesso às prévias de todos os artigos do BMJ (British Medical Journal), por exemplo – como foi o caso do meu artigo há alguns anos atrás, então, muito obrigado por toda a Serotonina – e aproxima-se do Royal College para obter especialistas que possam dissecar o artigo quando aparecer. (Eu não faria uma declaração como essa sem os documentos para fazer backup).

Esta é sufocante ciência que é dita. Ela tornou-se desagradável e corre o risco de ser fascista. É perigosa para pacientes e médicos. Como eu tentei dizer em várias ocasiões e por diversos meios, a menos que o medicamento abrace a ideia de que a magia do remédio e dos médicos é o que extrai o bem do uso de um veneno, nós estamos em maus lençóis (“we are fucked”).

Se as drogas são maravilhosamente eficazes e livres de problemas, a não ser para os irracionais e supersticiosos, então não passamos de prescritores que custam caro, não sendo por acaso que estamos sendo gradualmente eliminados. Isso pode não ser um problema para você Allen, mas é para meus filhos e todos os outros dessa geração.

Se as drogas fizerem o que os manuais de diretrizes sugerem, então os administradores dos serviços de saúde podem decidir o que devemos fazer e com menores custos, e estaremos perdendo nossos empregos se não cumprirmos. Este não é um mundo em que você teve que clinicar Allen, mas posso dizer a você que não é agradável.

Sendo um forte defensor do modelo médico e alguém que não defende nada além de tratamentos físicos, olho para o estado atual da psiquiatria e os muitos remédios com consternação cada vez maior; e diria a alguém que pensa em tomar a psiquiatria como profissão que saiba que se trata de uma profissão que é cada vez mais sombria, onde a emoção, se houver, reside em descobrir como nos arruinamos tão dramaticamente e a procurar como mudar as coisas.

Reduzindo o peso da sobremedicação – está aí que 10% do Reino Unido e a maioria dos outros países importantes estão sob antidepressivos. Não há propriamente um aumento nos números dos que estão entrando ano a ano em antidepressivos. O aumento anual vem daqueles que caem em uso crônico no final do primeiro ano de uso. Quando comecei a praticar, descobrimos que os antidepressivos deveriam ser usados por 3 meses – talvez 6 meses, ocasionalmente. Dos 10% das pessoas no Reino Unido com essas drogas, 90% aproximadamente estão com elas há mais de um ano, principalmente porque não conseguem sair.

Aqui está o link para o programa Panorama (BBC-1): https://www.youtube.com/watch?v=InTukPOs_JE

Vale a pena assistir. Mas lembre-se que é sutil o que é apresentado. Eles deixaram de lado muitas coisas – incluindo o material dos voluntários saudáveis e os clipes de Bill Reid dizendo que ele não sabia nada sobre as drogas e não havia motivo para perguntar-lhe sobre elas – é melhor que você encontre alguém para comentar sobre isso.

Depois de você assistir o Programa, as questões sobre as quais eu gostaria de ouvir seus pontos de vista são as seguintes:

  • Havendo poucos pontos de vista comparando casos envolvendo ISRSs, a maioria considerando que a droga não desempenha nenhum papel em qualquer evento, acredito que há uma série de pessoas inocentes erroneamente condenadas e muitas pessoas que nunca obterão um julgamento justo. O que podemos fazer sobre isso?
  • Reconhecendo que os promotores de justiça no caso da Zoloft, as empresas envolvidas com todas essas drogas, e os dados disponibilizados, tornando quase que incontestável que os ISRSs, em princípio, podem causar violência, e reconhecendo que os pacientes são muito mais sensíveis do que costumamos dar-lhes crédito e que podem fazer parte de um genuíno debate, como conduzir um debate sobre essas questões?
  • Parece-me que estamos falhando no teste de F Scott Fitzgerald: “O teste primeiro de uma inteligência é a capacidade de manter duas ideias opostas na mente ao mesmo tempo e ainda reter a capacidade de funcionar”. Pode isso ocorrer?
  • Organizações como a SMC são boas ou não e, se uma coisa boa elas fazem, não necessitam de um novo tipo de formato de apresentação das pesquisas – procurando os interesses de uma profissão e não os interesses das corporações e seus produtos?

David

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From: Allen Frances <[email protected]>

Date: 6 August 2017 at 14:20

David,

Você tornou o meu ponto de vista muito mais eloquente e sucinto do que nunca, com essa citação no final da sua resposta:

Parece-me que estamos falhando no teste de F Scott Fitzgerald: “O teste de uma inteligência é a capacidade de manter duas ideias opostas na mente ao mesmo tempo e ainda reter a capacidade de funcionar”. Pode isso acontecer?

Eu acho que você precisa dirigir a sua própria pergunta para si mesmo – por que pode ser que você (quem obviamente tem a mais alta inteligência), está tão disposto a propagar o extremo de um lado, enfatizando o potencial de complicações ruins de medicamentos, sem poder manter também a ideia contrária de que, para muitos, os medicamentos são desesperadamente necessários e de risco / benefício muito favorável. Na minha opinião, a sua incapacidade de manter estas duas ideias contrárias reduz consideravelmente a sua eficácia como reformador da psiquiatria e provoca desastres para os doentes que necessitam de medicamentos.

Eu também não entendo como você pode estar tão seguro de si mesmo e fazer declarações tão definitivas sobre um ato intrinsecamente multicausal. Como você ou qualquer um podem provar que eram apenas remédios que causavam assassinatos? Você deve saber que nada em psiquiatria e sobre o comportamento humano é tão simples, mas parece que não conhece os possíveis danos que se seguem quando você faz parecer que é simples.

Temo que o excelente bem que você tenha feito e fará em apontar os riscos / danos dos medicamentos é manchada pela sua posição radicalmente extrema e incapacidade de também apreciar os benefícios. Eu sei que já tivemos debatendo isso muitas vezes antes e não quero tornar o que é difícil mais difícil ainda. Meu objetivo não é mudar a sua ideia, mas abri-la um pouco e sugerir que você está agora em conflito, não só porque há forças corrompidas alinhadas contra você, mas também porque você passou dos limites ao assumir uma posição unilateral indefensável.

Obrigado pelo diálogo. Mesmo que não vá a lugar nenhum, eu me senti compelido a aumentar nossas diferenças novamente. Espero que a poeira se assente.

Tudo de bom.

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David Healy <[email protected]>

Date: 6 August 2017 at 14:44

Allen

Você não está lendo o que escrevi ou não quer pensar nisso.

Eu dificilmente direi que eu acredito no modelo médico provavelmente ainda mais do que você, porque o que defendo é nada além de que tratamentos físicos façam algum bem.

Eu acho que você está cometendo o erro de pensar que o bem venha do uso de uma pílula – quando na verdade ele vem do uso que o médico faz dos comprimidos – ou não. E se não mantemos médicos e pacientes plenamente informados de todos os efeitos das pílulas, eles são muito menos propensos a tirar benefícios deles.

Você pode me dizer qual é a ideia com a qual eu estou em apuros para lidar? Eu espero uma campanha de SMC – isso é apenas um imperativo de alguém que está preocupado com os pacientes e a profissão que quer apoiar em nossos dias. Além disso, não tenho conhecimento de mais nada – certamente nada substancial que desperte problemas.

A questão não é que estou seguro sobre o meu ponto de vista. As empresas têm certeza no caso de cerca de 1000 medicamentos diferentes que causam psicose, e mais de várias centenas que causam violência.

Este foi o caso do Zoloft há mais de duas décadas. Você acha que está cuidando dos interesses dos pacientes não dizendo nada sobre isso?

D

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From: Allen Frances <[email protected]>

Date: 6 August 2017 at 18:45

Não é enganar o público assumir uma posição equilibrada de que os medicamentos podem ser benéficos e que os medicamentos podem prejudicar.

É enganar o público afirmar com certeza que se sabe que os medicamentos causaram esse ou aquele assassinato em massa.

E as populações vulneráveis com as quais me preocupo (e você também) não são aqueles que estão muito preocupados por estarem com remédios, mas os poucos que estão muito doentes e que precisam desesperadamente de medicamentos e que ficarão assustados por suas reivindicações excessivamente dramáticas e insuportavelmente convencidas de que Holmes atuou apenas sob a influência da sua medicação. Todo ato pode ter consequências prejudiciais não intencionais. Você está nobremente tentando ajudar as pessoas, mas o extremismo de seus pontos de vista e a certeza injustificada provavelmente causam danos aos outros.

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From: David Healy <[email protected]>

Date: 6 August 2017 at 20:20

Allen

Eu estava perplexo com o “extremismo dos meus pontos de vista” – sobre o modelo médico ou o acesso aos dados – até que percebi que você estava falando sobre o meu estilo antigo do século XX, apostando em um diagnóstico ao invés de fazer um scan do cérebro.

Havendo entrevistado o homem por um tempo razoável, e havendo visto 24 horas de fitas gravadas com outras entrevistas que Holmes deu, e tendo lido muitos outros relatórios – tudo de pessoas que muito felizmente dizem que não sabem nada sobre os efeitos das drogas e que tiveram acesso a grandes quantidades de outras fontes de material – como registros de computador, textos, etc. – e havendo entrado nisso, sem estar pensando que a droga havia desempenhado um papel – eu só fui aos Estados Unidos porque os advogados insistiram – sim, estaria muito feliz que isso não houvesse ocorrido, se a droga psiquiátrica não tivesse entrado em sua vida. Holmes não tem ideia que eu pensei tudo isso.

Eu sou a única pessoa com expertise em drogas que esteve nesse processo, que o entrevistou, etc. – então eu realmente não sei em que você se baseia para pensar que os meus pontos de vista são extremos.

Não tenho ideia do que seria necessário para que você perceba que não se trata de inocência ou culpa de Holmes – ele se afastou do nosso mundo para sempre e preferiria estar morto. A questão é que poucas pessoas nos EUA ou no Reino Unido, em qualquer coisa remotamente parecida com esta situação, estão obtendo um julgamento justo.

Muito antes de Holmes, eu me aproximei da ACLU sobre essa questão – que não queria nada com isso, por medo de prejudicar o acesso dos presos aos cuidados de saúde. Eu percebo que há uma problemática nos EUA com relação ao acesso dos presos à saúde, mas eu não acho que as pessoas nesta lista precisam agir como se fosse uma minoria sem salvação. Seu trabalho, Allen, é mudar isso, para que então aqueles que não estão recebendo cuidados e aqueles que não recebem justiça consigam um melhor desfecho.

David.

Minha avó é viciada em drogas – e eu culpo a Big Pharma

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Neste artigo da Alternet, Joshua Wilkey discute o vício de sua avó aos analgésicos opióides, e detalha o papel que as empresas farmacêuticas têm desempenhado na crise dos opióides da Appalachia.

“Não é de admirar que os representantes eleitos, mesmo aqueles com eleitores que morrem diariamente de overdoses de opióides, possam pensar duas vezes antes de tomar medidas para cortar o fluxo de OxyContin para Appalachia. A Big Pharma gasta muito dinheiro para comprar influência no Congresso e nas legislaturas estaduais. Os líderes de cartéis que traficam crack ou heroína não podem pagar diretamente representantes do Congresso para fechar os olhos, mas através de contribuições de campanha e lobistas as empresas farmacêuticas podem.”

Na Carolina do Norte, no Kentucky, no Tennessee e na Virgínia Ocidental, os estados cujas regiões montanhosas constituem o núcleo do território apalache mais prejudicado pelos opióides, os fabricantes farmacêuticos deram cerca de US $ 2.000.000 em contribuições políticas para autoridades eleitas de nível federal na última década. De 1986 até hoje, essas empresas farmacêuticas deram mais de cinco milhões de dólares a funcionários de nível estadual e candidatos a assentos legislativos estaduais. US $ 7,000,000 fluíram diretamente de empresas de drogas para funcionários eleitos, enquanto milhares de cadáveres ficaram na sequência do OxyContin “.

Opioides

“Autismo Virtual” Pode Explicar o Crescimento Explosivo do Transtorno do Espectro Autista (ASD)

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mwedgeAlgumas crianças que foram diagnosticadas com autismo ou transtorno do espectro autista (ASD) poderiam se beneficiar fortemente ao não serem expostas a telas eletrônicas.

Novos estudos de caso clínicos descobriram que muitas crianças pequenas que passam muito tempo em frente a uma tela de TV, videogames, tablets e computadores – têm sintomas rotulados como “autismo”. [1] Quando os pais retiram as telas por alguns meses, os sintomas da criança desaparecem. O termo para este fenômeno é “autismo virtual” ou autismo induzido por telas eletrônicas. O termo “autismo virtual” foi cunhado pelo psicólogo clínico romeno Dr. Marius Zamfir.

A Romênia testemunhou um aumento surpreendente do autismo entre os jovens em um hospital infantil. A causa era até então desconhecida, então um psiquiatra decidiu vasculhar as atividades de todos os pacientes admitidos no hospital. Nesses registros, ele encontrou uma forte tendência: as crianças que apresentavam autismo passavam quatro ou mais horas por dia em frente a algum tipo de tela: televisão, computador, tablet ou telefone. Hoje, na Romênia, o tratamento do autismo com a retirada de telas eletrônicas é considerado rotineiro e tem suporte público. [2]

Estamos vendo um aumento surpreendente nos diagnósticos de autismo nos Estados Unidos, uma tendência que tem deixado pais, professores e profissionais de saúde mental perplexos e preocupados.

Estas estatísticas do Centro para o Controle de Doenças (Center for Disease Control) apresentam uma imagem clara das taxas crescentes de diagnósticos:

  • Em 1975, 1 em 5000 crianças foram diagnosticadas com autismo.
  • Em 2005, 1 em 500 crianças.
  • Em 2014 (os números CDC mais recentes), 1 em 68 crianças.

A última pesquisa do governo feita com os pais sugere que hoje o número de crianças que vivem com autismo pode chegar a 1 entre 45. Isso significa que hoje, nos Estados Unidos, uma criança tem 100 vezes mais probabilidades de ser diagnosticada com autismo do que crianças em 1975.

O que está acontecendo? O que está por trás do aumento exponencial no diagnóstico de autismo? A remoção de telas eletrônicas das vidas de pelo menos algumas crianças pequenas diminui o risco de autismo ou mesmo reduz seus sintomas depois de terem sido diagnosticados?

Duas psiquiatras infantis francesas, Dra. Isabelle Terrasse e Dra. Anne-Lise Ducanda, criaram um excelente vídeo no YouTube que fornece algumas respostas. O vídeo é chamado de “Telas: Perigo para crianças de 0 a 4 anos” (em francês com legendas em inglês). Elas fizeram o vídeo com base em estudos de caso clínicos realizados por psiquiatras infantis na França, na Romênia e nos Estados Unidos. Sua intenção é alertar os pais e profissionais de saúde sobre a onda crescente de “Autismo Virtual” e propor soluções. A pesquisa delas descobriu que algumas crianças entre as idades de 0 a 4, que foram diagnosticadas com autismo, se beneficiaram ao ser eliminada a sua exposição a telas eletrônicas.

Dra. Ducanda e Dra. Terrasse examinaram crianças que tinham sido diagnosticadas com autismo em hospitais. (França é onde as crianças são tipicamente diagnosticadas com sérios problemas.) Os sintomas dessas crianças desapareceram inteiramente um mês depois de se eliminar o tempo frente à tela. O “autismo virtual” é o termo que elas usaram para descrever esse fenômeno. Os pesquisadores concluíram que o tempo de exibição dificultou o desenvolvimento cerebral dessas crianças e impediu que elas desenvolvessem uma vida social normal.

No vídeo, a Dra. Ducanda salienta que os programas de TV infantil ensinam a criança a repetir palavras sem que ela saiba o que as palavras significam. Uma criança pode contar, mas ela não sabe o que os números significam. Por exemplo, a criança pode repetir o número três. Mas se você perguntar à criança: “Me dê três lápis”, a criança não pode fazê-lo. Quando é mostrada uma imagem e perguntada “O que a garotinha está fazendo?”, A criança simplesmente faz eco das palavras “O que a garotinha está fazendo?”, ao invés de responder a pergunta.

As crianças aprendem o significado das palavras através da interação social – jogando com objetos reais e fazendo com que alguém as olhe e converse com elas. Uma mãe diz: “Coloque o seu casaco e saiamos para dar uma caminhada”, que está associado à ação de vestir um casaco e dar um passeio, dando às palavras um contexto e um significado. Uma criança aprende sobre o mundo manipulando um brinquedo com as mãos, sentindo com a boca e jogando o brinquedo no chão. O cérebro da criança registra as conexões.

O cérebro de uma criança pequena não pode se desenvolver sem essa sensação de toque e interação. A luz e o ruído das telas eletrônicas captam a atenção de uma criança, mas não levam a um desenvolvimento saudável do cérebro. [3]

De fato, as telas são tão fascinantes que é difícil para a criança se voltar para outra coisa. Em suma, ela fica distraída pela tela e é viciada. A tela também isola a criança de interações humanas que são necessárias para habilidades de comunicação e desenvolvimento da linguagem. Pior ainda, o ruído e a luz das telas – até mesmo os cartoons – podem gerar emoções dolorosas que a criança dificilmente pode lidar. Esses sentimentos podem levar a comportamentos violentos e agressivos em uma criança pequena.

O que é impressionante sobre a explosão nos diagnósticos do transtorno do espectro autista é que ele se correlaciona com o uso aumentado da televisão desde 1975 e com a revolução digital. Em 1975, uma família típica tinha uma tela de televisão em sua casa. Hoje, com a revolução digital, as famílias geralmente possuem 10-15 telas. Além de telas de TV cada vez maiores, temos computadores desktop, laptops, tablets, telefones inteligentes e jogos de videogames. Os comprimidos são anunciados em catálogos de brinquedos para bebês de até seis meses de idade.

As crianças pequenas estão expostas a telas muito mais do que o recomendado pela Academia Americana de Pediatria. A Academia recomenda que as crianças menores de dois anos não estejam expostas às telas e que as crianças mais velhas sejam limitadas a duas horas por dia.

 

Criancá e Tela

Curiosamente, o aumento explosivo do autismo afeta crianças em todos os países onde tem ocorrido a chamada revolução digital. Do ponto de vista do autismo virtual, faz sentido que os países que não experimentaram a revolução digital não tenham sido objeto de aumentos exponenciais nos diagnósticos de autismo, porque suas crianças pequenas não estão gastando tempo em frente às telas. Dra. Ducanda percebeu que depois que seus pacientes “autistas” passaram um mês na África, vivendo sem telas, eles voltaram sem sintomas.

Se as telas são removidas de algumas crianças com diagnóstico de autismo, o desenvolvimento do cérebro da criança pode retornar ao normal. O cérebro começa a funcionar como nunca antes. Ele retorna ao desenvolvimento normal. É verdade que com base em poucos estudos, não podemos concluir que isso seja verdade para todas as crianças. Mas, levando em consideração os números crescentes de estudos de casos clínicos, certamente é verdadeiro para algumas crianças. Embora os cientistas não tenham encontrado uma ligação genética para o autismo, não se pode descartar a possibilidade que algumas crianças possam estar predispostas a desenvolver sintomas de autismo.

Em um estudo francês de caso, um pai que apresentava sintomas semelhantes a Asperger em sua própria infância “tratou” o seu filho severamente autista com 2 1/2 anos de idade, removendo telas (que ele ficava a observar quatro a seis horas por dia). O pai também iniciou as sessões intensivas com seu filho. O menino se recuperou completamente.

Temos que admitir que remover as telas da vida de uma criança pequena não é uma tarefa fácil para os pais. A criança terá crises de raiva. O resto da família será incomodado com a televisão desligada. Na minha própria prática, eu tive pais que se negaram a ter o televisor desligado à noite, porque não queriam deixar de relaxar assistindo seus programas favoritos, depois que eles voltavam para casa do trabalho. Sugeri a esses pais que eles gravassem os shows que eles gostavam e os vissem depois que as crianças estivessem dormindo.

Os pais podem precisar de apoio para essa mudança de estilo de vida. Em alguns casos, eles podem precisar de apoio de um terapeuta ou assistente social com conhecimento do desenvolvimento infantil. Mas quando os pais fazem as mudanças necessárias e passam mais tempo com seu filho interagindo, os efeitos podem ser surpreendentemente benéficos. Isso é verdade para qualquer criança. E se uma criança está em risco de autismo ou se já foi diagnosticada, há ainda mais motivação para os pais tentarem a remoção da tela por um mês ou mais, para ver se a ausência de tempo de tela produz resultados.

Referências bibliográficas citadas:

[1] Oestreicher, L. The Pied Pipers of Autism—How TV, Video, and Toys Cause ASD. 2011: Merced

[2] Cytowic, R. “There is a New Link between Screen-time and Autism.” Psychology Today, June 29, 2017.

[3] Heffler, K.F. and Oestreicher, L.M. Causation model of autism: Audiovisual brain specialization in infancy competes with social brain networks. Medical hypotheses, 2015.

 

Por Que Nos Enamoramos por Comida Limpa?

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Publicado no The Guardian: não apenas o movimento de ‘alimento limpo’ tem como base crenças pseudocientíficas não apoiadas por evidências, mas também pode levar ao desenvolvimento de distúrbios alimentares. Não obstante, esse estilo de vida continua a ser popular por uma variedade de razões.  Trata-se de uma manifestação desse fenômeno conhecido como ‘medicalização’.

“Está cada vez mais claro que ‘comer limpo’, a despeito de todas as suas boas intenções, pode causar danos reais, tanto para a verdade quanto para os seres humanos. Ao longo dos últimos 18 meses, McGregor diz: “todo cliente com um transtorno alimentar que entra na minha clínica está seguindo ou quer seguir uma maneira clean de comer”.

Em seu novo livro, Orthorexia, McGregor observa que, enquanto os distúrbios alimentares existiam muito antes da tendência a ‘comer limpo’, “regras alimentares” (como não comer produtos lácteos ou evitar todos os grãos) tornaram-se facilmente um “disfarce para restringir a ingestão de alimentos”. Além disso, nem sequer são boas regras, porque estão baseadas em “pretensão não fundamentadas e não científicas”. Tomemos como exemplo o leite de amêndoas, que é amplamente promovido como uma alternativa superior ao leite de vaca. McGregor vê isso um pouco melhor do que “água cara”, contendo apenas 0,1 g de proteína por 100 ml, em comparação com 3,2 g por 100 ml em leite de vaca. Mas, muitas vezes, ela achou muito difícil convencer seus clientes de que restringir esses alimentos “limpos” é, a longo prazo, pior para sua saúde do que é chamado de “alimentação irrestrita” – comidas balanceadas e variadas, mas sem pânico sobre o sorvete de creme ou barra de chocolate.

Claramente, nem todos os que compraram algum livro sobre consumo de ‘alimento limpo’ desenvolveram um transtorno alimentar. Mas um movimento cuja premissa é que o alimento normal faz mal à saúde agora está nas águas turvas da “alimentação saudável” para todos, plantando a idéia de que uma boa dieta é fundada em absolutos”.

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