Recentemente, em 15 de outubro de 2016, em Gotemburgo, na Suécia, foi realizado o Simpósio Científico: Drogas Psiquiátricas – riscos e alternativas. Mais de 220 pessoas, de 13 diferentes países, responderam ao convite de Carina Hakansson para ouvir e discutir as descobertas da pesquisa científica, novos conhecimentos e perspectivas com relação aos riscos dos psicofármacos e alternativas ao modelo biológico da psiquiatria. O resultado foi a criação do Instituto Internacional para Interrupção da Droga Psiquiátrica (International Institute for Psychiatric Drug Withdrawal). Entre seus membros a destacar: Olga Runciman, Sami Timimi, Birgitta Alakare, Robert Whitaker, Will Hall, Carina Håkansson, Jaakko Seikkula, Volkmar Aderhold, John Read, Peter Gøtzsche and Magnus Hald.
O Mad in Brasil irá postar várias das apresentações feitas, destacando partes importantes traduzidas para o português. Iremos disponibilizar o vídeo de cada palestra. Será uma oportunidade para que os nossos leitores tenham acesso ao que certamente há hoje de mais avançado sobre a problemática. Na medida do possível, iremos disponibilizar links para que você leitor interessado possa aprofundar o que cada um dos palestrantes tem produzido.
A primeira palestra que iremos aqui resumir foi dada pelo Dr. Volkmar Aderhold. Ele é do Instituto de Psiquiatria Social, Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia, em Ernst-Moritz-Arnd-University, Greifswald, Alemanha.
A palestra do Dr. Volkmar Aderhold foi ilustrada por uma série de slides. É impossível para nós aqui do Mad in Brasil ter esses slides com as legendas em português. Mas você, caro leitor, ao ver o vídeo da sua apresentação terá acesso a cada slide e a todo o conteúdo da palestra.
Aderhold inicia a sua palestra dizendo haver se dedicado a ler a literatura sobre as drogas psiquiátrica; não se limitando à leitura dos Resumos (Abstracts), mas cada artigo em sua íntegra. E ficou chocado com o que leu. E decidiu confrontar esse sistema de evidências.
Ele diz textualmente:
“É uma história de crimes!”
- Os primeiros slides, como você pode acompanhar vendo o vídeo, mostram o cérebro, as sinapses da dopamina, o cérebro ‘normal’, o cérebro ‘psicótico’, os fenômenos no cérebro sob a ação dos antipsicóticos. Sabe-se que há aumento da liberação da dopamina no pré-sináptico, quando há estados psicóticos. Essa é a trilha final patofisiológica, não a causa, ele faz questão de sublinhar. E isso é chamado de ‘sensibilização fásica’, quando as pessoas estão em estados psicóticos. Nós não sabemos o por quê. Em esquizofrenia isso é episódico, em 60 a 70% dos casos.
- São apresentados vários slides a respeito dos fatores de risco para a ‘esquizofrenia’ – pesquisados e confirmados amplamente na literatura científica:
- Complicações biológicas e psicológicas durante a gravidez.
- O estresse durante a gravidez.
- Uma gravidez indesejada.
- Complicações perinatais.
- Perda precoce de figuras parentais, por morte ou abandono.
- Ambiente instável no começo da vida.
- Separação dos pais.
- Testemunhar violência entre os pais.
- Uma educação familiar disfuncional (com frequência entre gerações).
- Trauma sexual e físico.
- Traumas emocionais e negligência.
- Privações sociais.
- Rejeição social e fracasso.
- Discriminação racial e outras formas de discriminação.
- Migração.
- E a pobreza.
- Falando de medicamentos. Sabe-se que para que seja antipsicótico, o bloqueio do receptor dopamínico pós-sináptico é necessário e suficiente.
- Assim sendo, neurolépticos não são para cura, apenas filtram os problemas.
- Efeito dos antipsicóticos:
Eles apenas silenciam os problemas!
- Bloqueamos um sistema e as consequências?
- Há um bloqueio de cerca de 60% do D2, é isso o que os antipsicóticos fazem.
- E o que se tem como resultado?
- Distúrbios extrapiramidais.
- Acatisia acima de 78%.
- Prejuízos cognitivos acima de 70%.
- Disforia acima de 70%.
- Aumento da depressão e mais sintomas negativos acima de 70%.
- Elevação da prolactina acima de 72%.
- (E não importa que tipo de antipsicótico, os chamados de primeira ou segunda geração. Efeitos metabólicos colaterais são similares.)
- Maior mortalidade cerebrovascular.
- Maior mortalidade cardiovascular.
- Súbita morte cardíaca.
- Infarto do miocárdio.
- Efeitos sexuais colaterais.
9. Os efeitos? O bloqueio dos receptores: um “lindo termo” – como ele diz. Na realidade, a droga atinge o cérebro como um todo. Isto porque o cérebro é neuroplástico, se adapta na medida que ele pode.
10. As mudanças na regulação do cérebro são muito impactantes
11. O que se tem a médio e longo prazo, buscando bloqueadores de dopamina? Uma regulação intensa no estriado. Que cresce acentuadamente a cada ano. E há a supersensibilidade dos receptores de dopamina.
12. É mostrado um quadro onde se vê o aumento na proporção de receptores de dopamina com cada tipo de droga psiquiátrica. Basta ver o que cada droga faz.
13. E aí é criada uma dependência à dose. Se for usada em menores doses, a dependência é menor. Se for usada em maiores doses, maior será a dependência. Porque há uma hiper-regulação e uma sensibilização.
14. Que resultados são alcançados?
- O aumento da dose necessária.
- A diminuição da efetividade.
- Os fenômenos conhecidos como ‘rebote’, com a redução da dose e com a sua interrupção.
- Com a interrupção abrupta: acima de três vezes mais de taxas de recaída.
- Há o aumento de sintomas positivos e negativos nas recaídas. Em intervalos cada vez menores entre os episódios. E psicoses super-sensitivas. E tudo isso, mesmo tomando as pílulas!
15. O que fazer?
É aumentar a dosagem?
É algo absurdo.
Então, o que fazer?
16. Alguns estudos de como retirar a dosagem até eliminar definitivamente as drogas antipsicóticas foram por ele apresentados.
Três estudos piloto ao longo de seis meses, como uma referência. Trata-se de pacientes com o diagnóstico de esquizofrenia estabilizado. E como?
- Ingesta da droga a cada dois dias, durante três meses.
- Após os três meses, a cada três dias a ingesta da droga;
- O resultado é que houve menor taxa de hospitalização.
- Outros estudos: prolongando os intervalos.
- Risperidona: entre 2 a 4 semanas.
- Flufenazina: entre 2 a 6 semanas.
- Nas psicoses o que há é uma enorme heterogeneidade. Elas são muito diferentes entre si. E não se sabe o por quê. Antes da introdução dos neurolépticos como era o processo natural de evolução de diferentes tipos de psicose? A situação era bem melhor. Os antipsicóticos apenas pioram a situação.
- Estudos sobre pacientes em primeiro episódio tratados com neurolépticos: Apenas 14,5% têm uma queda em seus sintomas.
- Após 4 semanas, nada de melhoria ocorre.
- Pessoas que foram tratadas durante 17 anos com Risperidona: 80% bem abaixo, sem resposta esperada.
- Trajetórias de resposta ao tratamento e medicamentos antipsicóticos: 18 meses de tratamento na investigação sobre a esquizofrenia de CATIE. Mais uma vez, resultados chocantes. Vejam os resultados na tela. Quem toma as drogas fica pior!
- A deterioração dos usuários de antipsicóticos ao longo do tempo é visível. Acompanhe a demonstração no vídeo.
Mas vejamos as suas recomendações:
Consequências possíveis:
- As doses mais baixas possíveis para o controle dos sintomas
- Extensão da dose por 2 ou 3 dias
- Redução/ descontinuação guiada
- Adiamento inicial no primeiro e no segundo episódios, uso seletivo após a terceira e a quarta semanas, porque 40% não necessitará de uso de antipsicóticos em momento algum.
O exemplo da experiência do Diálogo Aberto (Finlândia) é mais uma vez exemplar. Essa experiência será detalhada nas próximas postagens que faremos aqui no Mad in Brasil.
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(A seguir, no mesmo vídeo que você está acompanhando, em 10 minutos o Dr. Peter Gotzsche faz uma breve intervenção. Relembrando que Gotzsche é co-fundador do Cochrane (http://nordic.cochrane.org) , um dos mais renomados órgãos internacionais para pesquisar os resultados das evidências em Medicina.)
As drogas psiquiátricas estão baseadas em uma má Ciência, de imediato é o que Peter afirma.
“Eu duvido que os antipsicóticos tenham um efeito de fato nas psicoses. Essas drogas deveriam ser chamadas de ‘psicóticas’ e não de ‘antipsicóticos’ “.
As pesquisas são feitas com muitos equívocos. A principal é que elas não são adequadamente ‘cegas’ (blinded). As drogas têm visivelmente efeitos colaterais, logo os médicos e os pacientes sabem bem disso, reconhecem isso, sabem se estão em antipsicóticos ou placebo. Se exagera os resultados subjetivos, por conseguinte.
Praticamente todas as pesquisas feitas com antipsicóticos têm vícios flagrantes, ele denuncia. Porque são pesquisas feitas com pessoas que estão usando drogas, e que são comparadas com um grupo ‘placebo’, p. ex. E se diz que tal droga é melhor do que o placebo. Isso não é uma boa Ciência, afirma Peter.
E ele continua: uma parcela significativa dos que fazem parte de grupos placebo morrem. Morrem, porque estavam dependentes de algum antipsicótico. São pesquisas que nunca são relatadas quando se lança algum novo produto. A maioria das mortes deve ser por suicídio, porque os sintomas de abstinência dessas drogas são terríveis, sabemos disso.
Além desses vieses, quando o que é enviado para aprovação pela FDA de algum novo antipsicótico, como a Risperidona e assim por diante, o que ocorre é que apenas 5% a 6% é superior ao placebo, e a menor diferença que pode ser notada é 15%. Então a média dos efeitos positivos é menor do que se pode perceber. Então a FDA aprova drogas que não funcionam.
Portanto, os efeitos dos antipsicóticos são menores do que é o relevante. E se sabe que a indústria farmacêutica manipula as suas pesquisas, seus resultados. O que foi feito com a aprovação do Prozac é um escândalo para a boa Ciência. Na verdade, segundo Peter, essas drogas não poderiam nunca chegar ao mercado. E são drogas campeãs de venda.
Peter diz que a pesquisa mostrada por Jaakko (Diálogo Aberto) é muito mais Ciência do que aquilo que costuma ser feita com o método randomizado. Em breve o Mad in Brasil irá mostrar os detalhes do método científico reivindicado por Jaakko.
Peter diz que as drogas mais tóxicas que ele já viu como médico e cientista são aquelas usadas para a terapia do câncer, que é a quimioterapia. Porém, tais drogas não destroem o cérebro humano. E o cérebro humano é o que há de mais sagrado!
E ele conclui:
“Não se deveria usar antipsicóticos em absoluto! “
Quando ele, Peter, pergunta a pacientes, quando tiverem um novo episódio psicótico, vocês preferem um benzodizipínico ou um antidepressivo. Todos dizem, prefiro um benzo.
E as pesquisas do Cochrane mostram que os benzodiazepínicos são mais sedativos do que os antipsicóticos.
Na sua opinião, o tratamento forçado, quer dizer, o uso forçado de drogas psiquiátricas, deveria ser abolido por todas as nações. E se o paciente necessita de algo para se acalmar, que se tome um benzodiazipínico por alguns dias. E os efeitos desaparecem em alguns dias, na grande maioria dos casos.
Muito bom o texto e o blog de uma maneira geral. Parabéns aos envolvidos.
Giovana, que bom que você tenha gostado. Ajude a divulgar. Gratos.
Gostaria, se possível, das referência dessas argumentações, como artigos ou qualquer outra publicação.
Obrigado, gostei muito.
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