“Sobrevivência de um Denunciante”. Com esse título, em 27 de junho de 2018 fiz uma palestra como convidado em uma reunião no Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, em Berlim, que foi organizada pelos diretores Gerd Gigerenzer e Ralph Hertwig.
Se eu soubesse o que estava reservado para mim, o título teria sido “Morte de um denunciante”. Descrevo os problemas que tive com a liderança da organização que fui um dos fundadores há 25 anos, a Colaboração Cochrane (Cochrane Collaboration), particularmente em relação à minha crítica às drogas psiquiátricas.
Em 13 de setembro, o Conselho Diretor da Cochrane me expulsou da diretoria e da Cochrane, depois de um julgamento e depois que o advogado contratado pela Cochrane me exonerou de todas as acusações contra mim (veja os documentos sobre Medicamentos Mortais e Crime Organizado). Desempenhou um papel fundamental que a minha equipe de pesquisa havia criticado uma revisão Cochrane das vacinas contra o HPV publicada em maio de 2018. Nossas críticas foram altamente justificadas e reforçadas um mês depois, no mesmo periódico científico, quatro dias após minha expulsão. Foi considerado haver sido um comportamento muito ruim que eu tenha criticado uma revisão da Cochrane, embora nossa própria política encoraje isso; temos até um prêmio anual pela melhor crítica. Isso é uma censura científica direta, que é altamente prejudicial para qualquer empreendimento científico, como também descrito recentemente por Bob Whitaker.
De volta para casa na Dinamarca, meu hospital anunciou que eu seria demitido, sem haver alguma boa razão. Parece ser uma disputa política vinda do Ministério da Saúde, que não deu atenção ao fato de eu ter economizado bilhões de coroas dos cidadãos dinamarqueses em minhas pesquisas; por haver criado um centro de pesquisa de reputação internacional; e que os pacientes apreciem minhas iniciativas. Havia chegado a hora de silenciar um crítico vocal da indústria farmacêutica, da psiquiatria e do establishment.
Eu sou apenas o mensageiro, o símbolo de que a saúde é, em muitos aspectos, absurda e prejudicial porque a indústria farmacêutica é demasiadamente poderosa. A Colaboração Cochrane está em profunda crise porque está muito próxima da indústria, porque pratica a censura científica e porque tem um modelo de negócios que está focado em ‘marca’ e em ‘nosso produto’, em vez de abrir o debate científico ou fazer uma ciência correta, mesmo que algumas pessoas possam ficar chateadas ao serem informadas de que seu trabalho não tenha sido bom o suficiente.
Abaixo está a minha palestra de denúncia. Nela, eu discuto como o livro de Peter Rost, The Whistleblower: Confessions of Healthcare Hitman, onde ele descreveu o destino de 233 pessoas que denunciaram fraudes no sistema de saúde: 90% foram demitidos ou rebaixados, 27% enfrentaram processos judiciais, 26% tiveram que buscar atendimento psiquiátrico ou físico, 25% sofreram abuso de álcool, 17% perderam suas casas, 15% se divorciaram, 10% tentaram suicídio e 8% faliram. Mas apesar de tudo isso, apenas 16% disseram que não denunciariam novamente.
Eu também compartilho minha visão, enquanto biólogo, de que um ‘herói’ é alguém que possui genes diferentes dos ‘não-heróis’. Durante a evolução, é uma vantagem permanecer no meio, em vez de ser um herói, para que você tenha menos risco de morrer. Mas há algumas pessoas estranhas que têm alguma outra coisa em seus genes, em que nós realmente não pensamos muito sobre o risco para nós mesmos, apenas fazemos o que achamos certo apesar do risco. Então, como esses genes sobreviveram durante a evolução? Eu acho que é porque quando uma tribo está sob ameaça, sob um grave perigo, as pessoas no meio não sabem o que fazer. Mas então aqueles com esses genes especiais assumem e se tornam líderes. E então irão passar pela crise.
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Em português, um dos livros de Peter Gotzsche: Medicamentos mortais e crime organizado, a indústria farmacêutica.
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A palestra no Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano:
Uma tragédia quando o capital compra a verdade e vende a mentira!