O Mau Uso da Colaboração e da Terapia para Impedir que as Pessoas Interrompam a Medicação

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MiriLBRecentemente eu li um relatório especial no Psychiatric Times que me deixou com raiva. Não costumo ler esta publicação e este artigo me lembra por quê. Aqui, Gabriel Ivbijaro e Lucja Kolkiewicz produzem cinco páginas dedicadas a melhorar a adesão à medicação psiquiátrica, através de cuidados colaborativos e a implementação de TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) modificada. [1] Em nenhum momento este artigo reconhece os graves efeitos adversos de tomar medicação psiquiátrica, os legítimos motivos por que tantas pessoas desejam parar, seu direito de recusar tratamentos que não estão funcionando para elas, ou a possibilidade de que elas possam estar melhor sem medicação a longo prazo. Melhorar a adesão é realmente uma maneira mais agradável de dizer “convencer as pessoas a tomar medicamentos que não querem tomar”. O uso da palavra “colaborativo” neste contexto é enganoso e desmente o verdadeiro significado do termo. Eles tomaram um conceito do ‘movimento do usuário’ do serviço e o fizeram para atingir os objetivos do ‘modelo médico’. É um pouco como Darth Vader tirando as ferramentas dos Jedi e usando-os para o lado escuro da força.

A colaboração propriamente dita envolve trabalhar em conjunto para se alcançar um objetivo compartilhado. Isso ocorre entre parceiros e quando ambos têm algo a trazer para o relacionamento. O cuidado colaborativo na saúde mental não tem a ver com pessoas com maior poder trabalhando juntas para convencer uma pessoa com menos poder para fazer o que a equipe acredita estar certo. Mas é precisamente isso que este artigo defende. Veja como os autores descrevem o cuidado colaborativo:

“O cuidado colaborativo pode ser dispensado de várias maneiras, incluindo: 1) Um psiquiatra sendo alinhado a uma equipe de atenção primária usando um modelo de interconsulta; 2) Atenção primária sendo alinhada a um psiquiatra ou a um grupo de provedores psiquiátricos; 3) Equipes de Atenção primária que trabalham de forma colaborativa para implantar seus recursos para que o cuidado seja entregue ao paciente sem problemas “.

Eles esqueceram o próprio usuário do serviço, seus objetivos e preferências, o conhecimento e a experiência que eles trazem à mesa, o fato de que eles estão envolvidos neste acordo e a realidade de que os cuidados de saúde mental não podem ser “entregues” a pessoas, mas que devem ser implementados com elas.

O uso da TCC para alcançar a adesão à medicação psiquiátrica sofre de práticas não éticas e me lembra a prática arcaica do aconselhamento genético em que os profissionais procuravam convencer as pessoas com problemas de saúde mental a não ter filhos. A TCC oferecida corretamente não é sobre como convencer as pessoas de que seu pensamento está errado para trazê-las para a maneira de pensar de outra pessoa. Muitas vezes é mal utilizada desta maneira, mas não é geralmente da maneira intencional tal como esses autores defendem explicitamente aqui:

“A CBT especificamente concebida para promover a concordância com a medicação pode melhorar a motivação, apoiar a autogestão e permitir que os clínicos e os pacientes trabalhem de forma mais colaborativa …”

Minha pesquisa sobre tentativa de descontinuação (Larsen-Barr, 2016) [2] me diz que a TCC e outras terapias psicológicas podem ser altamente úteis para aqueles que desejam parar de tomar medicamentos psiquiátricos, não porque possam ser distorcidas para convencê-las a abandonar seu objetivo, mas porque isso pode ajudar a construir os recursos internos que as pessoas precisam para parar a medicação com sucesso. Minha pesquisa me diz que é possível parar de tomar medicação psiquiátrica e continuar a viver bem sem ela. Aqueles que pararam com sucesso por longo prazo parecem ter desenvolvido fortes capacidades de autorreflexão, meios alternativos para lidar com suas experiências, bem conexões com pessoas para suporte confiável.

Seria um grande desserviço para a pessoa que entrou em terapia se esta fosse focada especificamente na promoção da adesão à medicação. A terapia simplesmente se tornaria outra forma de coerção – psicológica e tácita em vez de legal e aberta. Muitas vezes é o medo de coerção que impede as pessoas de expressarem seu desejo de parar a medicação e de buscar apoio para assim proceder. Um dos participantes das minhas entrevistas explicou que a descontinuação é “um caminho difícil de ser feito sozinho”; por isso ser difícil imaginar como a abordagem descrita no Psychiatric Times poderia fazer qualquer coisa para melhorar os resultados para as pessoas que querem parar ou reduzir seu desejo para o consumo. Em vez disso, é mais provável que tal procedimento conduza as pessoas a ocultar mais ainda as suas tentativas, assim como a estar mais longe das formas de apoio que as ajudem a parar de se drogar com segurança.

Os usuários na minha pesquisa afirmaram que a coerção e o desânimo de tentar abordagens alternativas deixaram-nos presos a tomar medicamentos que pioraram a sua vida, não a melhoraram. A coerção transformou uma experiência desagradável do que poderia ter sido de curta duração em uma forma de “inferno” ou “trauma”, de onde elas não podiam escapar sem perder potencialmente o direito humano de escolher por si mesmas. Dois terços das 144 pessoas pesquisadas pensaram em parar a medicação antipsicótica que estavam tomando e 90% tentaram parar pelo menos uma vez. A maioria das pessoas havia feito várias tentativas para fazê-lo, sugerindo que elas eram persistentes em seu desejo de parar, mesmo diante de respostas desencorajadoras dos outros. Importante, metade das pessoas conseguiu parar por um ano ou mais e nenhuma dessas pessoas descreveu ter ficado pior sem a medicação.

Os serviços de saúde mental são muitas vezes mal financiados e com recursos insuficientes. Melhorar a adesão é realmente o melhor uso de seus escassos recursos? Desanimar as pessoas de seus objetivos de serem livres de medicação não as desencoraja, mas, em vez disso, deixa as pessoas na posição de forjar suas metas sozinhas, às escondidas, muitas vezes sem informações adequadas para fazer sua tentativa da forma a mais segura possível. No meu estudo, as pessoas geralmente acreditavam que estavam se retirando gradualmente, mas tentaram fazê-lo em apenas 1-4 semanas, o que não é realmente muito gradual. Talvez em vez de trabalhar para “melhorar a adesão”, os serviços de saúde mental poderiam trabalhar para melhorar a segurança da não adesão ou a tentativa de descontinuação, como prefiro chamar.

A não adesão e a não conformidade são termos carregados de sentido que falam de um desequilíbrio de poder inerente, mas muitas vezes não reconhecido, que se desenrola dentro de um sistema paternalista onde o médico sempre sabe melhor. É cada vez mais comum ler artigos que empregam o idioma de escolha sobre conformidade e adesão. Este artigo no Psychiatric Times mostra que ainda há um longo caminho a ser percorrido no esforço de introduzir direitos humanos na equação. Ao ler, lembrei-me mais de um e-mail de ódio desinformado que recebi quando lancei meu estudo das evidências da minha pesquisa sobre o uso prolongado de medicamentos psiquiátricos. Esse conjunto de provas é relativamente pequeno, mas quase que universalmente demonstra que as pessoas que param de tomar medicação obtêm resultados melhores ou iguais em comparação com aqueles que persistem a longo prazo (Ver Harrow & Jobe, 2007 [3]; Harrow, Jobe & Faull, 2012 [4]; Laengle et al., 2010 [5]; Landolt et al., 2016[6]; Wils et al., 2017[7]; Wunderink, Nieboer, Wiersma, Sytema e Nienhuis, 2013[8]). Na minha própria pesquisa, o uso de antipsicóticos confirmou uma correlação negativa com a qualidade de vida, mas quando o controle foi sobre a idade e o status ocupacional não houve tal significância. Outros fatores foram mais importantes para os resultados das pessoas do que se elas estavam tomando ‘sua’ medicação ou não.

Me interessa que nos refiramos aos medicamentos psiquiátricos como pertencentes de fato ao indivíduo. Mesmo o olhar mais superficial do relacionamento padrão de prescrição nos mostra que esses medicamentos pertencem aos profissionais que os prescrevem mais do que aos indivíduos que os tomam ou tentam parar de tomá-los.

Se você me der um presente que eu não quero, e prendê-lo em minhas mãos de tal modo que eu não possa deixá-lo quando eu quiser, é ele realmente meu? Deve você dedicar seu tempo, energia e recursos para me convencer a aceitar e apreciar o presente e o indesejado peso que aumenta a carga que tenho que carregar, ou você deve me ajudar a desatar as ligações e a encontrar uma maneira de ficar livre dele?

Referências Bibliográficas:

  1. Ivbijaro, G.O. & Kolkiewicz, L. (2017). Partnering With Primary Care Clinicians to Improve Adherence. Psychiatric Times, Sep 29, 2017, www.psychiatrictimes.com/special-reports/partnering-primary-care-clinicians-improve-adherence/page/0/1
  2. Larsen-Barr, M. T. (2016). Experiencing antipsychotic medication: from first prescriptions to attempted discontinuation. University of Auckland, New Zealand.
  3. Harrow, M. H., & Jobe, T. H. (2007). Factors involved in outcome and recovery in schizophrenia patients not on antipsychotic medications: a 15-year multifollow-up study. Journal of Nervous & Mental Disease, 195(5), 406-414. doi:10.1097/01.nmd.0000253783.32338.6e
  4. Harrow, M. H., Jobe, T. H., & Faull, R. N. (2012). Do all schizophrenia patients need antipsychotic treatment continuously throughout their lifetime? A 20-year longitudinal study. Psychological Medicine, 42(10), 2145-2155. doi:10.1017/S0033291712000220
  5. Laengle, G., Bayer, W., Eschweiler, G., Jager, S., Pfiffner, C., Weiser, P., . . . Steinert, T. (2010). Effects of longterm treatment with atypical neuroleptics for patients with schizophrenia (ELAN): Medication use, adherence, functional impairment, quality of life. European Psychiatry, 25(1)
  6. Landolt, K., Rössler, W., Ajdacic-Gross, V., Derks, E. M., Libiger, J., Kahn, R. S., & Fleischhacker, W. W. (2016). Predictors of discontinuation of antipsychotic medication and subsequent outcomes in the European First Episode Schizophrenia Trial (EUFEST). Schizophrenia Research, In Press doi:10.1016/j.schres.2016.01.046
  7. Wils, R. S., Gotfredsen, D. R., Hjorthøj, C., Austin, S. F., Albert, N., Secher, R. G., . . . Nordentoft, M. (2017). Antipsychotic medication and remission of psychotic symptoms 10 years after a first- episode psychosis. Schizophrenia Research, 182, 42-48. doi:10.1016/j.schres.2016.10.030
  8. Wunderink, L., Nieboer, R. M., Wiersma, D., Sytema, S., & Nienhuis, F. J. (2013). Recovery in Remitted First-Episode Psychosis at 7 Years of Follow-up of an Early Dose Reduction/ Discontinuation or Maintenance Treatment Strategy: Long-term Follow-up of a 2-Year Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry, 70(9), 913. doi:10.1001/jamapsychiatry.2013.19

Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos (PSSD)

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RxISK

Última atualização: 2017

Medicamente revisado pela equipe médica da RxISK

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Conteúdos:

  • Introdução
  • O que é disfunção sexual pós-antidepressivos?
  • Sintomas
  • Quão comum é a PSSD?
  • Pode a PSSD ser prevenida?
  • É o antidepressivo ou a depressão?
  • Por quanto tempo duram os efeitos colaterais sexuais após a interrupção dos antidepressivos?
  • Publicações e estudos
  • Outras drogas e condições de saúde
  • Há tratamentos disponíveis?
  • Relate a sua condição de saúde
  • Na mídia
  • Veja também
  • Referências

Introdução

Cerca de 100% das pessoas que tomam antidepressivos experimentam alguma forma de efeitos colaterais sexuais.

A maioria das pessoas que tomam um ISRS (inibidor seletivo da recaptação de serotonina) ou um IRSN (inibidor da recaptação da serotonina-norepinefrina) e alguns antidepressivos tricíclicos (clomipramina e imipramina) sentirão algum grau de entorpecimento genital, muitas vezes dentro de 30 minutos após tomar a primeira dose.

Os ISRS comumente utilizados incluem paroxetina (Paxil, Seroxat), fluoxetina (Prozac), sertralina (Zoloft), citalopram (Celexa), escitalopram (Lexapro) e vortioxetina (Brintellix).

IRSN comuns incluem venlafaxina (Effexor), desvenlafaxina (Pristiq) e duloxetina (Cymbalta).

O que é a disfunção sexual pós-Antidepressivos (PSSD)?

A Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos (PSSD) é uma condição iatrogênica que pode surgir após o uso de antidepressivos, em que a função sexual não volta completamente ao normal após a descontinuação de ISRSs, IRSNs e alguns antidepressivos tricíclicos [1-2].

Algumas pessoas desenvolvem efeitos colaterais sexuais nos antidepressivos que permanecem na íntegra, ou não se resolvem completamente quando a droga é interrompida. Para outros, a condição só aparece quando realmente param a medicação ou começam a reduzir a dosagem.

PSSD afeta homens e mulheres. Pode acontecer depois de apenas alguns dias de exposição a um antidepressivo e pode persistir por meses, anos ou indefinidamente. Não há cura conhecida.

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Sintomas

Os sintomas da PSSD podem incluir:

  • Sensação erógena (sexual) reduzida nos genitais
  • Anestesia genital
  • Disfunção erétil / lubrificação vaginal diminuída
  • Atraso ou incapacidade para o orgasmo (anorgasmia)
  • Orgasmos sem graça, fracos ou “silenciados”
  • Diminuição ou perda de libido (desejo sexual)
  • Resposta reduzida aos estímulos sexuais
  • Diminuição ou falta de ereções noturnas
  • Ejaculação precoce
  • Síndrome de glande flácida

Alguns sofredores experimentam uma redução notável na sensação tátil – descrevendo seus órgãos genitais como se sentindo menos sensíveis ou entorpecidos, como se estivessem expostos a um anestésico. Outros percebem pouca ou nenhuma mudança na sensação tátil, mas observam uma redução na sensação sexual. Esses problemas também podem ser acompanhados por sensibilidade reduzida no mamilo.

Pode haver uma perda de excitação que pode causar dificuldades com as relações sexuais. Os homens podem ter dificuldade em obter e manter uma ereção. As mulheres podem ter problemas com a lubrificação.

O orgasmo geralmente é experimentado com uma diminuição ou perda de sensação prazerosa, muitas vezes referida como um orgasmo sem prazer ou silenciado. Também pode haver contrações musculares visivelmente mais fracas. Embora homens e mulheres com PSSD muitas vezes tenham mais dificuldade em alcançar o orgasmo, a ejaculação precoce também pode se desenvolver depois de parar um antidepressivo [3].

Embora menos comumente relatado, alguns pacientes do sexo masculino desenvolvem síndrome de glande flácida. Isso se refere a uma ereção anormal em que o eixo do pênis se torna ereto, mas a glande permanece flácida em graus variados. Pode ser mais notável ao acordar e pode ser acompanhada por uma sensação de desconforto ou aperto.

Diagnóstico

Não há teste simples para diagnosticar PSSD. Um diagnóstico é feito considerando vários fatores, incluindo história de medicação, início e perfil dos sintomas, e eliminando outras causas possíveis.

Enquanto muitos médicos estão cientes da PSSD, há igualmente muitos outros menos familiarizados com essa condição clínica. O que resulta não ser incomum sintomas de PSSD sendo mal diagnosticados como um problema psicológico, quando na verdade é de origem farmacológica.

Isso não é apenas inútil para o sofredor, mas também pode levar a uma maior prescrição de medicamentos que causaram a condição.

Os efeitos colaterais sexuais antidepressivos não estão de modo algum relacionados com a depressão ou qualquer outro transtorno psicológico ou psiquiátrico.

Enquanto a PSSD geralmente pode resultar em níveis de testosterona inferiores aos normais, isso não é responsável pela condição. Restaurando os níveis de hormônio de volta ao normal com a medicação não se consegue resolver o problema.

Quão comum é PSSD?

Não se sabe quantas pessoas se recuperam 100% do seu funcionamento e sensação sexual originais após uso de um antidepressivo. Com base nos dados disponíveis, a PSSD pode ser bastante comum [4].

A condição pode variar em gravidade entre indivíduos. É provável que algumas pessoas não percebam que estão sofrendo com isso. Elas podem ter tido efeitos colaterais sexuais em um antidepressivo que parecia ter sido resolvido quando pararam, mas as pessoas ainda percebem que sua função sexual não é a mesma coisa que costumava ser, ou que a atividade sexual é sentida diferente de outrora.

Por exemplo, uma pessoa pode achar que está podendo atingir o orgasmo depois de ser incapaz de fazer isso durante a medicação; mas agora o sente mais fraco e menos intenso, em comparação com antes de usar os antidepressivos. Isso cria uma situação confusa para o sofredor. Como as pessoas não estão mais na droga, elas podem pensar que estão imaginando isso ou que deve ser devido a algum outro motivo, como um problema de relacionamento.

Essas questões serão exploradas mais adiante na publicação no Mad in Brasil do artigo Como é comum a Disfunção Sexual pós-antidepressivos.

A PSSD pode ser prevenida?

Ao usar um ISRS ou IRSN ou alguns antidepressivos tricíclicos, atualmente não existe nenhuma maneira de determinar quem desenvolverá PSSD quando a droga for interrompida ou qualquer forma de preveni-la ativamente. Parar um antidepressivo gradualmente (diminuir) não impede o problema.

Não há evidências de que adicionar outro medicamento a um antidepressivo para combater os efeitos colaterais sexuais, a bupropion (Wellbutrin), por exemplo, irá prevenir PSSD quando o antidepressivo for parado.

É importante que qualquer pessoa que considere fazer uso de antidepressivos leve em conta o risco de mudanças potencialmente permanentes no funcionamento sexual, antes de tomar uma decisão sobre seu tratamento.

PSSD pode ser extremamente angustiante para os afetados. Isso pode levar a ruptura matrimonial, perda de emprego e suicídio. Mas para alguns sofredores, a falta de desejo significa para eles que simplesmente não estão mais interessados em sexo, e com isso não se preocupam com a condição.

É a medicação antidepressiva ou a depressão?

Existem quatro maneiras de ajudar a distinguir os efeitos colaterais sexuais persistentes de qualquer problema que possa ter levado ao tratamento em primeira instância.

  • Você teve um funcionamento sexual normal imediatamente antes de iniciar o antidepressivo.
  • Você experimentou um início muito claro de efeitos colaterais sexuais nos primeiros dias ou semanas do início do tratamento e sua função sexual nunca voltou ao normal após a interrupção.
  • Você está experimentando entorpecimento genital (perda de sensações sexuais e / ou anestesia) e orgasmos silenciados. Embora a depressão às vezes possa torná-lo menos interessado em sexo, esta não causa esses sintomas que são efeitos bem conhecidos da recaptação da serotonina inibida pelos medicamentos. Nos homens, uma redução ou perda de ereções noturnas também aponta para a droga e não para um problema psicológico.
  • Se a sua depressão original desapareceu com o antidepressivo e você esteve indo bem ao parar o tratamento, nenhum problema novo deveria aparecer durante vários meses ou mesmo anos. Quaisquer problemas sexuais persistentes, ou quaisquer novos problemas sexuais que apareçam no período de dias após a parada, são mais prováveis de serem causados pela droga.

Mesmo que sua função sexual tenha respondido às mudanças na dose durante o tratamento e tenha melhorado significativamente após a parada, se não for o mesmo que antes de iniciar os antidepressivos, você pode estar sofrendo de PSSD.

Quanto tempo os efeitos colaterais sexuais perduram após a interrupção?

Quando os efeitos colaterais sexuais persistirem depois que o antidepressivo é interrompido, não há prazos específicos para a recuperação.

Algumas pessoas relatam um certo grau de melhoria natural durante um período de tempo – às vezes meses ou anos após a interrupção do antidepressivo. No entanto, o termo “recuperação” neste sentido pode ser enganador, uma vez que um exame mais detalhado revela frequentemente que não houve um retorno completo ao estado pré-fármaco.

Muitos sofredores não conseguem se recuperar em qualquer grau significativo, com alguns tendo tido o problema por mais de 20 anos sem qualquer sinal de melhoria.

Para algumas pessoas, a PSSD pode ser permanente.

Publicações e estudos

Em um estudo de Montejo et al (1999), um grupo de pacientes que sofreram efeitos colaterais sexuais em um ISRS foi transferido para o antidepressivo dopaminérgico, a amineptina [5]. Após seis meses, 55% ainda apresentavam pelo menos algum tipo de disfunção sexual. Isto é comparado a apenas 4% no grupo controle que foram tratados com amineptina isoladamente e não foram expostos a um ISRS.

Três grandes estudos controlados por placebo sobre o uso de ISRS como tratamento para a ejaculação precoce descobriram que o efeito retardador da ejaculação da medicação persistiu para um número significativo de participantes, após a interrupção do fármaco [6-8].

Entre 2006 e 2008, 8 casos de disfunção sexual persistente após tratamento com ISRS / IRSN apareceram na literatura médica [9-12].

Em 2008 e 2009, foram publicados pedidos de estudos epidemiológicos para investigar a prevalência de PSSD [13-14].

Desde 2011, a bula do Prozac nos EUA passou a advertir que “Os sintomas da disfunção sexual ocasionalmente persistem após a interrupção do tratamento com fluoxetina” [15].

Em 2012, o Centro de Fármaco-vigilância da Holanda, Lareb, publicou detalhes de 19 casos relatados de PSSD em sua base de dados e pediu uma investigação mais aprofundada sobre a questão [16-17].

A quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5), publicada em 2013, afirma que “em alguns casos, a disfunção sexual induzida por inibidores da recaptação de serotonina pode persistir após o descontinuado do agente” [18]. No mesmo ano, Stinson concluiu um estudo qualitativo de 9 pacientes com PSSD, examinando o impacto da condição na qualidade de vida [19].

Em 2014, Hogan et al. alistaram 91 casos de disfunção sexual persistente ligados a ISRSs ou ISRNs, provenientes de um portal da internet para notificação de eventos adversos [4]. Waldinger et al. descreveram um caso de anestesia genital persistente após tratamento com paroxetina que respondeu a irradiação a laser de baixa potência [20].

Em 2015, Ben-Sheetrit et al. publicaram um estudo de 183 casos possíveis de PSSD, incluindo 23 casos de alta probabilidade, a partir de uma pesquisa on-line [21].

Em 2017, dois artigos de revisão foram publicados [22-23].

Quanto aos ISRSs, os estudos mostraram efeitos colaterais para incluir a qualidade do sêmen prejudicada e danos ao DNA do esperma [24-26], bem como problemas que muitas vezes estão ligados ao sistema endócrino, como desequilíbrios hormonais [27-28] e aumento do peito [ 29]. Os ISRS também foram encontrados como tendo efeitos sobre os esteroides sexuais [30]. No entanto, o papel do sistema endócrino em problemas persistentes, como PSSD, atualmente não é claro.

A fluoxetina (Prozac) tem sido classificada como toxina reprodutiva pelo Centro de Avaliação de Riscos para a Reprodução Humana (CERHR), um painel de especialistas do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental, parte dos Institutos Nacionais de Saúde [31].

Estudos em animais

O tratamento com fluoxetina (Prozac) mostrou causar dessensibilização persistente dos receptores 5-HT1A após a remoção do ISRS em ratos [32]. Em outro estudo, o uso de um antagonista de 5-HT1A mostrou reversão e prevenção de disfunção sexual em ratos que estavam sendo administrados com fluoxetina [33].

Por conseguinte, as hipóteses para PSSD têm frequentemente se concentrado em um possível modelo neurológico envolvendo mudanças persistentes na química do cérebro. No entanto, as tentativas de sofredores de PSSD para manipular os sistemas serotoninérgicos e dopaminérgicos em um esforço para resolver a condição, provaram ser infrutíferas.

Estudos feitos em roedores mostraram que o tratamento crônico com ISRS em uma idade jovem resultou em comportamento sexual permanentemente diminuído na idade adulta, com a presença de alterações neurológicas de longo prazo [34-35]. A exposição materna à fluoxetina também diminuiu a motivação sexual em camundongos adultos [36].

Uma revisão sistemática da literatura sobre disfunção sexual persistente em animais após exposição precoce a ISRS foi publicada em 2016 [37]. Concluiu: “Nossos resultados mostraram efeitos substanciais e duradouros sobre o comportamento sexual em ratos após a exposição a um ISRS no início da vida”.

Isso levanta a questão de saber se pode haver consequências sexuais a longo prazo para os humanos expostos a antidepressivos durante a gravidez ou em uma idade jovem.

Outras drogas e condições

Há uma série de outros medicamentos que também podem causar efeitos colaterais sexuais persistentes depois que o medicamento foi interrompido:

  • Anti-histamínicos que são inibidores da recaptação da serotonina
  • Ziprasidona – um antipsicótico que também é um inibidor da recaptação da serotonina
  • Alguns antibióticos (que podem ser inibidores da recaptação de serotonina), tais como tetraciclina e doxiciclina
  • Finasterida (Propecia) que é usada para tratar calvície masculina e hiperplasia prostática benigna. A condição é chamada síndrome pós-finasterida (PFS) [38-42].
  • Isotretinoína (Accutane) que é usada como tratamento para a acne [4], e também é inibição da recaptação da serotonina.

Os antidepressivos ISRS também podem causar a condição igualmente angustiante, Transtorno de excitação genital persistente (PGAD) [43-46]. Este é essencialmente o oposto da PSSD, causando uma sensação implacável de excitação e desconforto nos órgãos genitais, mas sem qualquer sentimento de desejo. (Observe que nem todos os casos de PGAD são causados por medicamentos).

Existem tratamentos?

Atualmente, não há tratamento viável para PSSD.

Uma série de medicamentos, ervas e compostos relacionados podem produzir efeitos pró-sexuais em alguns doentes. No entanto, os resultados são geralmente muito limitados, inconsistentes e podem vir com seus próprios riscos.

Os inibidores de PDE5, como sildenafil, tadalafil e vardenafil, muitas vezes oferecem pouco ou nenhum benefício na PSSD. Em alguns casos, eles não têm nenhum efeito, enquanto em outros eles fornecem apenas uma melhoria limitada na função erétil. Eles também não oferecem nenhum benefício direto para as outras áreas de funcionamento sexual que podem ser prejudicadas na PSSD, por exemplo a sensação.

Não há evidências que sugerem que o uso de Plasma rico em plaquetas (PRP) seja um tratamento adequado para PSSD.

As estratégias típicas para o gerenciamento de efeitos colaterais sexuais geralmente se aplicam a problemas que ocorrem durante o tratamento e, portanto, não são úteis na PSSD. Estes geralmente envolvem a mudança para um antidepressivo diferente, diminuindo a dose, ou potencialmente interrompendo completamente a medicação.

Um artigo de 2014 de Waldinger e cols. relatou que um sofredor de PSSD com anestesia severa no pénis experimentou alguma melhora na sensação tátil e de temperatura após o uso da irradiação a laser de baixa potência (LPLI) [16]. Este tipo de tratamento é geralmente usado para problemas de dor e também é conhecido como terapia a laser de baixo nível ou terapia com laser a frio. Há a hipótese de que a anestesia genital induzida por ISRS pode ser devida a distúrbios dos canais de íons do potencial do receptor transitorio (TRP). A melhoria neste caso não se estendeu a nenhum aspecto da capacidade de resposta sexual.

Em relação ao PGAD, o uso de estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) foi discutido na literatura [47], embora não especificamente para problemas relacionados a ISRS. A sua eficácia nos casos de PGAD induzido por ISRS permanece obscura.

Relatando sua condição

Se você está sofrendo de PSSD, você pode denunciá-lo ao preencher um relatório RxISK, mesmo que não esteja interessado na pontuação de causalidade ou em levar o relatório ao seu médico. Forneça o máximo de detalhes possível, incluindo as datas em que você começou e interrompeu o medicamento.

Você também pode querer denunciar sua condição ao regulador de drogas do seu país, por exemplo, Medwatch da FDA nos EUA, Yellow Card Scheme do MHRA, no Reino Unido, e no Brasil a ANVISA.

Na mídia

Em 11 de março de 2014, o jornal holandês Volkskrant apresentou um artigo intitulado “Blijvende seksuele stoornis door antidepressivum” (“Permanente transtorno sexual pelos antidepressivos”), em manchete na primeira página, segundo as preocupações levantadas por Lareb, o Centro de Fármaco-vigilância Holandês.

Uma jornalista descreve sua experiência no site, Narratively.

O Daily Mail publicou um artigo sobre PSSD em 20 de março de 2017. Um artigo sobre o uso de antidepressivos a longo prazo publicado pelo The Guardian em 6 de maio de 2017 também abordou o problema.

Em 2017, a Sociedade Internacional de Medicina Sexual publicou duas novidades em seu site:

Veja também

Em 12 de setembro de 2017, lançamos uma campanha para levantar US $ 100.000 para um Prêmio que será oferecido a qualquer pessoa que encontre uma cura para PSSD, PFS ou PRSD. Veja nossa página do Prêmio RxISK para obter mais detalhes.  Veja também a matéria que acaba de ser publicada na página do Mad in Brasil.

Desde 2008, a Mind, uma das principais instituições de caridade em saúde mental do Reino Unido, advertiu que os efeitos colaterais sexuais às vezes podem permanecer após a interrupção de um ISRS. Suas informações atuais sobre ISRS / ISRNs advertem que o problema pode persistir indefinidamente.

Nosso blog contém uma série de postagens sobre sexo e medicamentos, incluindo vários sobre PSSD. Outros guias e papéis também estão disponíveis.

Temos uma seção Completa sobre Retirada de Drogas Psiquiátricas onde se discute a retirada de antidepressivos e PSSD. Apresentamos uma hipótese do que poderia ser responsável em termos da fisiologia subjacente, e convidamos todos a se envolverem na pesquisa sobre tais problemas.

Referências

  1. Bahrick AS.Post SSRI sexual dysfunction. American Society for the Advancement of Pharmacotherapy. Tablet 2006;7(3):2-3,10-11.
  2. Bahrick AS.Persistence of sexual dysfunction side effects after discontinuation of antidepressant medications: Emerging evidence. The Open Psychology Journal. 2008;1:42-50. doi:10.2174/1874350100801010042.
  3. Adson DE, Kotlyar M.Premature ejaculation associated with citalopram withdrawal. Ann Pharmacother. 2003 Dec;37(12):1804-6. doi:10.1345/aph.1D214. PMID 14632589.
  4. Hogan C, Le Noury J, Healy D, Mangin D.One hundred and twenty cases of enduring sexual dysfunction following treatment. Int J Risk Saf Med. 2014;26(2)109-16. doi:10.3233/JRS-140617. PMID 24902508.
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NOTA DOS EDITORES DO MAD IN BRASIL: após contatos com o psiquiatra britânico David Healy, um dos ilustres cientistas que integram a nossa comunidade do Mad, ele se ofereceu a escrever um blog dirigido à comunidade luso-brasileira do Mad in Brasil, onde ele irá nos apresentar a campanha do PRÊMIO DO RxISK DOAÇÃO, desenhada por ele, previamente apresentada aqui em Mad in Brasil.

A Cura para a Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos Pode Ser Encontrada

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LANÇAMENTO DO PRÊMIO DO RxISK

100000-dollars

DOAÇÃO

Este Prêmio é parte de um ataque em duas frentes sobre a falta de vontade dos estabelecimentos médicos e de regulamentação para ouvir as pessoas com eventos adversos em geral – não apenas as disfunções sexuais mencionadas aqui. A segunda frente no ataque será revelada dentro de algumas semanas.

O problema

A ideia de um Prêmio RxISK começou com nosso envolvimento com pacientes de Disfunção Sexual Pós-ISRS (PSSD) alguns anos atrás, e logo após pessoas com problemas comparáveis tomando Accutane e Finasteride. A motivação e a resistência dos afetados têm sido inspiração para esse movimento de âmbito internacional.

Um apagamento completo e permanente da capacidade de fazer amor entre os usuários é um dos efeitos colaterais mais debilitantes de uma droga. No caso de todas essas drogas, quando ocorre, afeta homens e mulheres, jovens e idosos, podem aparecer depois de alguns dias na droga ou somente após o tratamento parar. Pode durar décadas, talvez mais. Isso leva a suicídios, a ruptura de relacionamentos e perdas de emprego. Não há vantagem alguma com esse tratamento.

O PSSD compartilha muitas características comuns e parecem estar intimamente relacionadas com a Síndrome de Pós-Finasterida (PFS) e a Disfunção Sexual Pós-Retinoide (PRSD) desencadeadas principalmente pela isotretinoína (Accutane). A isotretinoína é tanto um inibidor da recaptação da serotonina quanto um inibidor da redutase 5-alfa (5ARI), de modo que pode dar origem a PSSD ou PFS, ou todas as três condições podem ter alguma outra coisa em comum.

Recentemente submetemos um artigo para revisão descrevendo 300 casos de PSSD, PFS e PRSD, e estamos cientes de muitos outros casos e fenômenos comparáveis acontecendo com outras drogas. Pode haver dezenas de milhares de pessoas afetadas, pois algumas evidências sugerem que menos da metade daqueles que estiveram em ISRS por meses recuperará uma função normal e completa.

Existem comunidades on-line e vinculadas a universidades pesquisando essas condições tão vigorosamente quanto a comunidade de AIDS quando passou a se envolver na busca de uma cura para a AIDS. O mais bem-sucedido destas até agora tem sido vinculado ao PFS, com os doentes que criaram uma Fundação para promover a pesquisa a respeito desta condição de saúde. A pesquisa realizada por esses grupos tem seguido todas as pistas de tratamento óbvias, mas nada até agora funcionou.

Um mistério farmacológico

Os problemas precisam ser pensados fora da caixa. Embora a serotonina e a 5-alfa redutase possam ser onde esses problemas começam, eles parecem ir além disso.

O fato de que essas condições possam aparecer após o tratamento parar e que permaneçam na ausência de qualquer medicamento no organismo há anos é extremamente importante para a ciência farmacológica. Este não é um dano simples, na medida em que muitos sofredores relatam restaurações temporárias com relação ao normal. Pode ser apenas temporário, mas o fato de que isso aconteça é tanto uma fonte de esperança quanto algo que, por si só, precisa ser explicado. Estas condições são um dos mistérios centrais da farmacologia.

É importante destrinchar o que está acontecendo, porque muitos médicos costumam estar inclinados a descartar PSSD, PRSD e, em menor medida PFS; especialmente quando tais síndromes começam depois que a pessoa interrompeu o tratamento ou quando ela persistiu por muito tempo na ausência da droga. Após estar tomando um antidepressivo, é muito fácil afirmar que o problema está todo ele na mente. No momento, os psiquiatras parecem ser os piores de todos os médicos, com os urologistas os melhores e médicos de família no meio.

Mas PSSD, PFS e PRSD não são as únicas condições em que há problemas duradouros que apenas podem aparecer após o tratamento ter parado. A discinesia tardia (TD) causada pelos antipsicóticos tem sido reconhecida desde 1959 e ninguém pensa que está tudo na mente ou que é impossível aparecer após o tratamento parar. Mas no momento, a TD não foi vinculada à PSSD, PFS ou PRSD, e cinquenta anos depois, não sabemos como isso acontece ou como curá-la.

Outro grupo de problemas que compartilham características em comum são as síndromes de abstinência ligadas a antidepressivos, antipsicóticos e agonistas da dopamina. Como PSSD ou TD, estes problemas aparecem durante ou após o tratamento e podem durar anos, até mesmo décadas.

Agora que temos uma variedade de drogas diferentes que podem desencadear esses fenômenos e podem desencadeá-los em diferentes sistemas corporais, as chances de algum farmacologista ou fisiologista ser capaz de explicar o que está acontecendo devem ser muito melhores.

Identificar os sistemas ou mecanismos de receptores envolvidos poderia transformar a farmacologia. Isso teria implicações para muitas drogas e desenvolvimento de drogas. Provavelmente haverá um Prêmio Nobel para a pessoa que puder explicar por que TD ou PSSD acontecem.

Imagem ou janela?

Você não precisa saber nada sobre os receptores para ficar fascinado por esse problema e apreciar que a imagem de um paciente com PSSD é realmente uma janela para a natureza e identidade humanas.

Muito bem, 100% das pessoas que tomam um SSRI terão algum entorpecimento genital nos 30 minutos após haver tomado a sua primeira pílula. Não sabemos o que causa isso. Este é um problema que está na frente dos narizes de milhões de pessoas. É surpreendente que não saibamos como isso acontece. Ao responder isso estaremos a meio caminho para descobrir o que acontece para fazer com que tal fenômeno perdure.

Outra coisa surpreendente é que muitas das síndromes de abstinência de drogas envolvem desde a sensação dos pés como se estivessem em chamas, há perda de olfato, equilíbrio perturbado ou outras sensações estranhas. Estas são características de uma neuropatia periférica. As neuropatias periféricas apareceram pela primeira vez em livros de texto médicos há 150 anos antes de sabermos que possuímos células cerebrais, mas ainda não sabemos nada sobre o que acontece a não ser o dia em que foram descritas pela primeira vez, mesmo assim não temos que olhar dentro do corpo para investiga-las.

Existem boas razões para pensar que há muito mais de “nós” em nossa pele e órgãos genitais e corpos do que agora estamos inclinados a pensar. Estamos em uma era dominada pelo cérebro e perdendo coisas que podem não precisar da entrada de especialistas do cérebro para serem resolvidas.

Quem atreve-se a ganhar

Não está claro que seja necessário treinamento especializado para resolver esses problemas, assim como John Harrison não tenha tido treinamento especializado quando ganhou o Prêmio de Longitude, há 300 anos.

Alguns antecedentes em biologia podem ajudar, mas mesmo sem isso você pode já ter encontrado algo que faz a diferença e simplesmente não sabia que havia lá fora tantas pessoas desesperadas para saber o que você conhece.

Você pode ser um médico ou um analista de dados que percebe que alguns pacientes que tomam outra droga simplesmente não parecem ter os mesmos problemas.

Para aqueles inteiramente neófitos nessas questões, ou aqueles com antecedentes farmacológicos ou fisiológicos, mas sem consciência dessas questões antes de agora, ou alguém que conhece algo sobre isso, mas pouco sobre a gama completa de coisas que foram tentadas sem sucesso ou que se notou oferecer benefícios temporários, o RxISK possui um portfólio de descrições e leads que podem ser disponibilizadas mediante solicitação.

O prêmio

Ao instituir um Prêmio, estamos seguindo os passos do método que levou a uma solução para o famoso problema de Longitude.

O primeiro passo é levantar US $ 100.000 para um Prêmio de Cura. Gostaríamos que tantas pessoas quanto o possível, entre aquelas que sejam afetadas ou que tenham relacionamento com alguém que é afetado, façam uma doação de US $ 200 para um fundo alvo de US $ 100.000.

Conforme mencionado, resolver esse problema provavelmente contribuirá de forma importante para resolver as síndromes de abstinência duradouras que afetam qualquer pessoa que tome antidepressivos e antipsicóticos. Cinco por cento das populações da América do Norte e da Europa, e em qualquer outro lugar em que os antidepressivos são utilizados na mesma escala, são incapazes de sair do tratamento devido a problemas de retirada – isto é, 50 milhões de pessoas apenas na América do Norte e na Europa. Cinquenta milhões de centavos seriam $ 500.000 – então um alvo de $100.000 parece mais do que alcançável.

O Prêmio será oferecido a qualquer pessoa que encontre uma cura para PSSD, PFS ou PRSD. Que poderá ser um médico, um cientista, uma empresa de medicamentos, um membro do público – qualquer um. Não há restrições.

O RxISK tem registros de vários ‘sofredores’ de cada uma dessas síndromes que possuem condições duradouras convincentes. O Prêmio será dado se alguém puder provocar uma restauração ao normal, ou muito perto disso, e que perdure em nossos voluntários.

Existem várias razões pelas quais escolhemos fazer esta iniciativa sobre a disfunção sexual em vez de outros problemas, como a retirada de antidepressivos. Principalmente porque o tempo é exatamente agora, e já existe uma base sólida para se construir as saídas. À medida que mais de um tipo de droga está envolvida, também há potencialmente um grupo maior de pessoas para abordar o problema em diferentes ângulos.

Se ninguém reivindicar o prêmio, usaremos o dinheiro para apoiar a proposta de pesquisa mais inovadora ou doar para a Fundação PFS que já está realizando algumas pesquisas de ponta.

A diferença entre um prêmio e uma bolsa de pesquisa é essa:

No caso de alguém que tenha uma cura, assumindo que não é custoso administrá-la, eles dão o prêmio aos nossos voluntários e se a cura funcionar estes reivindicam o dinheiro. Seus gastos gerais e custos serão mínimos.

Pesquisas como a que está sendo realizada para a PFS têm que recrutar talvez até 100 sujeitos e realizar uma grande quantidade de testes que devem ser pagos. Se o teste envolver exames cerebrais, isso é caro. Se envolver genes, isso significa recrutar milhares de sujeitos. Um subsídio de pesquisa, mesmo por US $ 100.000, não é muito para ajudar isso a acontecer. E no final das contas, a pesquisa pode acabar fazendo descobertas, mas não garantir que estas sejam a fonte do problema e não uma consequência.

Mas, na ausência de um vencedor do Prêmio, a Fundação PFS possuirá uma infraestrutura de pesquisa criada e achados de pesquisas que podem ser de grande importância e, assim, o dinheiro irá ser destinado para lá, ao invés de ir para qualquer outro lugar.

Quem pode doar?

Qualquer pessoa. Congratulamo-nos com as doações não apenas das pessoas afetadas por essas condições, mas de qualquer pessoa que queira ajudar. Sugerimos um mínimo de US $ 200 para alcançar nosso objetivo rapidamente, mas estamos conscientes de que o dinheiro é apertado para muitas pessoas.

Obviamente, todas as doações com mais de US $ 200 são bem-vindas, assim como as doações mensais.

Se alguém organizar uma atividade de captação de recursos / patrocinado, publicaremos detalhes no site.

Como doar

As doações podem ser feitas de uma das três maneiras:

Os contribuintes dos EUA podem fazer uma doação deduzida de impostos através da Fundação para Excelência em Saúde Mental usando este link. Certifique-se de selecionar o Prêmio RxISK quando perguntado para aonde  é a doação.

Os contribuintes do Reino Unido podem fazer uma doação dedutível por impostos através deste link.

Outros doadores podem fazer uma doação não dedutível por impostos através deste link.

Se alguém quiser configurar um fundo vinculado que apoiará doações dedutíveis em impostos em outro país, entre em contato conosco, e nós entraremos em rede com você.

Embora esta iniciativa esteja focada na disfunção sexual, acreditamos que também chama a atenção para o fato mais geral de que os pacientes possam ter efeitos colaterais persistentes após o uso de medicamentos, alguns dos quais podem mudar a vida.

Esperamos que qualquer pessoa interessada em efeitos colaterais persistentes, seja por sofrer com eles, como por ver que é provável que seja uma nova fronteira importante para a medicina, considerará este Prêmio uma causa que vale a pena apoiar.

Veja em nossas próximas postagens – Como você pode ajudar. Veja também o nosso total atual.

Diabetes Tipo 2 e Uso Antidepressivo: Existe um Link Causal?

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Publicado em EndocrinologyAdvisor: uma meta-análise recente sugere que o uso de drogas antidepressivas pode aumentar o risco de diabetes do paciente. De acordo com o investigador principal, mais de 1 milhão de casos de diabetes pode ser devido ao uso de antidepressivos concorrentes.

Artigo →

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Falando sobre Saúde Mental Após a Chacina em Las Vegas

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Publicado em Washington Post: culpar os tiroteios em massa como  “doença mental” é uma distorção dos fatos e uma maneira conveniente de esquivar uma conversa necessária sobre controle de armas.

“Não há provas de que o atirador de Las Vegas estava louco. (Eu prefiro não usar seu nome e dar-lhe publicidade, até mesmo póstuma.) Ele não teve uma história de doença mental que conhecemos, nem foi relatado comportamento que sugerisse tal condição. Ele foi claramente um homem maligno, ou pelo menos um homem que fez algo realmente malvado. Mas o mal não é louco. Se definimos a tentativa tirar a vida de um ser humano inocente como loucura, então todo assassino é louco. Caso contrário, devemos reconhecer que é um termo sem sentido que acrescenta pouco à nossa compreensão do problema “.

Artigo →

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Um Diagnóstico Psiquiátrico tem o Impacto de uma Maldição Médica?

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mcornwallNos últimos 40 anos, como terapeuta dissidente e ativista, conheci muitas pessoas que foram tão negativamente impactadas pela experiência subjetiva de receber um diagnóstico psiquiátrico altamente duradouro, que eu comecei a ver como uma rotina tão desumanizante como é a prescrição de diagnósticos é equivalente a uma maldição médica.

Uma maldição é definida como sendo: “Uma declaração solene destinada a invocar um poder sobrenatural para infligir dano ou castigo a alguém”. Claro, os profissionais de saúde mental não pretendem causar dano quando proclamam solenemente, da sua posição de autoridade médica, que uma pessoa tem um transtorno / doença psiquiátrica para toda a vida, como é definido no modelo de doença psiquiátrica do sofrimento emocional humano e codificado no DSM. Mas, uma e outra vez, eu vi as consequências desse poderoso ritual de receber e assimilar um diagnóstico de patologização para toda a vida. Esses rótulos dos modelos de doença não consideram como perdas pessoais, necessidades não atendidas, isolamento, traumas e a toxicidade social afetam nossas vidas de maneira dolorosa.

Muitas pessoas lutam por décadas, ou realmente sucumbem e tiram suas próprias vidas, por causa da dor emocional e do peso corrosivo da experiência de serem rotuladas inequivocamente. O rótulo psiquiátrico delas é reforçado, objetivamente e poderosamente, pelos prejudiciais tratamentos psiquiátricos que acompanham e seguem sempre o rótulo oficialmente decretado.

Mais uma vez, mesmo os tratamentos prejudiciais são sempre administrados com ares de benevolência, se não com uma intenção benigna. Porém, toda hospitalização, consulta clínica, prescrição escrita e entregue para medicamentos psiquiátricos, são um verificador objetivo e reforçador, em tempo real, do ‘fato’ indelével da validade do rótulo de diagnóstico, que deve ser mantido para que o tão necessário “tratamento” médico continue.

No meu artigo ao Mad in America “O Processo de Diagnóstico Psiquiátrico qualifica-se como uma Cerimônia de Degradação?”, eu descrevo as dinâmicas sociais, que permitem aos especialistas dos rituais médicos em nossa sociedade de serem investidos com o poder de mudar, permanentemente, a personalidade do ‘paciente mental’, que eles avaliam, diagnosticam e tratam.

Nesse ritual de diagnóstico / degradação, eu acredito que  uma antiga experiência humana subjetiva ocorre, com elementos que fazem com que a pessoa diagnosticada se torne o destinatário do que só pode ser descrito como uma maldição.

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Há alguns anos atrás, uma grande amiga, agora na casa dos 80 anos, estava batalhando para começar a escrever um livro sobre sua vida, o qual ela desejava escrever há décadas. Ela me contou que quando ela era uma jovem paciente de um hospital psiquiátrico falou com a sua psiquiatra sobre o desejo de escrever um livro sobre sua vida. A psiquiatra respondeu a ela: “A ideia que você tem sobre escrever um livro algum dia é uma grandiosa ilusão, é um sintoma do seu transtorno mental!” Minha amiga me perguntou, “Você acha que a fala dela, dita há tanto tempo atrás, possivelmente ainda esteja me bloqueando, Michael? Eu lembro do horrível sentimento que senti ao escutar ela me dizer que era só uma grandiosa ilusão do meu transtorno mental. Eu comecei a escrever meu livro, e parece que sempre, por alguma razão, algo me faz parar de tentar escrever. “

Eu repliquei, “Ela lhe amaldiçoou.”

Os olhos da minha amiga se arregalaram e seu queixo caiu, enquanto ela perguntava, “O que você disse?”

Respondi: “Eu disse que ela amaldiçoou você. Eu acredito que ela lhe deu o equivalente a uma maldição médica a partir da sua posição de autoridade, com um enorme poder sobre você, e por causa da crença dela que só ela sabia a verdade sobre as suas capacidades.  Ela acreditava que você deveria ser megalomaníaca, na medida em que ela sempre viu você como prejudicada e doente mental, devido ao diagnóstico que ela lhe deu. “

Minha amiga então, chorou suavemente enquanto sacudia a sua cabeça, e dizia repetidamente, “Ela me me amaldiçoou. Ela realmente me amaldiçoou.”

E finalmente ela disse veementemente, “Eu vou escrever essa droga de livro agora nem que seja a última coisa que eu faça!”

Eu não acho que nós possamos subestimar o extraordinário poder de receber tais anúncios sobre nossa personalidade, por pessoas autorizadas pela nossa cultura a servirem de árbitros da verdade. Bem como o poder sacerdotal de seus predecessores, quem amaldiçoavam rotundamente aqueles que eles acreditavam merecer tais consequências.

Parte da distorção, confusão e mistificação da experiência que RD Laing descreveu, acontece quando nós somos pegos em um vínculo recebendo duas mensagens contraditórias sobre nós próprios que são enviadas por outras pessoas, ajudando a criar uma áurea sombria da maldição médica quando somos rotulados.

Este duplo vínculo insustentável ocorre quando, em essência, nos é dito com bondade: “Eu sou um profissional médico que só tem as melhores intenções no coração, assim como tantos médicos, enfermeiras e profissionais de saúde, que ajudaram você desde que era um bebê e uma criança pequena. Baseado no meu treinamento e na melhor ciência medica atual, você precisa reconhecer que agora você está diagnosticada com um importante transtorno mental ou uma desordem psiquiátrica, principalmente por causas genéticas, biológicas e neurológicas. Quando nós hospitalizarmos você de novo, contra sua vontade, forçando injeções de drogas poderosas dentro do seu corpo, novamente contra a sua vontade, enquanto você está imobilizado por várias amarras de couro, tudo isso será sempre para o seu próprio bem. Sua raiva, medo e tristeza, que você expressa em resposta à nossa necessária intervenção, são manifestações sintomáticas e emocionalmente desafiadoras da sua doença mental, estamos fazemos o melhor para tratar você, assim como nós tratamos alguém que tem diabete, ou alguma outra doença ou transtorno. “

Em outras palavras, a mensagem diz: “Nós cuidamos de você até mesmo quando lhe machucamos, e você não consegue aceitar isso por causa da sua doença, o que nos obriga a continuar lhe machucando indefinidamente, enquanto seguimos cuidando continuamente de você. “

Eu acho que a natureza humana é regredida e se sente muito vulnerável, quando estamos assustados e isolados, e as figuras quase parentais que os médicos, enfermeiros e outros profissioanis da saúde mental, se tornam em nossas horas de necessidade, contribuem para que tomemos suas palavras como verdade.

Mas esse processo de internalização também pode nos destruir. Porque eles estão errados sobre o que está causando, e causou, o nosso sofrimento emocional.

Eles não sabem que estão errados, então eles se entregam como cuidadores profissionais apenas querendo o que é melhor para nós, porque acreditam que eles sabem o que é melhor. Tragicamente, suas opiniões grosseiramente falsas, que eles nos impõem, podem se tornar tão destrutivamente poderosas como se tivessem nos amaldiçoado.

Seria muito melhor, porque poderíamos entender isso, se a maldição médica fosse dada com eles grunhindo em fúria e condenação, em vez de serem dadas com seus rostos profissionais, plácidos e profissionais – parece que muitas vezes, sem o conhecimento de si e geralmente sem conhcer-nos , estão expressando fascismo amigável.

Em memória do querido Matt Stevenson, blogueiro da comunidade Mad e companheiro com um coração grande.

 

Mergulho em um Caso de Memória Reprimida ou Manipulada

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Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian

Matéria publicada no The Guardian nesta semana. Trata-se do caso de Nicole Kluemper, um dos casos mais controversos na psicologia moderna: a memória (ou suposta memória) de haver sido abusada por sua mãe quando tinha quatro anos de idade.

O casamento de seus pais havia se quebrado em meses após o seu nascimento. Mas o divórcio de seus pais foi brutal e longo, com a batalha pela custódia que se prolongava ao longo dos anos. Em 1984, para criar provas para audiências judiciais, um psiquiatra chamado David Corwin filmou entrevistas com Kluemper. Ela tinha 6 anos de idade. E ela diz que sua mãe abusava sexualmente dela. Como consequência, seu pai ganhou na justiça a guarda de sua filha, a Nicole.

O vídeo passa a ser material de ensino para a carreira do psiquiatra que a entrevistou:  David Corwin. “Mais um caso de abuso de uma criança.” O que se sabe que infelizmente é que ocorre com uma frequência nada pouco significativa. Independente do gênero dos pais.

A pesquisadora Elizabeth Lotus, em seu doutorado, em Stanford University,havia se  debruçado sobre a problemática da ‘memória’ de eventos passados, com particular atenção ao que vinha ocorrendo nos Estados Unidos, em que  ‘memórias falsas’ haviam condenado equivocadamente pais por supostos abusos sexuais. Elizabeth entrevistará a Nicole e passa a usar o seu caso como ‘falsa memória’.  O que impactará a vida de Nicole, evidentemente.

E o que será da Nicole desde de então?  Nicole construiu a sua identidade tendo esse componente básico: sua mãe abusou sexualmente dela.  E se esse significante-mestre, como diria Lacan, não passa então de ser imaginário?

Eis aí um interessante problema para quem trabalha (ou se interessa) pelo campo da construção da subjetividade e o papel dos profissionais de saúde mental. A construção da ‘narrativa de vida’.  Algo de uma enorme complexidade, que evidentemente não admite simplificações.

Eis ái o artigo na íntegra.

Artigo ⇒

 Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian
Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian

Antidepressivos Aumentam o Risco de Morte

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Photo Credit: Flickr

Peter SimonsNova pesquisa, liderada por Paul Andrews na McMaster University, sugere que o uso de antidepressivos (AD) está associado ao aumento do risco de morte por qualquer causa, além de aumentar o risco de problemas cardíacos. Os TCAs mais antigos (antidepressivos tricíclicos) e os novos ISRS / IRSN (inibidores seletivos da recaptação da serotonina / inibidores da serotonina-norepinefrina) tiveram esse efeito, assim como outros medicamentos como os inibidores da MAO (monoamina oxidase).

Segundo Andrews, “nas amostras da população em geral, as ADs aumentaram o risco de mortalidade em 33% e o risco de experimentar um evento cardiovascular em 14%”.

 

Photo Credit: Flickr
Photo Credit: Flickr

Outros pesquisadores propuseram que aqueles em antidepressivos possam ter uma depressão mais grave, aumentando o risco de morte independentemente se eles tomaram essas drogas ou não. No entanto, quando Andrews e seus colegas controlaram a depressão pré-medicação, o que eles descobriram foi que o risco aumentou. Quando a depressão pré-medicação foi contabilizada, os TCAs aumentaram o risco de morte em 26% e os ISRSs aumentaram o risco de mortalidade em 49%. Os medicamentos classificados como ‘outros’ (como bupropiona, mirtazapina, trazodona e inibidores de MAO) geraram um risco aumentado de 75% de morte.

Este achado é particularmente preocupante à luz da literatura de pesquisa que repetidamente vem questionando a eficácia dos medicamentos antidepressivos. Na verdade, Andrews escreve que “uma possível explicação é que o uso de AD só leva à uma redução transitória nos sintomas depressivos […] sintomas depressivos sob uso prolongado de AD (ou seja, meses ou mais) são maiores do que seriam sem medicação”.

Andrews e seus colegas explicam as maneiras pelas quais os antidepressivos afetam sistemas amplos em todo o corpo.

“Embora cada AD provavelmente tenha um perfil de sintoma distinto, há boas razões para suspeitar que todos eles degradam o funcionamento de alguns processos adaptativos no corpo”.

Os TCAs afetam principalmente os sistemas de norepinefrina e dopamina. De acordo com os pesquisadores, “Norepinefrina afeta o sistema nervoso simpático e partes do cérebro que envolvem atenção e excitação. A dopamina tem efeitos amplos, incluindo funções imunológicas, endócrinas, renais, gastrointestinais e pancreáticas, bem como a regulação do peso corporal e o tempo de vida saudável”.

Por sua vez, os ISRS / IRSNs afetam principalmente o sistema de serotonina, que é responsável por inúmeros processos corporais.

“A serotonina regula o crescimento, desenvolvimento, reprodução, atividade neuronal, digestão, função imunológica, termorregulação, reparo de tecidos, manutenção, equilíbrio de eletrólitos, função mitocondrial, e armazenamento, mobilização e distribuição de recursos energéticos. Ao bloquear o transportador no cérebro e na periferia, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que são os ADs mais amplamente prescritos, poderem potencialmente degradar inúmeros processos adaptativos”.

A pesquisa foi publicada na revista Psychotherapy and Psychosomatics. Andrews e os outros pesquisadores realizaram uma meta-análise para examinar todos os ensaios relevantes de medicamentos antidepressivos que relataram estatísticas detalhadas sobre a mortalidade e controlados para potenciais fatores de confusão. Dos 16 estudos incluídos na meta-análise, 11 examinaram principalmente pacientes cardiovasculares, enquanto os 5 restantes não. O número total de participantes foi de 378.400, dos quais 140.787 estavam tomando medicamentos antidepressivos.

Curiosamente, o uso de AD não parece aumentar o risco de pacientes que já tenham problemas cardíacos graves. Em alguns estudos anteriores, os antidepressivos demonstraram melhorar a mortalidade em pacientes cardiovasculares.

Os pesquisadores explicam que os ISRS e TCAs têm um efeito anticoagulante, o que pode ser bastante útil para as pessoas com problemas cardiovasculares. No entanto, eles observam que esse mesmo efeito pode ser problemático para a população em geral. Para a pessoa média, “ADs podem inibir a coagulação e assim aumentar o risco de eventos cardiovasculares, particularmente aqueles associados à hemorragia anormal (AVC hemorrágico, por exemplo)”.

Os pesquisadores sugerem que os médicos devem tomar muitos cuidados antes de prescrever ADs.

“Quando o paciente não tem doença cardiovascular, nossos resultados sugerem que o médico deve pensar duas vezes antes da prescrição, porque os ADs aumentam os riscos para a saúde, incluindo o risco de morte”.

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Maslej, M. M., Bolker, B. M., Russell, M. J., Eaton, K., Durisko, Z., Hollon, S. D. . . . Andrews, P. W. (2017). The mortality and myocardial effects of antidepressants are moderated by preexisting cardiovascular disease: A meta-analysis. Psychotherapy & Psychosomatics, 86(5), 268-282. DOI: 10.1159/000477940 (Link)

XVII Congresso Mundial de Psiquiatria, Berlim

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fernando_foto_definitivaNos dias 8 a 12 de outubro, em Berlim, está ocorrendo o XVII Congresso Mundial de Psiquiatria. O tema geral é bastante sugestivo,  A Psiquiatria no Século XXI: Contexto, Controvérsias e Compromisso.

É com grande satisfação que tenho recebido mensagens de vários colegas da nossa comunidade do Mad – militantes do movimento de ex-usuários, profissionais de saúde mental e intelectuais, da Europa, Estados Unidos e Canadá – felizes por estarem indo à Berlin para participar desse Congresso; sobretudo para a mesa-redonda intitulada ‘Retirada dos Psicotrópicos”. Entre os palestrantes dessa mesa-redonda estão Peter Lehmann, quem irá coordenar, Laura Delano e Peter Gotzsche.  Laura estará entre nós daqui a duas semanas, para o nosso Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas, Causas, Danos e Alternativas.

Para que melhor se tenha uma ideia da problemática que será abordada em nosso Seminário, certamente é do interesse de todos – inscritos no Seminário e o público em geral – ter mais uma vez uma ideia do que hoje vem sendo discutido internacionalmente a respeito da problemática das drogas psiquiátricas. Em um blog anterior apresentei a experiência de Soteria, uma abordagem de tratamento de pessoas vivendo a experiência de surto ou de grave crise psicológica, que foi desenvolvida no início dos 70 nos Estados Unidos, cujas principais características é o tratamento dado primariamente por não-profissionais de saúde e sem uso (ou o mínimo indispensável) de drogas psiquiátricas. Seus resultados surpreendentes têm sido objeto do escrutínio científico há décadas. Infelizmente, aqui no Brasil muito pouco ainda se sabe a respeito de experiências como a de Soteria, o que tem contribuído para que a nossa assistência em saúde mental seja quase que absolutamente dependente do modelo biomédico da Medicina mental, assim como criado obstáculos incontornáveis para que a eficácia das abordagens de natureza psicossocial seja implementada.

O Mad in Brasil vem sistematicamente disponibilizado em suas páginas postagens à respeito dos danos das drogas psiquiátricas e diferentes iniciativas para interromper o seu uso de forma segura, viável e com o mínimo possível de sofrimento.  O debate ganha força internacional, e não é por acaso que o Congresso Mundial de Psiquiatria está dando espaço para a discussão dessas problemática.

É interessante se observar como foi desenhada essa mesa-redonda da qual a Laura Delano está participando. Por isso estou apresentando o seu programa, com tradução do resumo do que será colocado por cada palestrante. Mais importante do que a importância internacional dos palestrantes é ao meu ver o conteúdo do que cada um irá apresentar.

 

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Withdrawal from psychotropics (A Retirada dos Psicotrópicos)


11.10.2017 | 15:15 – 16:45 | Hall Berlin 1

Peter Lehmann, Berlin

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Leia o resumo:

Os medicamentos em psiquiatria, como na medicina geral, devem atingir uma síndrome específica para um período de tratamento definido, e devem ser reduzidos ou encerrados após algum tempo. Os pacientes podem preferir suporte não farmacológico para aliviar problemas mentais. No entanto, há uma falta de diretrizes sobre como reduzir a medicação e uma preocupação crescente de que medicamentos farmacêuticos podem causar sintomas de abstinência com diferentes graus de nocividade. Vemos um fosso crescente entre o conhecimento sobre os problemas de abstinência associados aos antidepressivos e neurolépticos e o suporte existente para a retirada.
Que conclusões podem ser extraídas? Quais formas de suporte, o da Internet incluído, já existentes? Quem está educando sobre estratégias de redução de risco para a retirada? As diretrizes de melhores práticas não deveriam exigir que os profissionais tentem rotineiramente retirar os pacientes das drogas psiquiátricas? Seria apropriado falar sobre a dependência física de antidepressivos e neurolépticos mesmo quando não há vício (craving)? Os pacientes a quem não são oferecidas oportunidades para reduzir ou retirar medicamentos psiquiátricos podem reclamar na justiça pelos danos sofridos?


Co-Chair

Andreas Heinz, Berlin


Speaker (palestrante)

Peter C. Gøtzsche, Copenhagen, Denmark

001 –International institute for psychiatric drug withdrawal

(Instituto Internacional para a Retirada das Drogas Psiquiátricas)

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Leia o Resumo

Em outubro de 2016, onze pessoas de sete países incluindo ex-pacientes, psiquiatras, psicólogos, terapeutas e cientistas, decidiram abrir um Instituto Internacional para a Retirada de Drogas Psiquiátricas, reconhecendo que muitos milhões de pacientes tornaram-se dependentes de drogas psiquiátricas e têm dificuldade em sair delas, o que leva a resultados pobres a longo prazo, com taxas crescentes de pensões por invalidez. É um dos maiores problemas de saúde que temos, mas muito pouco é feito para ajudar esses pacientes a reduzir suas drogas com segurança. Infelizmente, alguns profissionais de saúde acreditam que a dependência é apenas um problema com os benzodiazepínicos, embora tenha sido amplamente documentado que este também é um grande problema para outras classes de drogas psiquiátricas, por exemplo, também para antidepressivos e antipsicóticos. Pesquisa, educação e a criação de clínicas de retirada e linhas de ajuda são algumas das iniciativas que vamos realizar e apoiar em todo o mundo.


Speaker (palestrante)

Tom Bschor, Berlin

002 –Do antidepressants cause dependence? A comparison to benzodiazepines with special regard to withdrawal reactions

(Os antidepressivos causam dependência? Uma comparação com os benzodiazipínicos com especial atenção para as reações à retirada)

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Leia o resumo

Apenas cerca de 20 anos após a introdução no mercado, foi amplamente aceito que os benzodiazepínicos podem causar dependência. Além de outros sintomas, reações acentuadas de abstinência, muitas vezes obrigando o indivíduo a voltar a fazer uso da droga, ilustram o poder viciante dos benzodiazepínicos. Nos últimos 20 anos, ocorreu um aumento acentuado das prescrições de antidepressivos. Igualmente reações de abstinência severas ocorrem após a cessação dos antidepressivos, com muita frequência, mas não apenas, após o término dos ISRSs. Essas reações também impedem as tentativas de parar a medicação. Sendo uma característica distinta, os sintomas de abstinência não são simplesmente o retorno da depressão pré-tratamento. Uma característica é o seu desaparecimento imediato após a re-administração do antidepressivo.
Alguns especialistas argumentam que essas reações de retirada são indicativas da dependência aos antidepressivos. No entanto, a dependência é uma doença caracterizada por um conjunto de mudanças físicas e psicológicas. O que se segue pode ser observado em pacientes dependentes de benzodiazepina, mas não em pacientes com antidepressivos: ingestão para experimentar um efeito imediato; aumento da dose, tolerância e ingestão várias vezes ao dia; negligência progressiva de prazeres ou interesses alternativos, devido ao uso de substâncias psicoativas; maior quantidade de tempo necessário para obter ou armazenar o medicamento; formas ilegais de obter a droga (dificilmente existe qualquer mercado negro de antidepressivos).
Diagnosticar a dependência pela ocorrência de uma reação de retirada apenas ignoraria as dimensões psicológicas da dependência. Por isso, os antidepressivos geralmente causam sintomas de abstinência, mas geralmente não a dependência como a da benzodiazepina. Os antidepressivos têm uma latência de início do efeito desejado, que normalmente é uma desvantagem dessa classe de fármacos. No entanto, a falta de um efeito imediato dos antidepressivos é provavelmente o fator mais importante que evita a dependência.


Speaker (palestrante)

Volkmar Aderhold, Greifswald

003 –The withdrawal of neuroleptics: When to do so? How? When not to do so? What then?  

(A retirada dos neurolépticos: Quando fazer isso? Como? E quando não proceder dessa forma?)

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Leia o resumo

Objetivo

Estudos de longo prazo de pessoas que experimentam seus primeiros ou múltiplos episódios de psicose sugerem que entre 20% e 35% podem se retirar com sucesso dos neurolépticos no curto e longo prazos. Sob condições ideais de apoio social e orientação profissional, pode-se esperar uma maior proporção. Estudos de longo prazo da era pré-neuroléptica também apóiam essa conclusão.
Surpreendentemente, não há estudos de descontinuação nos 15-20% dos pacientes que não respondem aos neurolépticos.

Métodos

Avaliação de publicações conforme a pesquisa bibliográfica.
Experiência clínica.

Resultados / Discussão

As tentativas guiadas de antecipação da retirada são benéficas devido às alterações cerebrais adversas causadas por neurolépticos e também servem para atingir a menor dose possível. <BR> A não conformidade aos neurolépticos é consistentemente alta (entre 50% e 75%). Isso geralmente é uma reação a fortes efeitos colaterais e baixa eficácia, e tende a resultar em tentativas de retirada profissionalmente não guiadas e, muitas vezes, perigosas. O que é necessário, portanto, é o desenvolvimento de uma prática cooperativa de redução e retirada, de modo a não deixar pessoas e familiares afetados por conta própria, expostos a altos riscos assim como a tensões físicas e psicológicas. Precisamos de equipes de pacientes ambulatoriais multiprofissionais, incluindo especialistas com experiência e ex-pacientes, que tenham a habilidade para ajudar as pessoas a reduzir / retirar, além de outras práticas psicoterapêuticas efetivas. <BR> Previsores positivos de retirada bem-sucedida nos poucos estudos existentes podem nos ajude a julgar a viabilidade de retirada / redução. O apoio social é um dos preditores centrais. Além disso, os preditores negativos, bem como as contra-indicações para a retirada, podem ser identificados. <BR> Dúvidas que precisam de esclarecimentos, bem como as etapas recomendadas na preparação de uma tentativa de retirada, serão apresentadas Em seguida, será descrito um procedimento de redução, bem como fenômenos que podem ocorrer ao se reduzir / retirar os neurolépticos. Através dessa prática, podemos aprender mais sobre as diferentes estratégias farmacológicas necessárias para o tratamento da síndrome muito heterogênea (em causa e curso) chamada “esquizofrenia” e desenvolver a melhor cooperação possível com todos os afetados.


Speaker (palestrante)

Laura Delano, Medford, MA, USA

004 –Start low, go slow – bridging the divide between the lack of clinical research on safe psychiatric drug withdrawal protocols and the growing evidence base of successful tapering methodologies by users of psychiatric drugs  

(Comece lentamente, avance devagar – colmatando o fosso entre a pesquisa clínica sobre protocolos seguros de retirada de drogas psiquiátricas e a crescente base de evidências de metodologias de redução bem sucedida criadas por usuários de drogas psiquiátricas.)

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Leia o resumo

Os usuários de drogas psiquiátricas estão desenvolvendo sofisticados protocolos de redução gradativa de drogas psiquiátricas que estão produzindo resultados positivos – inclusive entre aqueles que estiveram em várias drogas por muitos anos. Esta apresentação elucidará essa base de evidências anedóticas crescentes, ricas, mas não reconhecidas “oficialmente”, de metodologias de redução gradativa, para provocar uma conversa sobre como poderemos criar pontes entre aqueles que vieram de drogas psiquiátricas e ajudaram outras pessoas a fazê-lo de forma segura e exitosa e os profissionais psiquiatras.

 

Como Deveríamos Pensar os Estados Mentais? A contribuição de Wittgenstein

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O segundo de uma série de blogs que apresentam uma análise filosófica do moderno sistema de saúde mental e o que está em causa nele.

Wittgenstein-211x300Existem duas abordagens amplas para o ‘mental que as ideias de Wittgenstein desafiam.  Uma delas é que todos os nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos são causados por, ou são ‘epifenômenos’ de, um estado ou processo específico do cérebro. Isso às vezes é referido como “fisicalismo” (o ‘epifenomenalismo’ sendo uma variante do fisicalismo). Para esta visão – aquela em que a neurociência está baseada – os estados cerebrais que estão por trás das sensações e comportamentos são o que é primário e importante. Assim como para entender com precisão o comportamento da água necessitamos conhecer a sua estrutura molecular, para entender o comportamento humano precisamos identificar os estados cerebrais que o produzem.

A segunda abordagem para a compreensão da experiência humana é a ‘psicológica’. Com isso quero dizer a ideia de que os eventos e comportamentos mentais podem ser estudados e teorizados por seu próprio direito, sem referência nem ao cérebro nem ao indivíduo que os possui. De acordo com esta visão, os estados mentais têm características independentes que podem ser categorizadas, comparadas e manipuladas experimentalmente, assim como as coisas materiais no mundo, como minerais ou plantas.

Embora Wittgenstein não tenha negado que tenhamos experiências pessoais, por exemplo dor ou tristeza ou culpa, algumas das quais nos referimos como estados mentais ou psicológicos, o que ele ressaltou é que entendemos essas experiências pelo modo como as expressamos. Nós nos expressamos através de palavras, gestos e ações, que por sua vez derivam seu significado pela maneira como são usados em um contexto público e social.

Philosophical-Investigations-194x300Em Investigações Filosóficas, Wittgenstein dá o exemplo da dor. Embora a dor seja uma experiência pessoal ou subjetiva, expressamos dor através de respostas bem reconhecidas, que são automáticas ou involuntárias (recuando do estímulo doloroso, chorando) e voluntárias (implorando a alguém para parar de fazer o que for que está provocando a dor). Esses comportamentos e enunciados são reconhecidos como manifestações de dor por outras pessoas quando ocorrem em circunstâncias particulares (como alguém que caiu ou feriu o dedo). Se alguém está gritando, mas nenhum estímulo doloroso é aparente, podemos duvidar se seu comportamento é uma manifestação de dor, mesmo que afirme que o é.

Pense em uma criança pequena que aprende que expressar dor vai trazer amor e atenção de um adulto! O que está em questão é que são as manifestações públicas da dor e seu contexto particular que constituem nossa compreensão imediata e comum da dor, não a experiência ‘interna’ ou pessoal dela e nem o que for que aconteça na área dolorosa ou no cérebro ou no sistema nervoso. O significado da dor é como usamos a palavra na linguagem do cotidiano.[1]

No entanto, nós podemos investigar a base neural da dor e os processos corporais locais que a produzem. Esta é uma atividade perfeitamente legítima, mas não revela o significado da dor. Ela revela a base corporal da dor, mas não a forma como entendemos o fenômeno da dor na vida cotidiana.

O filósofo wittgensteiniano Peter Hacker descreveu como as emoções e os estados de espírito também são entendidos através de expressões públicas específicas, que constituem o critério de atribuir um estado emocional a alguém[2]. Algumas emoções são demonstradas por uma reação imediata, como um sorriso ou uma expressão de surpresa, e algumas, como tristeza, pesar ou ansiedade, por padrões de comportamento mais duradouros. Implícito na maior parte da linguagem da emoção é a ideia de que o sentimento é uma reação a alguém ou a alguma coisa. O amor, o ódio e a ira muitas vezes têm como objeto outro ser vivo. Surpresa e prazer são geralmente reações imediatas a eventos próximos. Tristeza, medo, culpa, vergonha e felicidade são reações menos imediatas, mas também normalmente entendidas como respostas a algo que aconteceu, está acontecendo ou pode acontecer com alguém. Parte do contexto da linguagem emocional é o objeto ou os eventos para os quais a emoção é dirigida.

Reconhecemos tristeza quando alguém nos diz que está triste, quando alguém parece triste e se comporta de maneira triste, e geralmente isso envolve explicar o que os deixou tristes. Essas coisas são necessárias para se entender e aceitar que alguém está triste. Se alguém diz que está triste, mas tem um grande sorriso no rosto, e continua a rir e a agir de forma alegre e animada, não entendemos porque alega que está triste. Da mesma forma, se alguém diz que está triste, mas não pode explicar o porquê, nós não necessariamente o desacreditamos, mas provavelmente acharemos a sua afirmação mais difícil de se aceitar do que se ele nos dissesse que está triste porque seu gato foi atropelado.

Como Rom Harré (outro filósofo muito influenciado por Wittgenstein) apontou, as emoções são diferentes das respostas fisiológicas, como dor ou fome, que são principalmente experimentadas no corpo. As emoções podem estar associadas a sensações corporais particulares, mas não são redutíveis a essas sensações [3]. Portanto, ao contrário da dor, não é claro que as emoções possuam correlatos físicos específicos. Na verdade, as evidências sugerem que não. Vários tipos diferentes de emoção; medo, ansiedade, raiva e euforia, por exemplo, estão associados ao estado fisiológico de excitação que está associado à liberação de substâncias químicas como a adrenalina e a noradrenalina (às vezes referida como a resposta “luta ou voo“). Este estado fisiológico e suas características bioquímicas, portanto, não são específicas de uma emoção particular, mas sim atravessam vários tipos de resposta emocional.

Mesmo que encontrássemos um estado específico do cérebro que se correlacionasse perfeitamente com a experiência do medo, e outro que estaria presente sempre que alguém sente alegria ou piedade, os estados cerebrais não são o que entendemos como emoção na vida cotidiana. Não são cérebros que sentem medo, piedade e alegria, são pessoas. As emoções são atributos das pessoas que vivem e atuam dentro de um mundo social ou público.

Então, o que isso significa para o estudo do domínio “mental”, incluindo as situações que chamamos de ‘transtornos mentais’? Isso significa que as entendemos através das expressões públicas pelas quais se manifestam. É assim como se refere a nossa linguagem de estados mentais e emoções. Refere-se às ações voluntárias e involuntárias, publicamente disponíveis, de pessoas vivas inteiras que estão ativamente envolvidas no mundo social e material.

Que se tome a depressão por exemplo, ou a tristeza prolongada ou a melancolia ou o desânimo (o termo depressão tornou-se tão fortemente associado hoje em dia com a abordagem psiquiátrica, que às vezes é melhor usar outras palavras para esclarecer o que queremos dizer quando pensamos sobre esse tipo de estado emocional) . Existem vários padrões de comportamento que podemos associar a essa emoção tão amplamente concebida. Alguém pode ir para a cama e deixar de lado as suas atividades cotidianas. Alguém pode estar chorando muito e exibindo sinais óbvios de angústia. Alguém pode se preocupar com uma visão negativa e pessimista do mundo. Geralmente, o uso de tais termos implica em uma mudança: que alguém anteriormente agia normalmente e então passou a agir de forma deprimida.

O ponto importante é que o tipo de comportamentos que associamos à depressão não são sinais ou sintomas de uma doença cerebral subjacente ou constructo mental. Quando nos referimos a alguém como “deprimido”, mesmo quando fazemos isso como psiquiatras conforme à estrutura de sistemas de diagnóstico, como o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM), não estamos identificando a natureza real de seu sistema nervoso ou como está construído o seu mental. Estamos nos referindo aos tipos de comportamentos[4] que as pessoas estão exibindo, e como normalmente os interpretamos. A depressão é apenas os comportamentos que entendemos como expressão de depressão.

O etnometodólogo Jeff Coulter tem escrito sobre as características da expressão de psicose ou loucura. Coulter explica que a loucura é atribuída quando alguém age de uma forma que não é facilmente compreensível e quebra as regras não escritas de conduta social, como comportar-se imprevisivelmente ou não realizar tarefas esperadas. Seguindo Wittgenstein, Coulter enfatiza que a loucura, como outros estados mentais, é reconhecida e atribuída pela comunidade em resposta a padrões públicos de comportamento e não é algo oculto que só pode ser detectado pelos especialistas [5].

Portanto, o ponto importante que Wittgenstein faz é que os estados mentais, incluindo distúrbios mentais, como depressão ou psicose, não são apenas eventos primários ou privados – sejam eles considerados eventos cerebrais ou eventos em uma mente abstrata. Reconhecemos e identificamos essas situações através do tipo de comportamentos e reações que as pessoas exibem publicamente e do contexto em que elas ocorrem. Nem os cérebros nem as mentes estão deprimidos, ansiosos ou psicóticos – as pessoas reais estão, em situações sociais reais!

Estudar transtornos mentais como se fossem condições de mentes individuais ou cérebros, portanto, é perder o que de fato elas são. Precisamos compreendê-las a nível social, como problemas que aparecem em grupos ou contextos sociais. No entanto, nossos atuais serviços de saúde mental são configurados para ajustar cérebros ou mentes individuais, como se isso pudesse resolver o problema. Mas o problema reside na interação do comportamento de uma pessoa com seu ambiente social, que inclui as expectativas sociais de como as pessoas devem se comportar.

Isso sugere que às vezes pode ser o ambiente que precisa ser corrigido e não o indivíduo. Tomemos como exemplo o chamado “Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade”. Muitas pessoas vêm apontando que, em vez de ajustar o comportamento das crianças individuais através de produtos químicos modificadores do cérebro, devemos elaborar um sistema de educação que acomode uma gama mais ampla de trajetórias de desenvolvimento; um sistema que seja mais capaz de lidar com crianças que necessitem de mais atividade física e estimulação do que a criança média da sua idade.[6]

Outros ‘transtornos mentais’ também atuam como barômetros que revelam os atritos e as tensões de nossas instituições sociais. Se reconhecermos isso, poderemos imaginar outras formas de organizar a sociedade que possam tornar os ‘transtornos mentais’ menos prevalentes ou menos problemáticos.

Referências Bibliográficas Citadas:

[1] Wittgenstein, L. (2014). Investigações Filosóficas. Petrópolis: Editora Vozes.

[2] O filósofo de Oxford, Peter Hacker, aplicou a análise de Wittgenstein ao domínio das emoções: Hacker, P.M.S. (2004) The conceptual framework for the investigation of the emotions. International Review of Psychiatry, 16, 199-208.

[3]  Harré, R. Editor, (1986) The Social Construction of Emotions, New York: Blackwell.

[4]  Behaviorismo, também conhecido entre nós por ‘comportamentalismo’, é a escola que alinha o comportamento humano com comportamento animal instintivo ou reflexos neurológicos, trouxe confusão ao uso do termo ‘comportamento’, de modo que alguns escritores agora o evitam, escolhendo termos como “funcionamento”. Eu escolhi ficar com ‘comportamento’ em seu sentido comum, isto é, como indicando atividade humana auto-iniciada e dirigida.

[5]  Coulter, J. (1979) The Social Construction of Mind: studies in ethnomethodology and linguistic philosophy. Totowa, NJ: Rowman & Littlefield.

[6] Esse argumento é feito por vários autores, neste livro : Timimi, S. & Leo, J. Editors (2009) Rethinking ADHD: from brain to culture. Basingstoke: Palgrave, assim como por vários outros incluindo as contribuições em Mad in Brasil.

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