Saúde Mental?  “Isso é um Mito!”

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Publicado pela BBC 3:

“Eu não uso essa expressão ‘saúde mental’. Quando ouço alguém dizer isso, estremeço”, diz a Dra. Bonnie Barstow.

‘Saúde Mental’. Eis aí uma expressão que faz parte do ‘senso-comum’.

Mas o que é ‘saúde mental’?

Não se sabe!

Salvo dizer que ‘saúde mental’ não é ‘doença mental’.

Mas há ‘doença mental”?

As evidências científicas parecem dizer não haver ‘doença mental’.  Esquizofrenia? Transtornos de ansiedade? Transtornos depressivos? TDAH? São ‘doença’ mental? Ou ‘transtorno mental’, como estamos hoje acostumados a dizer?  O que fazemos quando usamos tais palavras? Eis uma questão que não é meramente filosófica, como sublinha a psiquiatra Joanna Moncrieff.

Doenças?  Ou não seria melhor: ‘transtornos existenciais’?

Se forem ‘doenças’, o que a ciência mostra é que não foram até hoje cientificamente demonstradas – em termos biomédicos. Se forem ‘transtornos existenciais’, talvez o modo de abordagem de tais problemas seja de natureza própria ao que fazemos com as vicissitudes em geral da existência (o dasein, em termos heideggerianos). Consequentemente, não sendo do âmbito de ‘doença’, tampouco não seria do âmbito da ‘saúde mental’ – como um estado ideal ou algo que deve ser perseguido. A respeito desse ‘estado ideal’, há o famoso livro de Freud ‘O Mal-Estar na Civilização’.

Há critérios para o que é ‘saúde mental’?

Pois afinal de contas, o que é ‘saúde mental’, que possa ser ‘algo’ universalizável, uma condição para todos?  O que é ‘saúde mental’ para uma criança? Para um adolescente? Para alguém na chamada média idade? Para um idoso? Há critérios em termos de saúde mental? E não seria justamente a perseguição desse suposto estado ideal o que justifica as diversas formas de medicalização da existência humana? Ao dizermos ‘saúde mental’ não estamos convertendo situações ‘existenciais’ em objetos de ‘saúde’?

Eis o que foi dito a respeito, pela Dra. Bonnie Barstow, em uma entrevista dada recentemente à BBC.

Veja aqui, em inglês, e em espanhol.

Bonnie Burstow

Por que a Filosofia é Importante?

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jmoncrieff-150x150Este é o primeiro de uma série de blogs em que apresentarei uma análise filosófica do sistema moderno de saúde mental e com o que ele está envolvido.

O filósofo do século 20, Ludwig Wittgenstein, cujos últimos trabalhos dizem respeito ao nosso pensamento sobre a “mente”, sugeriu que o papel da filosofia é identificar e esclarecer confusões conceituais. Muitas dessas confusões foram introduzidas pelos filósofos, fazendo perguntas erradas no modo errado. Wittgenstein esperava mostrar que, ao se compreender melhor a natureza da linguagem, muitos dos dilemas mais complexos da filosofia simplesmente se dissolveriam.

Essa ideia de arrumar nossa linguagem pode soar como uma atividade bastante modesta, de pouca importância prática, própria a apenas filósofos que foram seduzidos por usos confusos da linguagem e desviados em debates infrutíferos. O que não procede na prática. Essas confusões conceituais têm permeado o pensamento do cotidiano. Influenciam nosso comportamento como indivíduos e estruturam as instituições sociais que construímos. Em nenhum lugar isso é mais impactante do que no sistema, do que hoje em dia chamamos de  sistema de ‘saúde mental’.

Thomas Szasz é, naturalmente, a pessoa mais conhecida por chamar a atenção para a confusão conceitual incorporada no termo “doença mental” [1]. Para Szasz, doenças e enfermidades são conceitos que estão inextricavelmente ligados ao corpo, daí que mente – que não é corporal –  não possa ser ‘doente’ [2]. Situações que são referidas como ‘doença mental’ são definidas por certos comportamentos problemáticos e não pela disfunção biológica característica de uma doença enquanto tal. Szasz também entendeu que a confusão inerente ao conceito de ‘doença mental’ não surgiu simplesmente porque as pessoas estavam equivocadas, é o que ele chamou de “estratégico”. Designar certos problemas como ‘doença mental’ justifica particulares arranjos sociais e isso se passa porque os termos ‘enfermidade’ e ‘doença’ derivam seu significado por ser uma condição do corpo.

Em blogs posteriores voltarei à questão crucial de se uma doença é ou não necessariamente uma característica corporal, mas agora eu apenas quero ilustrar o quão importante é essa questão. Sistemas sociais inteiros dependem do pressuposto de que o que chamamos de ‘doença mental’ ou ‘transtorno mental’ (um termo que pega carona no primeiro) se origina no corpo. Em particular, essa noção é fundamental para a atual resposta social a certas formas de comportamento e para os processos de alocação de recursos para assistência ou bem-estar.

Nas sociedades modernas, o uso da força por alguns indivíduos contra outros é considerado inaceitável e é ilegal. O Estado reserva-se o direito de usar a força em algumas situações, mas apenas contra aqueles que quebraram o código de conduta nacionalmente acordado – a lei. No entanto, se pensa que o pensamento e o comportamento de alguém são o resultado de um processo biológico aberrante que ocorre no corpo ou no cérebro, um processo que não tem nada a ver com a personalidade ou o self do indivíduo (que é o que eu argumentarei enquanto a compreensão usual do termo ‘doença’), então o indivíduo perde logicamente o direito de ser considerado como um ser de atuação autônoma. O que a pessoa faz e diz nessas circunstâncias pode legitimamente ser desconsiderado. Os esforços para mudar seu comportamento, que podem envolver o uso da força, podem ser concebidos como um ‘tratamento’ médico que não se destina ao indivíduo per si, mas à doença subjacente.

Pense no contraste entre as ordens para tratamento comunitário compulsório ou o compromisso para tratamento ambulatorial para pessoas com diagnóstico de transtornos mentais e o uso de agentes supressores de libido para infratores sexuais (às vezes designados por castração química). Embora essas drogas possam ser impostas aos condenados como parte da sentença em algumas partes do mundo, na maior parte da Europa os delinquentes sexuais devem dar o seu consentimento, e no Reino Unido uma segunda opinião também é necessária para que os medicamentos sejam administrados por injeção. Sob leis de comprometimento ambulatorial, alguém que tenha um diagnóstico de transtorno mental, mas que nunca tenha feito mal a alguém, pode ter seu corpo alterado quimicamente contra a vontade dela durante o resto da vida, apesar de ter a capacidade de tomar uma decisão por ela mesma e de forma perfeitamente racional. Isso não é imposto como uma punição por mau comportamento (pelo menos não explicitamente) e não seria aceitável na sociedade ocidental moderna sem a suposição implícita de que ter um ‘transtorno mental’ equivale a ter uma doença corporal. Isso permite que os desejos expressos do indivíduo sejam desconsiderados, uma vez que ela não é mais vista como um agente autônomo, mas como um objeto que é conduzido pelo processo biológico que ocorre em seu cérebro.

A ideia de que o transtorno mental é uma doença também é a base dos sistemas de bem-estar modernos e crucialmente importante para a aplicação da ética de trabalho moderna. As características do ‘papel doente’, descrito por Talcott Parsons, derivam da natureza das doenças como processos biológicos. As pessoas que têm uma doença têm isenções de expectativas sociais normais e direitos para cuidar e apoiar, devido ao reconhecimento de que os eventos biológicos não são (geralmente) sob o controle humano. [3]

A sociedade moderna não tem outra maneira de dispensar as pessoas de suas obrigações sociais. Embora reconheçamos que numerosos eventos da vida comum (quebra de relacionamento, perda de emprego) podem tornar difícil para as pessoas lidar com seus deveres diários, apenas um certificado médico que verifique que alguém está “doente” (o “bilhete de doença”) as autoriza para ficar livre de ter que trabalhar ou a ter assistência financeira sem a obrigação de buscar trabalho.

Não estou pretendendo dizer nada novo aqui. Szasz fez essas considerações há décadas. Não obstante, há uma tendência dentro dos círculos de saúde mental para camuflar ou evitar o problema. Os defensores do modelo “biopsicossocial” parecem sugerir que os transtornos mentais podem ser simultaneamente um processo biologicamente orientado e uma condição comportamental. Outros afirmam que os mecanismos mentais e os processos biológicos são a mesma coisa e, portanto, que se pode ter um transtorno mental ou estar doente da mesma maneira.[5] Embora o termo “transtorno mental” pareça evitar críticas ao conceito de doença mental, na realidade serve ao mesmo propósito e, portanto, “pega carona” no conceito de doença mental.

Eu simplesmente quero enfatizar que os aspectos fundamentais da sociedade ocidental dependem da equação de certos problemas sociais com enfermidades ou doenças corporais. Sem isso, os conceitos de doença mental ou transtorno mental não podem funcionar como ocorre atualmente. Eles não poderiam formar a base dos sistemas sociais que atualmente sustentam.

O que doença ou enfermidade são precisamente pensadas para ser, e se esses conceitos deveriam, ou não, incluir os problemas que chamamos de ‘doença mental’, tem consequências extremamente significativas. Acontece que esclarecer as confusões conceituais pode ter um impacto profundo na sociedade moderna.

No próximo blog desta série, vou analisar a filosofia de Wittgenstein com mais detalhes e como isso se relaciona com nossa compreensão da ‘mente’ ou do ‘mental’.

Notas de pé de página:

  1. Szasz, T. (1961) The Myth of Mental Illness: Foundations of a Theory of Personal Conduct.New York: Harper.
  2. Szasz, T. (2000). Mental disorders are not diseases. USA Today, January issue.
  3. Parsons, T. (1951). The Social System. London: Routledge and Keegan Paul.
  4.  Szasz, T. (1989). Law, Liberty and Psychiatry: an inquiry into the social uses of mental health. Syracuse, New York: Syracuse University Press.
  5. Eu estou me referindo aqui, entre outros, a Jerome Wakfield’s ‘harmful dysfunction’ hypothesis of mental disorder: Wakefield, J.C. (1992) Disorder as harmful dysfunction: a conceptual critique of DSM-III-R’s definition of mental disorder. Psychological Review, 99, 242-247.

Que Você não Critique as Nossas Drogas

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robert-whitakerUma das características principais da corrupção institucional é que uma instituição atuará regularmente de forma a promover seus próprios interesses, mesmo que isso signifique trair os princípios que deveriam governar essa instituição. No mundo dos periódicos médicos, o público assume que a revista procurará publicar artigos de pesquisa que informem sobre a segurança e a eficácia dos tratamentos, independentemente se os resultados não apoiarem crenças e práticas comuns. Além disso, o público pressupõe que uma revista publicará cartas para o editor que, quando escrito por pessoas experientes no campo, levantem questões sobre algum artigo publicado pela revista.

Tais são os ditames da ciência. Espera-se que uma revista médica promova uma discussão aberta de tratamentos, mesmo que descobertas – ou críticas – ameacem as crenças convencionais.

Em um blog publicado em 22 de setembro, Peter Gøtzsche detalhou uma carta que ele e eu apresentamos ao periódico World Psychiatry, relacionado a um artigo sobre os resultados de 10 anos de 281 pacientes noruegueses após um primeiro episódio de psicose. A taxa de mortalidade nesse estudo foi bastante alta (11%), e achamos que os autores deveriam ter relatado com detalhes sobre essas mortes em seu artigo publicado.

Não me surpreendeu essa rejeição da nossa carta. Como não acadêmico, na verdade não tenho permissão para escrever uma “carta ao editor” de um periódico médico, e embora Peter Gøtzsche tenha certamente essa posição, pensei que havia pouca chance de nossa carta ser publicada. Há uma longa história de editores de revistas de psiquiatria que rejeitam artigos que desafiam os méritos das drogas psiquiátricas de forma fundamental, ou apenas aceitam tais artigos se os resultados prejudiciais forem minimizados ou apresentados de maneira obscura. Em revistas de psiquiatria, os resumos são quase sempre escritos de forma a garantir que o senso-comum sobre drogas psiquiátricas não seja ameaçada indevidamente.

Agora, temos um novo e poderoso exemplo dessa corrupção institucional no trabalho.

Como os leitores regulares do Mad in Brasil (MIB)sabem, Donald Goff, Jeffrey Lieberman e outros publicaram recentemente uma revisão dos efeitos a longo prazo dos antipsicóticos no American Journal of Psychiatry. A conclusão deles foi que, embora não hajam boas evidências de que os antipsicóticos pioram os resultados a longo prazo, existem boas evidências que apoiam seu uso a longo prazo. Joanna Moncrieff escreveu um blog para o MIB criticando o estudo deles, assim como o blog de Miriam Larsen-Barr no Mad in America, e o meu longo ‘relatório Mad in Brasil’ sobre como a revisão deles – dada a sua apresentação tendenciosa de achados do estudo, sua seleção dos dados favoráveis e sua rejeição de evidências que apontaram os danos a longo prazo – exemplifica um estudo de caso de corrupção institucional. A revisão feita por eles foi claramente projetada para defender seus antipsicóticos, ao contrário de investigar verdadeiramente seus efeitos a longo prazo.

O estudo deles também desencadeou a submissão de pelo menos duas ‘cartas ao editor’ do American Journal of Psychiatry criticando o estudo, uma escrita por Moncrieff e Stefan Priebe, e outra por Robin Murray e cinco colegas. Embora Moncrieff possa ser conhecido no mundo da psiquiatria como uma ‘psiquiatra crítica”, o que pode haver feito com que os editores do American Journal of Psychiatry ficassem ansiosos para rejeitar a sua submissão, Murray é conhecida como uma das principais autoridades em esquizofrenia no mundo. Como tal, é difícil imaginar como a carta que ele e seus colegas enviaram poderia ser rejeitada pelos editores do American Journal of Psychiatry.

Mas foi rejeitada, assim como a carta enviada por Moncrieff e Priebe.

Eu tenho que confessar, isso não deixou de me surpreender. A rejeição da carta de Murray revelou a corrupção institucional de uma forma demasiadamente rígida: que o senhor não critique nossas drogas. Pelo menos não nas páginas do American Journal of Psychiatry.

O American Journal of Psychiatry é publicado pela American Psychiatric Association. Como o site do jornal afirma, é a ‘publicação oficial’ da associação. O site se orgulha de que seja o jornal psiquiátrico mais lido no mundo.

Como tal, este é o jornal que talvez tenha o maior impacto em pensar sobre drogas psiquiátricas. No entanto, se você procurar a declaração da missão, você vê que o objetivo do jornal não é, de fato, fornecer uma revisão científica sobre os méritos das drogas psiquiátricas. Aqui está o que os editores escrevem: “O American Journal of Psychiatry está empenhado em manter o campo da psiquiatria vibrante e relevante, ao publicar os últimos avanços no diagnóstico e tratamento de doenças mentais”.

A revista está empenhada em “manter o campo da psiquiatria vibrante”, e fazê-lo contando “avanços no diagnóstico e tratamento de doenças mentais”. Sua missão declarada é promover os interesses da aliança da psiquiatria e, dessa perspectiva, faz todo o sentido que os editores tenham rejeitado a carta de Murray e também a de Moncrieff. A rejeição de tais críticas atende à missão declarada do jornal.

Eu li a declaração de missão do jornal ao escrever este blog, e isso foi um momento de um ‘aha’. Eu não tinha percebido antes que o American Journal of Psychiatry tinha confusamente confessado esse propósito da aliança, mas pelo menos agora sabemos, com essa rejeição da carta de Murray, que a proteção dos editores dessa missão é absoluta. Eles não darão espaço para a crítica, mesmo que venha de um dos psiquiatras mais conhecidos do mundo.

Ambos, Murray e Moncrieff deram ao Mad in Brasil permissão para imprimir as cartas enviadas ao American Journal of Psychiatry. Aqui estão elas:

A carta apresentada por Robin Murray e colegas

Não descarte os efeitos adversos dos antipsicóticos de longo prazo em estudos com animais.

Robin M Murray, Anthony C Vernon, Sridhar Natesan, Jim Van Os, David Taylor, Marta Di Forti

Existe um acordo quase universal de que os antipsicóticos são úteis nos cuidados agudos das pessoas com esquizofrenia e que muitos pacientes terão de continuar a toma-los por períodos prolongados. No entanto, evidências recentes indicam que uma proporção significativa de pacientes poderá eventualmente diminuir a medicação ao mínimo ou sair das drogas sem prejudicar a sua saúde mental (1).

Em sua revisão publicada on-line nesta revista (2), Goff e colegas minimizam os danos potenciais do uso ‘profilático’ de longo prazo de antipsicóticos. Por exemplo, eles minimizam a evidência formidável de que a maioria dos antipsicóticos de segunda geração aumentam o risco de obesidade e a síndrome metabólica com todas as suas consequências (3). Além disso, eles descartam os estudos que mostram que a administração de antipsicóticos induz a perda de volume cerebral em modelos de roedores (4) e primatas (5). Goff e colegas alegam que a relevância de tais descobertas “para o tratamento da psicose é incerta, tanto por diferenças relacionadas a espécies quanto por falta de fisiopatologia da esquizofrenia. É possível que os antipsicóticos tenham efeitos prejudiciais sobre o cérebro normal, mas há os efeitos de proteção, na presença de neuropatologia relacionada com a esquizofrenia. “ Esta explicação ignora a semelhança das alterações do cérebro induzida em animais aos observados nos pacientes, com antipsicóticos longo prazo (6) . Além disso, invoca a suposição extraordinária de que existe uma “neuropatologia relacionada à esquizofrenia” que responde ao bloqueio da dopamina D2 do modo oposto ao dos cérebros do restante da humanidade.

Goff e colegas apenas abordam brevemente a extensa evidência de que, em animais, a administração antipsicótica de longo prazo induz a supersensibilidade do receptor de dopamina D2. Eles ignoram os estudos detalhados de Seeman, Kapur e seus colegas (7,8), que observaram que a exposição antipsicótica em ratos e gatos induzem um aumento no número de receptores D2, e que a supersensibilidade da dopamina resultante faz com que os antipsicóticos percam a sua eficácia ao suprimirem a locomoção induzida por anfetaminas e resposta preventiva condicionada. Mais uma vez, Goff et al. evitam a conclusão óbvia de que o bloqueio da dopamina D2 provavelmente terá um efeito semelhante no cérebro humano. Além disso, eles falham em citar os relatórios recentes de que alguns agonistas dopaminérgicos parciais, como o aripiprazole, têm menor propensão a causar supersensibilidade da dopamina e, portanto, podem ter vantagens clínicas nesse sentido (9).

Na farmacologia, estudos em animais são considerados um indicador valioso do que esperar em termos dos efeitos de uma droga em humanos. Ao argumentar que aqueles entre nós que tratam pacientes com antipsicóticos não têm nada a aprender com estudos em animais, Goff et al parecem ter adotado o credo criacionista de que seres humanos e animais foram criados de maneira totalmente separada sem sobreposição de sistemas neurais. O psiquiatra competente terá uma visão mais equilibrada e trabalhará com seus pacientes para reduzir lentamente a dose de antipsicótico, ao nível mínimo compatível com a saúde mental contínua do paciente: em uma minoria, embora uma minoria importante, esse nível será zero.

Referências:

  1. Murray RM, Quattrone D, Natesan S, et al. Should psychiatrists be more cautious about the long-term prophylactic use of antipsychotics?Br J Psychiatry2016;
209, 361–365.
  2. Goff DC, Falkai P, Fleischhacker W, et al. The Long-Term effects of antipsychotic medication on clinical course in schizophrenia.Amer J Psychiatry, AJP in Advance (doi: 10.1176/appi.ajp.2017.16091016)
  3. De Hert M, Detraux J, van Winkel R et al. Metabolic and cardiovascular adverse effects associated with antipsychotic drugs.Nature Rev. Endocrinology, 2012, 8, 114-126
  4. Vernon AC, Crum WR, Lerch JP, et al. Reduced cortical volume and elevated astrocyte density in rats chronically treated with antipsychotic drugs – linking magnetic resonance imaging findings to cellular pathology.Biol Psychiatry2014; 75, 982–90.
  5. Dorph-Petersen KA, Pierri JN, Perel JM, et al. The influence of chronic exposure to antipsychotic medications on brain size before and after tissue fixation: a comparison of haloperidol and olanzapine in macaque monkeys.Neuropsychopharmacology2005; 30, 1649–61.
  6. Vita A, De Peri L, Deste G, et al. The effect of antipsychotic treatment on cortical gray matter changes in schizophrenia: does the class matter? A meta-analysis and meta-regression of longitudinal magnetic resonance imaging studies.Biol Psychiatry2015; 78, 403–12.
  7. Samaha AN, Seeman P, Stewart J et al ‘‘Breakthrough’’ dopamine supersensitivity during ongoing antipsychotic treatment leads to treatment failure over time.J Neurosci2007; 27: 2979–2986.
  8. Ginovart N, Wilson AA, Hussey D, et al. D2-receptor upregulation is dependent upon temporal course of D2-occupancy: a longitudinal 11C- raclopride PET study in cats.Neuropsychopharmacology2009; 34: 662–71.
  9. Tadokoro S, Okamura N, Sekine Y, et al. Chronic treatment with aripiprazole prevents development of dopamine supersensitivity and potentially supersensitivity psychosis.Schizophr Bull2012; 38: 1012–20.

Conflitos:

R.M.M., J.v.O., e DT receberam honorários como palestrantes das empresas farmacêuticas Janssen, Lilly, Otsuka, Servier e Lundbeck, e M.D.F. recebeu honorários da Janssen e Lundbeck. D.T. está nos seguintes conselhos consultivos: Servier, Lundbeck e Sunovion, e recebeu financiamento de pesquisa da Janssen, Lundbeck e BMS. A ACV recebeu financiamento de pesquisa da Roche.

A carta apresentada por Joanna Moncrieff e Stefan Priebe

Os pacientes merecem mais evidências

Uma resposta a “Os efeitos a longo prazo da medicação antipsicótica em processo clínico na esquizofrenia” por D.C. Goff, P. Falkai, W.W. Fleischhacker, R. R. Girgis, R.M. Kahn, H. Uchida, J. Zhao, J.A. Lieberman

O artigo recente de Goff et al. destaca que a relação risco-benefício total do tratamento antipsicótico de longo prazo permanece incerta (1). Todos os ensaios de tratamento a longo prazo envolvem a retirada do tratamento prévio, mas a retirada antipsicótica pode induzir sintomas psicóticos e aumentar o risco de recaída, assim, confundindo os resultados. Follow-ups em longo prazo e dados sobre outros resultados também são limitados. Apenas seis dos 65 ensaios na meta-análise de Leucht et al. de 2012 duraram mais de um ano (2). O único follow-up em longo prazo de uma coorte aleatória sugere que a redução antipsicótica gradual e apoiada pode levar a um melhor funcionamento social, sem aumento em longo prazo do risco de recaída, embora os números sejam pequenos (3).

Goff et al. referem evidências usando porcentagens e meios grupais, mas os médicos são confrontados com indivíduos. Mesmo ignorando os problemas com estudos existentes, os números necessários para tratar com antipsicóticos sugerem que os pacientes individuais são mais propensos a não se beneficiar do que beneficiar. Na revisão de Leucht et al, três pacientes precisam receber antipsicóticos de manutenção para que um paciente tenha menor chance de recaída atribuível ao tratamento. Como os médicos fornecem a evidência aos pacientes dessa situação? Como a possibilidade de efeitos positivos pode ser equilibrada com a probabilidade de efeitos adversos sérios e as indicações – mesmo que não confirmadas – de encolhimento cerebral, cognição prejudicada e menor funcionamento social?

As decisões dos pacientes serão influenciadas pelas probabilidades de diferentes resultados e por suas avaliações pessoais desses resultados. Um paciente pode aceitar o risco de rehospitalização em troca da maior chance de uma vida sexual satisfatória, por exemplo, e as avaliações podem, obviamente, mudar ao longo do tempo. O desafio para a pesquisa não é chegar a uma recomendação generalizada a favor ou contra o tratamento com antipsicóticos, mas fornecer evidências mais detalhadas para facilitar a escolha informada de pacientes individuais. Se os médicos apoiam os pacientes para tomar tais decisões, um relacionamento terapêutico mais aberto e confiável pode ser estabelecido, tornando menos provável que os pacientes interrompam a medicação por conta própria.

O Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (National Institute for Research in Health) do Reino Unido financiou o primeiro grande teste de redução e descontinuação antipsicótica gradual em pessoas com condições psicóticas recorrentes, que medirão o funcionamento social e a qualidade de vida, bem como a recaída (4). Isso poderá esclarecer algumas questões sobre o tratamento antipsicótico de longo prazo. Ainda são necessários mais estudos para diferentes grupos de pacientes para fornecer os dados que os pacientes e os médicos precisam para tomar decisões informadas e colaborativas.

Goff DC, et al. The Long-Term Effects of Antipsychotic Medication on Clinical Course in Schizophrenia. Am J Psychiatry 2017 May 5;appiajp201716091016.

  1. Leucht S, Tardy M, Komossa K, Heres S, Kissling W, Davis JM. Maintenance treatment with antipsychotic drugs for schizophrenia. Cochrane Database Syst Rev 2012;5:CD008016.
  2. Wunderink L, Nieboer RM, Wiersma D, Sytema S, Nienhuis FJ. Recovery in Remitted First-Episode Psychosis at 7 Years of Follow-up of an Early Dose Reduction/Discontinuation or Maintenance Treatment Strategy: Long-term Follow-up of a 2-Year Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry 2013 70:913-20.
  3. RADAR trial ISRCTN (International Standard Randomised Controlled Trial Number) 2017 Feb 7. http://www.isrctn.com/ISRCTN90298520

Declaração de conflito de interesse:

Ambos os autores são investigadores num programa de investigação financiado pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (National Institute for Health Research) do Reino Unido, intitulado Investigação sobre Descontinuação e Redução Antipsicótica (RADAR). Os detalhes são descritos no texto e uma referência ao registro de teste é fornecida.

Nenhum o autor tem conflitos de interesse financeiros.

 

O Pensador do Poder

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Neste ensaio, Aeon, Kolin Coopman exploram o impacto e o legado de Michel Foucault.

“Era um bio-poder exercido por psiquiatras e médicos que, no século 19, transformaram a homossexualidade em uma ‘perversão’ por causa da sua incapacidade para focar a atividade sexual em torno da família reprodutiva saudável. Teria sido improvável, se não impossível, conseguir isso por atos soberanos de coerção física direta. Muito mais eficazes foram os exércitos de médicos que ajudaram a endireitar seus pacientes para o seu próprio suposto auto-interesse. “

Foucault

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) Reitera a sua Posição Histórica contra a Chamada Cura Gay. 

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O Conselho Federal de Psicologia (CFP) interpôs, na tarde desta quinta-feira (21/9), no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, agravo de instrumento contra a liminar concedida parcialmente, em 15 de setembro, pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da Seção Judiciária do Distrito Federal, relacionada à Resolução CFP 01/99.

Veja a matéria do ggn→

CFP

 

Pesquisa sobre Maconha: Superando as Barreiras

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Da APA Science Advocacy: Com um número crescente de estados nos EUA começando a legalizar o uso medicinal e / ou recreativo da maconha, é claro que é necessária mais pesquisa sobre os riscos e potenciais benefícios do medicamento. A American Psychological Association está trabalhando para uma legislação que remova algumas das principais barreiras que impedem os cientistas de buscar toda a pesquisa necessária para entender o impacto da maconha.

É hora que aqui no Brasil igualmente sejam derrubadas barreiras que impedem que tenhamos uma agenda positiva para que a ciência investigue os possíveis benefícios da maconha para a saúde.

Artigo →

Maconha

A Psiquiatria Ignora um Elefante na Sala

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peter-gotzscheAmplos estudos de coorte de pessoas em primeiro episódio de psicose fornecem uma oportunidade única para se descobrir por quê muitos jovens com distúrbios do espectro de esquizofrenia morrem em uma idade jovem. No entanto, parece que aqueles psiquiatras que têm acesso aos dados de mortalidade geralmente não querem que os fatos venham a público. Em estudos de coorte publicados, praticamente sempre há pouca informação ou nenhuma informação sobre as causas da morte.

Em 2012, Hegelstad et al. publicaram dados de um estudo de acompanhamento (‘follow-up’) de 10 anos em um grupo de 281 pacientes com psicose no primeiro episódio (estudo TIPS).[1] Embora a idade média deles quando entraram no estudo tenha sido de apenas 29 anos, 49 pacientes (17%) morreram em menos de 10 anos. O artigo detalhado dos autores era sobre a recuperação (‘recovery’) e os resultados dos sintomas; eles não estavam interessados por quê todas essas mortes, que apareceram em um fluxograma de pacientes perdidos pelo follow-up e que não mereceram qualquer comentário em seu artigo. No texto, no entanto, eles mencionaram apenas 28 mortes (11%), por isso é difícil saber como morreram.

Em 5 de março de 2017, escrevi para o primeiro autor: “Em seu interessante estudo de 2012, ‘Follow-up de longo prazo do estudo TIPS Detecção Precoce na Psicose: efeitos sobre o resultado de 10 anos’, 281 pacientes 28 morreram. Você tem as causas da morte, que seria muito interessante conhecer. Eu notei que a maioria dos pacientes ainda estava em antipsicóticos 10 anos após eles começarem (tabela 2). Considero isso muito assustador, p.e., que cerca de metade deles terá discinesia tardia (o que muitas vezes é encoberta pelo tratamento contínuo) e muitos, se não todos, terão desenvolvido danos cerebrais permanentes, para mencionar apenas dois dos danos importantes do tratamento a longo prazo. Em contraste, apenas 17% dos pacientes em Lappland [*] ainda estavam em antipsicóticos 5 anos após o primeiro episódio (contra 75% em Estocolmo)”.

Mandei um lembrete dez dias depois e recebi uma mensagem que em breve receberia uma resposta. Em 10 de maio, escrevi novamente: “Agora são mais dois meses. Você fez um estudo importante e é importante para o mundo saber de que 10% dos seus pacientes muito jovens morreram em apenas 10 anos. É uma taxa de morte assustadora. Precisamos apresentar um pedido de Liberdade de Informação para obter essa informação? ”

Hegelstad respondeu: “Estamos preparando um manuscrito detalhando as informações que você está pedindo. Será submetido a um periódico revisado por pares. Quando publicado, a informação estará prontamente disponível para todos “.

A preparação do manuscrito e sua publicação foram muito rápidas. Já em junho, o artigo estava publicado, em World Psychiatry [2].  Com essa velocidade recorde, eu me perguntei como teria sido a revisão dos pares, se houve alguma. Parecia mais uma carta ao editor, sem subtítulos, e ocupando apenas 1,5 páginas. O número de mortes já era nem 49, nem 28, mas 31.

Como as informações que eu solicitei não foram encontradas em seu artigo, Bob Whitaker e eu escrevemos uma carta ao editor da revista, o professor Mario Maj, em 16 de agosto com esta mensagem: “O relatório de Melle et al., de um estudo prospectivo de 10 anos de 281 pacientes com distúrbios do espectro de esquizofrenia, diz que 11% morreram, embora sua idade média na entrada no estudo tenha sido de apenas 29 anos. Seu estudo poderia nos dar uma visão singular de por quê tantos pacientes com esses transtornos morrem tão jovens, mas havia muito poucos detalhes em seu artigo para fornecer esse conhecimento tão necessário. Nós esperamos muito que você ajude a obter o conhecimento que Melle et al. têm em seus arquivos publicados ao tornarem pública a nossa breve carta, e que lhes peça para que respondam às questões que levantamos. Esse seria um ótimo serviço para a psiquiatria, os pacientes e para todos os outros com interesse nesta questão de vital importância “.

A nossa carta enviada foi esta:

Por que tantos jovens com distúrbios do espectro de esquizofrenia morrem tão cedo?

Melle et al. relatam que, em um estudo prospectivo de 10 anos de 281 pacientes com distúrbios do espectro de esquizofrenia, 11% morreram [1], embora a sua idade média na entrada no estudo tenha sido de apenas 29 anos.[2] Seu estudo pode nos dar uma visão única sobre o por quê de tantos pacientes com esses transtornos morrerem tão jovens, mas havia muito poucos detalhes em seu artigo para fornecer esse conhecimento tão necessário.

Melle et al. escrevem que 16 morreram por suicídio, 7 por overdoses acidentais ou outros acidentes, e 8 de doenças físicas, incluindo 3 de doenças cardiovasculares. Para tentar separar as causas iatrogênicas da morte por mortes causadas pela desordem, precisamos saber:

Quando ocorreu o suicídio? Os suicídios geralmente ocorrem cedo, depois que os pacientes deixaram o hospital[3], e às vezes são iatrogênicos. Um estudo de registro dinamarquês de 2.429 suicídios mostrou que, em comparação com as pessoas que não receberam tratamento psiquiátrico no ano anterior, o índice de taxa de suicídio ajustado foi de 44 para pessoas que foram internadas em um hospital psiquiátrico.[4] Desses pacientes, obviamente, o que se espera é que estejam em maior risco de suicídio porque estavam mais doentes do que os outros (confundindo por indicação), mas os achados foram robustos e a maioria dos vieses potenciais no estudo foi realmente conservadora, ou seja, favoreceu a hipótese nula de não haver relação. Um editorial acompanhando o estudo observou que há poucas dúvidas de que o suicídio esteja relacionado ao estigma e ao trauma e que é totalmente plausível que o estigma e o trauma inerentes ao tratamento psiquiátrico – particularmente se involuntário – possam causar suicídio.[5]

O que as overdoses acidentais e outros acidentes significam? Os médicos prescreveram uma overdose ou os pacientes por engano fizeram uma overdose, e quais os tipos de acidentes estiveram envolvidos? As drogas psicotrópicas podem levar a quedas, o que pode ser fatal, e os suicídios às vezes são mal codificados como sendo acidentes.[6]

Peter C. Gøtzsche1 and Robert Whitaker2

1 Nordic Cochrane Centre, Copenhagen, Denmark

2 Boston, United States

Conflitos de interesse: nenhum.

1. Melle I, Olav Johannesen J, Haahr UH et al. Causes and predictors of premature death in first-episode schizophrenia spectrum disorders. World Psychiatry2017;16:217-8.

2. Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry2012;169:374-80.

3. Chung DT, Ryan CJ, Hadzi-Pavlovic D et al. Suicide rates after discharge from psychiatric facilities: a systematic review and meta-analysis. JAMA Psychiatry2017;74:694-702.

4. Hjorthøj CR, Madsen T, Agerbo E et al. Risk of suicide according to level of psychiatric treatment: a nationwide nested case-control study. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2014;49:1357–65.

5. Large MM, Ryan CJ. Disturbing findings about the risk of suicide and psychiatric hospitals. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2014;49:1353–5.

6. Brown S. Excess mortality of schizophrenia. A meta-analysis. Br J Psychiatry1997;171:502-8.

Oito dias depois Maj nos disse que “infelizmente, embora sendo um assunto interessante, não é da nossa competência responder à seção de cartas”.

Cinco dias depois, respondi e disse a Maj que esperávamos que ele reconsiderasse a sua rejeição da nossa carta:

“Permita-me acrescentar que as pessoas com quem conversei em vários países sobre as mortes em jovens com esquizofrenia – psiquiatras, especialistas forenses e pacientes – concordaram que precisamos desesperadamente do tipo de informação que lhe pedimos para garantir que obtivéssemos dessa coorte valiosa de pacientes relatada por Melle et al.

Existe uma suspeita generalizada e bem fundamentada de que a razão pela qual não vimos uma descrição detalhada das causas de morte em coortes como a do estudo TIPS de Melle et al. publicado em seu periódico é que os psiquiatras priorizam a proteção dos interesses da aliança em vez de proteger os pacientes. Ao recusar a publicação da nossa carta e a obtenção dos dados que Melle et al. têm em seus arquivos, você contribui para essa suspeita. Nós pedimos previamente a um dos pesquisadores, Wenche ten Velden Hegelstad, que nos fornecesse esses dados, mas fomos informados em 10 de maio deste ano que eles seriam publicados (…). Eles não foram publicados, na medida em que o que Melle et al. publicaram em seu periódico não é um relato adequado do por quê esses jovens morreram.

Portanto, pedimos que você assegure que esses dados sejam abertos, em benefício dos pacientes. Acreditamos que é seu dever profissional e ético – tanto como editor de jornais como como médico – para que isso aconteça. Esta não é uma questão sobre a seção que você possui no jornal para cartas. É uma questão de priorização “.

Até o momento . Mas, uma vez que o TIPS foi apoiado por doações do Conselho de Pesquisa da Noruega, eu pedirei ao Conselho os dados anônimos sobre as mortes, pois isso é claramente de interesse público. TIPS também foi apoiado por Lundbeck Pharma, Eli Lilly e Janssen-Cilag Pharmaceuticals, que dificilmente estarão interessados em disponibilizar esses dados para o acesso público, por isso será interessante ver o que acontece.

Em contraste com os autores do estudo TIPS, a professora de psiquiatria Merete Nordentoft, em Copenhague, estava à disposição quando lhe perguntei sobre as causas da morte de 33 pacientes após 10 anos de seguimento no estudo OPUS, também de pacientes com um primeiro episódio psicótico.[3] Eu mencionei especificamente que os suicídios, os acidentes e a morte súbita e inexplicável podem estar relacionados à droga. Recebi uma lista das mortes e Nordentoft explicou que ninguém tinha uma causa de morte relacionada ao coração, mas que isso provavelmente era porque eles eram tão jovens. Nos certificados, ela tinha visto alguns pacientes simplesmente terem caído mortos, um deles sentado em uma cadeira.

Assim é como deve ser. A abertura é o caminho a seguir se desejarmos reduzir as muitas mortes que ocorrem em pacientes jovens tratados em saúde mental. Não deve ser necessário dizer isso, mas infelizmente existem poucos psiquiatras como o Nordentoft. Perguntei a Hegelstad sobre o número conflitante de mortes e também pedi para obter as causas da morte com mais detalhes. Até o momento nenhum retorno de Hegelstad.

Conflito de interesse: nenhum.

[1] Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry 2012;169:374-80.

[2] Melle I, Olav Johannesen J, Haahr UH et al. Causes and predictors of premature death in first-episode schizophrenia spectrum disorders. World Psychiatry 2017;16:217-8.

[3] Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry 2012;169:374-80.

[*] N.R. Lappland, região da Finlândia, onde é desenvolvida a abordagem do Diálogo-Aberto (Open Dialogue).

“FDA aprova droga para a alegria irritante”

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Publicado em The Onion: “Feito pela Pfizer, o Despondex é o primeiro medicamento destinado a tratar os sintomas de animação excessiva”.

Trechos desse vídeo:

O Dr. Alman Wei considera que a droga que ele descobriu como” Um enorme passo dado na batalha contra a exuberância. Se você está de bom humor de vez em quando, isso é normal. O remédio é para aqueles que têm uma visão positiva persistente sobre a vida”.

Nem todos estão convencidos de que Despondex é a cura para todos.

Mas o Dr. Wei não concorda com os críticos.  Ele afirma “Nós temos que acabar com o estigma associado com aquelas pessoas com uma exagerada alegria e que buscam por ajuda médica. Quero dizer, você sabe o que é estar em torno dessas pessoas? É muito irritante.”

Já dizia Lacan: “A verdade tem uma estrutura de ficção”.  Visto à distância, a “medicalização” do nosso cotidiano parece uma ficção, mas é uma verdade com a qual estamos nos acostumando a viver.

Video →­

Despondex

CARTA DE FREUD PARA A MÃE DE UM HOMOSSEXUAL

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Carta de Freud19 de abril de 1935

“Minha querida Senhora,

Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma.

Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura dos livros de Havelock Ellis.

Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos conseguimos desenvolver rudimentos das tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade de determinar o resultado do tratamento.

A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranqüilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição.”

Sigmund Freud

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Fonte: http://cdpsi.com.br/blog/index.php/2015/07/carta-de-freud-para-a-mae-de-um-homossexual/

 

Aviso Para Quem Toma Antidepressivos: Eles Aumentam o Risco de uma Morte Precoce em 33%

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Publicado em Mail Online Um estudo feito pela Universidade McMaster no Canadá analisou o impacto dos antidepressivos em quase 380.000 pessoas.  Os resultados são impactantes: os especialistas descobriram que as pessoas deprimidas sem doença cardíaca tinham 33% mais chances de morrer em qualquer período definido, por qualquer motivo, se tomassem antidepressivos em comparação com aqueles que não o fizeram.

A conclusão é que os antidepressivos fazem mais mal que o bem – e seu uso deve ser severamente reduzido.

E no Brasil, a quantidade de pessoas que tomam antidepressivos aumenta a cada ano. Um alerta!

Leia o artigo na íntegra →

Antidepressivos aumentam risco de morte

Os resultados dessa mesma pesquisa divulgados neste outro periódico →

 

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