A Cura para a Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos Pode Ser Encontrada

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LANÇAMENTO DO PRÊMIO DO RxISK

100000-dollars

DOAÇÃO

Este Prêmio é parte de um ataque em duas frentes sobre a falta de vontade dos estabelecimentos médicos e de regulamentação para ouvir as pessoas com eventos adversos em geral – não apenas as disfunções sexuais mencionadas aqui. A segunda frente no ataque será revelada dentro de algumas semanas.

O problema

A ideia de um Prêmio RxISK começou com nosso envolvimento com pacientes de Disfunção Sexual Pós-ISRS (PSSD) alguns anos atrás, e logo após pessoas com problemas comparáveis tomando Accutane e Finasteride. A motivação e a resistência dos afetados têm sido inspiração para esse movimento de âmbito internacional.

Um apagamento completo e permanente da capacidade de fazer amor entre os usuários é um dos efeitos colaterais mais debilitantes de uma droga. No caso de todas essas drogas, quando ocorre, afeta homens e mulheres, jovens e idosos, podem aparecer depois de alguns dias na droga ou somente após o tratamento parar. Pode durar décadas, talvez mais. Isso leva a suicídios, a ruptura de relacionamentos e perdas de emprego. Não há vantagem alguma com esse tratamento.

O PSSD compartilha muitas características comuns e parecem estar intimamente relacionadas com a Síndrome de Pós-Finasterida (PFS) e a Disfunção Sexual Pós-Retinoide (PRSD) desencadeadas principalmente pela isotretinoína (Accutane). A isotretinoína é tanto um inibidor da recaptação da serotonina quanto um inibidor da redutase 5-alfa (5ARI), de modo que pode dar origem a PSSD ou PFS, ou todas as três condições podem ter alguma outra coisa em comum.

Recentemente submetemos um artigo para revisão descrevendo 300 casos de PSSD, PFS e PRSD, e estamos cientes de muitos outros casos e fenômenos comparáveis acontecendo com outras drogas. Pode haver dezenas de milhares de pessoas afetadas, pois algumas evidências sugerem que menos da metade daqueles que estiveram em ISRS por meses recuperará uma função normal e completa.

Existem comunidades on-line e vinculadas a universidades pesquisando essas condições tão vigorosamente quanto a comunidade de AIDS quando passou a se envolver na busca de uma cura para a AIDS. O mais bem-sucedido destas até agora tem sido vinculado ao PFS, com os doentes que criaram uma Fundação para promover a pesquisa a respeito desta condição de saúde. A pesquisa realizada por esses grupos tem seguido todas as pistas de tratamento óbvias, mas nada até agora funcionou.

Um mistério farmacológico

Os problemas precisam ser pensados fora da caixa. Embora a serotonina e a 5-alfa redutase possam ser onde esses problemas começam, eles parecem ir além disso.

O fato de que essas condições possam aparecer após o tratamento parar e que permaneçam na ausência de qualquer medicamento no organismo há anos é extremamente importante para a ciência farmacológica. Este não é um dano simples, na medida em que muitos sofredores relatam restaurações temporárias com relação ao normal. Pode ser apenas temporário, mas o fato de que isso aconteça é tanto uma fonte de esperança quanto algo que, por si só, precisa ser explicado. Estas condições são um dos mistérios centrais da farmacologia.

É importante destrinchar o que está acontecendo, porque muitos médicos costumam estar inclinados a descartar PSSD, PRSD e, em menor medida PFS; especialmente quando tais síndromes começam depois que a pessoa interrompeu o tratamento ou quando ela persistiu por muito tempo na ausência da droga. Após estar tomando um antidepressivo, é muito fácil afirmar que o problema está todo ele na mente. No momento, os psiquiatras parecem ser os piores de todos os médicos, com os urologistas os melhores e médicos de família no meio.

Mas PSSD, PFS e PRSD não são as únicas condições em que há problemas duradouros que apenas podem aparecer após o tratamento ter parado. A discinesia tardia (TD) causada pelos antipsicóticos tem sido reconhecida desde 1959 e ninguém pensa que está tudo na mente ou que é impossível aparecer após o tratamento parar. Mas no momento, a TD não foi vinculada à PSSD, PFS ou PRSD, e cinquenta anos depois, não sabemos como isso acontece ou como curá-la.

Outro grupo de problemas que compartilham características em comum são as síndromes de abstinência ligadas a antidepressivos, antipsicóticos e agonistas da dopamina. Como PSSD ou TD, estes problemas aparecem durante ou após o tratamento e podem durar anos, até mesmo décadas.

Agora que temos uma variedade de drogas diferentes que podem desencadear esses fenômenos e podem desencadeá-los em diferentes sistemas corporais, as chances de algum farmacologista ou fisiologista ser capaz de explicar o que está acontecendo devem ser muito melhores.

Identificar os sistemas ou mecanismos de receptores envolvidos poderia transformar a farmacologia. Isso teria implicações para muitas drogas e desenvolvimento de drogas. Provavelmente haverá um Prêmio Nobel para a pessoa que puder explicar por que TD ou PSSD acontecem.

Imagem ou janela?

Você não precisa saber nada sobre os receptores para ficar fascinado por esse problema e apreciar que a imagem de um paciente com PSSD é realmente uma janela para a natureza e identidade humanas.

Muito bem, 100% das pessoas que tomam um SSRI terão algum entorpecimento genital nos 30 minutos após haver tomado a sua primeira pílula. Não sabemos o que causa isso. Este é um problema que está na frente dos narizes de milhões de pessoas. É surpreendente que não saibamos como isso acontece. Ao responder isso estaremos a meio caminho para descobrir o que acontece para fazer com que tal fenômeno perdure.

Outra coisa surpreendente é que muitas das síndromes de abstinência de drogas envolvem desde a sensação dos pés como se estivessem em chamas, há perda de olfato, equilíbrio perturbado ou outras sensações estranhas. Estas são características de uma neuropatia periférica. As neuropatias periféricas apareceram pela primeira vez em livros de texto médicos há 150 anos antes de sabermos que possuímos células cerebrais, mas ainda não sabemos nada sobre o que acontece a não ser o dia em que foram descritas pela primeira vez, mesmo assim não temos que olhar dentro do corpo para investiga-las.

Existem boas razões para pensar que há muito mais de “nós” em nossa pele e órgãos genitais e corpos do que agora estamos inclinados a pensar. Estamos em uma era dominada pelo cérebro e perdendo coisas que podem não precisar da entrada de especialistas do cérebro para serem resolvidas.

Quem atreve-se a ganhar

Não está claro que seja necessário treinamento especializado para resolver esses problemas, assim como John Harrison não tenha tido treinamento especializado quando ganhou o Prêmio de Longitude, há 300 anos.

Alguns antecedentes em biologia podem ajudar, mas mesmo sem isso você pode já ter encontrado algo que faz a diferença e simplesmente não sabia que havia lá fora tantas pessoas desesperadas para saber o que você conhece.

Você pode ser um médico ou um analista de dados que percebe que alguns pacientes que tomam outra droga simplesmente não parecem ter os mesmos problemas.

Para aqueles inteiramente neófitos nessas questões, ou aqueles com antecedentes farmacológicos ou fisiológicos, mas sem consciência dessas questões antes de agora, ou alguém que conhece algo sobre isso, mas pouco sobre a gama completa de coisas que foram tentadas sem sucesso ou que se notou oferecer benefícios temporários, o RxISK possui um portfólio de descrições e leads que podem ser disponibilizadas mediante solicitação.

O prêmio

Ao instituir um Prêmio, estamos seguindo os passos do método que levou a uma solução para o famoso problema de Longitude.

O primeiro passo é levantar US $ 100.000 para um Prêmio de Cura. Gostaríamos que tantas pessoas quanto o possível, entre aquelas que sejam afetadas ou que tenham relacionamento com alguém que é afetado, façam uma doação de US $ 200 para um fundo alvo de US $ 100.000.

Conforme mencionado, resolver esse problema provavelmente contribuirá de forma importante para resolver as síndromes de abstinência duradouras que afetam qualquer pessoa que tome antidepressivos e antipsicóticos. Cinco por cento das populações da América do Norte e da Europa, e em qualquer outro lugar em que os antidepressivos são utilizados na mesma escala, são incapazes de sair do tratamento devido a problemas de retirada – isto é, 50 milhões de pessoas apenas na América do Norte e na Europa. Cinquenta milhões de centavos seriam $ 500.000 – então um alvo de $100.000 parece mais do que alcançável.

O Prêmio será oferecido a qualquer pessoa que encontre uma cura para PSSD, PFS ou PRSD. Que poderá ser um médico, um cientista, uma empresa de medicamentos, um membro do público – qualquer um. Não há restrições.

O RxISK tem registros de vários ‘sofredores’ de cada uma dessas síndromes que possuem condições duradouras convincentes. O Prêmio será dado se alguém puder provocar uma restauração ao normal, ou muito perto disso, e que perdure em nossos voluntários.

Existem várias razões pelas quais escolhemos fazer esta iniciativa sobre a disfunção sexual em vez de outros problemas, como a retirada de antidepressivos. Principalmente porque o tempo é exatamente agora, e já existe uma base sólida para se construir as saídas. À medida que mais de um tipo de droga está envolvida, também há potencialmente um grupo maior de pessoas para abordar o problema em diferentes ângulos.

Se ninguém reivindicar o prêmio, usaremos o dinheiro para apoiar a proposta de pesquisa mais inovadora ou doar para a Fundação PFS que já está realizando algumas pesquisas de ponta.

A diferença entre um prêmio e uma bolsa de pesquisa é essa:

No caso de alguém que tenha uma cura, assumindo que não é custoso administrá-la, eles dão o prêmio aos nossos voluntários e se a cura funcionar estes reivindicam o dinheiro. Seus gastos gerais e custos serão mínimos.

Pesquisas como a que está sendo realizada para a PFS têm que recrutar talvez até 100 sujeitos e realizar uma grande quantidade de testes que devem ser pagos. Se o teste envolver exames cerebrais, isso é caro. Se envolver genes, isso significa recrutar milhares de sujeitos. Um subsídio de pesquisa, mesmo por US $ 100.000, não é muito para ajudar isso a acontecer. E no final das contas, a pesquisa pode acabar fazendo descobertas, mas não garantir que estas sejam a fonte do problema e não uma consequência.

Mas, na ausência de um vencedor do Prêmio, a Fundação PFS possuirá uma infraestrutura de pesquisa criada e achados de pesquisas que podem ser de grande importância e, assim, o dinheiro irá ser destinado para lá, ao invés de ir para qualquer outro lugar.

Quem pode doar?

Qualquer pessoa. Congratulamo-nos com as doações não apenas das pessoas afetadas por essas condições, mas de qualquer pessoa que queira ajudar. Sugerimos um mínimo de US $ 200 para alcançar nosso objetivo rapidamente, mas estamos conscientes de que o dinheiro é apertado para muitas pessoas.

Obviamente, todas as doações com mais de US $ 200 são bem-vindas, assim como as doações mensais.

Se alguém organizar uma atividade de captação de recursos / patrocinado, publicaremos detalhes no site.

Como doar

As doações podem ser feitas de uma das três maneiras:

Os contribuintes dos EUA podem fazer uma doação deduzida de impostos através da Fundação para Excelência em Saúde Mental usando este link. Certifique-se de selecionar o Prêmio RxISK quando perguntado para aonde  é a doação.

Os contribuintes do Reino Unido podem fazer uma doação dedutível por impostos através deste link.

Outros doadores podem fazer uma doação não dedutível por impostos através deste link.

Se alguém quiser configurar um fundo vinculado que apoiará doações dedutíveis em impostos em outro país, entre em contato conosco, e nós entraremos em rede com você.

Embora esta iniciativa esteja focada na disfunção sexual, acreditamos que também chama a atenção para o fato mais geral de que os pacientes possam ter efeitos colaterais persistentes após o uso de medicamentos, alguns dos quais podem mudar a vida.

Esperamos que qualquer pessoa interessada em efeitos colaterais persistentes, seja por sofrer com eles, como por ver que é provável que seja uma nova fronteira importante para a medicina, considerará este Prêmio uma causa que vale a pena apoiar.

Veja em nossas próximas postagens – Como você pode ajudar. Veja também o nosso total atual.

Diabetes Tipo 2 e Uso Antidepressivo: Existe um Link Causal?

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Publicado em EndocrinologyAdvisor: uma meta-análise recente sugere que o uso de drogas antidepressivas pode aumentar o risco de diabetes do paciente. De acordo com o investigador principal, mais de 1 milhão de casos de diabetes pode ser devido ao uso de antidepressivos concorrentes.

Artigo →

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Falando sobre Saúde Mental Após a Chacina em Las Vegas

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Publicado em Washington Post: culpar os tiroteios em massa como  “doença mental” é uma distorção dos fatos e uma maneira conveniente de esquivar uma conversa necessária sobre controle de armas.

“Não há provas de que o atirador de Las Vegas estava louco. (Eu prefiro não usar seu nome e dar-lhe publicidade, até mesmo póstuma.) Ele não teve uma história de doença mental que conhecemos, nem foi relatado comportamento que sugerisse tal condição. Ele foi claramente um homem maligno, ou pelo menos um homem que fez algo realmente malvado. Mas o mal não é louco. Se definimos a tentativa tirar a vida de um ser humano inocente como loucura, então todo assassino é louco. Caso contrário, devemos reconhecer que é um termo sem sentido que acrescenta pouco à nossa compreensão do problema “.

Artigo →

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Um Diagnóstico Psiquiátrico tem o Impacto de uma Maldição Médica?

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mcornwallNos últimos 40 anos, como terapeuta dissidente e ativista, conheci muitas pessoas que foram tão negativamente impactadas pela experiência subjetiva de receber um diagnóstico psiquiátrico altamente duradouro, que eu comecei a ver como uma rotina tão desumanizante como é a prescrição de diagnósticos é equivalente a uma maldição médica.

Uma maldição é definida como sendo: “Uma declaração solene destinada a invocar um poder sobrenatural para infligir dano ou castigo a alguém”. Claro, os profissionais de saúde mental não pretendem causar dano quando proclamam solenemente, da sua posição de autoridade médica, que uma pessoa tem um transtorno / doença psiquiátrica para toda a vida, como é definido no modelo de doença psiquiátrica do sofrimento emocional humano e codificado no DSM. Mas, uma e outra vez, eu vi as consequências desse poderoso ritual de receber e assimilar um diagnóstico de patologização para toda a vida. Esses rótulos dos modelos de doença não consideram como perdas pessoais, necessidades não atendidas, isolamento, traumas e a toxicidade social afetam nossas vidas de maneira dolorosa.

Muitas pessoas lutam por décadas, ou realmente sucumbem e tiram suas próprias vidas, por causa da dor emocional e do peso corrosivo da experiência de serem rotuladas inequivocamente. O rótulo psiquiátrico delas é reforçado, objetivamente e poderosamente, pelos prejudiciais tratamentos psiquiátricos que acompanham e seguem sempre o rótulo oficialmente decretado.

Mais uma vez, mesmo os tratamentos prejudiciais são sempre administrados com ares de benevolência, se não com uma intenção benigna. Porém, toda hospitalização, consulta clínica, prescrição escrita e entregue para medicamentos psiquiátricos, são um verificador objetivo e reforçador, em tempo real, do ‘fato’ indelével da validade do rótulo de diagnóstico, que deve ser mantido para que o tão necessário “tratamento” médico continue.

No meu artigo ao Mad in America “O Processo de Diagnóstico Psiquiátrico qualifica-se como uma Cerimônia de Degradação?”, eu descrevo as dinâmicas sociais, que permitem aos especialistas dos rituais médicos em nossa sociedade de serem investidos com o poder de mudar, permanentemente, a personalidade do ‘paciente mental’, que eles avaliam, diagnosticam e tratam.

Nesse ritual de diagnóstico / degradação, eu acredito que  uma antiga experiência humana subjetiva ocorre, com elementos que fazem com que a pessoa diagnosticada se torne o destinatário do que só pode ser descrito como uma maldição.

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Há alguns anos atrás, uma grande amiga, agora na casa dos 80 anos, estava batalhando para começar a escrever um livro sobre sua vida, o qual ela desejava escrever há décadas. Ela me contou que quando ela era uma jovem paciente de um hospital psiquiátrico falou com a sua psiquiatra sobre o desejo de escrever um livro sobre sua vida. A psiquiatra respondeu a ela: “A ideia que você tem sobre escrever um livro algum dia é uma grandiosa ilusão, é um sintoma do seu transtorno mental!” Minha amiga me perguntou, “Você acha que a fala dela, dita há tanto tempo atrás, possivelmente ainda esteja me bloqueando, Michael? Eu lembro do horrível sentimento que senti ao escutar ela me dizer que era só uma grandiosa ilusão do meu transtorno mental. Eu comecei a escrever meu livro, e parece que sempre, por alguma razão, algo me faz parar de tentar escrever. “

Eu repliquei, “Ela lhe amaldiçoou.”

Os olhos da minha amiga se arregalaram e seu queixo caiu, enquanto ela perguntava, “O que você disse?”

Respondi: “Eu disse que ela amaldiçoou você. Eu acredito que ela lhe deu o equivalente a uma maldição médica a partir da sua posição de autoridade, com um enorme poder sobre você, e por causa da crença dela que só ela sabia a verdade sobre as suas capacidades.  Ela acreditava que você deveria ser megalomaníaca, na medida em que ela sempre viu você como prejudicada e doente mental, devido ao diagnóstico que ela lhe deu. “

Minha amiga então, chorou suavemente enquanto sacudia a sua cabeça, e dizia repetidamente, “Ela me me amaldiçoou. Ela realmente me amaldiçoou.”

E finalmente ela disse veementemente, “Eu vou escrever essa droga de livro agora nem que seja a última coisa que eu faça!”

Eu não acho que nós possamos subestimar o extraordinário poder de receber tais anúncios sobre nossa personalidade, por pessoas autorizadas pela nossa cultura a servirem de árbitros da verdade. Bem como o poder sacerdotal de seus predecessores, quem amaldiçoavam rotundamente aqueles que eles acreditavam merecer tais consequências.

Parte da distorção, confusão e mistificação da experiência que RD Laing descreveu, acontece quando nós somos pegos em um vínculo recebendo duas mensagens contraditórias sobre nós próprios que são enviadas por outras pessoas, ajudando a criar uma áurea sombria da maldição médica quando somos rotulados.

Este duplo vínculo insustentável ocorre quando, em essência, nos é dito com bondade: “Eu sou um profissional médico que só tem as melhores intenções no coração, assim como tantos médicos, enfermeiras e profissionais de saúde, que ajudaram você desde que era um bebê e uma criança pequena. Baseado no meu treinamento e na melhor ciência medica atual, você precisa reconhecer que agora você está diagnosticada com um importante transtorno mental ou uma desordem psiquiátrica, principalmente por causas genéticas, biológicas e neurológicas. Quando nós hospitalizarmos você de novo, contra sua vontade, forçando injeções de drogas poderosas dentro do seu corpo, novamente contra a sua vontade, enquanto você está imobilizado por várias amarras de couro, tudo isso será sempre para o seu próprio bem. Sua raiva, medo e tristeza, que você expressa em resposta à nossa necessária intervenção, são manifestações sintomáticas e emocionalmente desafiadoras da sua doença mental, estamos fazemos o melhor para tratar você, assim como nós tratamos alguém que tem diabete, ou alguma outra doença ou transtorno. “

Em outras palavras, a mensagem diz: “Nós cuidamos de você até mesmo quando lhe machucamos, e você não consegue aceitar isso por causa da sua doença, o que nos obriga a continuar lhe machucando indefinidamente, enquanto seguimos cuidando continuamente de você. “

Eu acho que a natureza humana é regredida e se sente muito vulnerável, quando estamos assustados e isolados, e as figuras quase parentais que os médicos, enfermeiros e outros profissioanis da saúde mental, se tornam em nossas horas de necessidade, contribuem para que tomemos suas palavras como verdade.

Mas esse processo de internalização também pode nos destruir. Porque eles estão errados sobre o que está causando, e causou, o nosso sofrimento emocional.

Eles não sabem que estão errados, então eles se entregam como cuidadores profissionais apenas querendo o que é melhor para nós, porque acreditam que eles sabem o que é melhor. Tragicamente, suas opiniões grosseiramente falsas, que eles nos impõem, podem se tornar tão destrutivamente poderosas como se tivessem nos amaldiçoado.

Seria muito melhor, porque poderíamos entender isso, se a maldição médica fosse dada com eles grunhindo em fúria e condenação, em vez de serem dadas com seus rostos profissionais, plácidos e profissionais – parece que muitas vezes, sem o conhecimento de si e geralmente sem conhcer-nos , estão expressando fascismo amigável.

Em memória do querido Matt Stevenson, blogueiro da comunidade Mad e companheiro com um coração grande.

 

Mergulho em um Caso de Memória Reprimida ou Manipulada

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Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian

Matéria publicada no The Guardian nesta semana. Trata-se do caso de Nicole Kluemper, um dos casos mais controversos na psicologia moderna: a memória (ou suposta memória) de haver sido abusada por sua mãe quando tinha quatro anos de idade.

O casamento de seus pais havia se quebrado em meses após o seu nascimento. Mas o divórcio de seus pais foi brutal e longo, com a batalha pela custódia que se prolongava ao longo dos anos. Em 1984, para criar provas para audiências judiciais, um psiquiatra chamado David Corwin filmou entrevistas com Kluemper. Ela tinha 6 anos de idade. E ela diz que sua mãe abusava sexualmente dela. Como consequência, seu pai ganhou na justiça a guarda de sua filha, a Nicole.

O vídeo passa a ser material de ensino para a carreira do psiquiatra que a entrevistou:  David Corwin. “Mais um caso de abuso de uma criança.” O que se sabe que infelizmente é que ocorre com uma frequência nada pouco significativa. Independente do gênero dos pais.

A pesquisadora Elizabeth Lotus, em seu doutorado, em Stanford University,havia se  debruçado sobre a problemática da ‘memória’ de eventos passados, com particular atenção ao que vinha ocorrendo nos Estados Unidos, em que  ‘memórias falsas’ haviam condenado equivocadamente pais por supostos abusos sexuais. Elizabeth entrevistará a Nicole e passa a usar o seu caso como ‘falsa memória’.  O que impactará a vida de Nicole, evidentemente.

E o que será da Nicole desde de então?  Nicole construiu a sua identidade tendo esse componente básico: sua mãe abusou sexualmente dela.  E se esse significante-mestre, como diria Lacan, não passa então de ser imaginário?

Eis aí um interessante problema para quem trabalha (ou se interessa) pelo campo da construção da subjetividade e o papel dos profissionais de saúde mental. A construção da ‘narrativa de vida’.  Algo de uma enorme complexidade, que evidentemente não admite simplificações.

Eis ái o artigo na íntegra.

Artigo ⇒

 Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian
Nicole Kluemper. Photograph: Steve Schofield for the Guardian

Antidepressivos Aumentam o Risco de Morte

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Photo Credit: Flickr

Peter SimonsNova pesquisa, liderada por Paul Andrews na McMaster University, sugere que o uso de antidepressivos (AD) está associado ao aumento do risco de morte por qualquer causa, além de aumentar o risco de problemas cardíacos. Os TCAs mais antigos (antidepressivos tricíclicos) e os novos ISRS / IRSN (inibidores seletivos da recaptação da serotonina / inibidores da serotonina-norepinefrina) tiveram esse efeito, assim como outros medicamentos como os inibidores da MAO (monoamina oxidase).

Segundo Andrews, “nas amostras da população em geral, as ADs aumentaram o risco de mortalidade em 33% e o risco de experimentar um evento cardiovascular em 14%”.

 

Photo Credit: Flickr
Photo Credit: Flickr

Outros pesquisadores propuseram que aqueles em antidepressivos possam ter uma depressão mais grave, aumentando o risco de morte independentemente se eles tomaram essas drogas ou não. No entanto, quando Andrews e seus colegas controlaram a depressão pré-medicação, o que eles descobriram foi que o risco aumentou. Quando a depressão pré-medicação foi contabilizada, os TCAs aumentaram o risco de morte em 26% e os ISRSs aumentaram o risco de mortalidade em 49%. Os medicamentos classificados como ‘outros’ (como bupropiona, mirtazapina, trazodona e inibidores de MAO) geraram um risco aumentado de 75% de morte.

Este achado é particularmente preocupante à luz da literatura de pesquisa que repetidamente vem questionando a eficácia dos medicamentos antidepressivos. Na verdade, Andrews escreve que “uma possível explicação é que o uso de AD só leva à uma redução transitória nos sintomas depressivos […] sintomas depressivos sob uso prolongado de AD (ou seja, meses ou mais) são maiores do que seriam sem medicação”.

Andrews e seus colegas explicam as maneiras pelas quais os antidepressivos afetam sistemas amplos em todo o corpo.

“Embora cada AD provavelmente tenha um perfil de sintoma distinto, há boas razões para suspeitar que todos eles degradam o funcionamento de alguns processos adaptativos no corpo”.

Os TCAs afetam principalmente os sistemas de norepinefrina e dopamina. De acordo com os pesquisadores, “Norepinefrina afeta o sistema nervoso simpático e partes do cérebro que envolvem atenção e excitação. A dopamina tem efeitos amplos, incluindo funções imunológicas, endócrinas, renais, gastrointestinais e pancreáticas, bem como a regulação do peso corporal e o tempo de vida saudável”.

Por sua vez, os ISRS / IRSNs afetam principalmente o sistema de serotonina, que é responsável por inúmeros processos corporais.

“A serotonina regula o crescimento, desenvolvimento, reprodução, atividade neuronal, digestão, função imunológica, termorregulação, reparo de tecidos, manutenção, equilíbrio de eletrólitos, função mitocondrial, e armazenamento, mobilização e distribuição de recursos energéticos. Ao bloquear o transportador no cérebro e na periferia, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que são os ADs mais amplamente prescritos, poderem potencialmente degradar inúmeros processos adaptativos”.

A pesquisa foi publicada na revista Psychotherapy and Psychosomatics. Andrews e os outros pesquisadores realizaram uma meta-análise para examinar todos os ensaios relevantes de medicamentos antidepressivos que relataram estatísticas detalhadas sobre a mortalidade e controlados para potenciais fatores de confusão. Dos 16 estudos incluídos na meta-análise, 11 examinaram principalmente pacientes cardiovasculares, enquanto os 5 restantes não. O número total de participantes foi de 378.400, dos quais 140.787 estavam tomando medicamentos antidepressivos.

Curiosamente, o uso de AD não parece aumentar o risco de pacientes que já tenham problemas cardíacos graves. Em alguns estudos anteriores, os antidepressivos demonstraram melhorar a mortalidade em pacientes cardiovasculares.

Os pesquisadores explicam que os ISRS e TCAs têm um efeito anticoagulante, o que pode ser bastante útil para as pessoas com problemas cardiovasculares. No entanto, eles observam que esse mesmo efeito pode ser problemático para a população em geral. Para a pessoa média, “ADs podem inibir a coagulação e assim aumentar o risco de eventos cardiovasculares, particularmente aqueles associados à hemorragia anormal (AVC hemorrágico, por exemplo)”.

Os pesquisadores sugerem que os médicos devem tomar muitos cuidados antes de prescrever ADs.

“Quando o paciente não tem doença cardiovascular, nossos resultados sugerem que o médico deve pensar duas vezes antes da prescrição, porque os ADs aumentam os riscos para a saúde, incluindo o risco de morte”.

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Maslej, M. M., Bolker, B. M., Russell, M. J., Eaton, K., Durisko, Z., Hollon, S. D. . . . Andrews, P. W. (2017). The mortality and myocardial effects of antidepressants are moderated by preexisting cardiovascular disease: A meta-analysis. Psychotherapy & Psychosomatics, 86(5), 268-282. DOI: 10.1159/000477940 (Link)

XVII Congresso Mundial de Psiquiatria, Berlim

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fernando_foto_definitivaNos dias 8 a 12 de outubro, em Berlim, está ocorrendo o XVII Congresso Mundial de Psiquiatria. O tema geral é bastante sugestivo,  A Psiquiatria no Século XXI: Contexto, Controvérsias e Compromisso.

É com grande satisfação que tenho recebido mensagens de vários colegas da nossa comunidade do Mad – militantes do movimento de ex-usuários, profissionais de saúde mental e intelectuais, da Europa, Estados Unidos e Canadá – felizes por estarem indo à Berlin para participar desse Congresso; sobretudo para a mesa-redonda intitulada ‘Retirada dos Psicotrópicos”. Entre os palestrantes dessa mesa-redonda estão Peter Lehmann, quem irá coordenar, Laura Delano e Peter Gotzsche.  Laura estará entre nós daqui a duas semanas, para o nosso Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas, Causas, Danos e Alternativas.

Para que melhor se tenha uma ideia da problemática que será abordada em nosso Seminário, certamente é do interesse de todos – inscritos no Seminário e o público em geral – ter mais uma vez uma ideia do que hoje vem sendo discutido internacionalmente a respeito da problemática das drogas psiquiátricas. Em um blog anterior apresentei a experiência de Soteria, uma abordagem de tratamento de pessoas vivendo a experiência de surto ou de grave crise psicológica, que foi desenvolvida no início dos 70 nos Estados Unidos, cujas principais características é o tratamento dado primariamente por não-profissionais de saúde e sem uso (ou o mínimo indispensável) de drogas psiquiátricas. Seus resultados surpreendentes têm sido objeto do escrutínio científico há décadas. Infelizmente, aqui no Brasil muito pouco ainda se sabe a respeito de experiências como a de Soteria, o que tem contribuído para que a nossa assistência em saúde mental seja quase que absolutamente dependente do modelo biomédico da Medicina mental, assim como criado obstáculos incontornáveis para que a eficácia das abordagens de natureza psicossocial seja implementada.

O Mad in Brasil vem sistematicamente disponibilizado em suas páginas postagens à respeito dos danos das drogas psiquiátricas e diferentes iniciativas para interromper o seu uso de forma segura, viável e com o mínimo possível de sofrimento.  O debate ganha força internacional, e não é por acaso que o Congresso Mundial de Psiquiatria está dando espaço para a discussão dessas problemática.

É interessante se observar como foi desenhada essa mesa-redonda da qual a Laura Delano está participando. Por isso estou apresentando o seu programa, com tradução do resumo do que será colocado por cada palestrante. Mais importante do que a importância internacional dos palestrantes é ao meu ver o conteúdo do que cada um irá apresentar.

 

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Withdrawal from psychotropics (A Retirada dos Psicotrópicos)


11.10.2017 | 15:15 – 16:45 | Hall Berlin 1

Peter Lehmann, Berlin

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Leia o resumo:

Os medicamentos em psiquiatria, como na medicina geral, devem atingir uma síndrome específica para um período de tratamento definido, e devem ser reduzidos ou encerrados após algum tempo. Os pacientes podem preferir suporte não farmacológico para aliviar problemas mentais. No entanto, há uma falta de diretrizes sobre como reduzir a medicação e uma preocupação crescente de que medicamentos farmacêuticos podem causar sintomas de abstinência com diferentes graus de nocividade. Vemos um fosso crescente entre o conhecimento sobre os problemas de abstinência associados aos antidepressivos e neurolépticos e o suporte existente para a retirada.
Que conclusões podem ser extraídas? Quais formas de suporte, o da Internet incluído, já existentes? Quem está educando sobre estratégias de redução de risco para a retirada? As diretrizes de melhores práticas não deveriam exigir que os profissionais tentem rotineiramente retirar os pacientes das drogas psiquiátricas? Seria apropriado falar sobre a dependência física de antidepressivos e neurolépticos mesmo quando não há vício (craving)? Os pacientes a quem não são oferecidas oportunidades para reduzir ou retirar medicamentos psiquiátricos podem reclamar na justiça pelos danos sofridos?


Co-Chair

Andreas Heinz, Berlin


Speaker (palestrante)

Peter C. Gøtzsche, Copenhagen, Denmark

001 –International institute for psychiatric drug withdrawal

(Instituto Internacional para a Retirada das Drogas Psiquiátricas)

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Leia o Resumo

Em outubro de 2016, onze pessoas de sete países incluindo ex-pacientes, psiquiatras, psicólogos, terapeutas e cientistas, decidiram abrir um Instituto Internacional para a Retirada de Drogas Psiquiátricas, reconhecendo que muitos milhões de pacientes tornaram-se dependentes de drogas psiquiátricas e têm dificuldade em sair delas, o que leva a resultados pobres a longo prazo, com taxas crescentes de pensões por invalidez. É um dos maiores problemas de saúde que temos, mas muito pouco é feito para ajudar esses pacientes a reduzir suas drogas com segurança. Infelizmente, alguns profissionais de saúde acreditam que a dependência é apenas um problema com os benzodiazepínicos, embora tenha sido amplamente documentado que este também é um grande problema para outras classes de drogas psiquiátricas, por exemplo, também para antidepressivos e antipsicóticos. Pesquisa, educação e a criação de clínicas de retirada e linhas de ajuda são algumas das iniciativas que vamos realizar e apoiar em todo o mundo.


Speaker (palestrante)

Tom Bschor, Berlin

002 –Do antidepressants cause dependence? A comparison to benzodiazepines with special regard to withdrawal reactions

(Os antidepressivos causam dependência? Uma comparação com os benzodiazipínicos com especial atenção para as reações à retirada)

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Leia o resumo

Apenas cerca de 20 anos após a introdução no mercado, foi amplamente aceito que os benzodiazepínicos podem causar dependência. Além de outros sintomas, reações acentuadas de abstinência, muitas vezes obrigando o indivíduo a voltar a fazer uso da droga, ilustram o poder viciante dos benzodiazepínicos. Nos últimos 20 anos, ocorreu um aumento acentuado das prescrições de antidepressivos. Igualmente reações de abstinência severas ocorrem após a cessação dos antidepressivos, com muita frequência, mas não apenas, após o término dos ISRSs. Essas reações também impedem as tentativas de parar a medicação. Sendo uma característica distinta, os sintomas de abstinência não são simplesmente o retorno da depressão pré-tratamento. Uma característica é o seu desaparecimento imediato após a re-administração do antidepressivo.
Alguns especialistas argumentam que essas reações de retirada são indicativas da dependência aos antidepressivos. No entanto, a dependência é uma doença caracterizada por um conjunto de mudanças físicas e psicológicas. O que se segue pode ser observado em pacientes dependentes de benzodiazepina, mas não em pacientes com antidepressivos: ingestão para experimentar um efeito imediato; aumento da dose, tolerância e ingestão várias vezes ao dia; negligência progressiva de prazeres ou interesses alternativos, devido ao uso de substâncias psicoativas; maior quantidade de tempo necessário para obter ou armazenar o medicamento; formas ilegais de obter a droga (dificilmente existe qualquer mercado negro de antidepressivos).
Diagnosticar a dependência pela ocorrência de uma reação de retirada apenas ignoraria as dimensões psicológicas da dependência. Por isso, os antidepressivos geralmente causam sintomas de abstinência, mas geralmente não a dependência como a da benzodiazepina. Os antidepressivos têm uma latência de início do efeito desejado, que normalmente é uma desvantagem dessa classe de fármacos. No entanto, a falta de um efeito imediato dos antidepressivos é provavelmente o fator mais importante que evita a dependência.


Speaker (palestrante)

Volkmar Aderhold, Greifswald

003 –The withdrawal of neuroleptics: When to do so? How? When not to do so? What then?  

(A retirada dos neurolépticos: Quando fazer isso? Como? E quando não proceder dessa forma?)

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Objetivo

Estudos de longo prazo de pessoas que experimentam seus primeiros ou múltiplos episódios de psicose sugerem que entre 20% e 35% podem se retirar com sucesso dos neurolépticos no curto e longo prazos. Sob condições ideais de apoio social e orientação profissional, pode-se esperar uma maior proporção. Estudos de longo prazo da era pré-neuroléptica também apóiam essa conclusão.
Surpreendentemente, não há estudos de descontinuação nos 15-20% dos pacientes que não respondem aos neurolépticos.

Métodos

Avaliação de publicações conforme a pesquisa bibliográfica.
Experiência clínica.

Resultados / Discussão

As tentativas guiadas de antecipação da retirada são benéficas devido às alterações cerebrais adversas causadas por neurolépticos e também servem para atingir a menor dose possível. <BR> A não conformidade aos neurolépticos é consistentemente alta (entre 50% e 75%). Isso geralmente é uma reação a fortes efeitos colaterais e baixa eficácia, e tende a resultar em tentativas de retirada profissionalmente não guiadas e, muitas vezes, perigosas. O que é necessário, portanto, é o desenvolvimento de uma prática cooperativa de redução e retirada, de modo a não deixar pessoas e familiares afetados por conta própria, expostos a altos riscos assim como a tensões físicas e psicológicas. Precisamos de equipes de pacientes ambulatoriais multiprofissionais, incluindo especialistas com experiência e ex-pacientes, que tenham a habilidade para ajudar as pessoas a reduzir / retirar, além de outras práticas psicoterapêuticas efetivas. <BR> Previsores positivos de retirada bem-sucedida nos poucos estudos existentes podem nos ajude a julgar a viabilidade de retirada / redução. O apoio social é um dos preditores centrais. Além disso, os preditores negativos, bem como as contra-indicações para a retirada, podem ser identificados. <BR> Dúvidas que precisam de esclarecimentos, bem como as etapas recomendadas na preparação de uma tentativa de retirada, serão apresentadas Em seguida, será descrito um procedimento de redução, bem como fenômenos que podem ocorrer ao se reduzir / retirar os neurolépticos. Através dessa prática, podemos aprender mais sobre as diferentes estratégias farmacológicas necessárias para o tratamento da síndrome muito heterogênea (em causa e curso) chamada “esquizofrenia” e desenvolver a melhor cooperação possível com todos os afetados.


Speaker (palestrante)

Laura Delano, Medford, MA, USA

004 –Start low, go slow – bridging the divide between the lack of clinical research on safe psychiatric drug withdrawal protocols and the growing evidence base of successful tapering methodologies by users of psychiatric drugs  

(Comece lentamente, avance devagar – colmatando o fosso entre a pesquisa clínica sobre protocolos seguros de retirada de drogas psiquiátricas e a crescente base de evidências de metodologias de redução bem sucedida criadas por usuários de drogas psiquiátricas.)

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Os usuários de drogas psiquiátricas estão desenvolvendo sofisticados protocolos de redução gradativa de drogas psiquiátricas que estão produzindo resultados positivos – inclusive entre aqueles que estiveram em várias drogas por muitos anos. Esta apresentação elucidará essa base de evidências anedóticas crescentes, ricas, mas não reconhecidas “oficialmente”, de metodologias de redução gradativa, para provocar uma conversa sobre como poderemos criar pontes entre aqueles que vieram de drogas psiquiátricas e ajudaram outras pessoas a fazê-lo de forma segura e exitosa e os profissionais psiquiatras.

 

Como Deveríamos Pensar os Estados Mentais? A contribuição de Wittgenstein

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O segundo de uma série de blogs que apresentam uma análise filosófica do moderno sistema de saúde mental e o que está em causa nele.

Wittgenstein-211x300Existem duas abordagens amplas para o ‘mental que as ideias de Wittgenstein desafiam.  Uma delas é que todos os nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos são causados por, ou são ‘epifenômenos’ de, um estado ou processo específico do cérebro. Isso às vezes é referido como “fisicalismo” (o ‘epifenomenalismo’ sendo uma variante do fisicalismo). Para esta visão – aquela em que a neurociência está baseada – os estados cerebrais que estão por trás das sensações e comportamentos são o que é primário e importante. Assim como para entender com precisão o comportamento da água necessitamos conhecer a sua estrutura molecular, para entender o comportamento humano precisamos identificar os estados cerebrais que o produzem.

A segunda abordagem para a compreensão da experiência humana é a ‘psicológica’. Com isso quero dizer a ideia de que os eventos e comportamentos mentais podem ser estudados e teorizados por seu próprio direito, sem referência nem ao cérebro nem ao indivíduo que os possui. De acordo com esta visão, os estados mentais têm características independentes que podem ser categorizadas, comparadas e manipuladas experimentalmente, assim como as coisas materiais no mundo, como minerais ou plantas.

Embora Wittgenstein não tenha negado que tenhamos experiências pessoais, por exemplo dor ou tristeza ou culpa, algumas das quais nos referimos como estados mentais ou psicológicos, o que ele ressaltou é que entendemos essas experiências pelo modo como as expressamos. Nós nos expressamos através de palavras, gestos e ações, que por sua vez derivam seu significado pela maneira como são usados em um contexto público e social.

Philosophical-Investigations-194x300Em Investigações Filosóficas, Wittgenstein dá o exemplo da dor. Embora a dor seja uma experiência pessoal ou subjetiva, expressamos dor através de respostas bem reconhecidas, que são automáticas ou involuntárias (recuando do estímulo doloroso, chorando) e voluntárias (implorando a alguém para parar de fazer o que for que está provocando a dor). Esses comportamentos e enunciados são reconhecidos como manifestações de dor por outras pessoas quando ocorrem em circunstâncias particulares (como alguém que caiu ou feriu o dedo). Se alguém está gritando, mas nenhum estímulo doloroso é aparente, podemos duvidar se seu comportamento é uma manifestação de dor, mesmo que afirme que o é.

Pense em uma criança pequena que aprende que expressar dor vai trazer amor e atenção de um adulto! O que está em questão é que são as manifestações públicas da dor e seu contexto particular que constituem nossa compreensão imediata e comum da dor, não a experiência ‘interna’ ou pessoal dela e nem o que for que aconteça na área dolorosa ou no cérebro ou no sistema nervoso. O significado da dor é como usamos a palavra na linguagem do cotidiano.[1]

No entanto, nós podemos investigar a base neural da dor e os processos corporais locais que a produzem. Esta é uma atividade perfeitamente legítima, mas não revela o significado da dor. Ela revela a base corporal da dor, mas não a forma como entendemos o fenômeno da dor na vida cotidiana.

O filósofo wittgensteiniano Peter Hacker descreveu como as emoções e os estados de espírito também são entendidos através de expressões públicas específicas, que constituem o critério de atribuir um estado emocional a alguém[2]. Algumas emoções são demonstradas por uma reação imediata, como um sorriso ou uma expressão de surpresa, e algumas, como tristeza, pesar ou ansiedade, por padrões de comportamento mais duradouros. Implícito na maior parte da linguagem da emoção é a ideia de que o sentimento é uma reação a alguém ou a alguma coisa. O amor, o ódio e a ira muitas vezes têm como objeto outro ser vivo. Surpresa e prazer são geralmente reações imediatas a eventos próximos. Tristeza, medo, culpa, vergonha e felicidade são reações menos imediatas, mas também normalmente entendidas como respostas a algo que aconteceu, está acontecendo ou pode acontecer com alguém. Parte do contexto da linguagem emocional é o objeto ou os eventos para os quais a emoção é dirigida.

Reconhecemos tristeza quando alguém nos diz que está triste, quando alguém parece triste e se comporta de maneira triste, e geralmente isso envolve explicar o que os deixou tristes. Essas coisas são necessárias para se entender e aceitar que alguém está triste. Se alguém diz que está triste, mas tem um grande sorriso no rosto, e continua a rir e a agir de forma alegre e animada, não entendemos porque alega que está triste. Da mesma forma, se alguém diz que está triste, mas não pode explicar o porquê, nós não necessariamente o desacreditamos, mas provavelmente acharemos a sua afirmação mais difícil de se aceitar do que se ele nos dissesse que está triste porque seu gato foi atropelado.

Como Rom Harré (outro filósofo muito influenciado por Wittgenstein) apontou, as emoções são diferentes das respostas fisiológicas, como dor ou fome, que são principalmente experimentadas no corpo. As emoções podem estar associadas a sensações corporais particulares, mas não são redutíveis a essas sensações [3]. Portanto, ao contrário da dor, não é claro que as emoções possuam correlatos físicos específicos. Na verdade, as evidências sugerem que não. Vários tipos diferentes de emoção; medo, ansiedade, raiva e euforia, por exemplo, estão associados ao estado fisiológico de excitação que está associado à liberação de substâncias químicas como a adrenalina e a noradrenalina (às vezes referida como a resposta “luta ou voo“). Este estado fisiológico e suas características bioquímicas, portanto, não são específicas de uma emoção particular, mas sim atravessam vários tipos de resposta emocional.

Mesmo que encontrássemos um estado específico do cérebro que se correlacionasse perfeitamente com a experiência do medo, e outro que estaria presente sempre que alguém sente alegria ou piedade, os estados cerebrais não são o que entendemos como emoção na vida cotidiana. Não são cérebros que sentem medo, piedade e alegria, são pessoas. As emoções são atributos das pessoas que vivem e atuam dentro de um mundo social ou público.

Então, o que isso significa para o estudo do domínio “mental”, incluindo as situações que chamamos de ‘transtornos mentais’? Isso significa que as entendemos através das expressões públicas pelas quais se manifestam. É assim como se refere a nossa linguagem de estados mentais e emoções. Refere-se às ações voluntárias e involuntárias, publicamente disponíveis, de pessoas vivas inteiras que estão ativamente envolvidas no mundo social e material.

Que se tome a depressão por exemplo, ou a tristeza prolongada ou a melancolia ou o desânimo (o termo depressão tornou-se tão fortemente associado hoje em dia com a abordagem psiquiátrica, que às vezes é melhor usar outras palavras para esclarecer o que queremos dizer quando pensamos sobre esse tipo de estado emocional) . Existem vários padrões de comportamento que podemos associar a essa emoção tão amplamente concebida. Alguém pode ir para a cama e deixar de lado as suas atividades cotidianas. Alguém pode estar chorando muito e exibindo sinais óbvios de angústia. Alguém pode se preocupar com uma visão negativa e pessimista do mundo. Geralmente, o uso de tais termos implica em uma mudança: que alguém anteriormente agia normalmente e então passou a agir de forma deprimida.

O ponto importante é que o tipo de comportamentos que associamos à depressão não são sinais ou sintomas de uma doença cerebral subjacente ou constructo mental. Quando nos referimos a alguém como “deprimido”, mesmo quando fazemos isso como psiquiatras conforme à estrutura de sistemas de diagnóstico, como o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM), não estamos identificando a natureza real de seu sistema nervoso ou como está construído o seu mental. Estamos nos referindo aos tipos de comportamentos[4] que as pessoas estão exibindo, e como normalmente os interpretamos. A depressão é apenas os comportamentos que entendemos como expressão de depressão.

O etnometodólogo Jeff Coulter tem escrito sobre as características da expressão de psicose ou loucura. Coulter explica que a loucura é atribuída quando alguém age de uma forma que não é facilmente compreensível e quebra as regras não escritas de conduta social, como comportar-se imprevisivelmente ou não realizar tarefas esperadas. Seguindo Wittgenstein, Coulter enfatiza que a loucura, como outros estados mentais, é reconhecida e atribuída pela comunidade em resposta a padrões públicos de comportamento e não é algo oculto que só pode ser detectado pelos especialistas [5].

Portanto, o ponto importante que Wittgenstein faz é que os estados mentais, incluindo distúrbios mentais, como depressão ou psicose, não são apenas eventos primários ou privados – sejam eles considerados eventos cerebrais ou eventos em uma mente abstrata. Reconhecemos e identificamos essas situações através do tipo de comportamentos e reações que as pessoas exibem publicamente e do contexto em que elas ocorrem. Nem os cérebros nem as mentes estão deprimidos, ansiosos ou psicóticos – as pessoas reais estão, em situações sociais reais!

Estudar transtornos mentais como se fossem condições de mentes individuais ou cérebros, portanto, é perder o que de fato elas são. Precisamos compreendê-las a nível social, como problemas que aparecem em grupos ou contextos sociais. No entanto, nossos atuais serviços de saúde mental são configurados para ajustar cérebros ou mentes individuais, como se isso pudesse resolver o problema. Mas o problema reside na interação do comportamento de uma pessoa com seu ambiente social, que inclui as expectativas sociais de como as pessoas devem se comportar.

Isso sugere que às vezes pode ser o ambiente que precisa ser corrigido e não o indivíduo. Tomemos como exemplo o chamado “Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade”. Muitas pessoas vêm apontando que, em vez de ajustar o comportamento das crianças individuais através de produtos químicos modificadores do cérebro, devemos elaborar um sistema de educação que acomode uma gama mais ampla de trajetórias de desenvolvimento; um sistema que seja mais capaz de lidar com crianças que necessitem de mais atividade física e estimulação do que a criança média da sua idade.[6]

Outros ‘transtornos mentais’ também atuam como barômetros que revelam os atritos e as tensões de nossas instituições sociais. Se reconhecermos isso, poderemos imaginar outras formas de organizar a sociedade que possam tornar os ‘transtornos mentais’ menos prevalentes ou menos problemáticos.

Referências Bibliográficas Citadas:

[1] Wittgenstein, L. (2014). Investigações Filosóficas. Petrópolis: Editora Vozes.

[2] O filósofo de Oxford, Peter Hacker, aplicou a análise de Wittgenstein ao domínio das emoções: Hacker, P.M.S. (2004) The conceptual framework for the investigation of the emotions. International Review of Psychiatry, 16, 199-208.

[3]  Harré, R. Editor, (1986) The Social Construction of Emotions, New York: Blackwell.

[4]  Behaviorismo, também conhecido entre nós por ‘comportamentalismo’, é a escola que alinha o comportamento humano com comportamento animal instintivo ou reflexos neurológicos, trouxe confusão ao uso do termo ‘comportamento’, de modo que alguns escritores agora o evitam, escolhendo termos como “funcionamento”. Eu escolhi ficar com ‘comportamento’ em seu sentido comum, isto é, como indicando atividade humana auto-iniciada e dirigida.

[5]  Coulter, J. (1979) The Social Construction of Mind: studies in ethnomethodology and linguistic philosophy. Totowa, NJ: Rowman & Littlefield.

[6] Esse argumento é feito por vários autores, neste livro : Timimi, S. & Leo, J. Editors (2009) Rethinking ADHD: from brain to culture. Basingstoke: Palgrave, assim como por vários outros incluindo as contribuições em Mad in Brasil.

Las Vegas: mais um Caso em que Drogas Psiquiátricas estão associadas

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Publicado hoje, em Los Vegas Review-Journal. A respeito de Stephen Paddock, quem matou pelo menos 58 pessoas e feriu centenas mais em Las Vegas no domingo, com rifles de alta potência. A ele havia sido  prescrito uma droga ansiolítica em junho, o que pode haver levado a um comportamento agressivo.

Stephen-C-Paddock

Segundo os registros do Programa de Monitoramento de Prescrição de Nevada obtidos na terça-feira, à Paddock havia sido prescrito 50 comprimidos de 10 miligramas de diazepam, pelo médico de Henderson, Steven Winkler, em 21 de junho.

O diazepam é um medicamento sedativo-hipnótico da classe de medicamentos conhecidos como benzodiazepínicos, cujos estudos já demonstraram que podem desencadear um comportamento agressivo. O uso crônico ou abusivo de sedativos, como o diazepam, também pode desencadear experiências psicóticas, de acordo com drugabuse.com.

“Se alguém tem um problema de agressão subjacente e você o trata com essa droga, seus usuários podem se tornar agressivos”, disse o Dr. Mel Pohl, diretor médico do Centro de Recuperação de Las Vegas. “Pode desinibir um estado emocional subjacente. … É muito parecido com o que acontece quando você dá álcool a algumas pessoas … elas se tornam agressivas em vez de ir a dormir “.

Na segunda-feira, a atriz Kirstie Alley, mais conhecida por seu papel na comédia de TV “Cheers”, agitou a controvérsia ao colocar no ar que as armas e as drogas psiquiátricas são os denominadores comuns em recentes tiroteios em massa nos Estados Unidos.

Veja na íntegra a reportagem clicando aqui.

Experiências Alternativas ao Modelo Biomédico da Medicina Mental

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Soteria House in Santa Clara, California

Dias 30, 31 de outubro e 01 de novembro de 2017, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), ocorrerá o Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas: Causas, Danos e Alternativas. Como o próprio título aponta, entre as metas do Seminário está a busca por alternativas viáveis e seguras ao que hoje é reconhecido como ‘epidemia das drogas psiquiátricas’.

Para contribuir na preparação nossa para o Seminário, estou apresentando uma sequência de dois blogs. Dizem respeito a duas alternativas que podemos considerar como sendo não apenas viáveis – pois já realizadas -, mas também como seguras e reproduzíveis.

A primeira experiência é a de Soteria, objeto deste primeiro blog. O segundo blog será dedicado à apresentação e análise da experiência finlandesa do Open Dialogue (Diálogo Aberto).

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A EXPERIÊNCIA DE SOTERIA

No final da década de 60 e começo da de 70, muitas experiências foram criadas para oferecer alternativas de comunidades terapêuticas à hospitalização das pessoas diagnosticadas com esquizofrenia. Eram experiências que tentavam entender a esquizofrenia com quadros de referência distintos do modelo médico intervencionista, entendendo-a como um importante aspecto da história de vida individual [i].

Recusando o uso da medicação antipsicótica como primeira opção de tratamento, tais iniciativas tomavam como foco a necessidade de permitir os indivíduos atravessarem a sua experiência de psicose com um mínimo possível de interferência e o máximo possível de suporte psicossocial.

A lembrar: nos Estados Unidos e em vários países da Europa, nos anos 60 e 70, o ‘hospitalocentrismo’ estava deixando de ser a referência principal para a organização da assistência psiquiátrica. O ‘hospitalocentrismo’ demonstrava ser irracional, seja sob o ponto de vista econômico e político, mas também sob a perspectiva científica e ética propriamente dita.

E muito particularmente haviam os interesses da aliança entre a psiquiatria e a indústria farmacêutica. Fora do hospital psiquiátrico, na ‘comunidade’/ou ‘território’, uma nova racionalidade de mercado se abria, com a conquista e a incorporação de novos ‘atores’ sociais. Novas categorias de pacientes, obviamente; mas, sobretudo, um novo mercado de ‘saúde mental’. Para que tais objetivos pudessem ser alcançados, centralizar no hospital os cuidados psiquiátricos se constituía em um incômodo obstáculo institucional. Já que ‘de perto ninguém é normal’, seria impossível incluir a todos no hospital psiquiátrico. O que somente seria possível na ‘comunidade’, no ‘território’.

É nesse contexto que a experiência de Soteria ganha relevância internacional. Ainda que entre nós brasileiros tenha sido uma experiência praticamente desconhecida.

Como foi iniciada? 

Soteria correu originalmente na baía de San Francisco, Califórnia, Estados Unidos, durante os anos 1970 e o começo dos anos 1980.  E desde então vem sendo implantada em diversos outros locais dos Estados Unidos, como em Vermon, e em países europeus, como Inglaterra, Suíça, Suécia, Finlândia, Alemanha, Hungria, entre outros .

Em abril de 1971, o psiquiatra Loren R. Mosher, Voyce Hendrix e um grupo de colegas se juntaram e fundaram a Casa Soteria.

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É para chamar a nossa atenção a escolha do nome ‘Soteria’. A palavra é de origem grega, que significa ‘libertação’, ‘salvação’. Soteria foi o nome dado a uma proposta de tratamento na comunidade, que não apenas era uma alternativa aos modelos dominantes, mas uma abordagem radical. Quer dizer, um tratamento fora do hospital, em uma residência, onde era oferecido refúgio às pessoas, a maioria jovens, a maioria diagnosticada como “esquizofrênicos”, e todos sofrendo de severo sofrimento psíquico. E tratados radicalmente fora dos parâmetros da ‘medicina mental’ vigentes na época e hoje em dia.

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Seus princípios básicos incluíam:

  • a provisão de um meio terapêutico pequeno, acolhedor, terapêutico, na comunidade;
  • com uma equipe formada por pessoas leigas;
  • preservando o poder pessoal, as redes sociais e as responsabilidades compartilhadas;
  • um estilo relacional ‘fenomenológico’, com o objetivo de dar sentido à experiência subjetiva da psicose da pessoa;
  • desenvolvendo um entendimento da experiência psicótica ‘estando com’ e ‘fazendo com’ os clientes;
  • e nenhuma, senão doses baixíssimas de medicação antipsicótica – com todas as drogas psiquiátricas sendo tomadas à partir de uma posição de escolha e sem coerção).

Nesse ambiente humanitário e igualitário, em Soteria as taxas de recuperação mostram ser muito mais elevadas do que em qualquer outro local de assistência psiquiátrica. Isso é o que foi alcançado na experiência original, na Califórnia; mas é o que ocorre em todos os locais onde a experiência Soteria é replicada.

Loteria Berne Switzerland
Soteria, Berne (Suíça)
Soteria, Vermont (USA)
Soteria, Vermont (USA)

 

 

 

 

O interesse no paradigma Soteria tem crescido tanto que recentemente foi criado no Reino Unido uma rede nacional Soteria, tendo havido uma conferência inaugural com vistas a implantar Soteria no país.

Soteria e o background

Soteria juntou uma diversidade de distintas noções clínicas:

  • Práticas da era do ‘tratamento moral’ em saúde mental surgidas no século XVIII nos Estados Unidos.
  • Pioneiros da psicanálise nos Estados Unidos (Henry Stack Sullivan e Frieda Fromm-Reichmann, explorando a importância do potencial de cura das relações humanas).
  • Terapeutas que descreveram o crescimento a partir da psicose (Karl A. Menninger).
  • Um grupo de psiquiatras considerados hereges (Ronald D. Laing; Thomas Szasz).
  • Cronistas do desenvolvimento do transtorno psiquiátrico como resposta à crise de vida.
  • Alternativas ao modelo de assistência asilar (“Manicômios, Prisões e Conventos” de Erving Goffman).
  • Um espaço para testar a validade das críticas dos ‘antipsiquiatras’, como na época eram vistos os que contestavam a psiquiatria vigente, tais como Laing, Cooper e Basagalia.

Características Gerais

A Casa Soteria original não era um hospital. Nem tampouco era um Centro de Saúde Mental (CSM). Seu programa não era dirigido por médicos (ou enfermeiros). Não obstante, Soteria admitia apenas clientes que seriam hospitalizados.

As drogas neurolépticas (antipsicóticos), o tratamento padrão para a “esquizofrenia”, eram usadas o menos frequentemente quanto era o possível, de preferência nunca.

A equipe era formada por não-professionais de saúde, com a responsabilidade, o poder e a autoridade para o tratamento primário e cotidiano.

E o mais importante, diferente das centenas de casas terapêuticas criadas em todo o território dos EUA durante os meados dos anos 1970 – os CSM -para servir de etapa intermediária entre a hospitalização e os lares, Soteria oferecia uma alternativa à hospitalização ao invés de acompanhá-la.

Soteria e as experiências alternativas da época

O que diferenciará radicalmente Soteria de outras experiências na época é que o paradigma Soteria tem o compromisso de ser uma alternativa de fato ao modelo biomédico da medicina mental. Assim sendo, o paradigma Soteria não propõe uma reforma psiquiátrica, mas um tratamento alternativo à psiquiatria propriamente dita, ao criar condições para se abordar os problemas tradicionalmente remetidos à psiquiatria – sem haver a necessidade do uso do diagnóstico psiquiátrico e do tratamento psicofarmacológico.

Daí que a principal fonte de inspiração de Soteria ter sido o projeto de Ronald Laing com a experiência de Kingsley Hall.

Kingsley Hall residents, 1965

Soteria: seu compromisso com as evidências científicas

O compromisso de Soteria com as evidências científicas para julgar a validade da experiência merece uma atenção bastante especial nossa. Seu idealizador e principal referência foi o psiquiatra e cientista Lauren Mosher. Mosher foi o chefe do Centro de Estudos de Esquizofrenia do poderoso NIMH, de 1968-1980. Mosher deixará o cargo de direção no NIMH em 1980, justamente quando o DSM-III surgiu.

Durante 10 anos, Soteria teve financiamento para desenvolver uma pesquisa, coordenada justamente por Mosher. Uma pesquisa quantitativa, empírica, randomizada. [2]  O suporte financeiro do NIMH foi para que Soteria respondesse a duas simples questões:

  • “Podem as pessoas recentemente nomeadas ‘esquizofrênicas’, e em situação tão disfuncional a requerer hospitalização, serem tratadas com sucesso em um ambiente pequeno, como um lar, em um espaço não hospitalar e sem drogas antipsicóticas? ”
  • “Como são os seus resultados clínicos comparados – em seis semanas, seis meses, e um ano e dois anos – com aqueles pacientes de um grupo de pessoas semelhantemente selecionadas e estudadas, que receberam a assistência habitual como paciente internado em um hospital e depois acompanhados fora do hospital? “

Resultados investigados:  saber se fatores tais como ‘hospitalização’, ‘medicamentos’ e ‘sintomas psicóticos’ continuariam presentes, e se os níveis de funcionamento psicossocial melhorariam ou deteriorariam.

Hipótese: Se o progresso dos grupos tratados experimentalmente (Soteria) e tradicionalmente (Hospitais Psiquiátricos e Centros de Saúde Mental) fossem comparáveis, então esse novo tratamento seria tão ou melhor do que a prática corrente, e um fenômeno poderia sido definido.  Suas partes constitutivas poderiam então ser estudadas para tentar desenredar as razões para a sua eficácia. Se o grupo experimental fosse pior, a pesquisa terminaria e o status quo estaria preservado.

Nos anos 1970, o senso-comum era que o tratamento psiquiátrico eficaz dependia do tratamento psicofarmacológico. A necessidade de diagnóstico psiquiátrico mais preciso estava em pauta, o que levará ao abandono dos critérios vigentes no DSM-I e DSM-II e à criação do DSM-III. Além disso, desde o começo dos anos 60, o tratamento psicofarmacológico era visto como essencial. Os hospitais psiquiátricos estavam sendo esvaziados, o tratamento sendo transferido para a ‘comunidade’.  E os Centros de Saúde Mental (CSM) eram na época, nos Estados Unidos, os espaços alternativos à assistência hospitalar.

As questões do projeto parecem simples, mas não eram. Há muitos interesses dominantes em jogo. Portanto, as respostas ao Projeto Soteria seriam difíceis de aceitação.

Se poderia esperar que, após mais que 10 anos de pesquisa (e mais a criação de um segundo serviço experimental que durou 6 anos), uma resposta clara teria aparecido. De fato, Mosher acreditava que sim, com a publicação do seu estudo sobre os resultados de dois anos [3].

Mas o establishment científico vigente não concorda com os resultados. A aliança entre os interesses corporativos da psiquiatria e da indústria farmacêutica não aceita os resultados que poderiam destruir a própria aliança. Uma falha científica é considerada: a ausência de uma estrita atribuição aleatória (‘amostra randomizada’).  Apesar da comparabilidade dos dois grupos em uma miríade de variáveis acessadas na admissão, o establishment científico finalmente negou fundos de pesquisa para estudar quais elementos no ambiente (“setting”) foram essenciais para o seu sucesso.  O financiamento é suspenso, acabando a experiência original de Soteria. Apesar disso, a análise dos dados foi completada em março de 1992.

O cotidiano de Soteria

A casa Soteria.  12 quartos, hospedando seis residentes (jovens, solteiros, recentemente diagnosticados e rotulados como “esquizofrênicos”), dois membros da equipe em trabalho integral, geralmente um homem e uma mulher, e vários voluntários e ajudantes em tempo parcial. Além disso, cada casa Soteria tinha um diretor da casa e acesso a psiquiatras disponíveis por um par de horas por dia. O fato da casa poder hospedar apenas 6 pessoas se devia às leis para licenciamento residencial. Um ou dois novos residentes eram admitidos a cada mês, geralmente permanecendo por um período de três a seis meses.

O núcleo da equipe de Soteria, geralmente cerca de sete funcionários remunerados em tempo integral e mais os voluntários, quando nos estabelecimentos convencionais eram entre 7 a nove funcionários. Na verdade, em momentos de alta atividade – geralmente entre as 16:00 até à meia-noite – Soteria tentou ter um equilíbrio entre 50-50% de pessoas em plena crise com aquelas funcionando mais ou menos normalmente, incluindo residentes que haviam se recuperado o suficiente para serem auxiliares.

Essa equipe não profissional visava fornecer um ambiente social simples, semelhante a um lar, seguro, acolhedor, de suporte, calmo, tolerante e não-intrusivo.

Embora estivessem imbuídos pelos valores da contracultura dos anos 1960, os membros da equipe tinham um pacto de não serem militantes. A equipe de Soteria acreditava que o sincero envolvimento humano e o entendimento eram vitais para as interações de cura.

Os psiquiatras supervisionavam a equipe, serviam para dar segurança, e cumpriam com as suas responsabilidades formais médicas e legais.

A equipe e os residentes compartilhavam responsabilidade pela manutenção das tarefas da manutenção da casa, preparação da alimentação e limpeza.

O nome era ‘residentes’ (algumas vezes ‘clientes’), jamais ‘pacientes’, ‘consumidores’ ou ‘usuários’.

Não haviam cadeados nas portas; não haviam seringas e apenas haviam poucos medicamentos; nenhuma sala para contenção ou algo semelhante.

Seguindo a tradição que teve como pioneiro Sullivan, a equipe de Soteria, em tempo integral ou tempo parcial, não era de profissionais de saúde mental. Os administradores e os pesquisadores, esses sim tinham formação em vários campos da saúde mental – Alma, assistente social; Stan Redd, Ken Woodrow e Richard Poe, psiquiatras que sempre eram chamados e visitavam frequentemente, assim como Loren, o nome com maior projeção nacional e internacional, que havia estudado com psicanalistas sullivanianos em Harvard e com Laing em Londres, nos anos 1960. E Voyce Hendrix que não tinha formação formal alguma.

A Filosofia de Soteria

Loren estabeleceu a filosofia fundamental de Soteria. Ele planejou que a equipe de Soteria aprenderia a ver a reação  ‘esquizofrênica’ como estado alterado de consciência de alguém em resposta à crise. Se uma ‘psicose’ se desenvolveu, ela cresceu em e afetou a matriz psicossocial da inteira família ou outro grupo íntimo, formando a ecologia perturbada da pessoa. Por conseguinte, com frequência, o inteiro meio ambiente perturbado e perturbador da pessoa – que não pode facilmente tolerar ou coexistir com os estranhos comportamentos que vem de um estado alterado de consciência – também experimenta a crise, portanto não apenas o indivíduo etiquetado de ‘louco’ é que está em crise.

Tal visão da ‘esquizofrenia’ implica em um conjunto de atitudes terapêuticas.

  • A experiência psicótica perturbadora nem era abortada e nem forçada a assumir algo, mas vista como tendo potencial para reintegração e reconstituição.
  • A equipe era incentivada a ver os muito aspectos da experiência da ‘esquizofrenia’ quanto o mais possível real ao invés de um processo de fragmentação, para tratar os seus sentimentos como potencial crescimento psicológico, reconstituição e reintegração em um todo de desenvolvimento psicossocial em um nível mais amplo.

Soteria colocava limites, quando os indivíduos estavam em perigo para consigo próprios ou para com os outros, mas não por causa de uma inabilidade para tolerar a loucura.

A equipe também aprendia a ver as qualidades místicas como metaforicamente válidas e compreensíveis, também em relação ao background cultural como em relação à dinâmica da família.

As linhas de autoridade e de papeis não eram claramente delineadas.

O Novo Terreno: evitando a terapia com drogas

A ênfase de Soteria na possibilidade de crescimento da psicose, embora estivesse firmemente baseada nas teorias que haviam sido articuladas por Laing e Menninger, levou à criação de um ambiente organizado muito original. Soteria tinha poucos precedentes estabelecidos para ser seguidos quando passavam da teoria para a prática. Embora o modelo médico houvesse demonstrado valor heurístico, a sua aplicação aos transtornos psiquiátricos havia tido desafortunadas (e não intencionais) consequências para os pacientes individualmente. Soteria não propôs algumum modelo alternativo da época; porque nenhum deles parecia explicar a (s) condição (s) etiquetada de ‘esquizofrenia’.  Ao invés disso, Soteria trabalhou a partir de uma atitude, posição ou visão. A abordagem endossou uma abordagem interpessoal fenomenológica para a ‘esquizofrenia’, na medida em que a equipe tentava tanto entender como dividir a experiência psicótica da pessoa – sem julgar, rotular, derrogar ou invalidar.

Por causa do seu desenho experimental, os clientes de Soteria não recebiam as drogas antipsicóticas disponíveis (neurolépticos, tranquilizantes maiores) tais como Torazina, Haldol, Prolixin ou Stelazine (haviam 18 no mercado no começo dos anos 1970) durante as suas primeiras seis semanas na residência.

A razão principal para esse intervalo era para permitir um teste honesto da abordagem psicossocial de Soteria. A equipe acreditava que poderia demorar seis semanas antes que importantes relações pudessem ser formadas e antes que qualidades especiais da cultura pudessem ser transmitidas significativamente. Durante as seis semanas o progresso do cliente era avaliado, e se nenhuma melhora ocorresse, e se o residente, a equipe e o psiquiatra consultor todos concordassem, um ensaio clínico com tratamento psicofarmacológico geralmente era iniciado. Na medida em que algumas drogas antipsicóticas estavam bem-estabelecidas como eficazes para o tratamento dos sintomas psicóticos, deixar o paciente indefinidamente de fora do tratamento com as drogas poderia ser não-ético.

Durante as seis semanas da investigação do tratamento ‘sem drogas’ o uso de antipsicóticos era permitido:

  • Se acreditassem que as drogas poderiam dominar a violência sem controle ou impulsos suicidas que de outra forma não fosse possível manejar;
  • Se o residente estivesse com uma dor psíquica insuportável que não pudesse ser aliviada por meios interpessoais;
  • O residente solicitasse remédios para ajuda-lo/ajuda-la a se reorganizar.

O limitado uso de drogas antipsicóticas na Casa Soteria contrasta com o fato que quase que todos os sujeitos tratados nas enfermarias dos hospitais psiquiátricos ou gerais, bem como nos Centros de Saúde Mental, que serviram como unidades assistenciais para o estudo comparativo, todos recebiam neurolépticos durante toda a sua permanência.

Começamos o novo século, estamos em 2017, e apesar do acúmulo das evidências científicas a questionar o uso indiscriminado e massivo de antipsicóticos, ainda nos comportamos como se a ciência confirmasse a eficácia e a segurança do tratamento com antipsicóticos. Já em 1979, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um estudo sobre os resultados com o tratamento da ‘esquizofrenia’, mostrava a correlação entre a baixa confiança na medicação com antipsicóticos e recuperação, concordando com o que vinha sendo demonstrado em Soteria. Enquanto que mais do que ¾ dos indivíduos de sociedades do terceiro-mundo diagnosticados como “esquizofrênicos” estiveram ou recuperados ou levando suas vidas de um modo relativamente saudável após cinco anos do seu diagnóstico, apenas 25 %, quer dizer, ¼ de tais pacientes em países ricos desfrutavam um nível similar de sucesso. Uma segunda investigação da OMS, feita porque pesquisadores desacreditavam os resultados, dizendo que eles contrariavam o esperado, concluiu os mesmos achados [4] [5].

A propósito, destaco essa longa citação do que Mosher disse em 1979:

Nós vivemos em uma cultura sobre-medicada, muito frequentemente dependente de drogas, apesar da ambivalência resolvida ao se criar duas categorias de drogas: as boas, como álcool, e as más, como o LSD. A atitude da Psiquiatria não é diferente do que aquela do contexto social mais amplo: nós ainda estamos procurando por uma resposta mágica de uma pílula. As drogas antipsicóticas têm posto nas mãos dos psiquiatras uma substância real para a fantasia deles de cura mágica aplicada à esquizofrenia. Mas, como costuma ocorrer com a maioria das expectativas exageradas, a fantasia é melhor do que a realidade. Após duas décadas, está agora claro que as drogas antipsicóticas não curam a esquizofrenia. Está também claro que elas têm sérias, algumas vezes toxicidades irreversíveis (…) que a recuperação possa ficar prejudicada por elas, pelo menos para alguns esquizofrênicos (…) e que elas têm pouco efeito em longo-prazo no ajustamento psicossocial  (…) Essas críticas não negam a sua extraordinária ajuda na redução e controle de sintomas, diminuindo o tempo de internação, e revitalizando o interesse na esquizofrenia. Uma das metas do projeto Soteria é procurar uma alternativa viável bem informada com relação ao uso exagerado dessas drogas e a excessiva confiança nessas drogas, com frequência excluindo as medidas psicossociais. Nós usamos raramente drogas e, quando prescritas, elas estão primariamente sob o controle individual do residente (do paciente). Quer dizer, a ela/ele é solicitado que monitore cuidadosamente as suas respostas à droga para nos dar um feedback, para que assim nós possamos ajustar a dosagem, e , após um período de ensaio de duas semanas, a ele/ela é dado o papel principal de determinar se ele/ela irá continuar a usar as drogas.

– Mosher & Menn, 1979, p. 73 –

Muitos artigos escritos por Mosher e colegas com os resultados da experiência foram publicados, recomendo que pelo menos este aqui seja lido.

E para se conhecer melhor toda a fascinante história de Soteria, recomendo este livro aqui.

E Loren Mosher, explicando o paradigma Soteria. Clique aqui.

Referências bibliográficas citadas:

[i] Jenner, FA, Monteiro ACD, Zagalo-Cardoso JA, Cunha-Oliveira JA. Schizophernia: a disease or some ways of being human? Sheffield, UK: Sheffield University Press, 1993.

[2] Mosher, I. R. (1972). Research design to evaluate psychosocial treatments of schizophrenia. In D. Rubinstein & Y. O. Alanen (Eds.), Psychotherapy of Schizophrenia, (251-260). Amsterdam: Excerpta Medica Foundation.

[3] Mosher, I. R., Menn, A. Z. & Matthews, S. M. (1975). Soteria: Evaluation of a home-based treatment for schizophrenia. Americans Journal of Orthopsychiatry, 45 (3): 455-467.

[4] Jablenski, A. (1992). Schizophrenia: manifestations, incidence, and course in different cultures: a World Health Organization ten-country study. Psychological Medicine, Suppl. 20, 1-95.

[5] Leff, J. (1992). The international pilot study of schizophrenia”: five-year follow-up findings. Psychological Medicine, 22, 131-145.

[6] Mosher, L. R., & Menn, A. Z. (1979). Soteria: An Alternative to hospitalization for schizophrenia. New Directions for Mental Health Services, I, 73-83.

 

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