A Psiquiatria Ignora um Elefante na Sala

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peter-gotzscheAmplos estudos de coorte de pessoas em primeiro episódio de psicose fornecem uma oportunidade única para se descobrir por quê muitos jovens com distúrbios do espectro de esquizofrenia morrem em uma idade jovem. No entanto, parece que aqueles psiquiatras que têm acesso aos dados de mortalidade geralmente não querem que os fatos venham a público. Em estudos de coorte publicados, praticamente sempre há pouca informação ou nenhuma informação sobre as causas da morte.

Em 2012, Hegelstad et al. publicaram dados de um estudo de acompanhamento (‘follow-up’) de 10 anos em um grupo de 281 pacientes com psicose no primeiro episódio (estudo TIPS).[1] Embora a idade média deles quando entraram no estudo tenha sido de apenas 29 anos, 49 pacientes (17%) morreram em menos de 10 anos. O artigo detalhado dos autores era sobre a recuperação (‘recovery’) e os resultados dos sintomas; eles não estavam interessados por quê todas essas mortes, que apareceram em um fluxograma de pacientes perdidos pelo follow-up e que não mereceram qualquer comentário em seu artigo. No texto, no entanto, eles mencionaram apenas 28 mortes (11%), por isso é difícil saber como morreram.

Em 5 de março de 2017, escrevi para o primeiro autor: “Em seu interessante estudo de 2012, ‘Follow-up de longo prazo do estudo TIPS Detecção Precoce na Psicose: efeitos sobre o resultado de 10 anos’, 281 pacientes 28 morreram. Você tem as causas da morte, que seria muito interessante conhecer. Eu notei que a maioria dos pacientes ainda estava em antipsicóticos 10 anos após eles começarem (tabela 2). Considero isso muito assustador, p.e., que cerca de metade deles terá discinesia tardia (o que muitas vezes é encoberta pelo tratamento contínuo) e muitos, se não todos, terão desenvolvido danos cerebrais permanentes, para mencionar apenas dois dos danos importantes do tratamento a longo prazo. Em contraste, apenas 17% dos pacientes em Lappland [*] ainda estavam em antipsicóticos 5 anos após o primeiro episódio (contra 75% em Estocolmo)”.

Mandei um lembrete dez dias depois e recebi uma mensagem que em breve receberia uma resposta. Em 10 de maio, escrevi novamente: “Agora são mais dois meses. Você fez um estudo importante e é importante para o mundo saber de que 10% dos seus pacientes muito jovens morreram em apenas 10 anos. É uma taxa de morte assustadora. Precisamos apresentar um pedido de Liberdade de Informação para obter essa informação? ”

Hegelstad respondeu: “Estamos preparando um manuscrito detalhando as informações que você está pedindo. Será submetido a um periódico revisado por pares. Quando publicado, a informação estará prontamente disponível para todos “.

A preparação do manuscrito e sua publicação foram muito rápidas. Já em junho, o artigo estava publicado, em World Psychiatry [2].  Com essa velocidade recorde, eu me perguntei como teria sido a revisão dos pares, se houve alguma. Parecia mais uma carta ao editor, sem subtítulos, e ocupando apenas 1,5 páginas. O número de mortes já era nem 49, nem 28, mas 31.

Como as informações que eu solicitei não foram encontradas em seu artigo, Bob Whitaker e eu escrevemos uma carta ao editor da revista, o professor Mario Maj, em 16 de agosto com esta mensagem: “O relatório de Melle et al., de um estudo prospectivo de 10 anos de 281 pacientes com distúrbios do espectro de esquizofrenia, diz que 11% morreram, embora sua idade média na entrada no estudo tenha sido de apenas 29 anos. Seu estudo poderia nos dar uma visão singular de por quê tantos pacientes com esses transtornos morrem tão jovens, mas havia muito poucos detalhes em seu artigo para fornecer esse conhecimento tão necessário. Nós esperamos muito que você ajude a obter o conhecimento que Melle et al. têm em seus arquivos publicados ao tornarem pública a nossa breve carta, e que lhes peça para que respondam às questões que levantamos. Esse seria um ótimo serviço para a psiquiatria, os pacientes e para todos os outros com interesse nesta questão de vital importância “.

A nossa carta enviada foi esta:

Por que tantos jovens com distúrbios do espectro de esquizofrenia morrem tão cedo?

Melle et al. relatam que, em um estudo prospectivo de 10 anos de 281 pacientes com distúrbios do espectro de esquizofrenia, 11% morreram [1], embora a sua idade média na entrada no estudo tenha sido de apenas 29 anos.[2] Seu estudo pode nos dar uma visão única sobre o por quê de tantos pacientes com esses transtornos morrerem tão jovens, mas havia muito poucos detalhes em seu artigo para fornecer esse conhecimento tão necessário.

Melle et al. escrevem que 16 morreram por suicídio, 7 por overdoses acidentais ou outros acidentes, e 8 de doenças físicas, incluindo 3 de doenças cardiovasculares. Para tentar separar as causas iatrogênicas da morte por mortes causadas pela desordem, precisamos saber:

Quando ocorreu o suicídio? Os suicídios geralmente ocorrem cedo, depois que os pacientes deixaram o hospital[3], e às vezes são iatrogênicos. Um estudo de registro dinamarquês de 2.429 suicídios mostrou que, em comparação com as pessoas que não receberam tratamento psiquiátrico no ano anterior, o índice de taxa de suicídio ajustado foi de 44 para pessoas que foram internadas em um hospital psiquiátrico.[4] Desses pacientes, obviamente, o que se espera é que estejam em maior risco de suicídio porque estavam mais doentes do que os outros (confundindo por indicação), mas os achados foram robustos e a maioria dos vieses potenciais no estudo foi realmente conservadora, ou seja, favoreceu a hipótese nula de não haver relação. Um editorial acompanhando o estudo observou que há poucas dúvidas de que o suicídio esteja relacionado ao estigma e ao trauma e que é totalmente plausível que o estigma e o trauma inerentes ao tratamento psiquiátrico – particularmente se involuntário – possam causar suicídio.[5]

O que as overdoses acidentais e outros acidentes significam? Os médicos prescreveram uma overdose ou os pacientes por engano fizeram uma overdose, e quais os tipos de acidentes estiveram envolvidos? As drogas psicotrópicas podem levar a quedas, o que pode ser fatal, e os suicídios às vezes são mal codificados como sendo acidentes.[6]

Peter C. Gøtzsche1 and Robert Whitaker2

1 Nordic Cochrane Centre, Copenhagen, Denmark

2 Boston, United States

Conflitos de interesse: nenhum.

1. Melle I, Olav Johannesen J, Haahr UH et al. Causes and predictors of premature death in first-episode schizophrenia spectrum disorders. World Psychiatry2017;16:217-8.

2. Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry2012;169:374-80.

3. Chung DT, Ryan CJ, Hadzi-Pavlovic D et al. Suicide rates after discharge from psychiatric facilities: a systematic review and meta-analysis. JAMA Psychiatry2017;74:694-702.

4. Hjorthøj CR, Madsen T, Agerbo E et al. Risk of suicide according to level of psychiatric treatment: a nationwide nested case-control study. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2014;49:1357–65.

5. Large MM, Ryan CJ. Disturbing findings about the risk of suicide and psychiatric hospitals. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2014;49:1353–5.

6. Brown S. Excess mortality of schizophrenia. A meta-analysis. Br J Psychiatry1997;171:502-8.

Oito dias depois Maj nos disse que “infelizmente, embora sendo um assunto interessante, não é da nossa competência responder à seção de cartas”.

Cinco dias depois, respondi e disse a Maj que esperávamos que ele reconsiderasse a sua rejeição da nossa carta:

“Permita-me acrescentar que as pessoas com quem conversei em vários países sobre as mortes em jovens com esquizofrenia – psiquiatras, especialistas forenses e pacientes – concordaram que precisamos desesperadamente do tipo de informação que lhe pedimos para garantir que obtivéssemos dessa coorte valiosa de pacientes relatada por Melle et al.

Existe uma suspeita generalizada e bem fundamentada de que a razão pela qual não vimos uma descrição detalhada das causas de morte em coortes como a do estudo TIPS de Melle et al. publicado em seu periódico é que os psiquiatras priorizam a proteção dos interesses da aliança em vez de proteger os pacientes. Ao recusar a publicação da nossa carta e a obtenção dos dados que Melle et al. têm em seus arquivos, você contribui para essa suspeita. Nós pedimos previamente a um dos pesquisadores, Wenche ten Velden Hegelstad, que nos fornecesse esses dados, mas fomos informados em 10 de maio deste ano que eles seriam publicados (…). Eles não foram publicados, na medida em que o que Melle et al. publicaram em seu periódico não é um relato adequado do por quê esses jovens morreram.

Portanto, pedimos que você assegure que esses dados sejam abertos, em benefício dos pacientes. Acreditamos que é seu dever profissional e ético – tanto como editor de jornais como como médico – para que isso aconteça. Esta não é uma questão sobre a seção que você possui no jornal para cartas. É uma questão de priorização “.

Até o momento . Mas, uma vez que o TIPS foi apoiado por doações do Conselho de Pesquisa da Noruega, eu pedirei ao Conselho os dados anônimos sobre as mortes, pois isso é claramente de interesse público. TIPS também foi apoiado por Lundbeck Pharma, Eli Lilly e Janssen-Cilag Pharmaceuticals, que dificilmente estarão interessados em disponibilizar esses dados para o acesso público, por isso será interessante ver o que acontece.

Em contraste com os autores do estudo TIPS, a professora de psiquiatria Merete Nordentoft, em Copenhague, estava à disposição quando lhe perguntei sobre as causas da morte de 33 pacientes após 10 anos de seguimento no estudo OPUS, também de pacientes com um primeiro episódio psicótico.[3] Eu mencionei especificamente que os suicídios, os acidentes e a morte súbita e inexplicável podem estar relacionados à droga. Recebi uma lista das mortes e Nordentoft explicou que ninguém tinha uma causa de morte relacionada ao coração, mas que isso provavelmente era porque eles eram tão jovens. Nos certificados, ela tinha visto alguns pacientes simplesmente terem caído mortos, um deles sentado em uma cadeira.

Assim é como deve ser. A abertura é o caminho a seguir se desejarmos reduzir as muitas mortes que ocorrem em pacientes jovens tratados em saúde mental. Não deve ser necessário dizer isso, mas infelizmente existem poucos psiquiatras como o Nordentoft. Perguntei a Hegelstad sobre o número conflitante de mortes e também pedi para obter as causas da morte com mais detalhes. Até o momento nenhum retorno de Hegelstad.

Conflito de interesse: nenhum.

[1] Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry 2012;169:374-80.

[2] Melle I, Olav Johannesen J, Haahr UH et al. Causes and predictors of premature death in first-episode schizophrenia spectrum disorders. World Psychiatry 2017;16:217-8.

[3] Hegelstad WT, Larsen TK, Auestad B et al. Long-term follow-up of the TIPS early detection in psychosis study: effects on 10-year outcome. Am J Psychiatry 2012;169:374-80.

[*] N.R. Lappland, região da Finlândia, onde é desenvolvida a abordagem do Diálogo-Aberto (Open Dialogue).

“FDA aprova droga para a alegria irritante”

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Publicado em The Onion: “Feito pela Pfizer, o Despondex é o primeiro medicamento destinado a tratar os sintomas de animação excessiva”.

Trechos desse vídeo:

O Dr. Alman Wei considera que a droga que ele descobriu como” Um enorme passo dado na batalha contra a exuberância. Se você está de bom humor de vez em quando, isso é normal. O remédio é para aqueles que têm uma visão positiva persistente sobre a vida”.

Nem todos estão convencidos de que Despondex é a cura para todos.

Mas o Dr. Wei não concorda com os críticos.  Ele afirma “Nós temos que acabar com o estigma associado com aquelas pessoas com uma exagerada alegria e que buscam por ajuda médica. Quero dizer, você sabe o que é estar em torno dessas pessoas? É muito irritante.”

Já dizia Lacan: “A verdade tem uma estrutura de ficção”.  Visto à distância, a “medicalização” do nosso cotidiano parece uma ficção, mas é uma verdade com a qual estamos nos acostumando a viver.

Video →­

Despondex

CARTA DE FREUD PARA A MÃE DE UM HOMOSSEXUAL

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Carta de Freud19 de abril de 1935

“Minha querida Senhora,

Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma.

Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura dos livros de Havelock Ellis.

Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos conseguimos desenvolver rudimentos das tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade de determinar o resultado do tratamento.

A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranqüilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição.”

Sigmund Freud

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Fonte: http://cdpsi.com.br/blog/index.php/2015/07/carta-de-freud-para-a-mae-de-um-homossexual/

 

Aviso Para Quem Toma Antidepressivos: Eles Aumentam o Risco de uma Morte Precoce em 33%

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Publicado em Mail Online Um estudo feito pela Universidade McMaster no Canadá analisou o impacto dos antidepressivos em quase 380.000 pessoas.  Os resultados são impactantes: os especialistas descobriram que as pessoas deprimidas sem doença cardíaca tinham 33% mais chances de morrer em qualquer período definido, por qualquer motivo, se tomassem antidepressivos em comparação com aqueles que não o fizeram.

A conclusão é que os antidepressivos fazem mais mal que o bem – e seu uso deve ser severamente reduzido.

E no Brasil, a quantidade de pessoas que tomam antidepressivos aumenta a cada ano. Um alerta!

Leia o artigo na íntegra →

Antidepressivos aumentam risco de morte

Os resultados dessa mesma pesquisa divulgados neste outro periódico →

 

antidepressants

A Desgraça para os que usam Drogas para a Ansiedade

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O uso dos benzodiazepínicos, supostamente remédios para a ansiedade e para ajudar a dormir melhor, eis uma das maiores tragédias criadas pela aliança entre a Medicina mental e a Indústria Farmacêutica.

São inúmeras as evidências científicas sobre os danos produzidos por essa droga receitada por médicos. Não obstante, milhões entre nós fazem uso dessa droga. E após o seu uso em médio e longo prazos, é extremamente difícil romper com a dependência. E os danos causados são inúmeros.

Veja esse vídeo, em inglês com legendas em francês.

Benzodiazipínicos

As Drogas mais Promovidas são Aquelas com Pouco Valor Terapêutico, descobre estudo

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Um novo estudo, publicado no CMAJ Open, investigou a reivindicação, muitas vezes feita por empresas farmacêuticas, de que a promoção de drogas é conduzida principalmente para informar e educar médicos. O exame do Dr. Joel Lexchin descobriu que muitas das drogas mais vendidas e mais promovidas no Canadá tinham pouco ou nenhum valor terapêutico.

“Examinar se os medicamentos que são fortemente promovidos como aqueles que fornecem o maior benefício terapêutico podem ajudar a determinar se os médicos usam esse material promocional para se informar sobre medicamentos terapeuticamente importantes”.

DRUGS

O conhecimento de que as táticas de promoção de drogas influenciam os comportamentos de prescrição pelos médicos é “geralmente aceito”, escreve Lexchin. Enquanto as empresas farmacêuticas explicam o objetivo da promoção de drogas como meio de informar e educar profissionais, muitos expressam preocupações de que a influência da promoção de drogas pode ser mais prejudicial do que benéfica.

Um estudo recente, realizado nos EUA, descobriu que os 25 medicamentos mais promovidos em 2015 apresentaram baixo valor terapêutico, o que significa que estas drogas têm pouca eficácia, segurança, novidade e acessibilidade. Neste estudo, Lexchin pesquisou as drogas que são mais fortemente promovidas no Canadá, bem como o valor terapêutico dessas drogas.

O objetivo do estudo foi observar se a promoção de drogas é usada para informar os médicos da importância terapêutica dos medicamentos. Os relatórios anuais da QuintilesIMS, uma empresa que divulga publicamente e consistentemente a quantidade de dinheiro gasto em anúncios de revistas -, o número de visitas de representantes de vendas de medicamentos e as principais drogas por receita de vendas, foram utilizados para coletar dados sobre promoção de drogas.

Lexchin registrou os nomes dos 50 principais medicamentos promovidos em 2013, 2014 e 2015. Ele excluiu os medicamentos que foram apresentados duas vezes (genéricos e nomes de marca) e instrumentos utilizados para medir o nível de glicose no sangue. Para determinar o ganho terapêutico de produtos, Lexchin referiu-se a duas fontes diferentes, o Conselho de Revisão de Preços de Medicamentos Patentes  (Patented Medicine Prices Review Board -CEPCR) e o boletim de medicamentos francês independente Prescrir International.

“Eu escolhi essas fontes porque ambos oferecem avaliações objetivas de valor terapêutico que não exigem qualquer interpretação subjetiva”, explica.

 Embora ambas as fontes tenham critérios e processos de avaliação ligeiramente diferentes, ambos avaliaram principalmente drogas com base na eficácia e segurança. Com base nessas avaliações, as drogas foram classificadas em três categorias principais, (1) maior ganho terapêutico, (2) ganho terapêutico moderado e (3) pouco ou nenhum ganho terapêutico. No entanto, é importante notar que a informação terapêutica só estava disponível para 53% dos medicamentos mais promovidos e 66% dos medicamentos mais vendidos.

Os resultados demonstraram que 90-96% dos medicamentos mais promovidos foram classificados como tendo pouco ou nenhum ganho terapêutico. O mesmo aconteceu com 77-79% dos medicamentos mais vendidos. A diferença no valor terapêutico das drogas entre as drogas mais vendidas e as mais promovidas foi significativa apenas no ano de 2013.

“O achado de que houve uma diferença na distribuição terapêutica entre os medicamentos mais promovidos e os medicamentos mais vendidos em apenas 1 dos 3 anos estudados pode significar que existem poucos produtos terapeuticamente significativos que podem ser promovidos”, escreve Lexchin.

Embora, ele acrescenta que talvez as drogas com alto valor terapêutico sejam vendidas sem a necessidade de promovê-las, ou são promovidas através de outros métodos. Os números que detalham as despesas promocionais em 2013 indicam que 96,5% das despesas foram direcionadas a medicamentos classificados como tendo pouco ou nenhum ganho terapêutico. Nenhuma proporção de gastos foi dedicada a drogas classificadas como tendo maior ganho terapêutico. Em 2014, 92% do dinheiro gasto foram para promover drogas com pouco ou nenhum ganho terapêutico, seguido de 93,8% em 2015.

Os resultados deste estudo são que a maioria dos esforços de promoção e propaganda foram centrados em promover drogas com pouco ou nenhum valor terapêutico e que a maioria dos medicamentos mais vendidos refletiu esse padrão também.

Outro estudo examinou a promoção através de reuniões, palestras, publicidade direta ao consumidor, standards em conferências médicas e mais, e descobriu que informações de segurança minimamente adequadas sobre drogas foram fornecidas em menos de 2% das promoções que ocorreram tanto em Vancouver quanto em Montrea . Dado o número de estudos realizados no Canadá e nos EUA, com resultados que destacam os padrões de promoção de drogas, a questão pode ser generalizada.

“A Innovative Medicines Canada, a organização que representa as empresas baseadas em pesquisa, diz em seu site que seu mandato é fornecer ‘acesso à educação e informações sobre os usos apropriados de nossos produtos e serviços’ aos médicos. As descobertas do estudo atual e aquelas feitas por Mintzes e colegas a respeito dos representantes de vendas, levantam questões sobre se este mandato está sendo cumprido”.

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Lexchin, J. (2017). The relation between promotional spending on drugs and their therapeutic gain: a cohort analysis. CMAJ Open5(3), E724. doi: 10.9778/cmajo.20170089 (Link)

 

“O DÉFICIT DE ATENÇÃO ESTÁ NO COMPORTAMENTO DA NOSSA SOCIEDADE E NÃO NAS NOSSAS CRIANÇAS”

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Publicado no Plataforma Família: Apesar do medicamento, a princípio, deixar a universitária Marcela mais focada durante as oito horas de efeito, ela começou a perceber que mesmo não tomando a Ritalina, ela conseguia decorar seus textos do teatro, por exemplo. Ao questionar a médica sobre esse fato, recebeu como resposta que é comum os sintomas não aparecerem de forma prejudicial nas áreas em que se tem mais habilidade.

A partir disso, a autora começou a questionar o motivo dela, e das milhares de crianças, serem medicadas com psicofármacos diariamente no mundo.  Ela chegou à conclusão que a hiperatividade é uma forma de padronizar as crianças através de medicamentos que modificam seus comportamentos, de modo que ajam como socialmente é o esperado delas.  Foi o que aconteceu com ela na sua infância. Não há uma preocupação por parte dos adultos em que essas crianças se tornarão um dia, a preocupação está, por exemplo, se ele/ou ela ingressará nos melhores cursos universitários. A escola deveria adaptar-se às novas realidades; mas, pelo contrário, tenta encaixar seus alunos nos velhos padrões. Tudo isso contribui para que as crianças que saem dos padrões sociais sejam cada vez mais medicadas.

Levando em consideração a experiência e opinião de Marcela, podemos nos perguntar: o TDAH é uma doença ou é uma forma de controle social?

Leia a matéria original na íntegra →

 

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A Ciência está se Aproximando do Buda

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Publicado em Big Think: no novo livro de Robert Wright, Why Buddhism is True (Porque o Budismo é Verdadeiro), ele ilustra como a ciência contemporânea tem confirmado alguns dos principais princípios e crenças do budismo.

Artigo →

Buda

“Bipolaridade pode Prejudicar os Estudos”

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mulhercuriosa.com.brcrianca-bipolar-como-identificar-tratar-de-forma-rapida

Saiu em Metro. Uma matéria onde é reafirmada a natureza científica da noção de ‘transtorno bipolar’ e a incidência desse transtorno na infância.

A propaganda para a medicalização psiquiátrica da nossa infância é inescrupulosamente feita sistematicamente na mídia brasileira.

Um exemplo eloquente é a publicação dessa matéria sobre o chamado ‘transtorno bipolar’ na infância, que está no jornal de grande circulação de massa O Metro/RJ, em sua edição de hoje.

A matéria ensina pais e professores a identificar o ‘transtorno’. Alerta a todos que “devemos estar atentos para momentos de extrema euforia alternados com períodos de desânimo exagerado, e ambos sem motivo aparente, ou de maneira desmedida”.  Chama a nossa atenção para o fato de que isso pode passar despercebido ou confundido com o outro transtorno muito comum na infância, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).  A recomendação é que se procure um profissional de saúde, em especial, um neuropediatra ou psiquiatra. E para dar a suposta base científica, é dito que tais transtornos estão relacionados a áreas afetadas do cérebro, e são exibidas ilustrações de regiões do cérebro supostamente afetadas pelo ‘transtorno’.

A matéria nada diz que o ‘transtorno bipolar’ é uma noção fundamentalmente não verificável cientificamente, com ampla literatura a demonstrar que isso não passa de um ‘mito’ para atender os interesses corporativos da Psiquiatria e da Indústria Farmacêutica. A definição dada pela Psiquiatria é nada mais e nada menos do que uma descrição de certos comportamentos e sentimentos considerados inoportunos, desagradáveis. Se uma pessoa atende a esses critérios, ele / ela é dito ter transtorno bipolar.  Porém, o que imediatamente precisa ser observado é que o ‘transtorno bipolar’, em comum com os outros “transtornos” da psiquiatria, não possui nenhum valor explicativo. Para ilustrar isso, considere a seguinte conversa hipotética:

Pai: Por que meu filho se comporta dessas maneiras extremas?
Psiquiatras: Porque ele tem transtorno bipolar.
Pai: Como você sabe que ele tem transtorno bipolar?
Psiquiatra: Porque ele se comporta dessas maneiras extremas.

Leia a matéria na íntegra→

Eu não Acredito em Transtornos Mentais, e Você?

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PsychLiverpool

mcornwallEm novembro de 2000, fiquei ansioso diante de quatrocentos e cinquenta profissionais de saúde mental reunidos. Entre administradores, colegas e acadêmicos, disse: “Oi, eu sou Michael Cornwall e não acredito em transtornos mentais!”

Fui o primeiro palestrante de uma grande conferência realizada em San Francisco. Eu não acreditava em transtornos mentais nem quando eu estava passando pela minha prórpia crise de loucura há 46 anos nem nos ultimos 30 anos servindo a pessoas loucas. Jay Mahler foi a única pessoa que veio até mim, e agradeceu por ter dito que não acreditava em transtornos mentais. Enquanto várias outras pessoas me trataram como se eu estivesse com alguma doença contagiosa.

Eu me senti estimulado a escrever este blog, porque acabei de ler um artigo de Marianne Farkas, publicado pelo Centro de Reabilitação Psiquiátrica, da Universidade de Boston, intitulado: “A visão sobre a recuperação (‘recovery’) hoje: o que é, e o que isso significa para os serviços”. Ela se refere às pessoas que precisam desses serviços, como tendo “transtorno mental grave”. O artigo foi escrito em 2007, mas ainda é recomendado por líderes do Centro de Reabilitação Psiquiátrica, para uma análise aprofundada do Movimento de Recuperação, com base, portanto, na visão de que as pessoas têm transtornos mentais graves.

O que acreditamos motiva muito que fazemos com as nossas vidas. Pelo fato de que eu não acreditava em doenças mentais, passei minha vida, desde que eu era uma pessoa jovem passando por uma crise de loucura, sem medicação ou tratamento, perguntando: “Se a loucura não é o que a bio-psiquiatria diz, então, o que é?” Eu criei minha própria definição de loucura com base na minha experiência pessoal, na minha experiência de trabalho como terapeuta, e na minha pesquisa como doutorando. Eu já compartilhei isso em blogs anteriores.

Agora, se eu acreditasse que a loucura era uma doença cerebral genética, eu poderia ter me tornado um bio-psiquiatra ou ter tomado medicações para minha crise de loucura.

Porque o transtorno mental é como a bio-psiquiatria se refere à loucura e a cada formulação diagnóstica em seu DSM. Eu nunca digo às pessoas que estou a serviço de um transtorno mental. Pois não as vejo através dessa lente do DSM.

Eu as vejo como eu me vejo: uma pessoa que pode ter várias experiências de sofrimento emocional, sofrimento este que às vezes assume a forma de loucura.

Fui recentemente chamado à atenção por um colega, líder nacional de recuperação (‘recovery’), por descrever a mim, e a outros, como capazes de experimentar sofrimento emocional. Ele disse que o sofrimento é a palavra errada – a aflição (ou angústia) é a mais precisa. Mas eu não acredito nisso, porque não reflete minha própria experiência ou, como descreveria, a dor dos outros quando estão aterrorizados, em desespero ou em loucura. A aflição (ou angústia) é uma forma leve de sofrimento na minha compreensão, como se fosse uma indigestão, que com um sal de frutas talvez alivie. Mas isso é só o que eu acredito.

Nossa cultura e nosso mundo estão repletos de crenças polarizadoras – políticas, religiosas, etc. Em uma reunião, eu ouvi alguém chamar um líder nacional do Movimento de Recuperação de nazista, porque esse líder havia dito que a recuperação completa era possível. A pessoa que o chamou de nazista temia que, se as pessoas loucas acreditassem nele e não tomassem medicação, haveria um holocausto, e este líder seria o responsável por tais mortes. Também já ouvi colegas chamarem bio-psiquiatras de nazistas.

Até onde podemos seguir no respeito e na oposição aos sistemas de crenças extremamente diferentes dos nossos, antes de cair em xingamentos chamando as pessoas com opiniões diferentes da minha de nazistas, e de vê-las como malvadas?

Imagino que algumas pessoas acreditavam que Bob Whitaker tinha cruzado a linha quando escreveu seu blog, “The Taint of Eugenics in MIMH-Funded Research”. Por causa das minhas crenças, não acredito que ele tenha cruzado a linha.

Eu acredito que algumas práticas – como medicação forçada, isolamento com restrições, etc. para crianças, adolescentes e adultos, prescrição de drogas psicológicas para crianças – são todos abusos dos direitos humanos. Você acha que eu cruzei a linha dizendo isso?

Existe um terreno comum em que podemos permanecer, mesmo com nossas crenças polarizadas? Esse pedaço de terreno comum a todos varia em tamanho. Às vezes, não existe.

Eu não acredito em doenças mentais. Eu acredito que somos almas soberanas que não devem ser presas ou receber tratamentos forçados. Mas sim, que nos sejam oferecidos tratamentos que não façam NENHUM tipo de mal para aqueles que passamos por um sofrimento emocional e uma crise de loucura. Eu acredito que devemos receber respeito, amor e compaixão.

No que você acredita?

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