Dr. Peter Gøtzsche: Internação e Tratamento Forçado em Psiquiatria São Violações de Direitos Humanos Básicos e Devem Ser Abolidos

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Jim Gottstein: Sou Jim Gottstein, com o Projeto de Lei de Direitos Psiquiátricos, e estou extremamente satisfeito por apresentar nosso palestrante desta noite, Dr. Peter Gøtzsche, de Copenhague. Ele é do Cochrane Collaboration, um grupo de pesquisadores independentes que estuda e emite relatórios sobre medicamentos e dispositivos – todos tratamentos médicos. Eles não têm conflitos de interesse, e são conhecidos em todo o mundo por suas análises objetivas sobre o que a pesquisa realmente diz. O Dr. Gøtzsche publicou mais de 70 artigos em cinco revistas médicas que estão entre as mais prestigiadas do mundo, artigos que foram citados mais de 15.000 vezes. Ele publicou quatro livros: Diagnóstico e Tratamento Racional: tomada de decisão clínica baseada em evidências (2007); Exame de mamografia: verdade, mentiras e controvérsia – esses são seus dois primeiros livros. E então, em 2013, ele decidiu escrever Medicamentos Mortais e Crime Organizado: O Quanto a Indústria Farmacêutica Corrompeu o Sistema de Saúde. Em Medicamentos Mortais, há dois capítulos sobre drogas psiquiátricas. E então ele decidiu escrever um livro inteiro sobre elas. Publicado no ano passado Deadly Psychiatry and Organized Denial [Psiquiatria Mortal e Negação Organizada].  Eu tenho aqui comigo algumas cópias para quem quiser. É excelente. Eu conheci Peter há alguns anos atrás. Eu o conheci em uma conferência em Los Angeles, e tivemos a chance de nos conhecer um pouco, e estamos tentando colaborar. A Autoridade de Fidedignidade de Saúde Mental foi muito gentil ao nos dar apoio para trazê-lo. Ele está aqui há um dia e meio, e teve algumas experiências interessantes, sobre as quais ele talvez queira falar no período de perguntas e respostas. Não acho que ele fale sobre essas experiências em sua apresentação. Então, seja bem-vindo, Dr. Peter Gøtzsche. Por favor.

Peter Gøtzsche: Muito obrigado, Jim. Eu realmente admiro o trabalho de Jim, e eu também o cito em meu livro sobre Psiquiatria – devo dizer, o livro do crime – onde há dois capítulos sobre psiquiatria. Um deles é chamado de “Psiquiatria: o paraíso da indústria da droga” e o a seguir é chamado de “Empurrando as crianças para o suicídio com comprimidos da felicidade“. É um capítulo muito tenebroso.

Então inicio. A psiquiatria sem admissão forçada e tratamento forçado é um dever. E eu não tenho conflitos de interesse. E, claro, as opiniões apresentadas são minhas; de quem mais poderia ser? Há três perspectivas que se pode empregar para o uso da força na psiquiatria – e irei discutir principalmente os antipsicóticos. A científica é: a força faz mais bem do que o mal? Eu acredito, claramente, que não. Os antipsicóticos causam muito mais mal do que bem. A ética: a força é eticamente aceitável? Não. Os antipsicóticos matam muitas pessoas e estropiam muitos mais. Questões legais: as declarações internacionais estão sendo ignoradas. Eu vou voltar a isso. Por conseguinte, devemos mudar nossas leis, porque elas são injustas.

Em primeiro lugar, essas drogas funcionam? Elas não são específicas, como o nome sugere. ‘Anti’é um nome incorreto. Agentes antimicrobianos podem nos curar de infecções. Antipsicóticos não curam ninguém. Trata-se de um nome equivocado. E os ensaios controlados com placebo são muito imperfeitos, porque não são adequadamente ‘cegos’. Essas drogas têm muitos efeitos colaterais, de modo que a maioria dos médicos e pacientes saberá quando estão em drogas ativas ou em placebo, por conseguinte, seus efeitos serão exagerados. E há o fenômeno da abstinência no grupo em placebo. Em praticamente todos os ensaios, as pessoas que são testadas já estão em tratamento, e são submetidas um período curto de abstinência, em geral de até uma semana. E aí se aleatoriza, uns para o grupo com placebo e outros para o grupo com medicamento antipsicótico. Isso significa que são criados sintomas de abstinência no grupo placebo, em um grande número de pacientes. Assim sendo, são introduzidos danos no grupo com placebo. E então se conclui que “a minha nova droga é melhor do que os danos produzidos nos pacientes do grupo de controle”. Essa não é boa ciência; é uma ciência terrivelmente pobre. Mas é assim que praticamente todos os testes com drogas psiquiátricas estão sendo feitos.

Apesar desses erros grosseiros, o efeito dos antipsicóticos, conforme o documentado em recentes submissões à FDA, é realmente tão pequeno que é duvidoso que seja clinicamente relevante. São apenas seis pontos na escala da síndrome positiva e negativa para a esquizofrenia. E os psiquiatras estabeleceram que a mudança minimamente relevante para a clínica – o que significa, o que você mal consegue perceber, que agora há uma mudança, para melhor ou pior – é de 15 pontos. Foi assim como a Food and Drug Administration (FDA) aprovou a olanzapina, a risperidona e drogas como essas; isso apesar do fato do efeito haver sido alcançado em testes profundamente imperfeitos – logo, isso é exagerado – porque seus efeitos estão abaixo do que mal se percebe como uma mudança. Logo, isso diz muito sobre o que são essas drogas.

E ainda: o diagnóstico de esquizofrenia pode estar errado em mais de 50% dos casos. Então, a gente assujeita as pessoas ao tratamento forçado com drogas muito tóxicas, quem nem sequer têm uma indicação para o tratamento, porque o diagnóstico está errado. Esse é um outro sinal de que não estamos indo bem aqui.

Propor a abstinência abrupta é claramente letal. Um em cada 145 pacientes que entraram nos testes de risperidona, olanzapina, quetiapina e sertindol – eles morreram. E essas mortes são desconhecidas para o público. Elas não aparecem nos relatórios de avaliação publicados, e a FDA não exigiu que fossem mencionadas. Isso é bastante típico para a FDA. Esta é uma agência que, em geral, protege o setor de drogas e não os pacientes. E não somos muito melhores na Europa, com é a nossa Agência Europeia de Medicamentos.

Agora, vamos olhar para a primeira dessas drogas. Os antipsicóticos são realmente o carro-chefe da psiquiatria. O primeiro foi a clorpromazina, que foi lançada em 1954. E, no início, os psiquiatras estavam sóbrios, porque a chamavam de lobotomia química – porque funcionava como lobotomia, as pessoas ficavam caladas, passivas -, ou camisa de força química. Esses medicamentos não possuem propriedades antipsicóticas específicas. Eles acalmam as pessoas e diminuem os pensamentos psicóticos – mas diminuem todos os pensamentos. Consequentemente, é difícil existir quando se toma antipsicóticos.

Um ano depois, a propaganda já era extrema. Esqueceu-se que isso é uma lobotomia química. E Harold Himwich, o presidente da Sociedade de Psiquiatria Biológica dos EUA, surgiu com a ideia totalmente absurda de que os antipsicóticos funcionam como insulina para diabetes. Era pura fantasia. Se você precisa de insulina e recebe insulina, isso é um tratamento notável. Você dá às pessoas algo de que elas têm muito pouco. Isso é curativo. Pessoas com psicose não necessitam de nada. Elas não têm nada menos  [químico].

E assim, os psiquiatras gostam de dizer que estas drogas esvaziaram os asilos, com seus efeitos milagrosos. Isso certamente não é verdade. Os asilos foram esvaziados por considerações econômicas. Tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido – em todos os lugares em que foi estudado – não teve nada a ver com o efeito dos antipsicóticos. Isso faz parte do folclore na psiquiatria. Há tantos mitos e mentiras na psiquiatria. É muito surpreendente para mim, como especialista em medicina interna. Nunca ouvi falar de nenhuma especialidade onde existam tantas mentiras como na psiquiatria. É muito estranho.

Houve um experimento inicial com duplo cego, onde os pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental – e eles não foram ‘cegos’ efetivamente, porque essas drogas têm efeitos colaterais – eles viram exatamente o oposto do que é realmente verdadeiro quando medicam pessoas com essas drogas. O que eles relataram foi “apatia reduzida” – quando é o contrário. “Movimento motor melhorado” – nada disso. “Menos indiferença” – totalmente errado. Então, isso diz muito sobre o quanto não são confiáveis as pesquisas na psiquiatria. Os psiquiatras muitas vezes veem ou relatam o que gostariam de ver. Este é um fenômeno psicológico.

Os psiquiatras não têm conseguido fazer jus à sua responsabilidade profissional, ao negligenciarem a realização de ensaios diretos entre benzodiazepínicos e antipsicóticos. Quando eu dou palestras para pacientes ou ex-pacientes, eu lhes pergunto: “Se você tiver que ser internado na próxima vez, com uma psicose, o que você prefere? Uma benzodiazepina ou um antipsicótico? ” E todos, até agora, me dizem:” Uma benzodiazepina”. Então, por que os tratamos com drogas que estão entre as drogas mais tóxicas já inventadas, a parte a quimioterapia? Isso não é correto.

Em 1989, 35 anos após a chegada da clorpromazina ao mercado, apenas dois ensaios compararam os dois tipos de drogas – que produziam melhorias semelhantes. Por que muito mais destas pesquisas não foram realizadas? Porque a indústria de drogas controla tudo. E as novas drogas eram muito caras. [Enquanto] as antigas eram baratas. Portanto, não houve incentivo algum para mostrar que as drogas antigas eram igualmente boas, ou talvez até melhores. Então, esses testes não foram feitos. Mas os psiquiatras poderiam ter feito, e não fizeram. Existem agora mais pesquisas. E há uma revisão do Cochrane de 14 ensaios que mostraram que a sedação ocorreu significativamente mais frequentemente com benzodiazepinas. Esses ensaios não são muito bons, mas a melhor evidência que temos nos diz que os benzodiazepínicos são provavelmente melhores. Isto é incrível. No meu país, às vezes os psiquiatras usam benzodiazepínicos em pacientes com psicose aguda. Mas nossos protocolos dizem o mesmo que é dito no resto do mundo: que eles deveriam usar antipsicóticos.

Uma vez que essas pesquisas são tão defeituosas, podemos confiar nas meta-análises de muitas dessas pesquisas – nas revisões feitas pelo Cochrane, por exemplo? Não. Em geral, não podemos. Há uma revisão enorme que foi feita por Cochrane com a clorpromazina: 55 ensaios, 5.500 pacientes. O abstract diz que a acatisia não ocorreu mais frequentemente no grupo da clorpromazina do que no grupo placebo. Essa declaração foi feita sem reservas. Ora, a acatisia é essa extrema forma de inquietação, onde algumas pessoas dizem: “Eu quero pular fora da minha pele”. Isso significa que “eu não posso ficar quieto”. Elas passam a circular freneticamente. E isso as predispõe tanto ao suicídio quanto ao homicídio. Trata-se de uma condição horrível.

Como pode ser que essas drogas causem acatisia e que o maior teste que contribuiu com dados realmente tenha encontrado significativamente menos acatisia na droga do que no placebo – quase metade dos que estavam na droga? Isso não pode ser verdade, porque os antipsicóticos provocam acatisia e o placebo não pode causar acatisia. Então, o que vimos nestes ensaios? Sintomas de abstinência no grupo com placebo! O grupo placebo foi prejudicado de tal forma que não se conseguiu ver quão perigosas essas drogas eram.

Este resultado fala muito sobre o quanto são erradas as pesquisas feitas com esquizofrenia. E alguns pesquisadores do Cochrane perceberam isso. Então eles quiseram estudar pessoas com esquizofrenia que nunca antes haviam sido tratadas com antipsicóticos. Como se pode encontrar essas pessoas? Elas virtualmente não existem. Então, o que eles acabaram fazendo foi uma revisão de estudos em que a maioria apresentava esquizofrenia no primeiro episódio. Eles até mesmo incluíram esquizofrenia do segundo episódio – pacientes que provavelmente já haviam sido tratados. E, se a maioria teve um primeiro ou segundo episódio, então deve haver alguns que tiveram um terceiro episódio ou mesmo um quarto episódio de esquizofrenia. E esses testes também eram falhos. Mas o que eles descobriram foi que a evidência disponível não apoia a conclusão de que o tratamento antipsicótico em um episódio agudo de esquizofrenia seja efetivo.

Não é incrível o quão difícil os pesquisadores podem ser? Por que eles simplesmente não dizem “Não funcionaram”? É isso o que significa. E a próxima frase é ainda mais difícil: “O uso de medicamentos antipsicóticos para milhões de pessoas com um episódio inicial aparece baseado nas evidências para aqueles com múltiplos episódios anteriores.” Em inglês simples, “Esses testes são uma porcaria e nós não sabemos o que estamos fazendo”.

Então, nós tratamos esses pacientes com drogas que eu acredito que estariam melhor sem recebe-las. Mas então, por quanto tempo devemos tratá-los? Muitos deles são tratados há anos, ou pelo resto de suas vidas, infelizmente. Mas alguns estudos foram feitos onde, após um tratamento bem-sucedido, você tenta parar o tratamento, para ver se ainda é necessário. E, claro, você terá sintomas abstinência se você parar o tratamento de repente. Isso é muito horrível. Então, esses testes também são falhos. E você os tem, em geral, em toda parte na psiquiatria. E com a depressão. Então você induz abstinência no grupo de placebo, e aí você diz: “Oh, sim, eles ainda precisam de tratamento”. Essa não é boa ciência.

Mas aqui está um raro excelente artigo. Depois de terem remetido, os pesquisadores randomizaram os pacientes, tanto para reduzir a dose quanto para descontinuar completamente, ou apenas para continuar com a dose – manutenção, de dois anos. E depois de dois anos, o médico poderia decidir o tratamento. Então, o que aconteceu depois de dois anos? Bem, mais foram os que recaíram quando baixaram ou interromperam a dose do que se houvessem continuado com a droga. Mas a recuperação foi o principal resultado. Quem ficou bem? Bem, depois de sete anos, mais pessoas se recuperaram quando reduziram ou interromperam a dose: 40% contra 18%. E a dose, nos últimos dois anos, foi 64% maior no grupo de manutenção. E, o grupo que parou completamente a droga em sete anos – onze pararam durante este período de tempo, no grupo de redução de dose, contra seis. Então, eles receberam menos drogas – e eles ficaram claramente melhores.

Nós temos outras evidências que apoiam isso: quanto menos você usa antipsicóticos, mais provável é que seu paciente volte à vida e obtenha um emprego, continue com a vida normalmente. Assim, esses antipsicóticos, eles criam pacientes crônicos. Isso é o que eles fazem.

E como descobrimos se eles matam pessoas? Algumas lideranças psiquiátricas dizem que os antipsicóticos realmente ajudam as pessoas a sobreviver. Isso é uma falácia. Tais drogas tóxicas – como elas podem ajudar as pessoas a sobreviver? E então, eles constroem a sua revisão baseada em pesquisas muito ruins. Se usarmos os ensaios randomizados em esquizofrenia para descobrir se essas drogas são letais, o que há é falho, porque temos mortes no grupo do placebo, por causa da abrupta interrupção do medicamento. Portanto, não podemos usar as pesquisas com esquizofrenia. Por isso eu fui para os idosos, com Alzheimer e demência, onde essas drogas foram testadas. Porque eu pensei, provavelmente um bom número dessas pessoas não estavam em tratamento antes, então não haveriam os sintomas de abstinência no grupo de placebo.

Então, o que foi mostrado? Bem, para cada 100 pessoas tratadas por algumas semanas, houve uma morte adicional em drogas, em comparação com o placebo. Esta é uma evidência condenatória, que matamos muitas pessoas com essas drogas. E isso aconteceu apenas durante algumas semanas. E, considerando o enorme aumento de peso que muitas pessoas adquirem – e elas desenvolvem diabetes e problemas cardíacos, e assim por diante – é muito difícil imaginar que essas drogas salvem vidas. Elas não salvam. Elas matam muitas pessoas.

E elas fazem muito mais. Elas destroem as pessoas. Elas levam a irreversíveis danos cerebrais, que podem começar muito rapidamente, e que progridem de forma relacionada à dose – quanto maior e maior tempo com as doses, pior. E poucas pessoas voltam à vida normal, comparando-as com quem não toma essas drogas. A pessoa se torna dependente de praticamente todas as drogas psiquiátricas. Então, se pode ter sintomas de abstinência quando se para de repente. E se pode ter psicose, mesmo quando se está com drogas, porque é mudado o cérebro de tal forma que se pode ter o que é chamado de psicose de supersensibilidade. E isso é típico para muitas outras drogas psiquiátricas: que elas realmente podem criar as doenças para as quais elas supostamente trabalham, ou mesmo pioram as doenças. Então esses medicamentos são realmente facas de dois gumes, que os médicos têm dificuldade extrema em lidar. Na verdade, não podem.

Então, voltemos à ética. A força é eticamente defensável? Não. Algumas horas, ou dias, de comportamento perturbado são tratados como a causa de uma sentença de tratamento medicamentoso para toda a vida. E os psiquiatras em treinamento quase nunca verão um paciente que ainda não esteja obnubilado pelas drogas. Portanto, eles recebem a impressão errada, tanto do paciente e seus pontos fortes quanto do potencial de cura sem drogas.

Então, normalmente, quando os pacientes têm movimentos e tiques estranhos, e passam a salivar, e assim por diante, estes são efeitos de drogas. Mas muitas pessoas acreditam que isso pertence à esquizofrenia; que é um efeito da doença. Não é. Alguns psiquiatras sentem que não podem viver sem o tratamento forçado. A maioria deles sente isso. Mas eles devem pensar sobre o fato de que os pacientes não podem viver com isso. Eles realmente morrem disso. O que é muito pior.

Somente soldados em guerra e pacientes psiquiátricos são forçados a correr riscos contra sua vontade, que podem matá-los ou enfraquecê-los. Mas os soldados escolheram se tornar soldados; os pacientes psiquiátricos não escolheram se tornar pacientes psiquiátricos. Então isso é profundamente antiético. E, como todos sabemos, o poder corrompe. E o desequilíbrio de poder na psiquiatria é extremo. Portanto, existe um risco elevado de que o tratamento forçado seja usado para beneficiar a equipe, e não os pacientes, para tornar o seu trabalho menos estressante. Sabemos que isso acontece muito.

Eu estimei que os antipsicóticos mataram centenas de milhares de pessoas, e causaram aflições em dezenas de milhões. É realmente gigantesco o número. Alguns pacientes que foram mortos imploraram aos que chamam seus torturadores para que não lhes dessem drogas. E muito poucos foram investigados pelo seu metabolismo lento, algo que pode aumentar o risco de morte. Muitas pessoas têm um metabolismo muito diferente da média: lento, intermediário ou rápido.

Aqui está a história dolorosa de uma garota dinamarquesa, escrita por sua mãe: como a psiquiatria matou sua filha, aos 32 anos, depois de uma ‘carreira’ de 14 anos na psiquiatria. Ela era uma metabolizadora lenta. Sua mãe implorou ao psiquiatra que fizesse um teste, o que ele recusou. Quando o melhor amigo de Luise de repente caiu morto no chão do hospital, na Dinamarca, Luise disse: “Eu serei o próximo”. Ela estava morta seis meses depois.

Em um momento durante tudo isso, ela perguntou à sua mãe, “Mãe, você acha melhor o céu?” É tão cruel. E muito poucos vão acreditar no tratamento forçado depois de ter lido este livro. [1] Vocês irão ter lágrimas escorrendo pelo queixo, se vocês lerem este livro. Então eu posso recomendá-lo para vocês.

O diagnóstico estava errado. Ela não tinha esquizofrenia. Ela tinha Asperger. Os psiquiatras não a ouviram, nem mesmo ouviram a sua equipe, que conhecia Luise muito melhor do que eles. Eles declararam que ela estava gravemente doente e que deveria ter ainda mais drogas – quando a equipe disse: “Ela está bem”. Eles sempre culparam Luise e sua mãe por tudo. Quem falhou, nunca foram suas pílulas preciosas, e certamente não eles próprios. Isso também é bastante típico. E eles aumentaram a dose, quando deveriam ter diminuído ou parado completamente. Luise não tolerava as drogas, e ela sabia que provavelmente a matariam.

Post-mortem, o sistema parabenizou por seu homicídio de primeira classe. Luise havia recebido o mais alto padrão de tratamento especializado. Isso é o que dizemos na Dinamarca, quando matamos pessoas em psiquiatria: “Causa da morte, desconhecida”. O termo aceito para tais mortes é “morte natural”. Como é natural que uma jovem de 32 anos de repente caia morta?

Sabemos que o contato hospitalar psiquiátrico é bastante fatal. Nós sabemos disso a partir de um grande estudo dinamarquês de 2.500 suicídios. Quanto mais perto o contato com o pessoal psiquiátrico – que muitas vezes envolve tratamento forçado – pior é o resultado. A taxa de suicídio é 44 vezes maior para as pessoas internadas em um hospital psiquiátrico, em comparação com aqueles que não recebem tratamento psiquiátrico.

E, então, você naturalmente pensará: “Isso não é natural? Aqueles que estão mais doentes são admitidos no hospital e depois se matam? Ora isso não é por causa de um mau ambiente no hospital! “Mas, na verdade, a maioria dos possíveis vieses neste estudo não negou a hipótese de não haver tal relação. Então este estudo é bastante forte. E houve um editorial a dizer: “É totalmente plausível que o estigma e o trauma inerentes ao tratamento psiquiátrico, particularmente se for involuntário, possam causar suicídio”.

As pessoas do meu país ainda são informadas – nem sempre, mas às vezes – “A esquizofrenia é uma doença crônica e vitalícia, e você precisa estar drogado durante toda a vida”. E então eles saem do hospital e não têm esperança. É para se estranhar que algumas pessoas se matem neste momento, quando também sofrem com efeitos colaterais horríveis? Acho que não. E a esquizofrenia não é uma doença crônica e progressiva. As pessoas podem curar-se da esquizofrenia.

Então, agora chegamos ao Alasca. Porque o Supremo Tribunal do Alasca decidiu que o Estado não pode induzir alguém a se drogar contra a sua vontade sem provar, por evidência clara e convincente, que é no melhor interesse dos pacientes, e não haver nenhuma alternativa menos intrusiva disponível. Eu já falei sobre os benzodiazepínicos. Isso é menos intrusivo! Há sempre alternativas menos intrusivas disponíveis. E Jim Gottstein – ele próprio um ex-paciente – usou evidências científicas para convencer os juízes.

Em outro caso, o tribunal decidiu que, se a alternativa for viável, o Estado deve fornecer ou deixar a pessoa ir. Jim também observou que os psiquiatras, com a plena compreensão do que está sendo julgado, insistem regularmente no tribunal para obter a aprovação do compromisso involuntário e para as ordens de medicação forçada. Eu tive essa experiência ontem. As petições que vi estavam cheias de mentiras. É inacreditável. Podemos discutir isso mais tarde.

Agora, as questões legais são, por exemplo, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que trata da proibição de tortura: “Ninguém será submetido a tortura ou a tratamentos desumanos ou punições cruéis ou degradantes”. E temos um comitê para a prevenção da tortura que viaja e visita instituições psiquiátricas, e escreve relatórios, com críticas. E eles dizem que os pacientes são frequentemente retidos – geralmente mecanicamente, com cintos – como uma sanção por mau comportamento percebido, ou como um meio para provocar uma mudança de comportamento. Isso não é permitido. E, “onde a restrição física é necessária, deve, em princípio, limitar-se ao controle manual” – que você segure o paciente, assim [segurando os pulsos do paciente imaginário]. Falar com o paciente, acalmá-lo, é a técnica preferida. E Peter Breggin, do estado de Nova York, em particular, mostrou o quão eficaz isso pode ser. Você pode acalmar as pessoas; você precisa ser gentil com elas e respeitá-las. Então, você raramente precisa de drogas. E se o paciente quiser algo para dormir, uma benzodiazepina irá resolver.

E então, a desculpa de que a restrição mecânica é boa, porque libera a equipe para outras tarefas, está errada. Isso requer mais, não menos pessoal médico, porque você precisa de vigilância constante. Algumas pessoas morrem quando são mecanicamente reprimidas; chegou a 100 por ano nos Estados Unidos.

“Os pacientes psiquiátricos devem ser tratados com respeito e dignidade, e de maneira segura e humana que respeite suas escolhas e autodeterminação”. Isso certamente não acontece aqui no Alasca. E o comitê de tortura muitas vezes considera que se os componentes fundamentais do tratamento eficaz de reabilitação psicossocial estão pouco desenvolvidos, ou mesmo que estejam totalmente em falta – por isso é que se deve tratar com drogas, eletrochoque ou cintos – e que o tratamento fornecido aos pacientes deva consistir essencialmente na farmacoterapia. Não houve um único teste randomizado que tenha comparado isolamento ou restrição mecânica com outros tipos de intervenção. E, como eu disse, essas medidas podem ser fatais. O eletrochoque é fatal em cerca de um em cada mil tratados.

Temos direito humano a um reconhecimento igual perante à lei. Isso deve ser aplicado a todos, incluindo pessoas com transtornos mentais, o que não é feito atualmente. Mas temos a Declaração Universal sobre os Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – esta última ratificada por praticamente todos os países, com exceção dos Estados Unidos, disse-me Jim Gottstein. Aqui é o único país do mundo que eu conheço que não ratificou esta Convenção. Este é o seu país.

Assim, esta Convenção diz que os Estados membros devem começar imediatamente a tomar medidas para realizar esses direitos, desenvolvendo leis e políticas para substituir regimes de tomada de decisão –  “Vamos decidir o que é bom para você” – por tomada de decisão apoiada, que respeite os desejos da pessoa; a autonomia da pessoa.

“As pessoas têm o direito de ser livres de uma detenção involuntária em um centro de saúde mental e não ser forçada a sofrer tratamento de saúde mental”. Está claramente formulado lá. “O tratamento forçado é uma violação do direito ao reconhecimento igual é uma violação do direito à integridade pessoal, à ausência de tortura e de violência, exploração e abuso”. E, como todos sabem, a violência gera violência. Assim, quando os pacientes são violentos em enfermarias, muitas vezes é por causa das condições desumanas que experimentaram. Não é a sua doença. Pode ser, mas geralmente não é o motivo.

Então, continuemos: “Esta é uma violação encontrada em todo o mundo, apesar de” – isso é importante – “apesar das evidências empíricas que indicam a falta de eficácia” – então, não funciona – “e as opiniões de pessoas que usam sistemas de saúde mental, que experimentaram dor profunda e trauma como resultado de um tratamento forçado “. Assim, introduzimos muitos danos, sem benefício; praticamente nenhum benefício. É muito pouco, em comparação com os danos.

Aqueles que são os primeiros a atender os pacientes – os primeiros a dar respostas – “devem ser treinados para reconhecer as pessoas com problema mental como pessoas plenas diante da lei e dar o mesmo peso às suas queixas e declarações como fariam para qualquer outra pessoa”. Isso não acontece hoje.

“A insensatez da mente não é uma razão legítima para a negação da capacidade legal”. Vi isso ocorrer de diversas formas, ontem: “O paciente não consegue dar um consentimento informado”. Isso simplesmente não é verdade. Muitos poucos pacientes psiquiátricos não conseguem dar o seu consentimento. Mas isso é usado como uma desculpa para aplicar a força. E o conceito de ‘capacidade mental’ é altamente controverso em si mesmo. Não é um fenômeno objetivo, científico e de ocorrência natural, como os elefantes na África.

“A capacidade mental depende de contextos sociais e políticos, assim como as disciplinas, profissões e práticas que desempenham um papel dominante na avaliação da capacidade mental”. E quem avalia a capacidade mental? O psiquiatra, que tem um enorme conflito de interesses, e acredita nessas drogas, e todas as outras coisas. O paciente está indefeso, essencialmente. Onde está o ‘observador independente’ aqui? Já era.

Então, temos essas Diretrizes Avançadas, que são muito importantes, conforme a Convenção. Se as pessoas declararem sua vontade e preferências antes de serem internadas no hospital, elas devem ser seguidas; elas devem ser respeitadas. E na medida em que uma Diretiva Antecipada entrar em vigor isso deve ser decidido pelo paciente e não pela equipe. E se você não consegue descobrir o que o paciente realmente quer dizer, porque o paciente está profundamente perturbado, então “a melhor interpretação da vontade e preferências” deve substituir o “sabemos o que é melhor para você”. É assim que é hoje. Ora devemos tentar interpretar. E podemos pedir aos parentes.

Na Dinamarca, temos duas maneiras de admitir um paciente involuntariamente. E eu suponho que é praticamente o mesmo nos Estados Unidos. Um deles é que, se um paciente é insano, ele pode ser admitido involuntariamente “se a perspectiva de cura ou melhoria substancial e significativa da condição, estiver de outra forma significativamente prejudicada”. Mas isso nunca é o caso. Que tratamentos temos em psiquiatria que significam que, se não forçamos o paciente a ir a um hospital, a perspectiva de cura será substancialmente prejudicada? Não temos tais tratamentos. É fantasia. É uma pura ilusão. Portanto, esta cláusula não deve se aplicar a ninguém.

Então, chegamos ao seguinte: se os pacientes são “perigosos para si mesmos ou para os outros”. Mas isso também não é necessário. Na Itália, eles têm uma lei que diz que você não pode admitir um paciente involuntariamente porque o paciente é perigoso – isso é uma questão para a polícia. Na Islândia, o mesmo: eles pedem à polícia, e a polícia permanece na enfermaria psiquiátrica. Mesmas leis para todos; nenhuma discriminação lá. E, na ética, se você deseja tratar uma pessoa em Situação A de forma diferente de uma pessoa na Situação B, então você deve poder encontrar uma diferença eticamente relevante entre a Situação A e a Situação B. Essa é pura lógica.

Vejamos isso. No meu país, os médicos não podem dar insulina aos doentes sem a sua permissão; nem mesmo se a falta de insulina puder vir a matá-los. E não podemos dar transfusões de sangue a adultos testemunhas de Jeová se não quiserem, mesmo que possam morrer. Aprendi hoje que, nos Estados Unidos, você pode forçar essa pessoa a receber transfusões de sangue. Não entendemos assim na Dinamarca. Valorizamos a autonomia pessoal, que é maior do que isso. Se as pessoas decidirem por si mesmas, deixemo-las decidir. Algumas pessoas fazem coisas muito perigosas. Elas dirigem uma moto sem capacete, tão rápido quanto podem. E algumas morrem. As pessoas fazem muitas coisas que as matam. Temos que aceitar isso.

As únicas drogas que podem ser administradas com permissão são também algumas das mais perigosas.

Eu estimei em meu livro, com base na melhor ciência que eu poderia encontrar, que as drogas psiquiátricas são o terceiro maior assassino, após doenças cardíacas e câncer. Elas matam um número enorme de pessoas.

E então, existem os falsos conceitos colossais. É uma suposição de direito comum que, se uma pessoa não conseguir dar o seu consentimento, o profissional de saúde age de acordo com o que ele próprio teria preferido. Mas não podemos assumir que uma pessoa gravemente psicótica quer drogas psicotrópicas, ou que ela não consegue entender o que está sendo proposto, ou suas consequências. Por exemplo, ela pode recusar drogas por causa da experiência anterior de danos graves. Um paciente pode ser totalmente psicótico; isso não significa que ele não saiba o que significa tomar uma droga antipsicótica, e o que significa não ser tratado. É, novamente, uma violação dos direitos humanos.

E as leis sobre o tratamento forçado certamente se baseiam no equívoco prejudicial de que os antipsicóticos têm um efeito específico sobre a psicose, o que é bom para as pessoas. Eles não têm esse efeito. Em 1975, pacientes nos Estados Unidos levaram sua briga para a corte e lutaram por seus direitos a consumir. E, ao mesmo tempo, dissidentes soviéticos contrabandearam manuscritos descrevendo neurolépticos como o pior tipo de tortura. É bastante difícil explicar como a mesma substância pode ser um veneno em um país e um remédio útil em outro – particularmente porque o veneno foi usado como tratamento forçado em ambos os países.

E podemos fazer muito em vez da força: comunicação assertiva, em vez de intervir muito tarde na turbulência. Terapia de exposição basal: se as pessoas têm muito medo de algo – se elas têm uma fobia – você pode expô-las, gradualmente. Oferecendo alternativas sem drogas – que está sendo introduzido na Noruega agora.

Então, esta é uma maneira de se livrar do tratamento forçado. Porque se você pode decidir, “eu quero chegar a um serviço de psiquiatria onde eu não recebo drogas”, então estamos a caminho de proibir o tratamento forçado. Isso é muito bom. Estou tentando obter apoio político na Dinamarca para o mesmo, e há interesse nisso. Poucas pessoas que precisam ser acalmadas vão recusar drogas. Mas deixe-as decidir!

“Sempre há planos para diminuir gradativamente as drogas”. Isso praticamente nunca existe, e os psiquiatras nunca aprenderam a fazer isso. Então, tipicamente, eles reduzem a dose em 50%, e então as pessoas ficam muito ruins. Se necessita reduzir muito, muito pouco – tipicamente, apenas 10% da dose – e então deve-se aguardar um pouco. Mas ninguém lhes ensinou isso. Todos aprenderam a usar drogas – aprendercom a indústria das drogas. Mas como pará-las? Isso não aprenderam!

“A psicoterapia funciona para a esquizofrenia”. Descobrimos isso alguns anos atrás, porque algumas pessoas se recusaram a ser tratadas com antipsicóticos, e então uma pesquisa foi feito em psicoterapia. Claro que funciona. E você deve tentar descobrir, por que o paciente teve psicose neste momento da sua vida? “O que aconteceu com a pessoa mais cedo em sua vida?” É tão incrivelmente importante descobrir isso. Mas os psiquiatras modernos, eles raramente têm tempo – eles têm tempo, mas eles priorizam de forma diferente. Eles não tomam a história completa. Eu ouço histórias de pacientes que estiveram como zumbis por dez anos, até encontrarem um bom psiquiatra, que na verdade pegou a história e depois descobriu o que estava errado com eles e começaram a tirá-los das drogas – e eles ficaram saudáveis.

O Diálogo Aberto foi inventado na Finlândia – na Lapónia. Isso significa que, se um paciente se tornar psicótico, você envolve a família nas primeiras 24 horas, e você usa muito pouco as drogas. Você fala com as pessoas. Você usa empatia e amor, como diria Peter Breggin. Você respeita as pessoas. E então você pode ter a polícia, se ficar perigoso.

E então, há o bom policial e o policial ruim. Se você foi um policial e fez uso da força, é impossível mudar esse papel no dia seguinte e fingir que agora é um terapeuta e que o que há de melhor para o paciente. Você não pode fazer isso, na verdade. Talvez às vezes, mas geralmente não. É por isso que os psiquiatras não devem agir como agentes policiais. E a violência gera violência, como eu disse.

Depois, há as Ordens de Tratamento Comunitário – eu ouvi sobre isso hoje: é isso, mesmo quando você sai do hospital, você não está livre dessas drogas. Você pode obter tratamento forçado, ainda assim. E se você não tomar seus comprimidos, você recebe uma injeção. Há uma Revisão do Cochrane – e não houve diferença no uso do serviço, ou em qualquer outra coisa. E no Reino Unido, esperava-se que as Ordens de Tratamento Comunitário levassem a menos internações hospitalares. Mas as admissões aumentaram. E houve uma grande variação nessas ordens – algumas áreas dando alta à metade dos pacientes com ordens de tratamento, e outras não. Então, alguns psiquiatras sentiram: “Não, isso é demais. Não usaremos isso. Isso não é ético. ”

E há um grande risco de abuso, com as Ordens de Tratamento Comunitário. Se a angústia de um paciente for considerada gerenciável, os profissionais podem argumentar que a prescrição está funcionando e deve ser continuada. Mas em que ponto deve ser interrompido? E se isso não funcionar? Então, a droga forçada é muitas vezes aumentada, causando ainda mais miséria e mais mortes.

Então, temos alguns casos limítrofes de que sempre ouço falar, quando digo que quero proibir o tratamento forçado e a admissão forçada. “O que devemos fazer então com pessoas com anorexia nervosa?” Bem, se é uma ameaça à vida, nós estamos obrigados intervir, na verdade. Eu disse antes que não podemos dar às pessoas insulina contra a vontade delas, então parece que estou me contradizendo. Mas nós realmente temos leis no meu país que dizem que podemos intervir se uma pessoa está quase morrendo. Nós podemos fazer isso. Também podemos intervir em coma insulínica, mas não se pode intervir enquanto o paciente estiver consciente. Não temos permissão para fazer isso.

E quanto a mania? Esse é um caso difícil. Se você escreve um cheque para o Papa de um milhão de dólares e faz todo tipo de coisas bizarras – isso é muito difícil, sem força. Como você lida com essas pessoas? Não digo que seja fácil. Mas uma das coisas que podemos fazer é tirar todas as capacidades legais dessa pessoa, para que essa pessoa não consiga mais cheques. Nós podemos fazer isso sem tratamento forçado – sem essas malditas drogas.

E você também deve notar que, se abandonarmos o tratamento forçado na psiquiatria, ele produzirá muito mais bem do que mal. Claro, algumas pessoas sofrerão – alguns maníacos. Mas é o mesmo em todos os lugares nos cuidados de saúde. A quimioterapia irá produzir muito mais bem do que prejudicar alguns tipos de câncer. Mas algumas pessoas serão mortas por isso. Esse é sempre o caso. Não podemos salvar a todos.

E podemos ter uma psiquiatria sem força. Isso foi demonstrado na Islândia, onde um psiquiatra queimou os grilhões em 1932. E eles não foram usados desde então, na Islândia. Na Noruega, o hospital de Akershus – que está perto de Oslo – não tem um regime para tranquilização rápida, e nunca precisou de um, nos últimos 20 anos. O que acontece nos Estados Unidos e na Dinamarca, quando um paciente psicótico entra pela porta? Imediatamente, esse pobre rapaz é tratado com um antipsicótico. Esse é o padrão. Na Noruega, eles não têm um regime para isso. Isso é bastante surpreendente.

E em Londres, os psiquiatras esperaram, em um hospital, uma média de duas semanas antes de fazerem qualquer coisa, em termos de drogas para pessoas recém-admitidas. E a maioria das pessoas escolheu tomar algum medicamento, muitas vezes em doses muito pequenas. Eles decidiram isso sozinhos. Portanto, é muito possível que tenha sido o respeito, o tempo e o refúgio que ajudaram o paciente – e não as doses de limite de subtratamento.

E no norte da Itália, a força não é usada. O chefe da psiquiatria argumenta que você tem que proibir completamente a coerção, já que os empregados de outra forma o usariam e não desenvolveriam outras abordagens que tornassem a coerção desnecessária. Eu li ontem, na página oficial de transmissão de TV, que os psiquiatras estavam confusos em toda a Noruega, porque o ministro disse que agora deveriam fornecer serviços livres de remédios. A confusão era: “Mas o que devemos fazer então? Nós sempre tratamos pessoas com drogas! Socorro! Nós não sabemos o que fazer, sem drogas! “Isso é bastante assustador, não é? Mas agora eles têm que fazê-lo, porque o ministro os ordenou.

Lewis, um sacerdote e escritor da Irlanda do Norte, escreveu algo muito interessante: “De todas as tiranias, uma tirania exercida sinceramente pelo bem de suas vítimas pode ser a mais opressiva. Pode ser melhor viver sob grandes ladrões do que sob movimentos morais omnipotentes. A crueldade do ladrão às vezes pode dormir, a sua cupidez pode, em algum momento, ser saciada; mas aqueles que nos atormentam para o nosso bem nos atormentarão sem fim, pois o fazem com a aprovação de sua própria consciência.” Isso é muito central para o que eu quero dizer sobre a psiquiatria.

Temos os nossos problemas na Dinamarca. Apenas dois anos atrás, o Ministro da Saúde da Dinamarca emitiu uma licença para matar. Foi permitido que os psiquiatras usassem doses extraordinariamente grandes para tratamento forçado e foi dito: “Isso se aplica especialmente aos pacientes que estiveram em tratamento prolongado e onde doses menores foram testadas sem um bom resultado terapêutico”. Mas estes são os pacientes que deveriam ter seus medicamentos retirados! É exatamente o oposto. Dar mais do que já não estava funcionando não ajuda; isso mata.

Descanse em paz, tratamento forçado. E não os pacientes!

Obrigado.

[Aplausos]

[O auditório está aberto às perguntas]

Membro da audiência: estou perturbado pelo tratamento dos prisioneiros na América. É dito que um grande número de presos americanos estão mentalmente doentes, e há uma grande quantidade de mortes. Relata-se guardas como sendo muito brutais com os prisioneiros. Então, como outros países lidam com esses casos de pacientes mentais, sem causar morte?

Peter: eu não sei muito sobre isso. Na verdade, o que eu sei é o que você acabou de dizer: que é um capítulo muito tenebroso na América, da maneira como vocês tratam os prisioneiros. E o que eu percebi na Europa é que não é tão ruim quanto o que vocês têm aqui na América. Me desculpe, mas é isso que ouvi. Não estudei a ciência sobre isso. Mas não é surpreendente que as pessoas nas prisões americanas se se tornem psicologicamente perturbadas neste ambiente. E as drogas não são a solução para isso.

Membro da audiência: sobre o que estamos falando quando estamos discutindo a causa da morte? É uma reação à droga? É suicídio? Quais são as variantes disso?

Peter: Isso não é fácil de se estudar. Se uma pessoa com excesso de peso morre de um ataque cardíaco, a causa da morte no atestado de óbito será: ‘ataque cardíaco’. Mas isso é enganador. Como o fabricante de drogas pode ser excluído dessa equação? O que me chama a atenção é qual é a expectativa de vida para pessoas com esquizofrenia? E, você sabe, é 20 ou 25 anos a menos do que o resto da população.

E outra razão para isso é que essas drogas são tão terríveis que algumas pessoas começam a fumar para lidar com elas e seus efeitos colaterais. E eles podem fumar bastante. E isso também contribui para as mortes, e isso não aconteceria se não tivessem recebido essas drogas. Então, se você morrer de câncer de pulmão, isso é chamado câncer de pulmão. Não se chama “Por tantos anos, você recebeu uma droga que você nunca deveria ter recebido. É um erro médico.” Isso nunca aparece em um atestado de óbito.

E então, essas drogas podem causar mortes súbitas de coração: você de repente cai morto, por exemplo, por causa de distúrbios elétricos no coração. Prolongamento do intervalo QT, é como é chamado tecnicamente. Os antidepressivos também prolongam o intervalo QT – e aumentam o risco de arritmias que matam as pessoas. Então, se você receber vários tipos de drogas psiquiátricas, você aumenta o risco de morte súbita.

E é claro, então, temos todas as quedas. Quando você anda em uma nuvem, e você está confuso, você cairá mais facilmente, e pode machucar sua cabeça ou quebrar seu quadril, e isso também é perigoso.

Membro da audiência: Eu só me pergunto se a hospitalização ou a medicação forçada de alguém que é suicida não é justificada. Ou vamos ficar vacilando em fazer a escolha?

Peter: Você pode ser mais preciso nisso?

Membro da audiência: trabalhei por um tempo na intervenção de crise em um hospital, onde as pessoas em crise eram internadas – pela polícia ou parentes, infelizmente, quando não haviam outras opções – para o Instituto de Psiquiatria do Alasca, onde poderiam ser submetidas à medicação contra a vontade delas, ou não eram autorizadas a sair, durante o período de 72 horas, e elas não gostavam disso. Mas eu não sei se a alternativa de as deixar se matar também é aceitável.

Peter: eu posso me referir a Peter Breggin e a outros dos meus heróis. Peter Breggin nunca usa drogas. Ele nunca usa a força. E há outros psiquiatras como ele. E ele nos explicou como ele lida com pacientes assim – e as drogas não são a solução. Essas drogas parecem aumentar seu risco de suicídio. E não ao contrário. Os medicamentos antidepressivos também aumentam o risco de suicídio. Não é o tema da minha conversa hoje à noite, mas muitos suicídios por drogas antidepressivas foram deliberadamente ocultados pelas empresas farmacêuticas. Os fármacos antidepressivos aumentam o risco de suicídio, e não sabemos se existe um limite de idade superior onde não seja esse o caso. Mas nós sabemos que, se as pessoas idosas tomam antidepressivos, muitas delas caem e quebram o quadril e morrem. Portanto, a taxa de mortalidade em pessoas idosas que tomam antidepressivos é bastante alta. E, nos jovens – bem, muitos são levados ao suicídio, com drogas que não os ajudam. Portanto, toda a ideia de drogas psiquiátricas é errada, na minha opinião. Criamos um sistema completamente errado. Devemos usar drogas psiquiátricas quase nunca, e quando muito, com grande moderação – e jamais contra a vontade do paciente.

Membro do público: eu me pergunto se você tem algum comentário sobre o uso de drogas psiquiátricas em pacientes com delírio.

Peter: Bem, o delírio é uma situação que ameaça a vida, então se deve tratá-lo com as drogas que sabemos funcionar para esta situação. Esse é um caso bastante especial. E, é claro, você pode dizer que um paciente que é delirante pode estar tão profundamente perturbado psicologicamente que é impossível se comunicar com esse paciente. Mas então, de acordo com as Nações Unidas, você deve tratar o paciente de acordo com o que você acha que o paciente teria preferido em um estado onde o paciente não estava delirando. E acho que a maioria das pessoas preferiria ser salvo nessa situação. Então, isso seria natural. Isso, eu não chamaria de tratamento forçado. É mais como, se alguém cair no porto, você realmente tem permissão para tentar salvá-lo do afogamento; é mais parecido com isso. Mas eu sei que existem essas sutilezas que precisam ser resolvidas, se não tivermos tratamento forçado. Não sei se eu fui o suficientemente claro sobre isso; espero que sim.

Membro da audiência: E se um paciente parecia estar em delírio, mas depois descobriu-se que não tinha delírio?

Peter: Não penso que seja útil discutir todos os tipos de casos academicamente muito interessantes, mas muito raros. Olhemos para a imagem ampla, onde estamos matando e prejudicando tantas pessoas hoje. Temos um sistema que não está funcionando. E então podemos lidar com o resto – quando nos livrarmos do tratamento forçado. Como eu disse, sempre haverão baixas nos cuidados de saúde, mesmo que façamos o nosso melhor. Sempre haverá. Mas não tantas como hoje.

Membro da audiência: penso que é realmente notável, o que você disse sobre a Islândia que trata pessoas que são violentas e mentalmente enfermas, do mesmo modo como aquelas que são violentas e não estão mentalmente doentes. Minha observação é que, neste país, isso teria um impacto significativo no nosso sistema judicial, porque a determinação da solidez mental é muito importante. Muitas vezes, as pessoas tentam reivindicar um problema de saúde mental como defesa: “Não posso receber uma pena de morte, nem passar a vida na prisão, porque estou insana”. Então, você tem o pedido de insanidade aqui. Isso é o que eles chamam de insanidade.

Peter: Isso sempre é interessante, mas acho que está um pouco fora do ponto – a polícia estar lidando com pessoas perigosas. Estes são dois problemas distintos. Você ficou tentado a responder a isso, Jim?

Jim: Eu só ia comentar que, quando as pessoas dizem que estão mentalmente doentes como uma desculpa por não serem responsáveis por um crime, geralmente são condenadas a um período muito mais longo em um hospital psiquiátrico do que seriam se elas fossem realmente condenadas pelo crime.

Peter: Sim. E eu posso lhe dar um exemplo absolutamente horrível. Eu fui uma testemunha como perito na Holanda, onde uma mãe foi colocada em paroxetina, uma droga antidepressiva. Ela começou a ter pesadelos sobre cortar a garganta de seus dois filhos. Ela desenvolveu acatisia – essa condição terrível que predispõe ao suicídio e ao homicídio. Seu psiquiatra não fez nada. Esta era uma negligência médica. Eles deveriam tirá-la dessa droga perigosa. E então, uma manhã, ela cortou a garganta de seus dois filhos e os matou e tentou se matar com a mesma faca.

Eu era uma testemunha perito, e era tão claro para mim que isso provavelmente nunca teria acontecido, se não fosse pelo medicamento antidepressivo. Era tão óbvio. Então, eu disse aos juízes que eles deveriam estar interessados no psiquiatra, em vez de no acusado, porque não era culpa dela. E você sabe o que aconteceu? Esse foi o Tribunal Superior – não era o Supremo Tribunal – na Holanda. Eles condenaram essa mulher ao confinamento vitalício em uma instituição psiquiátrica. Vitalício.

No meu país, se planejarmos um assassinato – assassinato em primeiro grau – assassinar alguém e depois comportar-se bem na prisão, saímos depois de doze anos. Essa mulher será torturada pelo resto de sua vida. Era o que eles queriam. Para que? Ela já levava uma vida horrível. Ela não era ela mesma quando cometeu esses assassinatos. Isso é típico desses assassinatos; ela não era absolutamente ela mesma. Ela não entendeu. E quando a polícia chegou, ela não entendeu nada. Foi apenas um dia ou dois depois que ela começou a perceber o que se passou.

Este caso foi levado ao Supremo Tribunal da Holanda. Espero ir para lá, para o Supremo Tribunal. E também foi apelado pelo promotor. Eles obviamente sentiram que não era o suficiente. Não consigo ver como isso pode ser pior. Eu consegui provocar um debate na Holanda. Conheci alguns jornalistas interessados em meu trabalho e meus livros, então entrei em contato com um deles. Então, tornou-se uma notícia da primeira página, o que aconteceu no tribunal. E isso levou a perguntas no Parlamento, como “Os juízes holandeses são tão duros quanto os dos países vizinhos?” Eles certamente são. Isso nunca aconteceria no meu país. Na Holanda, eles de alguma forma têm uma tradição de ser muito, muito punitivos com pessoas que não teriam cometido esse crime sem as drogas. Isso é profundamente, profundamente inaceitável. Então espero que o resultado seja diferente no Supremo Tribunal.

Membro da audiência: Desculpe – Estou em prantos, porque tive uma experiência muito semelhante à situação que você acabou de descrever com essa mulher na Holanda, pessoalmente. Eu experimentei depressão pós-parto que incluía alucinações com o meu próprio cadáver por toda a casa. Eu estava sozinha com meu bebê de nove meses, enquanto meu marido militar estava transferido. E eu absolutamente me recusei a ver um psicólogo, porque eu não queria que eles me colocassem em drogas. E eu melhorei, depois de cerca de 18 meses de terapias alternativas. Foi muito, muito, muito difícil para o meu marido, que chegou a casa de uma esposa praticamente irreconhecível; mas nós conseguimos isso. E nunca me machuquei nem meus filhos, mas definitivamente pensei muito nisso. É um grande problema. Eles estimam que uma em cada quatro mulheres sofre de depressão pós-parto, e muito poucas pessoas falam sobre isso.

Peter: Sim. E é totalmente errado dar a essas mulheres drogas antidepressivas. Está totalmente errado. Obrigado por contar isso. A quantidade de fraude em ensaios de drogas na psiquiatria é gigantesca. Quando as empresas realizam ensaios, as mortes desaparecem; os suicídios desaparecem. Há muita fraude aqui. Esta é uma das razões pelas quais os psiquiatras não estão conscientes de quão perigosas são essas drogas. Isso é criminal por parte do setor de drogas.

E é tão incrivelmente triste, que você pode até conhecer psiquiatras que acreditam que os antidepressivos realmente protegem as crianças contra o suicídio. Então, permita-me recomendar-lhe uma coisa. Eu tenho um site chamado “www.deadlymedicines.dk”. Você pode encontrá-lo facilmente; apenas joguem o meu nome no Google.

Tivemos uma reunião no ano passado, na Dinamarca, quando meu livro saiu. E eu conheci algumas mulheres que perderam um marido, ou um filho, ou uma filha, por suicídio causado por drogas antidepressivas. E eu informei essas mulheres sobre o meu encontro. Então, elas ofereceram pagar por si mesmas – elas não faziam parte do programa – mas elas queriam vir me apoiar e contar suas histórias na reunião. Havia cinco mulheres: três da América, duas da Irlanda. Elas receberam doze minutos cada; uma hora no total. [2] Este foi o destaque de todo o dia. É tão emocionante ouvir essas mulheres falando sobre o absurdo de tudo isso e sobre como os suicídios são desdenhosamente chamados de “anedóticos”. Não são apenas anedóticos. Os relatórios de ensaio aleatórios não nos dizem que as pessoas morrem de suicídio por causa das drogas. E por que eles não dizem isso? Porque as empresas farmacêuticas foram fraudulentas. Isso não é ‘anedótico’, para aqueles que foram deixados para trás.

Membro da audiência: Gostaria de dizer, desde o início, que agradeço sua preocupação com o tratamento involuntário e a dignidade humana na tomada de decisões. O que tenho não é tanto uma questão como uma declaração pessoal. E ao dar esta declaração, gostaria de dizer que eu tenho uma força e duas fraquezas. A força é que eu sou um recém-chegado aqui para o Alasca. Eu vim do Arizona. Eu já estive aqui no estado desde janeiro. Então, em certo sentido, trago uma visão diferente, do exterior do Alasca, para a situação que você tem aqui, com tratamento involuntário.

As fraquezas que tenho são que sou psiquiatra e trabalho no Instituto de Psiquiatria do Alasca. Conheço a maioria dos psiquiatras com os quais trabalho, são pessoas profundamente humanas, científicas, humanísticas, que se preocupam muito com seus pacientes e também com a ciência do seu trabalho. E a maioria deles chega a uma conclusão diferente do que você, doutor.

Gostaria também de dizer que trabalhar no Instituto de Psiquiatria do Alasca tem sido um grande privilégio, tanto no atendimento aos clientes que servimos, quanto também no trabalho com as equipes de tratamento que temos no Instituto de Psiquiatria do Alasca. Mais uma vez, as pessoas com quem trabalho são profundamente humanistas – todos, conselheiros, assessores, equipe de limpeza; os assistentes de enfermagem psiquiátrica, que trabalham na linha de frente com os clientes; as enfermeiras; os trabalhadores sociais – eles se importam profundamente com os pacientes que eles estão cuidando. Os psiquiatras, eu diria, estão na mesma categoria. Eles não são diferentes. Eles não são pessoas ignorantes.

Quando chegamos à questão do tratamento involuntário – que é a minoria do trabalho que fazemos – acho que todos sentem um senso de conflito sobre isso. E eu diria, pessoalmente, que o Alasca possui um sistema muito robusto, que pede aos familiares de indivíduos envolvidos e outras pessoas na comunidade que conhecem e se preocupam com eles, bem como um visitante da corte, que devem ser indivíduos imparciais, que deem aconselhamento ao juiz que está tomando a decisão. O paciente tem a oportunidade de apresentar sua perspectiva. O psiquiatra tem a oportunidade de apresentar uma perspectiva. E acho que os juízes são muito atenciosos com as alternativas, e olhando as questões: Existe um perigo para si? Existe um perigo para os outros? Existe uma incapacidade de perseguir os próprios objetivos de vida? Durante o inverno, os juízes perguntam: esta pessoa pode sobreviver se eles estão vivendo nas ruas? Se eles estão vivendo no frio? Eles precisam ter algum tipo de abrigo?

Peter: Posso responder à sua pergunta?

Membro da audiência: Bem, claro que você pode responder. E eu gostaria de terminar minha frase, porque estou concluindo. O que eu estou tentando dizer é que eu não acho que seja o tipo de descrição que você deu, de pessoas sem coração que estão interessadas apenas em buscar o poder. Na verdade, não penso que seja assim mesmo.

Peter: Deixe-me tentar responder ao que você disse. Eu concordo com você, que muitos psiquiatras são como o que você acabou de descrever. Eu concordo com isso. Mas também existem outros psiquiatras. E Luise, no livro que lhe falei, foi exposta a alguns desses psiquiatras. Caso contrário, ela não teria sido morta.

O poder corrompe todas as pessoas. Não é algo dos psiquiatras; cada um de nós pode se corromper se ganharmos o poder absoluto. Deve haver algum tipo de equilíbrio de poder, não apenas nos casamentos, mas em todas as relações humanas; caso contrário, isso vai mal. Não é por causa de más intenções, mas dá errado.

E quando você me diz que você tem um bom sistema no Alasca, então eu devo discordar muito com você. Porque acabei de ver o tipo de sistema que você possui. Eu vi petições não passarem de copiar e colar. O mesmo é escrito para todos os pacientes; independentemente do seu problema, sendo considerados incompetentes para darem o seu consentimento.

E o que eu vi estar escrito sobre todos eles, é que eles receberam essas drogas antes, sem efeitos colaterais. É praticamente impossível receber medicamentos psiquiátricos sem efeitos colaterais. E então, também estava dito que, sem todas essas drogas – às vezes, dois medicamentos antipsicóticos, que são medicamentos ruins, além de um medicamento antiepiléptico, além de lítio, além de uma benzodiazepina, e mais talvez uma outra benzodiazepina – e, a cada momento, foi declarado que, sem estas drogas, o prognóstico teria sido pobre; e com estas drogas, o prognóstico foi bom. Isso definitivamente não está certo. Então eu devo discordar com você, veementemente, sobre este ponto. E estou pronto para defender isso. Mas não chegaremos a nenhum acordo sobre isso.

Membro da audiência: acho que os médicos de clínica geral são mais responsáveis por prescrever medicamentos psiquiátricos do que os psiquiatras. E eu concordaria com o homem que disse isso – eu sou um graduado recente da API, e estou muito orgulhoso do que experimentei lá. E eu vi o mesmo que ele fez.

Peter: certo. Mas, como eu disse, já vi o suficiente. O que presenciei ontem no tribunal foi um processo fraudulento. Não foi um processo justo – nada perto de ser um processo justo. E não é uma boa medicina tratar um paciente com muitas drogas psiquiátricas ao mesmo tempo. Essa é definitivamente uma péssima medicina.

E deixe-me apenas acrescentar ao seu ponto de vista, que sou de opinião que os médicos de clínica geral não devem ser autorizados a usar drogas psiquiátricas. Porque essas drogas são perigosas e são uma espada de dois gumes. E quando as pessoas têm efeitos colaterais em uma droga, geralmente isso é interpretado como “Agora você tem uma nova doença”. E então eles recebem outra droga e uma terceira droga e uma quarta droga. E então você não sabe o que está fazendo.

Nem mesmo os psiquiatras são bons o suficiente para isso, e os médicos em geral sabem menos do que os psiquiatras. Por isso não devem ser autorizados a usar drogas psiquiátricas, então teríamos uma população mais saudável. E também, os médicos da atenção primária usam drogas psiquiátricas para praticamente tudo. Se você está se divorciando, ou se o seu marido bebe demais, ou se você está sendo assediado no trabalho ou se tem dor em algum lugar do corpo, ou o que for. Eles têm uma pílula para tudo. Isso é muito ruim. Eu concordo com você completamente.

Membro da audiência: estou praticamente no meio disto, entre dois especialistas. Não duvido que existam indivíduos muito carinhosos no Alaska Psychiatric Institute. Pelo menos eu espero que sim. Não creio que isso seja necessário ser enfatizado. Como um membro da família de um jovem filho que fez essa jornada, o que para mim, como sua mãe muito cuidadosa, estava faltando, era informação do Instituto de Psiquiatria do Alasca. Obviamente, há um movimento de usuários lá que informa sobre os perigos das drogas psiquiátricas, porque já passaram por essa jornada. Eles são os especialistas; não os psiquiatras. E mesmo sendo alguém que trabalha no campo, que estava muito informada quando tudo isso aconteceu, isso me atingiu como um trem de carga. Eu acreditava nos psiquiatras. Quem mais eu poderia acreditar? A informação estava lenta demais para chegar.

Graças a Deus, meu filho – que é brilhante, muito voluntário, e muito irritante, às vezes – insistiu em não tomar drogas. Ele as tomou por um tempo. Ele teve os terríveis sintomas de abstinência. Passamos por isso; foi um inferno. Mas nunca fui informado por qualquer pessoa da comunidade do Instituto Psiquiátrico; ninguém sentou comigo e me disse: “Bem, talvez você possa – há outras informações lá fora. Talvez você queira se informar” – para que eu tivesse uma opção. Nunca recebi uma opção informada, como mãe. E por isso, até hoje, estou irritada. Eu poderia ter economizado dois anos da jornada do meu filho, se nós tivéssemos ido sem medicamentos. Porque ele está claramente em seu caminho para a recuperação, sem medicamentos. Então estamos falando de medicamentos, não de cuidados de pessoas. Estamos falando de um sistema que está errado.

Peter: Deixe-me responder a isso. Como eu disse, tenho certeza de que, como todos os outros médicos, os psiquiatras querem fazer um bom trabalho. Mas, em geral, eles se relacionam com as drogas erroneamente. E foram enganados por uma indústria de drogas profundamente criminosa – e também por alguns de seus próprios colegas, que são criminosos e recebem montanhas de dólares da indústria de drogas e realizam pesquisas randomizadas de baixa qualidade, tendenciosas, e porque então eles receberão ainda mais dinheiro na próxima vez, da mesma empresa.

Então, há corrupção entre os melhores psiquiatras neste país. E estes são os psiquiatras que são sempre aqueles que participam de ensaios randomizados. Portanto, devemos ter pesquisas com drogas que sejam independentes, onde nenhum psiquiatra pode participar se tiver relações financeiras com o setor de medicamentos. Porque você não pode ser o defensor dos seus pacientes e do setor de drogas ao mesmo tempo, e a sua própria renda vir do setor de drogas. Não é possível.

Então, há muitas coisas que podemos fazer. E uma das coisas que podemos fazer, em particular, é: nunca gostaria que os psiquiatras apresentassem um novo diagnóstico se eles tiverem um paciente cujo cérebro já está sob influência química de outra droga psiquiátrica. Se você receber um paciente da rua, que tomou cocaína, ou LSD, ou maconha, e está profundamente psicótico, você não daria a esse paciente um diagnóstico de esquizofrenia. Você pensaria: “Vamos ver se essa pessoa fica bem em alguns dias, e então ele ou ela pode ir para casa.” Mas se você primeiro tratar um paciente para um diagnóstico – depressão ou TDAH -, em seguida tratar alguns dos efeitos colaterais, algumas das coisas que essas drogas causam são, na verdade, alguns dos mesmos sintomas que definem, por exemplo, o transtorno bipolar. E então você não pode distinguir: isso é apenas efeitos colaterais, ou que é realmente transtorno bipolar? Você não pode descobrir a menos que você pare primeiro a droga.

Membro da audiência: as drogas anticonvulsivas, como Dilantin e Depakote, misturadas com Haldol, Risperdal e todas as drogas psicotrópicas – isso faz parte de qualquer psicose? Quando você mistura essas drogas?

Peter: o problema de misturar vários tipos diferentes de drogas é que você pode acabar rapidamente em uma situação em que não sabe o que está fazendo, e você não sabe qual droga causa o quê, porque muitas dessas drogas podem causar sintomas semelhantes. Então, como você descobrirá qual droga é a pior delas? Assim, a polifarmácia prevalecente na psiquiatria é, acredito eu, muito prejudicial.

E, como eu disse, as drogas psiquiátricas devem ser usadas muito, muito pouco. Sugiro, no meu novo livro, que apenas 2% do uso atual faria com que as pessoas vivessem mais tempo e fossem mais saudáveis e voltem ao mercado de trabalho em maior número. Porque, ao mesmo tempo em que usamos cada vez mais drogas psiquiátricas, há mais pessoas em pensões de invalidez psiquiátrica – é exatamente da mesma maneira. Se essas drogas fossem boas, isso não ocorreria. Então estamos criando muitos danos com a polifarmácia psiquiátrica. Não há dúvida nenhuma sobre isso.

Membro da audiência: entendo. Nós vivemos aqui todas as nossas vidas, e nosso filho foi sequestrado medicamente aqui no estado do Alasca, e foi assumido pelos tribunais do estado do Alasca. E ele estava drogado por força; ele recebeu mais de 35 medicamentos psiquiátricos diferentes – alguns que eu não sei; porque havia uma enfermeira-praticante que, com o psiquiatra, solicitou o tribunal para levar nosso filho. Então, eles realmente o possuíram. Os tribunais, aqui mesmo no Alasca, pediram que ele fosse para Johns Hopkins, claro na costa leste, para fazer uma biópsia cerebral sobre ele. Então os tribunais DC pediram que ele fosse submetido a eletrochoques. Mas encontramos um psiquiatra que estava fazendo seu trabalho, e ela é maravilhosa. Ela é Heidi Combs; ela é a principal psiquiatra da Harborview. E ela realmente salvou a vida de meu filho; ela realmente começou a retirá-lo das drogas imediatamente.

Peter: Sim. Agora, deixe-me dar-lhe três exemplos do meu país, de como, apesar das boas intenções dos psiquiatras, eles não estão fazendo as coisas certas. O Conselho Nacional de Saúde recomenda contra a utilização de mais de um antipsicótico de cada vez. Ainda assim, cerca de metade dos pacientes recebem vários antipsicóticos ao mesmo tempo; alguns recebem quatro ou cinco. Este é um remédio muito ruim. Também recomendamos não combinar um antipsicótico com uma benzodiazepina, porque parece aumentar a mortalidade em 50%. Mas, quando você estuda o que está acontecendo, metade dos que estão em tratamento com um medicamento antipsicótico também recebe uma benzodiazepina no meu país. E então temos o problema de dose. Apesar de evidências muito claras de que você não obtém um efeito maior aumentando a dose de drogas antidepressivas, isso é o que os médicos fazem. Eles tentam uma dose e, se não é muito ruim, em termos de efeitos colaterais, então, depois de algumas semanas, eles costumam dizer: “Agora vamos aumentar a dose”. Você não obtém mais efeito disso, mas você consegue mais danos.

É o mesmo com antipsicóticos. Quanto maior a dose, e quanto mais você os usar, mais danos você produz. E, uma vez que os tratamentos na psiquiatria funcionam tão mal, então, por desespero, os psiquiatras tentam um medicamento após o outro e aumentam a dose e colocam outras drogas em cima das três ou quatro que o paciente já está recebendo. E então, tudo simplesmente piora. Então, os psiquiatras precisam perceber que essas drogas são drogas bastante ruins. E que, portanto, eles devem investir em psicoterapia e usar drogas muito, muito pouco.

Membro da audiência: Sim. Nosso filho voou para Nova York e viu Peter Breggin, então eu sei o que você está dizendo. Mas, quando o Estado do Alasca toma alguém, a pessoa deixa de ter poder. Você não tem escolha. Forçam esses medicamentos a você, por ordem judicial.

Peter: Há um argumento interessante aqui: quantas pessoas tomariam antipsicóticos por anos, se pudessem decidir por si mesmas? Essas drogas, na minha opinião, são tão horríveis que você precisa de tratamento forçado para que alguém as tome. Eu sei que há alguns pacientes, de vez em quando, que dizem que essas drogas os ajudam; mas, em geral, são drogas ruins.

Membro da audiência: Bem, ele foi considerado incompetente, e então eles o levaram. E, como eu disse, é uma epidemia. Há um site chamado medicalkidnap.com. Isso acontece em todo o mundo. E você pode ver, Estado por Estado, quantas pessoas são sequestradas por médicos. O Arizona provavelmente é um dos piores, lá as crianças são sequestradas e mortas. No entanto, no Alasca, há o caso do nosso filho.

Mas, como eu disse, nosso filho encontrou realmente um bom psiquiatra. E foi por causa de outras questões legais que estavam acontecendo – e mentiras que foram contadas contra nós – que a psiquiatra chegou à corte. Ela estava fazendo seu trabalho; ela imediatamente tirou-o das drogas e ele estava bem. Ele foi mantido por oito meses, em um hospital local, e foi drogado por força. Ele foi atado por cinco guardas de segurança, contra sua vontade, e quando ele surgiu, eles apenas o drogaram mais. Mas, quando você não é dono de si mesmo – ou você é um pai ou mãe, e seu filho é uma enfermaria do estado – você não tem escolha. E o Alasca é extremamente ruim para isso.

Peter: Deixe-me dizer agora, enquanto eu estou na América, que há dois anos eu me encontrei com Peter Breggin, que me convidou para palestra em Michigan, em um curso que ele dava. Tenho dado palestras com Peter Breggin algumas vezes desde então, também na Flórida. Eu li vários dos seus livros e artigos. Esse homem não usa drogas psiquiátricas. Ele não usa. E conheço outros psiquiatras que não usam drogas psiquiátricas, porque perceberam o quão perigoso e quão ineficaz elas são. Então, há pessoas que fazem isso. E Peter Breggin teve uma vida difícil, sendo condenado ao ostracismo pela psiquiatria geral – e devo dizer que este é o melhor psiquiatra que já conheci.

Membro da audiência: Sim, meu filho passou vários dias com ele. Mas você estava falando sobre o sistema do mal. Isso se tornou uma epidemia, e o Alasca está ali mesmo. Nós gostamos de pensar que não é; nós gostamos de pensar que a América não é. É mundial. Mas, aqui na América, aumentou. Não sei se todos conhecem o caso Justina Pelletiere, que aconteceu ao mesmo tempo que o do meu filho. Isso acontece, e é muito triste. Mas há bons psiquiatras lá fora, e Heidi Combs é um deles. E também Peter Breggin.

Peter: A Associação Americana de Psiquiatria mesmo tentou tirar licença dele para clinicar, há vários anos, quando disse, no Oprah Winfrey Show, algo sobre essas drogas – que elas não eram tão boas como as pessoas disseram. Mas é claro que eles não conseguiram tirar sua licença. Ele é um bom psiquiatra.

Membro da audiência: uma coisa que você não mencionou é que temos um sistema de seguros montado contra o paciente. Sou assistente social. E, como o passar dos anos passaram – há uma especialidade. E é por causa das companhias de seguros. Se as companhias de seguros paga por qualquer prestação de serviço em saúde mental, você só conseguirá seis sessões, por exemplo. Então, hoje temos muitos psiquiatras conectados com nossas clínicas de saúde mental que vem um paciente 15 minutos por mês. E é basicamente para uma revisão da medicação. Eles nem sequer falam com seus pacientes. Eles estão basicamente dizendo: “Aqui está a nova receita para seus medicamentos”. Então, entre os principais condutores desse processo neste país estão as empresas de seguros. E elas são os que irão prescrever quanto tempo você verá alguém e quem prescreverá o tratamento.

Peter: Sim. Sempre haverá questões sistêmicas a criarem incentivos errados, por isso precisamos mudar os sistemas, para que eles criem os incentivos certos. Os médicos devem ser pagos para curar pacientes, e não para apenas renovar prescrições, por exemplo.

Há um relatório do Reino Unido. É construído sobre um modelo, então você sempre pode questionar o resultado – mas, um modelo econômico que diz que a psicoterapia é realmente econômica. Então, a ideia de que a ideia não sustenta a psicoterapia, eu acredito, é totalmente errada. O que não podemos pagar é este sub-tratamento e sobrediagnóstico da população, que transforma tantos problemas agudos em algo crônico. E então os pacientes não retornam ao mercado de trabalho. É isso que não podemos pagar.

Membro da audiência: alguém mencionou sobre alternativas em saúde mental. Eu sou um médico, e eu tive um irmão com uma séria doença mental. Liguei para a polícia, várias vezes, para levá-lo para a API. Ele esteve lá cerca de três vezes, e também em outros hospitais estaduais. Ele também era um estudante de medicina. E vi, muitas vezes, que os psiquiatras o tiravam dos medicamentos com muita rapidez. Mas quando ele foi desmamado muito devagar, então ele passou a ficar bem. E eu vi uma coisa que o ajudou a se retirar dos antipsicóticos foi estar em uma dieta com menor teor de proteínas, em uma dieta baseada em vegetais. Eu acho que essa é uma das alternativas que poderíamos usar muito mais em saúde mental. Nós usamos nutrição para doenças cardíacas e muitas outras doenças crônicas, mas na saúde mental não usamos bem a nutrição. Mas tenho o prazer de saber que, na API, eles rotularam alimentos na cafeteria como vegetarianos ou veganos. Na Rússia, eles testaram mais de 10.000 pacientes com esquizofrenia ou com muitas doenças –

Peter: Permita-me que comente sobre isso, por favor. A medicina baseada em evidências é sobre usar os melhores tratamentos disponíveis que temos, sobre o que demonstrou fazer mais bem do que danos. Eu sempre ouço sobre nutrição quando leio sobre psiquiatria. Mas precisamos de provas de que a nutrição funciona para doenças psiquiátricas. Não vi essas provas. Precisamos mostrar, em ensaios randomizados, que as coisas funcionam, antes de sairmos a recomendá-las.

A alternativa às drogas psiquiátricas, na minha opinião, não é nutrição, porque não tem um efeito documentado. A alternativa às drogas psiquiátricas não é uma droga psiquiátrica. Isso é uma boa alternativa. E então podemos focar no comportamento humano, empatia e psicoterapia. Funciona. Mas você precisa documentar algo a ver com trabalhos de nutrição. Então, eu não tenho mais comentários sobre isso.

Membro da audiência: eu tenho tomado medicamentos anti-convulsivos desde que eu era criança pequena. E eu vim a descobrir – sem estar em drogas anticonvulsivas por onze anos, e sem convulsões. Porque os medicamentos anti-convulsilvos causavam convulsões: Tegretol, Lamictal e Dilantin. Todos eles causam convulsões, e também são drogas psiquiátricas. Eu percebo que não devemos usar a força. Mas em que ponto proibimos as drogas?

Peter: Oh! Estou do seu lado! Eu sinto que as drogas para TDAH devem ser retiradas do mercado. Elas estão prejudicando nossos filhos, e agora também os adultos. E os testes clínicos são de uma qualidade horrivelmente baixa. Estamos vendo esses ensaios em Copenhagen neste momento; eles são absolutamente horríveis. E se você olhar para os resultados a longo prazo, eles não são nada bons.

Eu também sinto que não precisamos de drogas antidepressivas, porque eu cheguei à conclusão de que elas também não funcionam. Não tenho a certeza de que precisamos de antipsicóticos, porque penso que podemos usar benzodiazepínicos em vez disso. E drogas de epilepsia, eu sou bastante céptico, porque estas são drogas bastante tóxicas. E elas são chamadas de estabilizadores de humor, o que, acredito, é audacioso. Porque, como você pode dizer que esse medicamento tóxico estabiliza o humor? Isso é bastante extravagante, na minha opinião.

Então, nós poderíamos proibir muitas dessas drogas. Mas isso nunca acontecerá, porque é preciso muito pouco para obter uma droga aprovada. Você só precisa de dois ensaios randomizados que tenham mostrado algum efeito, por menor que seja. E, uma vez que esses ensaios não são adequadamente cegos, você pode mostrar que praticamente tudo parece funcionar para praticamente tudo, na psiquiatria. Mas o que você mede é principalmente o viés.

Membro da audiência: como eles descobriram – Eu estava no Queen’s Hospital, no Estado de Washington, e eles me ligaram, e eles me tiraram das drogas, e sofri com a abrupta interrupção. Eles estavam querendo me ver ter uma convulsão. E eu estava no hospital por duas semanas. E, sem convulsão. Eu finalmente poderia pensar com clareza, depois de 15 anos tomando as drogas. Então, eles finalmente chegaram à conclusão de que as drogas estavam causando as convulsões.

Peter: Causando as convulsões – sim. Como eu disse anteriormente, as drogas psiquiátricas são drogas estranhas, porque elas podem realmente causar as doenças em que devem trabalhar. Os medicamentos antidepressivos podem dar-lhe uma nova depressão. Particularmente, se você perder algumas doses e tornar-se abstinente, então você pode ficar deprimido. Mas essa não é uma verdadeira depressão, porque, se você se entregar a uma dose total, geralmente estará bem dentro de algumas horas. É assim, se você der um alcoólatra com sintomas de abstinência uma garrafa de vodka, ele irá melhorar bastante rápido, enquanto que uma depressão genuína leva algumas semanas antes de você se recuperar. Então, uma depressão falsa – uma depressão de abstinência, que vem de repente, se você não toma a sua droga e a interrompe bruscamente – você pode diagnosticá-la [falsa depressão] dando uma dose completa. E então, você geralmente estará bem novamente. Então, você está absolutamente certo: são drogas muito difíceis de lidar, e os efeitos são frequentemente incompreendidos pelos médicos. Me desculpe, mas esse é o caso.

Membro da audiência: minha mãe foi recentemente admitida, contra sua vontade. A polícia veio até sua casa e praticamente a levou pela porta, e ela se viu trancada, involuntariamente. O que foi realmente uma coisa muito, muito frustrante para ela. Tanto foi assim, de fato, que senti que ela provavelmente seria mais perigosa para si mesma, sendo algemada e conduzida a um carro da polícia, e então levada para uma instalação involuntária, do que se ela estivesse sozinha.

O médico que foi corajoso o suficiente para entrar aqui e realmente falar em nome da API, se ele ainda estivesse aqui, honestamente gostaria de agradecê-lo por isso. Porque eu não podia imaginar, como um médico trabalhando em uma dessas instalações, mesmo me incomodando em vir aqui para ouvir isso, francamente. É louvável que alguém tente até mesmo ficar em pé diante do que é evidência esmagadora. A psiquiatria é claramente culpada de arrogância – orgulho e arrogância. Os psiquiatras claramente acreditam ser capazes de realizar algo que nunca foram capazes de provar que eles realmente podem realizar.

Eu tenho uma pergunta. A morte é ruim, doutor? Como médico, é seu trabalho prevenir a morte? Você, como médico, acredita que a morte é ruim?

Peter: Essa é uma pergunta que não pode ser respondida. Essa é uma pergunta como, “Você parou de bater em sua esposa?” Se você responder “sim”, ou se você responder “não”, ambas as coisas estão erradas. Então não posso responder a uma pergunta como essa. A morte às vezes é um resultado bem-vindo, numa situação desesperada. Normalmente não é.  Mas, em algumas circunstâncias, é um resultado bem-vindo.

Membro da audiência: é um resultado bem-vindo quando você está cuidando de um psiquiatra?

Peter: Bem, você está apresentando uma pequena provocação agora. [Risos da platéia]

Jim: Se eu pudesse dizer algo – você sabe, as pessoas no sistema público de saúde mental estão morrendo 25 anos antes, em média, do que a população em geral. Isso não era assim. E que não há protesto sobre isso, sugere-me que esse é um resultado aceitável para a sociedade.

Membro da audiência: não é uma das razões pelas quais coisas como a nutrição não são bem compreendidas que as empresas de drogas basicamente assumiram a maioria das pesquisas, mesmo no nível universitário, onde pelo menos havia estudo independente? Realmente não há incentivo para fazer estudos, porque o dinheiro não pode ser feito.

Peter: Sim, isso é verdade. Você não pode patentar uma maçã, então não há dinheiro em estudos como esse. Mas então eles precisam ser financiados por financiamento público. E temos esse financiamento, e vários estudos de nutrição foram feitos em todos os tipos de doenças: artrite reumatoide e todos os tipos de doenças. Então, esses estudos – eles existem. Mas, muito pouco deles saiu. Muitas pessoas acreditam que a nutrição é muito importante. Mas quando você estuda nutrição em ensaios randomizados, devo dizer que os resultados foram bastante decepcionantes, em geral. Então é por isso que eu tenho um ceticismo natural, que é empiricamente fundamentado.

Membro da audiência: E se os estudos fossem bem desenhados e conduzidos corretamente?

Peter: Bem, há tantos estudos de nutrição. Alguns deles foram bem projetados, e alguns deles foram muito interessantes. Como a dieta mediterrânea, com azeite e esse tipo de coisa. Você já ouviu falar sobre isso? Para doença cardíaca. Mas, você sabe, se você estiver olhando para conselhos nutricionais, isso varia ao longo dos anos. Um ano, esse tipo de nutrição é saudável e, no próximo ano, é o contrário. Agora você precisa comer pouca gordura – ou muito gordo – e olhe para os esquimós na Gronelândia! Ah, você pode obter quase tudo o que quiser, em termos de resultados e recomendações. Espero que encontremos algo algum dia, que pode ser útil.

Membro da audiência: é o mesmo que com as tentativas de medicação. Queremos uma coisa para consertar tudo. No que diz respeito à nutrição, acredito que algumas coisas ajudam algumas pessoas, algumas vezes. Todos somos indivíduos, com metabolismos individuais. Algumas dietas ajudam algumas pessoas, e outras não. Mas, independentemente dos esforços naturais que existem, precisamos nos afastar, “Isso ajuda a todos”.

Peter: Eu tenho uma pequena recomendação, na verdade, sobre nutrição e vida em geral: “Não se preocupe, seja feliz”. Todos nós morreremos.

Jim: Falando em nutrição, temos alguma no lobby.

[Fim]

[1] Christensen DC. Dear Luise: a story of power and powerlessness in Denmark’s psychiatric care system. Portland: Jorvik Press; 2012.

[2] These stories, and the other presentations, can be seen on you tube, go to www.deadlymedicines.dk

Deadly Psychiatry Medicamentos Mortais

[tradução: Fernando F. P. de Freitas e Camila M. Gomes]