Uma Nova Abordagem proposta pela Sociedade Britânica de Psicologia Desafia os Modelos Psiquiátricos Tradicionais

Uma nova abordagem da Sociedade Britânica de Psicologia (BPS) fornece uma alternativa promissora aos modelos psiquiátricos focados em patologia

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ZenobiaEste mês, a Sociedade Britânica de Psicologia (BPS) publicou detalhes sobre um novo quadro de referência para a compreensão do sofrimento humano, o que desafia modelos tradicionais de diagnóstico psiquiátrico. O Quadro de Referência o Poder Ameaçador do Sentido (PTM), desenvolvido por um grupo de psicólogos seniores em colaboração com lideranças do movimento de usuários dos serviços, examina o papel do poder e da ameaça na vida das pessoas, bem como a forma como alguém responde e criar significado dessas experiências.

“A longo prazo, este quadro de referência destina-se a apoiar a construção de histórias não-diagnosticadas, não culpabilizantes e desmistificantes a respeito da força e da sobrevivência, que reintegram muitos comportamentos e reações atualmente diagnosticados como sintomas de transtorno mental de volta à variedade da universal experiência humana”, escrevem os autores.

Sociedade Britânica de Psicologia

Os psicólogos da Divisão de Psicologia Clínica da BPS envolvidos no desenvolvimento deste quadro de referência incluem Lucy Johnstone, Mary Boyle, John Cromby, David Harper, Peter Kinderman, David Pilgrim e John Read. Trabalharam ao lado de usuários de serviços como Jacqui Dillon e Eleanor Longden para seguir o objetivo estabelecido em uma declaração de posição de 2013:

“Apoiar o trabalho, em conjunto com os usuários do serviço, no desenvolvimento de uma abordagem multifatorial e contextual, que incorpore fatores sociais, psicológicos e biológicos”.

O quadro de referência O Poder Ameaçador do Sentido é derivado de várias abordagens teóricas e filosóficas existentes que visa culminar em maneiras mais apropriadas para se entender o sofrimento emocional e o comportamento perturbador ou preocupante. As abordagens tradicionais têm patologizado as experiências de angústia das pessoas, atribuindo rótulos de ‘anormalidade’ causada por distúrbios internos e biomédicos. Isso efetivamente vem descartando a adaptabilidade e a resiliência que são inerentes às respostas humanas a ameaças, marginalizando certos grupos sociais e ignorando fatores sócio-contextuais que configuram o comportamento humano.

O quadro de referência PTM afirma que as narrativas das pessoas e os relatos subjetivos devem ser levados a sério. Abordar os métodos de pesquisa qualitativos e quantitativos como equivalentes é uma maneira de privilegiar as narrativas das pessoas e o significado subjetivo, explicam os autores. A fim de dar foco às experiências de vida das pessoas e aos fatores complexos que as moldam, o impacto de fatores culturais e sociais também deve ser destacado. Com este fim, os autores comentam sobre movimentos para globalizar a psiquiatria:

“Todas as formas próprias à cada cultura para a compreensão do sofrimento têm aspectos úteis, não podendo haver ‘psiquiatria global’ ou ‘psicologia global’. Os padrões nas dificuldades emocionais e comportamentais sempre refletirão discursos, normas e expectativas sociais e culturais prevalecentes, incluindo conceituações aceitas do que é personalidade”.

Os principais princípios subjacentes ao quadro de referência PTM se concentram na compreensão do funcionamento do poder na vida das pessoas. O poder é compreendido em inúmeras maneiras, incluindo como ele se forma dinamicamente para os indivíduos através de manifestações interpessoais, sociais / culturais, econômicas, materiais, ideológicas, biológicas, coercivas e legais. A abordagem PTM explica que se aprende a responder a ameaças com base no papel que o poder leva em sua vida. A ameaça pode se apresentar à pessoa e / ou aos grupos ou comunidades em que pertencem. O sofrimento emocional está então relacionado à ameaça e como a ameaça é mediada pela biologia humana.

Além disso, a abordagem PTM se concentra no significado que as pessoas atribuem ao poder e à ameaça que experimentam. Embora o significado possa ser derivado de várias fontes, as narrativas culturais e os discursos que evoluíram externos às respostas corporais são particularmente enfatizados. Ulteriormente, as pessoas desenvolvem e aprendem a responder à ameaça a fim de “garantir a sua sobrevivência emocional, física, relacional e social”. “Essas respostas”, escrevem os autores, “variam desde reações fisiológicas amplamente automáticas até ações e respostas de base linguística ou conscientemente selecionadas”.

Finalmente, o quadro de referência PTM se distingue ao reconhecer as forças individuais ou os ‘recursos de poder’, com ênfase em como eles integram poder, ameaça, resposta e pontos fortes na história pessoal deles.

“Ao contrário do modelo biopsicossocial mais tradicional do que é sofrimento psíquico, não há suposição de patologia e os aspectos ‘biológicos’ não são privilegiados, mas constituem um nível de explicação, inextricavelmente ligado a todos os outros”, explicam os autores.

“O indivíduo não existe e não pode ser entendido separadamente de seus relacionamentos, comunidade e cultura; o significado só surge quando os elementos sociais, culturais e biológicos se combinam; e as capacidades biológicas não podem ser separadas do ambiente social e interpessoal “.

Em última análise, o quadro de referência do PTM busca compreender os distúrbios e comportamentos individuais através das seguintes questões:

 – “O que aconteceu com você?” (Como o poder operou em sua vida?)

– “Como isso afetou você?” (Que tipo de ameaças isso representa?)

– “Que sentido você conseguiu?” (Qual é o significado dessas situações e experiências para você?)

– “O que você tem que fazer para sobreviver?” (Que tipos de respostas às ameaças você está usando?)

– “Quais são os seus pontos fortes?” (Que acessos a recursos de poder você tem?)

– … e para integrar tudo acima: “Qual é a sua história?”

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Leia o documento completo da Sociedade Britânica de Psicologia clicando aqui: www.bps.org.uk/news-and-policy/introducing-power-threat-meaning-framework