O Impacto Psiquiátrico Desconhecido da Garganta Inflamada

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TriciaO seu filho está mentalmente doente? Talvez não.

De um dia para o outro, uma criança se transforma de despreocupada em uma criança ansiosa, irritável e obsessiva. À família parece que a criança deve ter sido possuída durante o sono. Pois é, foi isso o que aconteceu com a minha filha pré-adolescente no inverno passado. Mesmo sendo médica de família e também sido formada em medicina integrativa, eu não sabia o que havia acontecido com minha filhinha.

Um início abrupto

Minha família e eu passamos a ser espectadores de uma luta livre, vendo a minha filha a começar a grunhir, segurar as orelhas e a golpear a sua cabeça com as suas mãos. Eu pensei que ela devia estar tendo uma doença aguda, senão a sofrer de baixa de açúcar no sangue; mas isso não foi o caso. Nós tentávamos fazer com que ela comesse alguma coisa;  mas nada. Nós a tiramos do ginásio, para apenas ver ela se acalmar um pouco no carro. Aquele primeiro episódio de birra foi apenas o começo do que se tornaria uma recorrência frequente nos nove meses seguintes.

Os episódios vinham durando dias, durando semanas. Os sintomas variavam de irritabilidade leve e agitação a ataques de pânico, gemidos e grunhidos, a agitar os membros sem parar. Às vezes, o comportamento extremo podia durar nada menos do que meia hora. Outras vezes, poderia durar horas a fio, terminando apenas com o esgotamento ao cair no sono. Seu humor geral permanecia irritável, especialmente com seus irmãos e pais. Ela mostrou regressão mental e emocional, passando a brincar com jogos infantis e pré-escolares. Ela perdeu sua iniciativa e desejo de participar de atividades, e ela cansava facilmente em seus esportes habituais. Ela ficou inconfundivelmente indecisa; até mesmo escolhas simples, como decidir entre suco de laranja ou cranberry, podiam causar pânico. Como uma estudante superdotada que sempre havia sido, ela não apresentou nenhum declínio significativo na escola; mas voltava para casa exausta, queixando-se de dores no corpo e muitas vezes desejava ficar na cama.

Profissionais foram mistificados

Nós nos perguntávamos, isso seria apenas um estágio? O início da puberdade? O começo de uma doença mental?

Era assustador e doloroso vê-la sofrer. Ela não podia ser consolada por nenhuma das nossas intervenções. Ela não conseguia descrever como se sentia, para mim, seu pai ou seus irmãos, nem com a psicóloga a quem nós a levávamos para pedir ajuda. A terapeuta tentou a terapia cognitivo-comportamental, a terapia verbal, assim como a ludoterapia; mas sem sucesso ao longo de vários meses. Com a ajuda da psicóloga, tentamos a terapia “sem falas” e outras técnicas recomendadas para crianças no espectro autista. Ficamos desanimados quando a terapia parecia somente desencadear e até mesmo piorar seu estado mental. Nós testamos para a doença de Lyme e outras doenças fisiológicas, e até fizemos uma ressonância magnética cerebral, com medo de um tumor se apresentar com mudanças comportamentais tão drásticas.

Felizmente, sua psicóloga lançou mão da sua lista de colegas, ansiosa por encontrar alguma ajuda para a nossa filha. Depois de receber a resposta: “Você já considerou PANDAS?”, ela repassou a pergunta para mim. Eu imediatamente comecei a ler e a pesquisar para ver exatamente o que esse ‘urso peludo preto ou branco’ poderia ter a ver com a minha filha sofredora. Eu serei eternamente grata por essa sugestão!

O que é PANDAS?

(PANDAS), Transtorno Neuropsiquiátrico Auto-Imune Pediátrico Associado ao Estreptococo (Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric Disorder Associated with Strep) é uma causa pouco conhecida de distúrbios neuropsiquiátricos em crianças. Em retrospecto, foi fácil diagnosticar: nossa filha tinha tido faringite por estreptococos e foi tratada com antibióticos (azitromicina) dez dias antes do primeiro episódio da luta livre. Suas mudanças comportamentais súbitas foram devido a uma reação auto-imune, resultando em anticorpos que atacaram os gânglios da base em seu cérebro. Essa parte do cérebro está envolvida no processamento emocional, na expressão motora e no planejamento motivacional.

A situação era clara, mas infelizmente eu não tinha conhecimento da existência dessa condição, assim como os outros dois médicos de família que inicialmente a avaliaram. O diagnóstico foi posteriormente confirmado, primeiro pela sua forte resposta positiva ao mês de uso de antibióticos para tratar estreptococos e, depois, pelo especialista em doenças infecciosas pediátricas que a havia visto. Agora, dois meses após o início do tratamento, ela continuou a tomar penicilina diariamente, para evitar novos episódios de estreptococos – o que poderia desencadear novos sintomas psiquiátricos. E a minha filha voltou ao que era antes: rindo, praticando esportes e aproveitando sua vida novamente. Seu entusiasmo, iniciativa e espontaneidade voltaram!

Comumente confundido com doença mental

Tem havido controvérsias em torno do diagnóstico de PANDAS, desde que foi definido pela primeira vez por Susan Swedo, MD, no NIMH em 1998.

Parece que essa controvérsia é pelo menos parte da razão pela qual eu e os outros médicos ainda ignorávamos a doença, mais do que 20 anos depois. Acredita-se que seja uma doença rara; no entanto, suspeito que na verdade não é tão rara quanto parece; apenas raramente diagnosticada. Quando uma criança apresenta ao seu médico de família um início súbito de sintomas emocionais ou comportamentais, recebe frequentemente um rápido diagnóstico psiquiátrico. Um rótulo de ansiedade, TDAH ou transtorno obsessivo-compulsivo é aplicado imediatamente e, em seguida, drogas psiquiátricas são prescritas para a criança que já está emocionalmente perturbada. Esses rótulos descrevem os sintomas da criança, mas não identificam a causa desses sintomas. Seria como tratar o vômito da apendicite aguda com uma pílula anti-náusea, e não com a operação cirúrgica necessária para remover o apêndice infectado. A criança continuará a ficar doente enquanto a droga mascara temporariamente os sintomas.

Medicamentos psiquiátricos adicionam confusão e agravamento do comportamento

Se a criança receber inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) para tratar o TOC ou a ansiedade, os medicamentos têm seus efeitos esperados; que frequentemente incluem hiperestimulação, ansiedade e mania; e a criança pode se tornar mais agressiva e até mesmo violenta. Uma doença orgânica não é levada em consideração e, na maioria das vezes, presume-se que a criança está piorando, não que ela esteja sendo impactada negativamente pelos efeitos esperados da medicação.

Se a criança recebe estimulantes, seu comportamento pode mudar de hiperatividade e agitação para apatia. As crianças que recebem estimulantes são frequentemente observadas por falta de espontaneidade, prazer ou curiosidade. Elas provavelmente experimentarão qualquer combinação dos efeitos listados no folheto informativo do medicamento: sonolência, perda de apetite, letargia, insônia, tiques faciais, alterações de humor ou episódios psicóticos. Logo, a criança já sofrendo pode ter depressão adicionada ao rótulo de diagnóstico. Se ela já não preenche todos os critérios para PANDAS – o que inclui TOC, tiques psicomotores e ansiedade -,  certamente assim o fará com a adição de drogas psiquiátricas. Infelizmente, a causa raiz é perdida quando a criança é drogada e seus sintomas estão piorando.

Procure a causa raiz, não uma etiqueta psiquiátrica

É necessária uma mudança radical na avaliação de crianças com distúrbios psicológicos percebidos. O amplo diagnóstico psiquiátrico de crianças levou os clínicos a sub-diagnosticar distúrbios físicos. Os pais são informados de que seu filho tem um desequilíbrio bioquímico fictício no cérebro, enquanto os distúrbios médicos reais são negligenciados. Cada criança com um novo início ou mudança repentina de perturbação emocional ou comportamental precisa ser avaliada para causas infecciosas subjacentes e que podem estar levando ao seu sofrimento. Isso inclui a avaliação de uma infecção por estreptococos; mas também uma longa lista de outros patógenos, como Lyme, Bartonella e Mycoplasma, que também são conhecidos por causar PANS (Síndrome Neuropsiquiátrica Pediátrica de Início Agudo). Outras etiologias de mudança comportamental e emocional abrupta também devem ser consideradas, incluindo traumatismo craniano, concussão, trauma, abuso e exposição a toxinas e drogas. Muitos medicamentos prescritos, especialmente psicotrópicos, podem induzir sintomas cognitivos e psiquiátricos destrutivos.

Os Clínicos precisam de uma nova consciência

Precisamos educar nossos médicos sobre esse problema e identificar essas crianças no início de sua doença quando ela é mais responsiva ao tratamento. O tratamento para PANDAS inclui antibióticos apropriados, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos graves, terapia imunológica (como esteróides ou imunoglobulina intravenosa, IGIV). Certamente, vamos parar de rotular crianças com distúrbios psiquiátricos e a dar-lhes diagnósticos para toda a vida e drogas psiquiátricas que alteram o cérebro em nome do tratamento. Essas crianças que sofrem e suas famílias precisam de cuidados adequados, tratamento eficaz e compreensão compassiva.

A comunidade médica demorou a aceitar essa etiologia infecciosa de um distúrbio neuropsiquiátrico, mas os pesquisadores têm trabalhado duro e as evidências são claras. As novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) confirmam as realidades de PANDAS / PANS. Agora, a palavra precisa ser espalhada para médicos, conselheiros, professores e pais: se uma criança tiver uma mudança comportamental ou emocional súbita e abrupta, procure primeiro a causa raiz. Trate a doença real e pare o sofrimento.