Independentemente da raça, sexo, idade ou etnia, as pessoas nos Estados Unidos e pelo mundo afora estão cada vez mais escolhendo a morte como a única saída. Mais pessoas tiram suas vidas do que morrem por overdose com opiáceos – apenas via o suicídio, não havendo traficantes de drogas para culpar ou pessoas para se jogar na cadeia (ou punir com a pena de morte) como bodes expiatórios. Na semana passada, os suicídios da estilista Kate Spade e do famoso chef Anthony Bourdain foram notados. E essas mortes vêm na esteira dos resultados de um estudo do Centro de Controle de Doenças que demonstrou que as taxas de suicídio continuam a aumentar e que o suicídio é agora uma entre a “principal causa de morte para os americanos”.
A resposta CADA VEZ MAIS É: Mais tratamento. Melhor tratamento. Tratamento mais acessível. E, claro, maior consciência sobre ‘o sofrimento psíquicol’.
Kate Spade tinha entrado e saído do tratamento pelo menos nos últimos cinco anos, provavelmente com alguns dos melhores terapeutas que a cidade de Nova York tem a oferecer. Anthony Bourdain não era estranho a tratamentos longos e intensivos, tendo estado em reabilitação por dependência de heroína e cocaína. A maioria das pessoas que se suicidou o fez depois de ter procurado ajuda.
Nos últimos anos, os Estados Unidos assistiram a um enorme avanço ‘no tratamento’ e ‘promissoras descobertas’ sobre doenças mentais, mas as taxas de suicídio aumentaram em 30% e as taxas de incapacitação por transtornos mentais aumentaram em dois milhões de adultos entre 1997 e 2009.
Curiosamente, o tratamento para pessoas que estão se sentindo deprimidas e sem esperança está associado a um aumento real de suicídio, violência e assassinato. Embora as drogas de todos os tipos (legais ou não) possam ser ferramentas úteis de enfrentamento para alguns quando estão com dor psíquica, elas não são uma panacéia – e os ‘antidepressivos’ às vezes podem ser completamente o oposto do que se espera que sejam.
Quando é que os profissionais e o público finalmente passarão a reconhecer que O QUE ESTAMOS FAZENDO NÃO ESTÁ FUNCIONANDO? Quando iremos dizer “Se queremos que as coisas mudem de fato, certamente devemos mudar nossa abordagem”?! Quando é que a mídia começará a questionar amplamente o que está acontecendo na sociedade ao em vez de cair na análise do individual?
Do jeito que está, o público continua sendo bombardeado por clichês banais e sugestões vazias que sempre acabam com algum tipo de mensagem como “isso ocorre mesmo, pode ocorrer com qualquer um (menos comigo)”.
“Ligue para a linha direta de suicídio. Saiba que você não está sozinho.”
O problema é que a maioria de nós está sozinha. Os EUA, e a maior parte da sociedade ocidental, concentra-se em uma cultura individualista que coloca o ‘sucesso’ acima dos relacionamentos, levando muitos a enfocar suas vidas na busca de uma ilusão frágil e passageira ao colocar a si próprio em prova. Essa busca sem fim deixa uma pessoa esmagada no momento em que a ilusão de sucesso desaparece (o que sempre acontece). E assim, a perseguição é sempre por mais, mais e mais.
As pessoas acumulam ‘amigos’ nas mídias sociais em um tipo de competição por popularidade bizarra, mas muitas vezes não têm ninguém com quem conversar quando precisam. Um post no Facebook sobre gatos ou alguém espatifando o rosto no chão pode reunir 50 ‘curtidas’, enquanto que uma manifestação honesta de dor, necessidade de conexão ou desesperança tenderá a ser ignorada e resultará em seguidores perdidos. Um selfie de uma pessoa no meio de sua vida feliz e perfeita resultará em uma avalanche de ‘Parabéns!’, Enquanto que uma foto mostrando o que está por trás da máscara pode receber alguns rostos tristes, enquanto que a maioria se apressa para passar rapidamente de lado por tais perturbações da realidade.
A questão é que nenhuma quantidade de talento, elogios, atenção, inteligência ou beleza jamais substituirá o amor, a intimidade, a empatia ou a conexão humana. Não importa quantas coisas uma pessoa compre, não importa quanto status uma pessoa ganhe, e não importa quantos admiradores sigam cada movimento de uma pessoa, isso nunca preencherá o buraco da solidão – pelo menos não por muito tempo.
Ter um aparelho de telefone à mão e discar ‘o SOS suicídio’ quando se está desesperado e necessitado pode ser extremamente útil para muitos. Há algo poderosamente calmante e curativo quando alguém realmente sabe ouvir, mostra se importar, que está curioso sobre o motivo de uma pessoa estar sofrendo, e demonstra estar disposto a ser paciente e calmo para ouvir a história e a dor de uma pessoa. A terapia também pode ser extremamente útil pelas mesmas razões.
O que as pessoas precisam, no entanto, é de conexão humana, empatia, compreensão, paciência, tolerância e uma razão para se amarem a si mesmas e se sentirem amadas pelos outros. Então, por que chegamos a um ponto em que a única maneira de as pessoas realmente receberem isso é ir a um profissional? O que há de errado com a nossa sociedade?
“É sobre doença mental”!
Dizer a uma pessoa que ela está ‘doente’ por sofrer ou por estar triste serve para alienar ainda mais o indivíduo. Muitas vezes a pessoa se sente defeituosa e coloca o problema dentro dela própria, ao em vez de reconhecer que fatores culturais e circunstanciais são o problema. Estudos demonstraram repetidas vezes que uma perspectiva de doença biológica para o sofrimento humano leva à diminuição da empatia, ao aumento do desejo por distância social e ao aumento do preconceito e da discriminação.
Pior ainda, esse foco nas doenças mentais e no sofrimento individual pode às vezes levar aqueles que são diagnosticados a desenvolver uma falta de responsabilidade sobre como tratar os outros, a falta de empatia por aqueles que não são vistos como doentes e a preocupação com o próprio estado interno em detrimento da conexão com os outros. Internalizar uma explicação de doença para o sofrimento de si próprio leva a alterações na identidade, reforço de dinâmicas abusivas, diminuição da esperança e da auto-estima e diminuição da probabilidade de procurar ajuda.
Em outras palavras: nós, como sociedade, somos informados de que, se alguém está sofrendo, a abordagem correta é convencê-los de idéias que provavelmente as levarão a se sentirem marginalizadas, desamparadas, sem esperança, piores consigo mesmas, envergonhadas, retraumatizadas e com menos possibilidades que cheguem aos outros em busca de conexão e suporte quando, de fato, a conexão e o suporte são as coisas mais prováveis para se curar.
As taxas de suicídio, de fato, são mais altas em áreas que relatam os mais altos níveis de felicidade. Talvez fazer uma pessoa se sentir diferente e anormal por sofrer profundamente não seja tão útil!

Uma aversão à dor e ao sofrimento não nega a sua existência. A falta de empatia por si mesmo ou pelos outros só resulta em maior sofrimento, independentemente de quão profundamente oculto possa estar. O bode expiatório de uma suposta ‘doença’ invisível pode proporcionar conforto temporário para o reconhecimento dos horrores e a injustiça do mundo, mas é uma ilusão – e com consequências fatais para muitos.
“Certifique-se de que eles / você consiga ajuda.”
O atual paradigma de saúde mental nasce de uma sociedade que valoriza soluções curtas e imediatas. Uma sociedade que abriga um senso de direito a alguma idéia de felicidade que corresponda a uma quase completa falta de tolerância para a dor ou sofrimento. Uma sociedade que isola aqueles que perturbam o status quo, faz proselitismo de que todos os problemas serão resolvidos se você comprar X ou for a um especialista em Y, e estimula ativamente o ódio e o caos para não se ver os avanços dos privilegiados da sociedade.
E assim, quando uma pessoa está triste, desesperada, ansiosa, temerosa, experimentando uma crise espiritual, ou está zangada e farta da hipocrisia e da opressão, os especialistas proclamam que a resposta está na maioria das vezes em correções de curto prazo, um esforço quase imediato para suprimir qualquer incerteza ou dor, marginalização por meio de afirmações de doença individual e culpa implícita (no caráter e / ou cérebros) do indivíduo, justamente por não ser capaz de aceitar e lidar com uma sociedade insana e cruel.
Curiosamente, como resultado direto de sua formação, os profissionais que assumem essa perspectiva biotecnológica do sofrimento tendem a perceber seus pacientes em termos menos humanos.
Os médicos são pagos, as seguradoras recebem somas vultuosas de dinheiro, os hospitais prosperam e os indivíduos freqüentemente se tornam usuários de um sistema que ignora cada vez mais o relacionamento em detrimento de intervenções técnicas, supostamente “sofisticadas”, que geralmente pioram as coisas.
Apesar de todas as declarações de que os profissionais de saúde mental são especialistas e de que o tratamento avançou muito ao longo dos anos, não estamos em melhor situação do que há 100 anos. Além disso, as taxas de incapacidade por transtornos mentais aumentaram, o suicídio continua a crescer, a doença mental diagnosticada continua a progredir e, bem, as pessoas estão cada vez mais infelizes.
Quando 45.000 pessoas por ano preferem morrer do que viver neste mundo por mais tempo, convém que todos consideremos o que está acontecendo no mundo para causar isso.
Talvez possamos parar de culpar a deficiência individual e o baixo estoque genético, e começar a reconhecer que nossa sociedade está doente. Talvez seja a hora de fazermos algo diferente.