Mad in Asia: Para que existam múltiplas narrativas pela inclusão

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A comunidade Mad se expande, chegando agora à Ásia. Foi lançada a página Mad in Asia, com a missão de contribuir para mudar a narrativa sobre loucura e sofrimento mental na região da Ásia. Mad in Asia espera mostrar narrativas que são contextualmente relevantes para a região, com foco nos direitos humanos das pessoas com ‘transtornos mentais’.

Compartilhamos as preocupações que muitos ativistas e defensores de todo o mundo têm sobre o domínio do modelo biomédico na compreensão, tratamento e cuidado de pessoas consideradas ‘mentalmente doentes’. Muitos de nossos países ainda operam sob o legado de instituições coloniais e estruturas legais criadas para ‘administrar’ os loucos. Enquanto isso, novos ‘movimentos globais’ têm se proposto a criar e replicar políticas e instituições baseadas na psiquiatria ocidental e em sua psicologia clínica. Mesmo no contexto das ‘alternativas à psiquiatria’, os esforços para impulsionar as inovações desenvolvidas no norte global para o sul global às vezes tendem a reproduzir antigas tendências coloniais.

Acreditamos que não há uma única maneira abrangente de desafiar e mudar as atuais narrativas e práticas que marginalizam as experiências das pessoas consideradas com “transtorno psiquiátrico” *. Nem tampouco que possa ser articulado apenas em termos de uma oposição à psiquiatria biomédica e suas instituições. Em muitos dos nossos países, a psiquiatria e a psicologia institucionais não existem, e a violação dos nossos direitos e personalidade ocorre no seio de nossas sociedades, nos mais imediatos espaços comunitários, assim como nas próprias famílias. A ação coletiva deve envolver toda uma gama de negociações, bem como a afirmação e validação de conhecimentos, experiências e habilidades emergentes e sensíveis aos contextos locais. O que é necessário, então, são narrativas múltiplas contextualmente relevantes.

A aliança de pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ e os que os oferecem suporte a elas – TCI Asia (Comunidades Transformadoras para a Inclusão de Pessoas com Transtornos Psiquiátricos, Ásia) – tem estado na vanguarda deste trabalho na região da Ásia. O Mad in Asia trabalhará em parceria com a TCI Asia, alinhando nossos objetivos ao enfoque nos direitos humanos e na inclusão da comunidade de pessoas que sofrem de algum dos chamados ‘transtornos psiquiátricos’. Para mudar a narrativa de ‘saúde mental’ para uma outra que se engaje criticamente com as experiências vividas das pessoas em nossa região, acreditamos que noções tais como ‘comunidade’, ‘inclusão’, ‘direitos’, ‘personalidade’, ‘deficiência’, ‘sociedade’, ‘loucura’, ‘saúde mental’ e ‘psiquiatria’ precisam ser examinadas.

Mad na Ásia é um espaço liderado por pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ de diversos países asiáticos e que têm como propósito negociar e nutrir tais narrativas. Esperamos fazer isso em colaboração com nossos aliados, incluindo ativistas com ‘transtornos psiquiátricos’, profissionais de saúde mental, acadêmicos, defensores da justiça social, membros das famílias e da comunidade e qualquer pessoa interessada em se unir a essa comunidade on-line para mudanças. Ao fazer isso, esperamos disseminar o extenso conhecimento (teorias, investigações, ações e práticas) mantido por nosso pessoal e dentro de nossas comunidades que, de diferentes formas, buscam entender o sofrimento e a experiência direta de pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’. Grande parte desse conhecimento está ausente, até mesmo na atual base de conhecimento global de ‘alternativas críticas e progressistas’. Escrevendo para fora da Ásia, tanto em inglês quanto em idiomas regionais, Mad in Asia reivindica um espaço válido para essa base de conhecimento coletivo. Queremos compartilharmos – tanto material quanto epistemologicamente- o que entendemos a partir da sabedoria da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD).

O conteúdo do lançamento do Mad in Asia abrange diversos tópicos. Bhargavi Davar escreve sobre a importância da CDPD para ajudar a construir identidades, bem como a que talvez seja a agenda mais importante para a região: transformar as comunidades para a inclusão de pessoas com ‘transtorno psiquiátrico’. Escrevendo das Filipinas, Janice Cambri advoga a defesa do contexto socioeconômico do país e as transformações necessárias – e o começo da mobilização – para a realização plena dos direitos humanos. As reflexões de Lynn Tang sobre “recovery” e o que isso significa para pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ em Hong Kong e na diáspora chinesa dos que vivem no Reino Unido apontam para paralelos em nossas preocupações coletivas. A relevância da mídia digital como um espaço de apoio de pares e as formas complexas em que essa mídia funciona é o tema explorado por Momina Masood e Noor ul Huda Niazi do Paquistão. Yang Weihua conta a história da luta de um homem pela liberdade do encarceramento em instituições psiquiátricas no contexto das leis que regem a saúde mental na China. Também apresentamos os esforços de defesa da TCI Asia na representação de interesses regionais em fóruns da ONU, bem como os esforços em andamento para abordar as questões práticas e éticas em torno do desenvolvimento de apoio de pares no Japão, especificamente, e em toda a região.

Mad in Asia não está sendo visto neste momento como um e-zine diário, mas como um blog com atualizações regulares. Esperamos construir lentamente uma publicação diária e desenvolver conteúdo que inclua pesquisas e reflexões críticas, ações e inovações, práticas baseadas em arte e criatividade e conteúdo audiovisual.

Mad in Asia é trazido a você pela TCI Asia em parceria com o Mad in America, com o apoio fiscal da International Disability Alliance.

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Nota do tradutor: Optou-se por traduzir a expressão “psychosocial disabilities” por “transtornos psiquiátricos”.

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Jhilmil Breckenridge é uma poeta, escritora e ativista e é fundadora da Fundação Bhor, uma instituição de caridade indiana, que é ativa na defesa da saúde mental. Ela defende a Poesia como Terapia e está trabalhando em algumas iniciativas para levar isso às prisões e instalações psiquiátricas. Ela está fazendo seu doutorado no Reino Unido e sua coleção de poesia de estreia, Reclamation Song, foi publicada em junho de 2018. Ela é apaixonada por criar mais consciência sobre a abordagem informada do trauma e direitos para aqueles que vivem com incapacidades psicossociais.
Jhilmil Breckenridge é uma poeta, escritora e ativista e é fundadora da Fundação Bhor, uma instituição de caridade indiana, que é ativa na defesa da saúde mental. Ela defende a Poesia como Terapia e está trabalhando em algumas iniciativas para levar isso às prisões e instalações psiquiátricas. Ela está fazendo seu doutorado no Reino Unido e sua coleção de poesia de estreia, Reclamation Song, foi publicada em junho de 2018. Ela é apaixonada por criar mais consciência sobre a abordagem informada do trauma e direitos para aqueles que vivem com incapacidades psicossociais.
Jayasree Kalathil é pesquisadora, escritora e tradutora e dirige o coletivo virtual Survivor Research. Ela está interessada em garantir que as vozes das comunidades diaspóricas racializadas e pós-coloniais permaneçam válidas na criação de conhecimento. Ela foi editora-fundadora da aaina, a primeira revista de saúde mental liderada por usuários da Índia, e editou a publicação de saúde mental baseada no Reino Unido, a Open Mind. Jayasree está atualmente pesquisando a história do ativismo de usuário / sobrevivente por pessoas de comunidades africanas, afro-caribenhas e asiáticas no Reino Unido. Ela é de Kerala, na Índia, e atualmente mora em Londres.
Jayasree Kalathil é pesquisadora, escritora e tradutora e dirige o coletivo virtual Survivor Research. Ela está interessada em garantir que as vozes das comunidades diaspóricas racializadas e pós-coloniais permaneçam válidas na criação de conhecimento. Ela foi editora-fundadora da aaina, a primeira revista de saúde mental liderada por usuários da Índia, e editou a publicação de saúde mental baseada no Reino Unido, a Open Mind. Jayasree está atualmente pesquisando a história do ativismo de usuário / sobrevivente por pessoas de comunidades africanas, afro-caribenhas e asiáticas no Reino Unido. Ela é de Kerala, na Índia, e atualmente mora em Londres.