Publicado no último número de The New York Review of Books, uma resenha crítica de Marcia Angell cujo título é Opioid Nation (“Nação Opioide”). É do conhecimento geral a epidemia de consumo de opiniões nos Estados Unidos. Evidentemente que as mortes por overdoses nos Estados Unidos não é apenas por consumo de opioides. O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas estima que 72 mil americanos morreram de overdoses de drogas em 2017, de cerca de 64 mil no ano anterior e 52 mil no ano anterior – um aumento impressionante sem perspectivas de ter um fim. E a maioria foi por opioides envolvidos. A problemática com os opinioides não parece ser ainda motivo de preocupação aqui no Brasil, porque tudo indica que o seu consumo não atinja uma proporção muito grande da nossa população. Não obstante, é muito interessante para nós brasileiros conhecer a argumentação desenvolvida por Marcia Angell, que pode certamente ser aplicada de alguma forma à problemática das drogas em geral, lícitas e/ou ilícitas.
“Em 2017, o Grupo de Estratégia de Saúde do Instituto Aspen, liderado por dois ex-secretários de saúde e serviços humanos, Tommy Thompson e Kathleen Sebelius, composto por vinte e quatro membros de várias áreas relacionadas à saúde (eu estou entre eles), se reuniu por três dias para examinar a epidemia de opiáceos. As deliberações foram precedidas por quatro apresentações de especialistas na área. No relatório final abrangente, o grupo apresentou um forte argumento para a descriminalização da dependência de drogas considerando-a como um problema de saúde pública. Entre as cinco principais recomendações estava uma chamada para mais pesquisas sobre quase todos os aspectos da epidemia. É surpreendente o quão pouco sabemos ainda, levando em consideração a dimensão do problema e a atenção que recebe da mídia.
Precisamos saber, por exemplo, como os opioides são eficazes para diferentes tipos de dor, incluindo o tratamento de longo prazo para a dor crônica. Precisamos saber como os opioides se comparam, em termos de eficácia e efeitos colaterais, com paracetamol (que pode causar insuficiência hepática) e antiinflamatórios não-esteróides (AINEs), como é cado do ibuprofeno (que pode causar sangramento gastrointestinal). Precisamos saber como a taxa de mortalidade na epidemia de opioides se compara à taxa de uso. Sabemos que a taxa de mortalidade está subindo, mas isso significa que a taxa de uso está igualmente crescendo, ou a taxa de mortalidade é simplesmente um resultado da letalidade das misturas de drogas obtidas na rua? Precisamos saber quanto desvio há agora do tratamento legítimo para o abuso. Isso inclui o desvio de metadona e buprenorfina, que também são opioides e podem ser vendidos na rua ou adicionados à ingestão ilícita do usuário. De acordo com Macy, ‘a buprenorfina é o terceiro opioide mais desviado do país, depois da oxicodona e da hidrocodona’.
Precisamos saber quantos viciados querem parar, já que a maioria não procura tratamento. Por que? E, finalmente, precisamos conhecer a melhor abordagem para o tratamento. Existe a preocupação, por exemplo, de que a desintoxicação possa ser perigosa, porque a primeira dose após uma recaída pode ser mortal se o usuário não for mais tolerante aos efeitos da droga. É o fornecimento da metadona ou buprenorfina indefinidamente, mesmo para a vida toda, o melhor tratamento entre as más escolhas? Há muita especulação sobre todas essas questões e descobertas sugestivas sobre algumas delas, mas poucas evidências sólidas.”