OS IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL PRODUZIDOS PELA ATUAL CRISE POLÍTICO-INSTITUCIONAL NO BRASIL

Flagrantes do impacto da crise política e socioeconômica na saúde mental do povo brasileiro

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Publicado em DCM (Diário do Centro do Mundo).  Um conjunto de três matérias, assinadas pelo jornalista André Lobão, sobre os impactos na saúde mental produzidos pela crise econômica e sócio-política que a sociedade brasileira sofre nos últimos anos. Um retrato do Brasil dos tempos atuais.

“Em 2016, uma pesquisa coordenada pelo sociólogo Jessé Souza, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontou a relação entre exclusão social e o uso do crack. A pesquisa foi encomendada pelo então Ministério da Justiça e Cidadania – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.

‘Essas informações nos levaram a concluir que exclusão social e uso de crack provavelmente formam um ciclo vicioso que se retroalimenta e, pior, estende seu efeito mesmo àqueles que sequer fazem uso da droga. Coerentemente, quando perguntados pelos pesquisadores sobre o que esperavam de um tratamento para seu problema com as drogas, os usuários responderam com a reivindicação de um verdadeiro pacote de direitos sociais, para além dos serviços de saúde: moradia, educação, emprego, alimentação, banho etc. A resposta poderia ser a mesma vinda de qualquer jovem das periferias brasileiras”, diz Jessé, na apresentação do estudo.’

Na reportagem no centro do Rio de Janeiro, para aferir o impacto do desemprego nas ruas da cidade, os relatos colhidos indicam o consumo de drogas aumentou. Na avenida Presidente Vargas, perto da Central do Brasil, por exemplo, o consumo de crack é visto qualquer hora do dia.

Como apontou outra pesquisa, realizada pela Fiocruz, com com financiamento da SENAD/MJ (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – Ministério da Justiça), a maior parte dos usuários é formada por negros e negras — oito em cada dez.

(…)  Fernando Freitas, professor e pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS/ENSP/FIOCRUZ), avalia que a crise econômica agravou de fato o problema do consumo de drogas como o crack. Mas não só.

‘Sem dúvida, houve aumento, mas também para todos os tipos de drogas psicoativas, ilícitas como o próprio crack, e lícitas como o álcool, tabaco, e também das drogas psicoativas prescritas pelos médicos’, afirmou.

A angústia de não saber se terá como comer é um convite à entrada ao labirinto das drogas. No caso de quem vive nas ruas, as drogas prescritas por médicos estão longe da realidade. Ali o cotidiano é mais bruto (…)

O professor Fernando Freitas, doutor em psicologia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica), explica que a crise está gerando uma contingente enorme de brasileiros tristes e sem esperança. Pode se tornar um problema de saúde pública.

‘O que é esperado neste Meio Ambiente?’, reflete. ‘É o aumento no número de pessoas sofrendo de tristeza, muitas vezes uma tristeza profunda, persistente, o que aumenta o número de pessoas com ansiedade, insônia, havendo o aumento do consumo de álcool, tabaco e das drogas ilícitas, além do aumento dos casos de suicídio’.”

Leia as matérias publicadas no DCM, na íntegra clicando nos títulos abaixo:

Desempregado vende boneca velha na calçada: luta pela sobrevivência