Atuando há quase 30 anos como psiquiatra e seguindo recomendações acadêmicas de que pacientes esquizofrênicos deveriam fazer uso de antipsicóticos para o resto de suas vidas, me deparo com o importante artigo de Joanna Moncrieff e cols.
O uso prolongado de antipsicóticos baseia-se na premissa de que sua interrupção poderia levar a recaídas, situação a ser evitada apesar das consequências já bem conhecidas de seu uso prolongado: diabetes, discinesia tardia, doença cardiovascular, disfunção sexual, alterações cognitivas, etc.. Porém, não existem, até o momento, trabalhos que comparem os benefícios e prejuízos de uma redução e retirada gradual de antipsicóticos. Neste sentido, o presente artigo trata de um estudo com término previsto para 2022, cuja intenção é verificar se tal estratégia de redução traria uma evolução funcional favorável com mínimos riscos de piora dos sintomas ou recaídas.
O estudo terá a duração de 2 anos, com avaliações realizadas aos 6, 12 e 24 meses e todo o planejamento de redução será individualizado para cada participante e baseado numa avaliação clínica, sendo as doses reduzidas a cada 1 ou 2 meses. As medições realizadas terão como objetivo avaliar o funcionamento social, recaídas graves, sintomas, qualidade de vida subjetiva, efeitos adversos dos antipsicóticos, peso corporal, disfunção sexual, função neuropsicológica, satisfação e aderência ao medicamento, além de uma análise econômica dos custos e benefícios de tal estratégia.
O estudo de Joanna Moncrieff e cols. nos traz uma grande esperança quanto à possibilidade de podermos oferecer aos sujeitos com diagnóstico de esquizofrenia uma outra opção baseada numa boa evidência cientifica e diferente do uso contínuo de antipsicóticos, pois uma estratégia que possa reduzir de forma eficaz os antipsicóticos, traria muitos benefícios para a saúde e qualidade de vida, além de benefícios econômicos associados a um melhor funcionamento social dessas pessoas.
Leia o artigo na íntegra https://bmjopen.bmj.com/content/bmjopen/9/11/e030912.full.pdf