A Família Também Merece Cuidado!

A família é um dos principais responsáveis pelo cuidado dos usuários, mas acaba sendo pouco cuidada pelos profissionais de saúde mental.

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O artigo publicado na revista Faipe realizou uma revisão de literatura com o objetivo de descrever as políticas, o cuidado e a atenção em saúde mental, voltadas às famílias dos usuários dos serviços de saúde mental.

O interesse de Octavianni et. al  nasce a partir da experiência da reforma psiquiátrica, que ao defender a desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos, trouxe a família para o centro do cuidado desses sujeitos, assim como os serviços substitutivos, focando no cuidado em liberdade. Nesse sentido, é essencial a colaboração entre profissionais, família e sociedade, buscando a ampliação da rede social de apoio no território.

A aproximação da família com o serviço e o cuidado com o usuário pode significar uma aproximação das relações afetivas e da diminuição do preconceito em relação ao usuário. Mas, não se pode esquecer que pode ser extremamente difícil para a família o cuidado de um familiar diagnosticado com algum transtorno, podendo gerar sobrecarga emocional, física e econômico.

“Os familiares precisam ser notados como um grupo que precisa de apoio e orientação para lidar com o impacto gerado pelo sofrimento psíquico de longa duração em seu núcleo familiar que, inegavelmente, acarreta alteração nas atividades cotidianas e no orçamento familiar.”

Conclui-se que as políticas de saúde mental já compreendem que a família é merecedora de atenção e cuidados por parte dos profissionais de saúde. Porém, o cuidado às famílias ainda é um desafio. Os profissionais apresentam dificuldade em se adequar aos modelos de cuidado, a produção de atenção humanizada, e trabalho interdisciplinar, centralizando a atenção ao usuário. Existem estratégias de inserção da família nos serviços, mas são pouco utilizadas pelos profissionais.

Pode -se ainda falar sobre a formação acadêmica dos profissionais de saúde, ainda voltada para uma clínica individual e individualizante, algo não abordado na pesquisa, mas que provavelmente influencia a dificuldade dos profissionais em realizar um trabalho com uma rede de pessoas, e não só com o paciente, de maneira isolada.

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Octaviani, J.V. et al. Saúde Mental: políticas, cuidado e atenção à família. Revista Faipe, v. 10, n. 1, p. 85-95, jan./jun. 2020. (Link)

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Graduada em Psicologia pela UERJ, especialista em Terapia Familiar pelo IPUB/UFRJ, com ênfase em saúde mental. Pesquisadora auxiliar do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial(LAPS/ENSP/Fiocruz) Produtora e apresentadora do podcast Enloucast. Além de atuar como psicóloga clínica. Áreas de interesse: Saúde Mental, Terapia Sistêmica, Diálogo Aberto, Construcionismo Social, Medicalização e Patologização da vida