Estudo controlado randomizado confirma que antipsicóticos danificam o cérebro

Um novo estudo publicado na JAMA Psychiatry conecta antipsicóticos com danos ao cérebro em várias áreas.

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Em um novo estudo publicado na JAMA Psychiatry, o uso de antipsicóticos (neste caso, olanzapina) foi associado a danos ao cérebro em várias áreas. Os pesquisadores usaram um projeto de ensaio controlado e randomizado (ECR), o que lhes permite sugerir que os medicamentos causam o efeito observado no cérebro. Os pesquisadores descobriram desbaste cortical “generalizado” naqueles que tomaram o medicamento versus aqueles que tomaram um placebo.

“Ao contrário dos estudos não controlados, nosso projeto de ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo fornece evidências potenciais de causa: a administração de olanzapina pode causar uma diminuição na espessura cortical em humanos”, escrevem os pesquisadores.

A exposição à olanzapina por apenas 36 semanas resultou em uma perda de espessura cortical igual a até quatro vezes a perda, em média, durante toda a vida útil de alguém que não tomou o medicamento.

Pesquisas anteriores apoiam essa descoberta. Os pesquisadores citam estudos em roedores e macacos que descobriram que o uso de antipsicóticos resultou em uma perda de 10% do volume cortical. Atrofia cerebral foi relatada em crianças em uso de antipsicóticos, e o uso de antipsicóticos está associado ao aumento do risco de morte em crianças. Antidepressivos e antipsicóticos têm sido associados a um risco aumentado de desenvolver demência.

Melhores resultados também foram relatados para aqueles que param de tomar antipsicóticos. Um estudo recente mostrou que a adição de antipsicóticos à psicoterapia para a psicose do primeiro episódio não resultou em melhorias. A interrupção do uso de antipsicóticos também foi associada à melhora da cognição.

Detalhes do Estudo

Aristóteles Voineskos liderou a pesquisa no Centro de Dependência e Saúde Mental [Centre for Addiction and Mental Health], Toronto, Canadá. O estudo foi uma continuação do estudo  Farmacoterapia da Depressão Psicótica II (STOP-PDII). Os participantes desse estudo eram pessoas com diagnóstico de “depressão psicótica”. Eles receberam olanzapina (Zyprexa, um “antipsicótico”) e sertralina (Zoloft, um “antidepressivo”) durante todo o teste inicial.

Aqueles que responderam ao tratamento foram randomizados para esta segunda parte do teste (aqueles que não apresentaram mais sintomas psicóticos e quase ou totalmente se recuperaram da depressão). Todos continuaram recebendo sertralina, mas metade foi designada aleatoriamente para continuar a olanzapina, enquanto que a outra metade recebeu um placebo. Os participantes fizeram uma ressonância magnética cerebral realizada no início deste segundo estudo e no final, 36 semanas depois.

Resultados

Ao comparar aqueles que tomavam olanzapina com aqueles que receberam placebo, os do grupo olanzapina tiveram mais afinamento cortical – o que significa que o medicamento foi responsável. Quando os pesquisadores se concentraram apenas naqueles que experimentaram remissão da depressão, os do grupo olanzapina ainda tiveram mais afinamento cortical – o que significa que a remissão não pode ser responsável pelo efeito. Segundo os pesquisadores:

“Este estudo randomizado em humanos controla fatores de confusão presentes em estudos observacionais anteriores, como gravidade da doença ou outros fatores associados à doença que influenciam a estrutura do cérebro (por exemplo, status socioeconômico, estresse e uso de substâncias).”

Os pesquisadores observam que os antipsicóticos estão sendo cada vez mais prescritos para pessoas com diagnóstico como autismo e depressão. Eles também confirmam que os antipsicóticos apresentam uma série de efeitos colaterais perigosos, entre os quais o risco de morte súbita – “com risco de morte inesperada substancialmente maior em crianças e idosos”.

Os pesquisadores confirmaram que, neste estudo, os efeitos da olanzapina na estrutura cerebral foram mais pronunciados para os participantes mais velhos.

As Outras Análises

Os pesquisadores também conduziram várias análises “exploratórias”, que compararam subgrupos dentro de seus estudos. Elas devem ser vistos com ceticismo, pois as análises exploratórias exigem confirmação de estudos projetados para testá-los.

Os achados exploratórios foram os seguintes:

  • Dos que recaíram, aqueles que receberam placebo tiveram mais afinamento cortical.
  • Dos que tomaram placebo, os que tiveram recidiva tiveram mais afinamento cortical.
  • Dos que tomaram olanzapina, aqueles que remeteram tiveram mais afinamento cortical do que aqueles que recidivaram

É difícil saber como interpretar essas descobertas, especialmente a última, que indica que não ter mais sintomas depressivos na olanzapina pode ser pior para o cérebro do que continuar tendo sintomas depressivos enquanto estiver na olanzapina. Também é possível que o afinamento cortical seja uma má proxy para a saúde geral do cérebro e outros efeitos.

Além disso, todos os participantes tomaram sertralina e olanzapina e melhoraram antes de serem randomizados para continuar o antipsicótico ou receber o placebo. Isso pode confundir os resultados, já que todos os participantes foram expostos a medicamentos potencialmente danosos ao cérebro em algum momento.

No geral, porém, os pesquisadores recomendam cautela na prescrição de antipsicóticos:

“Dado que as reduções na espessura cortical são tipicamente interpretadas em transtornos psiquiátricos e neurológicos como indesejáveis, nossos resultados podem apoiar a consideração dos riscos e benefícios dos antipsicóticos.”

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Voineskos, A. N., Mulsant, B. H., Dickie, E. W., Neufeld, N. H., Rothschild, A. J., Whyte, E. M., Flint, A. J. (2020). Effects of antipsychotic medication on brain structure in patients with major depressive disorder and psychotic features: Neuroimaging findings in the context of a randomized placebo-controlled clinical trial. JAMA Psychiatry. Published online, February 26, 2020. DOI: 10.1001/jamapsychiatry.2020.0036. (Link)