A genética pode predizer cerca de 0,5% de “esquizofrenia”

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Pesquisadores, escrevendo no Schizophrenia Bulletin, descobriram que fatores genéticos explicam cerca de 0,5% se uma pessoa preencherá os critérios para o diagnóstico de esquizofrenia. Isso significa que 99,5% é atribuível a outros fatores. Anne Marsman da Universidade de Maastricht, na Holanda, foi a principal autora do relatório, e o estudo incluiu o conhecido pesquisador de psicose Jim van Os.

“Circunstâncias socioambientais, particularmente traumas infantis e a percepção de haver uma lacuna na posição (status) social, impulsionam a maior parte das variações que são atribuídas à saúde mental da população”, explicam os autores do estudo.

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Os pesquisadores estavam tentando criar um modelo preditivo para o diagnóstico da esquizofrenia. Eles incluíram tudo o que puderam encontrar, incluindo idade e sexo, circunstâncias sociais, dor, fatores de risco ambiental, histórico familiar e uma pontuação de risco poligênico (PRS; um padrão de dezenas de milhares de marcadores genéticos). Este modelo permitiu que os pesquisadores vissem a contribuição relativa de cada um destes riscos.

Os pesquisadores descobriram que, mesmo com a inclusão de todos esses fatores, eles foram capazes de prever apenas 17%  se uma pessoa passou a preencher os critérios para um diagnóstico de esquizofrenia. Apenas 3% dos 17% puderam ser atribuíveis à genética. Ou seja, a genética explica cerca de 0,5% de se uma pessoa receberá um diagnóstico de esquizofrenia.

No modelo combinado, fatores familiares e ambientais explicaram cerca de 17% da variação na saúde mental, dos quais cerca de 5% foram explicados por idade e sexo, 30% por circunstâncias sociais, 16% por dor, 22% por fatores de risco ambiental, 24% por histórico familiar e 3% por PRS para esquizofrenia (PRS-SZ)”.

Os pesquisadores também testaram seu modelo para outros diagnósticos e descobriram que a genética previu ainda menos para depressão e transtorno bipolar.

Os pesquisadores utilizaram dados do Netherlands Mental Health Survey and Incidence Study-2 (NEMESIS-2), que incluiu 2380 participantes.

De acordo com os autores, a contribuição do risco genético é tipicamente “avaliada com base em testes de significância estatística em amostras massivas, nas quais efeitos minúsculos podem adquirir significância estatística”. Não obstante, a significância estatística não deve ser confundida com a relevância clínica.

Por exemplo, em um estudo recente, os pesquisadores examinaram 90.595 pessoas (49.588 das quais tinham um histórico de ansiedade/depressão) e encontraram variantes do número de cópias (CNVs) “patogênicas” em 708 dos participantes. Mesmo aqueles com um CNV “patogênico”, contudo, não tinham necessariamente um histórico de ansiedade/depressão. Embora esses CNVs estivessem associados a um pouco mais de risco de ter problemas de saúde mental, eles não forneciam nenhum valor clínico, e mais de 99% das pessoas “deprimidas/ansiosas” no estudo não tinham um CNV.

Isto é consistente com pesquisas anteriores, que descobriram que mesmo após o sequenciamento de todo o genoma, fatores genéticos explicaram 2,28% se uma pessoa receberia ou não um diagnóstico de esquizofrenia. Em outro estudo de sequenciamento “exoma“, os pesquisadores concluíram que seus resultados não forneceram dados relevantes a respeito do risco de diagnóstico psiquiátrico.

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Marsman A, Pries LK, ten Have M, de Graaf R, van Dorsselaer S, Bak M, . . . & van Os J. (2020). Do current measures of polygenic risk for mental disorders contribute to population variance in mental health? Schizophrenia Bulletin, sbaa086. https://doi.org/10.1093/schbul/sbaa086 (Link)

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.