Um estudo sobre os efeitos da droga psicodélica ayahuasca na saúde mental descobriu que a droga não era melhor do que um placebo. Os pesquisadores sugerem que os aspectos cerimoniais do ritual da ayahuasca são muito mais importantes do que qualquer ação biológica proposta para a droga.
Os pesquisadores designaram aleatoriamente 30 usuários experientes de ayahuasca para receber ou a droga ou placebo. Então eles verificaram os resultados da ansiedade, depressão e estresse. Descobriram que os resultados de saúde mental melhoraram em ambos os grupos. Não havia diferença entre o grupo da ayahuasca e o grupo do placebo.
Os pesquisadores escreveram: “Sintomas reduzidos em ambos os grupos após a cerimônia, independente do tratamento”.
Ambos os grupos experimentaram aproximadamente o mesmo nível de efeitos psicodélicos, também. Os pesquisadores escrevem que “os participantes de ambos os grupos experimentaram estados alterados de consciência durante a cerimônia”.
Os pesquisadores escrevem que é por isso que os ensaios controlados por placebo são tão importantes:
“Estas descobertas enfatizam a importância dos desenhos controlados por placebo na pesquisa psicodélica e a necessidade de explorar mais a contribuição de fatores não-farmacológicos para a experiência psicodélica”.
O estudo foi conduzido por M. V. Uthaug na Universidade de Maastricht, na Holanda, e foi publicado na revista Psychopharmacology.
De acordo com os autores, a ayahuasca como tratamento para problemas de saúde mental está crescendo em popularidade, e os pesquisadores estudaram seus efeitos observando os retiros com psicodélicos. Entretanto, eles escrevem que esses pesquisadores geralmente não controlam o efeito placebo, o que poderia explicar os resultados iniciais positivos.
O “tratamento” da Ayahuasca freqüentemente inclui um aspecto ritual ou cerimonial, assim como um grupo de pessoas que pensam da mesma maneira e que esperam haver um efeito. Estes são fatores que aumentam fortemente o efeito placebo.
Este estudo também demonstra como as crenças rituais indígenas são cooptadas e mal compreendidas pelo modelo médico da psiquiatria. Na psiquiatria, assume-se que o aspecto biológico da droga causa a melhoria; no entanto, nas culturas indígenas, o ritual em si é responsável pela melhoria.
De acordo com os pesquisadores:
“Deve-se notar também que para muitas tradições indígenas, não é necessário que os participantes consumam ayahuasca. A crença defendida é que os xamãs realizam o seu trabalho para ajudar aqueles que participam da cerimônia, mesmo que não tenham consumido a bebida”.
O estudo teve uma limitação enorme: os participantes não preenchiam os critérios para os transtornos psiquiátricos. Mas isto também se aplica a outros estudos naturalistas sobre a droga, que pareciam mais promissores porque não controlavam o efeito placebo.
Da mesma forma, um estudo recente revelou que outro psicodélico, considerado como “cura milagrosa” para problemas de saúde mental, a esketamina, na verdade falhou em cinco de seus seis ensaios clínicos e foi associado a danos significativos.
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Uthaug, M. V., Mason, N. L., Toennes, S. W., Reckweg, J. T., de Sousa Fernandes Perna, E. B., Kuypers, K. P. C., . . . & Ramaekers, J. G. (2021). A placebo-controlled study of the effects of ayahuasca, set and setting on mental health of participants in ayahuasca group retreats. Psychopharmacology, 238, 1899-1910. (Link)