Taxas crescentes de suicídio: quando reconhecemos que algo não está funcionando ?

0

Independentemente da raça, sexo, idade ou etnia, as pessoas nos Estados Unidos e pelo mundo afora estão cada vez mais escolhendo a morte como a única saída. Mais pessoas tiram suas vidas do que morrem por overdose com opiáceos – apenas via o suicídio, não havendo traficantes de drogas para culpar ou pessoas para se jogar na cadeia (ou punir com a pena de morte) como bodes expiatórios. Na semana passada, os suicídios da estilista Kate Spade e do famoso chef Anthony Bourdain foram notados. E essas mortes vêm na esteira dos resultados de um estudo do Centro de Controle de Doenças que demonstrou que as taxas de suicídio continuam a aumentar e que o suicídio é agora uma entre a “principal causa de morte para os americanos”.

A resposta CADA VEZ MAIS É: Mais tratamento. Melhor tratamento. Tratamento mais acessível. E, claro, maior consciência sobre ‘o sofrimento psíquicol’.

Kate Spade tinha entrado e saído do tratamento pelo menos nos últimos cinco anos, provavelmente com alguns dos melhores terapeutas que a cidade de Nova York tem a oferecer. Anthony Bourdain não era estranho a tratamentos longos e intensivos, tendo estado em reabilitação por dependência de heroína e cocaína. A maioria das pessoas que se suicidou o fez depois de ter procurado ajuda.

Nos últimos anos, os Estados Unidos assistiram a um enorme avanço ‘no tratamento’ e ‘promissoras descobertas’ sobre doenças mentais, mas as taxas de suicídio aumentaram em 30% e as taxas de incapacitação por transtornos mentais aumentaram em dois milhões de adultos entre 1997 e 2009.

Curiosamente, o tratamento para pessoas que estão se sentindo deprimidas e sem esperança está associado a um aumento real de suicídio, violência e assassinato. Embora as drogas de todos os tipos (legais ou não) possam ser ferramentas úteis de enfrentamento para alguns quando estão com dor psíquica, elas não são uma panacéia – e os ‘antidepressivos’ às vezes podem ser completamente o oposto do que se espera que sejam.

Quando é que os profissionais e o público finalmente passarão a reconhecer que O QUE ESTAMOS FAZENDO NÃO ESTÁ FUNCIONANDO? Quando iremos dizer “Se queremos que as coisas mudem de fato, certamente devemos mudar nossa abordagem”?! Quando é que a mídia começará a questionar amplamente o que está acontecendo na sociedade ao em vez de cair na análise do individual?

Do jeito que está, o público continua sendo bombardeado por clichês banais e sugestões vazias que sempre acabam com algum tipo de mensagem como “isso ocorre mesmo, pode ocorrer com qualquer um (menos comigo)”.

“Ligue para a linha direta de suicídio. Saiba que você não está sozinho.”

O problema é que a maioria de nós está sozinha. Os EUA, e a maior parte da sociedade ocidental, concentra-se em uma cultura individualista que coloca o ‘sucesso’ acima dos relacionamentos, levando muitos a enfocar suas vidas na busca de uma ilusão frágil e passageira ao colocar a si próprio em prova. Essa busca sem fim deixa uma pessoa esmagada no momento em que a ilusão de sucesso desaparece (o que sempre acontece). E assim, a perseguição é sempre por mais, mais e mais.

As pessoas acumulam ‘amigos’ nas mídias sociais em um tipo de competição por popularidade bizarra, mas muitas vezes não têm ninguém com quem conversar quando precisam. Um post no Facebook sobre gatos ou alguém espatifando o rosto no chão pode reunir 50 ‘curtidas’, enquanto que uma manifestação honesta de dor, necessidade de conexão ou desesperança tenderá a ser ignorada e resultará em seguidores perdidos. Um selfie de uma pessoa no meio de sua vida feliz e perfeita resultará em uma avalanche de ‘Parabéns!’, Enquanto que uma foto mostrando o que está por trás da máscara pode receber alguns rostos tristes, enquanto que a maioria se apressa para passar rapidamente de lado por tais perturbações da realidade.

A questão é que nenhuma quantidade de talento, elogios, atenção, inteligência ou beleza jamais substituirá o amor, a intimidade, a empatia ou a conexão humana. Não importa quantas coisas uma pessoa compre, não importa quanto status uma pessoa ganhe, e não importa quantos admiradores sigam cada movimento de uma pessoa, isso nunca preencherá o buraco da solidão – pelo menos não por muito tempo.

Ter um aparelho de telefone à mão e discar ‘o SOS suicídio’ quando se está desesperado e necessitado pode ser extremamente útil para muitos. Há algo poderosamente calmante e curativo quando alguém realmente sabe ouvir, mostra se importar, que está curioso sobre o motivo de uma pessoa estar sofrendo, e demonstra estar disposto a ser paciente e calmo para ouvir a história e a dor de uma pessoa. A terapia também pode ser extremamente útil pelas mesmas razões.

O que as pessoas precisam, no entanto, é de conexão humana, empatia, compreensão, paciência, tolerância e uma razão para se amarem a si mesmas e se sentirem amadas pelos outros. Então, por que chegamos a um ponto em que a única maneira de as pessoas realmente receberem isso é ir a um profissional? O que há de errado com a nossa sociedade?

“É sobre doença mental”!

Dizer a uma pessoa que ela está ‘doente’ por sofrer ou por estar triste serve para alienar ainda mais o indivíduo. Muitas vezes a pessoa se sente defeituosa e coloca o problema dentro dela própria, ao em vez de reconhecer que fatores culturais e circunstanciais são o problema. Estudos demonstraram repetidas vezes que uma perspectiva de doença biológica para o sofrimento humano leva à diminuição da empatia, ao aumento do desejo por distância social e ao aumento do preconceito e da discriminação.

Pior ainda, esse foco nas doenças mentais e no sofrimento individual pode às vezes levar aqueles que são diagnosticados a desenvolver uma falta de responsabilidade sobre como tratar os outros, a falta de empatia por aqueles que não são vistos como doentes e a preocupação com o próprio estado interno em detrimento da conexão com os outros. Internalizar uma explicação de doença para o sofrimento de si próprio  leva a alterações na identidade, reforço de dinâmicas abusivas, diminuição da esperança e da auto-estima e diminuição da probabilidade de procurar ajuda.

Em outras palavras: nós, como sociedade, somos informados de que, se alguém está sofrendo, a abordagem correta é convencê-los de idéias que provavelmente as levarão a se sentirem marginalizadas, desamparadas, sem esperança, piores consigo mesmas, envergonhadas, retraumatizadas e com menos possibilidades que cheguem aos outros em busca de conexão e suporte quando, de fato, a conexão e o suporte são as coisas mais prováveis para se curar.

As taxas de suicídio, de fato, são mais altas em áreas que relatam os mais altos níveis de felicidade. Talvez fazer uma pessoa se sentir diferente e anormal por sofrer profundamente não seja tão útil!

Kate Spade popularizou as bolsas com alergia ao tédio nos anos 90. GETTY
Kate Spade popularizou as bolsas com alergia ao tédio nos anos 90. GETTY

Uma aversão à dor e ao sofrimento não nega a sua existência. A falta de empatia por si mesmo ou pelos outros só resulta em maior sofrimento, independentemente de quão profundamente oculto possa estar. O bode expiatório de uma suposta ‘doença’ invisível pode proporcionar conforto temporário para o reconhecimento dos horrores e a injustiça do mundo, mas é uma ilusão – e com consequências fatais para muitos.

“Certifique-se de que eles / você consiga ajuda.”

O atual paradigma de saúde mental nasce de uma sociedade que valoriza soluções curtas e imediatas. Uma sociedade que abriga um senso de direito a alguma idéia de felicidade que corresponda a uma quase completa falta de tolerância para a dor ou sofrimento. Uma sociedade que isola aqueles que perturbam o status quo, faz proselitismo de que todos os problemas serão resolvidos se você comprar X ou for a um especialista em Y, e estimula ativamente o ódio e o caos para não se ver os avanços dos privilegiados da sociedade.

E assim, quando uma pessoa está triste, desesperada, ansiosa, temerosa, experimentando uma crise espiritual, ou está zangada e farta da hipocrisia e da opressão, os especialistas proclamam que a resposta está na maioria das vezes em correções de curto prazo, um esforço quase imediato para suprimir qualquer incerteza ou dor, marginalização por meio de afirmações de doença individual e culpa implícita (no caráter e / ou cérebros) do indivíduo, justamente por não ser capaz de aceitar e lidar com uma sociedade insana e cruel.

Curiosamente, como resultado direto de sua formação, os profissionais que assumem essa perspectiva biotecnológica do sofrimento tendem a perceber seus pacientes em termos menos humanos.

Os médicos são pagos, as seguradoras recebem somas vultuosas de dinheiro, os hospitais prosperam e os indivíduos freqüentemente se tornam usuários de um sistema que ignora cada vez mais o relacionamento em detrimento de intervenções técnicas, supostamente “sofisticadas”, que geralmente pioram as coisas.

Apesar de todas as declarações de que os profissionais de saúde mental são especialistas e de que o tratamento avançou muito ao longo dos anos, não estamos em melhor situação do que há 100 anos. Além disso, as taxas de incapacidade por transtornos mentais aumentaram, o suicídio continua a crescer, a doença mental diagnosticada continua a progredir e, bem, as pessoas estão cada vez mais infelizes.

Quando 45.000 pessoas por ano preferem morrer do que viver neste mundo por mais tempo, convém que todos consideremos o que está acontecendo no mundo para causar isso.

Talvez possamos parar de culpar a deficiência individual e o baixo estoque genético, e começar a reconhecer que nossa sociedade está doente. Talvez seja a hora de fazermos algo diferente.

 

Quando os antidepressivos falham, o aumento da dose pode ser uma resposta menos eficaz

0

Publicado em Psychiatry Adviser: Em um estudo publicado no Journal of Clinical Psychiatry, os pesquisadores não recomendam o aumento da dosagem de antidepressivos como resposta à falha do tratamento, na medida em que análises de regimes de aumento de dose revelam mudanças insignificantes no tamanho do efeito.

Algumas pesquisas demonstraram que o aumento da dose é a maneira predominante utilizada pelos médicos para a falta de resposta ao tratamento com o antidepressivo. Outras práticas recomendadas comuns incluem mudar para um antidepressivo diferente, combinar dois ou mais antidepressivos ou aumentar o tratamento com antipsicóticos.

Os investigadores identificaram 9 estudos compreendendo 1273 pacientes adultos, através dos bancos de dados da CENTRAL, PubMed, Embase e PsycINFO. Eles incluíram ensaios controlados, randomizados, nos quais pacientes com depressão unipolar que não responderam ao tratamento antidepressivo foram designados para aumentar a dose ou para grupos de controle com dose contínua. Todos os estudos examinaram inibidores seletivos da recaptação da serotonina, com um estudo também relatando a maprotilina.

Comparado com uma dose continuada de acordo com a prescrição inicial de um paciente, uma dose aumentada não mostrou ser mais eficaz, com uma diferença média padronizada insignificante de 0,053 (IC 95%, -0,143 a 0,248). De forma semelhante, análises de resultados secundários encontraram uma razão de probabilidade não significativa de 1,124 para resposta antidepressiva e remissão da depressão.

Artigo →

capsulepillg8019108701_1437850

Como falar com alguém que esteja ouvindo vozes

0

Neste artigo publicado pela revista MetroUK, Lucy Nichol explica como melhor apoiar pessoas em ‘psicose’, enfatizando a necessidade de acreditar em indivíduos que ouvem vozes e reconhecê-los como o perito em suas próprias experiências.

“Ouvir vozes pode ser assustador para as pessoas. Mas nem sempre é assim. E se a pessoa que está experimentando a voz, a visão, a crença ou o sentimento não estiver aterrorizada, então por que alguém deveria estar com medo?

Dr. Liam Gilligan, um psicólogo clínico do Norfolk e do Suffolk NHS Foundation Trust, diz que devemos tentar reconhecer as emoções que estão sendo apresentadas pela pessoa experimentando a visão ou a crença.

Por exemplo, se essa pessoa não estiver em perigo, por que abordá-la de maneira angustiada? Isso só irá fazer com vocês dois se sintam angustiados.”

hearing voices

Antidepressivos no tratamento da insônia

0
Photo Credit: Pixabay

psimonsUma nova meta-análise no Banco de Dados Cochrane de Revisões Sistemáticas examinou ensaios clínicos randomizados e controlados de medicação antidepressiva para o tratamento da insônia. Os autores, liderados por Hazel Everitt, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, descobriram que haviam muito poucos estudos, de pequena amplitude, cada um com muitos problemas metodológicos. A revisão do Cochrane conclui que “as evidências não apoiavam a prática clínica atual de prescrever antidepressivos para insônia”.

     “No geral, a qualidade das evidências foi baixa devido a um pequeno número de pessoas nos estudos e a problemas com a forma como os estudos foram realizados e relatados”, dizem Everitt e seus colegas.

Photo Credit: Pixabay
Photo Credit: Pixabay

Além disso, os autores escrevem que os efeitos colaterais foram subnotificados ou não relatados em todos os estudos que examinaram, tornando impossível fornecer consentimento informado sobre os riscos e benefícios dos medicamentos. Da mesma forma, não houve estudos de longo prazo.

Drogas “hipnóticas” como benzodiazepínicos e drogas “Z” são aprovadas para tratar insônia, mas preocupações foram levantadas sobre tolerância e dependência. Por esse motivo, as diretrizes recomendam que sejam usadas por até quatro semanas. Intervenções psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), também são fornecidas para a insônia, mas muitas vezes não são acessadas. Por esta razão, os médicos podem recorrer a outras soluções, como os antidepressivos.

Everitt e seus colegas escrevem que, embora os antidepressivos não tenham aprovação da FDA para o tratamento da insônia, eles são comumente prescritos para esse fim. Os dois mais comuns são trazodona e amitriptilina.

“Os efeitos dos ISRSs em comparação com o placebo são incertos, com poucos estudos para chegar a conclusões claras”, escrevem os pesquisadores. “Pode haver uma pequena melhora na qualidade do sono com o uso a curto prazo de doxepina em baixas doses e trazodona em comparação com o placebo. A tolerabilidade e segurança dos antidepressivos para insônia é incerta devido à notificação limitada de eventos adversos. Não houve evidência de amitriptilina (apesar do uso comum na prática clínica) ou uso prolongado  para insônia. ”

A revisão incluiu 23 ensaios clínicos randomizados e controlados de antidepressivos, com um total de 2.806 participantes. Os estudos foram todos publicados antes de 2016. Ensaios clínicos randomizados e controlados são considerados a mais alta qualidade de evidência – embora isso não os impeça de ter problemas metodológicos. A revisão também incluiu ensaios com participantes com condições comórbidas (como depressão ou ansiedade), o que é útil, uma vez que essas comorbidades são comuns em situações da vida real.

Os pesquisadores analisaram três estudos que compararam os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) com placebo (dois com paroxetina e um com fluoxetina); seis estudos que compararam antidepressivos tricíclicos (ADTs) com placebo (cinco com doxepina e um com trimipramina); sete estudos que compararam a trazodona ao placebo; e um estudo que comparou a mianserina ao placebo.

Eles concluíram que as evidências disponíveis eram de baixa qualidade, insuficientes para demonstrar que essas drogas eram eficazes no tratamento da insônia. Em alguns casos, o estudo não mostrou melhora, como o estudo da fluoxetina. Foi notável que não houve um único estudo sobre a eficácia da amitriptilina para a insônia. A trazodona se saiu um pouco melhor, havia pelo menos alguma evidência de melhora no sono no curto prazo, embora seus estudos tenham sido marcados por limitações metodológicas, falhas na identificação de efeitos adversos e falta de acompanhamento em longo prazo, .

Além de pedir mais pesquisas sobre antidepressivos para insônia, Everitt e seus colegas escrevem que “os profissionais de saúde e os pacientes devem estar cientes da escassez atual de evidências de antidepressivos comumente usados para o controle da insônia”.

****

Everitt, H., Baldwin, D. S., Stuart, B., Lipinska, G., Mayers, A., Malizia, A. L. . . . Wilson, S. (2018). Antidepressants for insomnia in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, 5(Art. No.: CD010753). doi: 10.1002/14651858.CD010753.pub2 (Link)

Mais Evidências de que Atividade Física Previne a Depressão

0
Photo Credit: Health.mil

jjanzeUm novo estudo, publicado no American Journal of Psychiatry, investiga o efeito da atividade física nos níveis de depressão. Os resultados da meta-análise de efeitos aleatórios que examinou a atividade física e a depressão incidente indicam que níveis mais altos de atividade física servem como fator de proteção contra o desenvolvimento futuro da depressão.

“Nossos resultados indicam que níveis mais altos de atividade física oferecem um efeito protetor no desenvolvimento futuro da depressão para pessoas de todas as idades (jovens, adultos em idade de trabalho, idosos), e este achado é robusto nas mais distintas regiões geográficas ao redor do mundo” pesquisadores relatam.

 

Photo Credit: Health.mil
Photo Credit: Health.mil

Sendo um dos transtornos de saúde mental mais comuns, a depressão é uma experiência portanto familiar para muitas pessoas. Embora na maioria das vezes tratada com inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs), esse tratamento de primeira linha tem sido criticado por causar problemas psicopatológicos e médicos adicionais com o uso em longo prazo. Com evidências crescentes a alertar para o uso de ISRSs, os pesquisadores estão voltando a sua atenção para tratamentos alternativos.

Os tratamentos não farmacológicos (TNP) para depressão vêm ganhando apoio como sendo opções seguras e efetivas de tratamento e prevenção. Tratamentos como mindfulness, psicoterapia e exercício físico são exemplos de alternativas comuns e bem pesquisadas aos ISRSs para tratamento de transtornos depressivos.

“As pessoas com transtorno depressivo maior são conhecidas por terem uma probabilidade de 50% de não atingir os níveis de atividade física recomendados (por exemplo, realizar> 150 minutos de atividade física moderada a cada semana) em comparação com pessoas sem depressão grave”.

Embora revisões anteriores tenham sugerido que a atividade física pode ser protetora contra o desenvolvimento de depressão, o presente estudo é a primeira meta-análise agrupada a investigar essa relação. A meta-análise agrupada fornece um quadro mais robusto da relação entre depressão e níveis de exercício do que um acúmulo de estudos analisados separadamente.

Para este projeto, o Dr. Schuch e sua equipe analisaram 49 estudos que incluíram mais de 200.000 indivíduos, com distribuição sexual quase igual, várias idades e que foram realizados em várias regiões geográficas. Variáveis intervenientes, como o tamanho da amostra, o tempo de seguimento e a qualidade do estudo, foram investigadas para verificar se forneciam explicações significativas da variação nos efeitos da atividade física sobre a depressão. Os pesquisadores relatam os seguintes resultados:

“Comparados com pessoas com baixos níveis de atividade física, aqueles com altos níveis tiveram menor chance de desenvolver depressão (odds ratio ajustado = 0,83, 95% CI = 0,79, 0,88; I2 = 0,00). Além disso, a atividade física teve um efeito protetor contra o surgimento de depressão em jovens (odds ratio ajustado = 0,90, IC95% = 0,83, 0,98), em adultos (odds ratio ajustado = 0,78, IC95% = 0,70, 0,87) e em idosos (odds ratio ajustado = 0,79, IC 95% = 0,72, 0,86). Nenhuma variável interveniente foi identificada. “

Embora mais estudos sejam necessários para investigar os níveis mínimos de atividade física exigidos e o impacto de diferentes tipos de atividade física, o presente estudo fornece uma contribuição importante para um crescente corpo de literatura que promove medidas preventivas para lidar com a depressão. Os pesquisadores concluem:

“Nossos dados enfatizam ainda mais a importância das políticas que visem aumentar os níveis de atividade física. Ensaios clínicos randomizados são necessários para determinar se a atividade física pode ou não prevenir o desenvolvimento de depressão em pessoas de alto risco ”.

****

Schuch, F. B., Vancampfort, D., Firth, J., Rosenbaum, S., Ward, P. B., Silva, E. S., … & Fleck, M. P. (2018). Physical activity and incident depression: a meta-analysis of prospective cohort studies. American Journal of Psychiatry, appi-ajp. (Link)

O movimento da Antipsiquiatria

1

Publicado em Truthdig: Na semana passada comemorou-se os 40 anos da revolucionária obra de Franco Basaglia em Trieste, Itália, que levou à inovadora Legge 180 (Lei 180, também conhecida como ‘Lei Basaglia’), que acabou com a prática do confinamento involuntário em asilos em toda a Itália. O movimento da anti-psiquiatria foi parte de um movimento intelectual e profissional bem amplo, promovido através dos trabalhos de Basaglia, Michel Foucault na França, R. D. Laing na Grã-Bretanha, Thomas Szasz nos Estados Unidos e Erving Goffman nos Estados Unidos. Esses pensadores criticaram os poderes legais conferidos aos psiquiatras para deter e tratar indivíduos com transtornos mentais, e que contribuíram para a medicalização da loucura.

Eles também defenderam a noção de que a subjetividade pessoal é independente de qualquer mandato hegemônico de normalidade imposto pela medicina psiquiátrica organizada. Esse movimento até mesmo sugeriu que a doença mental pode não existir de forma alguma fora da linguagem que a enquadra. O trabalho de Basaglia no asilo em Trieste tornou-se um modelo internacional para psiquiatras radicais que vinham trabalhando em seus próprios países para acabar com a institucionalização forçada de pacientes e tentar forjar um novo modelo de atenção de saúde mental.

Artigo →

One-Flew-Over-the-Cuckoos-Nest-1024-850x476

‘Tiras com dose reduzida’ ajudam as pessoas que desejam interromper o uso de antidepressivos

0

Peter SimonsUm novo estudo realizado por Peter Groot e Jim Van-Os revelou que as ‘tiras de redução (tapering strips) ajudam com êxito as pessoas a suspender o uso de antidepressivos. O estudo publicado na revista Psicosis encontrou que, finalmente, 71% foram capazes de ter êxito, ao usar esse novo processo com as ‘tiras de afunilamento’. Esse resultado foi especialmente importante, já que 62% dos participantes haviam no passado feito tentativas de interromper seus antidepressivos, e que foram infrutíferas justamente devido aos sintomas graves experimentados.

“Em muitas partes do mundo, os números de prescrição de medicamentos psiquiátricos continuam em ascensão, entretanto temos invertido pouco tempo e esforço em ajudar as pessoas a chegar ao fim do tratamento e que desejam parar de tomar antidepressivos, por exemplo” escreve o Dr. Groot. “Nosso último estudo observacional revelou claramente que os medicamentos antidepressivos são difíceis de serem interrompidos, e também demonstrou a eficácia da utilização da redução gradual das doses em tiras de afunilamento, para ajudar as pessoas a não ter ou a reduzir ao mínimo os sintomas desagradáveis. As tiras de afunilamento podem proporcionar um método confiável, seguro e fácil para os pacientes trabalharem com os médicos para a redução dos problemas acarretados com a abstinência.”

Tapering StripsAs ‘tiras de afunilamento’ são promovidas por uma organização holandesa sem fins lucrativos, Cinderella Therapeutics. O que são ‘tiras de afunilamento’?  São pacotes personalizados de medicamentos, em que cada pílula tem a mesma, ou uma dose ligeiramente menor, do que a anterior. Para o desmame de psicofármacos como os antidepressivos, os usuários podem utilizar essas tiras que se afunilam ao longo dos meses. Isso permite aos usuários ter maior controle sobre a duração do seu processo de redução e interrupção.

Sem o uso das ‘tiras de afunilamento’, apenas existem duas opções para o processo de retirada das drogas psiquiátricas (além da interrupção brusca). Os usuários podem fazer grandes saltos entre as doses que são disponibilizadas pelas empresas farmacêuticas, o que aumenta a probabilidade de graves sintomas de abstinência. A outra opção é esmagar ou abrir pílulas para tomar só um aparte da dose. Isso é problemático, já que não proporciona necessariamente a dose, pois a parte ativa da medicação pode não ser distribuída uniformemente pela pílula dividida, por exemplo.

Os usuários têm muitas razões para deixar de tomar antidepressivos. Em estudos anteriores, os efeitos adversos (tais como os efeitos sexuais secundários, aumento de peso e embotamento emocional) foram relatados por até 72% dos participantes. Os participantes também expressaram sua preocupação pelos possíveis efeitos dos medicamentos ao longo prazo de uso. Ademais, alguns participantes simplesmente sentiram que haviam melhorado o suficiente para definir se ainda necessitavam seguir tomando o medicamento.

Infelizmente, muitas pessoas que tentam interromper seu regime de medicamentos passam por dificuldades durante o processo. Isso de deve frequentemente aos sintomas de abstinência que podem ser severos e durar meses – ou inclusive anos. Esses sintomas são descritos como diferentes da reaparição dos sintomas depressivos (por exemplo, sintomas semelhantes a gripe, tonturas, ‘curtos-circuito no cérebro’).

No atual estudo, 895 usuários na Holanda tentaram interromper o uso de antidepressivos com o uso das ‘tiras de afunilamento’. A quantidade média de tempo que estes usuários tinham usado antidepressivos foi de 2-5 anos. 62% já haviam tentado anteriormente – a maioria havia tentado mais de uma vez.

Quase todos (97%) deles haviam experimentado sintomas de abstinência durante as tentativas anteriores. A metade deles (49%) haviam experimentado sintomas graves de abstinência, a qualificação de seus sintomas tendo sido no nível máximo do que é permitido pela escala utilizada (7 em uma escala de 1-7). Depois de usar as ‘tiras de afunilamento’, 71% foram capazes de interromper com êxito a sua medicação, o que é especialmente notável, já que 2/3 haviam tentado de maneira infrutífera anteriormente. Aqueles que conseguiram, utilizaram uma média de 2 ‘tiras de afunilamento’ ao longo de 56 dias.

A quantidade do tempo necessário para diminuir a medicação apareceu ser bem sucedida quando correlacionada com o período de tempo em que a pessoa estava tomando a medicação. Aqueles usuários que haviam estado por mais tempo com antidepressivos, esses necessitaram significativamente de mais tempo para com sucesso deixarem de tomar as drogas.

Ao final do estudo, uns 8% adicional dos participantes continuaram ainda a tentar diminuir seus antidepressivos. 4% dos participantes desistiram, devido aos efeitos graves da abstinência, ainda que com as ‘tiras de afunilamento’. Outros 6% haviam deixado de tentar interromper o uso de antidepressivos, devido ao reaparecimento de sintomas depresivos. A maioria dos participantes do estudo estava tomando paroxetina (Paxil: 47%) e a venlafaxina (Effexor: 43%).

“É alarmante encontrar que 97% de mais de 600 pessoas que tentaram deixar os antidepressivos haviam experimentado a síndrome de abstinência ”,  Dr. Jim Van Os, da Universidade Masstrict , escreveu depois da publicação do estudo. “O fato de que 49% delas tenham dito haverem experimentado o nível mais extremo da escala de gravidade, isso mostra que é imperdoável que os profissionais sigam minimizando ou ignorando este problema. A vida de milhões de pessoas está sendo impactada de maneira significativa.”

No mês passado, muitas pessoas ao redor do mundo foram introduzidas aos efeitos da retirada de antidepressivos, graças a um artigo do New York Times intitulado “Muitas pessoas que tomam antidepressivos acham que não podem mais deixar de tomar”.  Esse artigo põem em destaque as histórias de pessoas que tentaram parar a medicação antidepressiva, apenas para descobrir experiências de sintomas severos de abstinência, incluindo tonturas, confusão, e insônia, assim como náuseas e ‘curto-circuitos no cérebro’. Pior, muitos dos entrevistados receberam pouca ou nenhuma ajuda de seus prescritores e não foram advertidos de que os efeitos da abstinência poderiam ocorrer ou serem tão severos.

Infelizmente, os efeitos de abstinência dos antidepressivos não são novos para a comunidade científica – embora raramente sejam reconhecidos publicamente. Em um estudo de 2016, citado pelo artigo do New York Times, os pesquisadores entrevistaram pessoas que tomavam antidepressivos e descobriram que 73,5% haviam experimentado sintomas de abstinência. Os participantes também expressaram o desejo de mais e melhores informações sobre resultados a longo prazo, efeitos após a descontinuação e apoio para a supressão de antidepressivos. Metade dos participantes desse estudo indicou que se sentiam ‘viciados’ em antidepressivos.

O artigo do New York Times também citou outro estudo recente que descobriu que aproximadamente metade dos participantes não conseguia interromper os antidepressivos, por causa da gravidade experimentada com a retirada. Esse estudo também revelou que os prescritores geralmente não ajudam no processo de interrupção. Esse mesmo estudo relatou que 86% daqueles que suspenderam a medicação com sucesso se encontravam felizes com essa decisão.

***

Groot, P. C., & van Os, J. (2018). Antidepressant tapering strips to help people come off medication more safely. Psychosis. → (link)

 

 

Tempo para uma mudança de paradigma nas intervenções de psicologia escolar

0

SadieEm uma recente análise publicada no Fórum de Psicologia Escolar da Associação Nacional de Psicólogos Escolares, Amanda VanDerHeyden aborda padrões de práticas ultrapassadas no campo da psicologia escolar, apesar do aumento de alternativas efetivas, viáveis e baseadas em evidências. Primeiro examinando a categoria de classificação de incapacidade de aprendizagem específica (SLD), através de uma lente crítica, e depois considerando práticas comuns sem apoio empírico, VanDerHeyden pede mudanças dentro do sistema de educação dos EUA.

Psicologia Escolar
Photo Credit: Flickr

VanDerHeyden, que trabalhou como pesquisadora, consultora e instrutora em vários distritos escolares, e é editora associado da School Psychology Review, expõe a lacuna problemática entre o conhecimento adquirido com a avaliação dos alunos e as formas de apoio aos alunos. Ela também chama a atenção para os riscos potenciais associados à atribuição de rótulos na ausência de instrução e serviço de qualidade em todas as escolas. Em muitos casos, intervenções consideradas eficazes em amostras pequenas e homogêneas de estudantes são generalizadas para apoiar diversas populações, e é necessária uma maior atenção aos efeitos e à adequação das intervenções para melhorar as experiências dos alunos nas escolas.

De acordo com VanDerHeyden, a classificação ‘incapacidade de aprendizagem específica’ (SLD) foi designada, desde a sua origem na década de 1970, como uma categoria para incluir uma variedade de alunos com diferentes tipos de atrasos de desempenho. Quando um aluno demonstra dificuldade de leitura ou com matemática, e deixa de se encaixar perfeitamente em uma outra categoria de classificação, não é incomum que o aluno receba um rótulo de SLD. Apesar das preocupações em torno da validade da classificação SLD, e questões sobre até que ponto ela representa déficits de desempenho dos alunos versus déficits de instrução e fraquezas da escola, ela é aplicada liberalmente em nível nacional.

“Diagnósticos de SLD dispararam, mesmo quando estudos científicos após estudos científicos que têm surgido sublinhem as falhas fundamentais no construto e os resultados pobres para os alunos que receberam o rótulo SLD”, escreve VanDerHeyden.

Nos últimos anos, assistiu-se a um movimento no sentido da adoção de sistemas de apoio multicamadas (MTSS), caracterizados por um aumento de iniciativas acadêmicas e socioemocionais em todas as escolas, em oposição a planos de apoio individualizado e de classificação. A melhoria geral da qualidade do ensino e o apoio comportamental reduzem os padrões de classificação excessiva.

No entanto, apesar do enorme apoio empírico para a resposta à intervenção (RtI), ao MTSS e à prática de avaliar e responder aos pontos fortes e fracos dos alunos em vez de se ficar buscando déficits inatos, muitos psicólogos escolares se apegam a rótulos e intervenções ultrapassadas. Em alguns Estados, a avaliação cognitiva tem sido excluída do uso para determinações de incapacidades, mas essa abordagem é usada em abundância em outras.

 “Psicólogos escolares estão otimistas de que seus esforços podem funcionar, e otimismo é útil, porém continuando a esperar que um tratamento com poucas evidências venha a funcionar não passa de um hábito que sai caro e diminui a eficácia geral da psicologia escolar como profissão”, ela escreve. “Esse hábito está infiltrado em nossos programas de treinamento, e os estudantes são formados sendo treinados para conduzir práticas que são de pouco ou nenhum valor demonstrável para as crianças.”

A principal explicação de VanDerHeyden para a implementação contínua de programas desatualizados de psicólogos escolares não é que os apoios escolares viáveis e baseados em evidências não estejam disponíveis, mas sim “porque eles foram treinados para fazer isso”. Universidades e cursos de treinamentos não alcançaram a esmagadora maioria das pesquisas que desafiam os modelos tradicionais de classificação e intervenção.

O melhor e mais eficiente suporte para o maior número de alunos é realizado por meio de ajustes nos ambientes de aprendizado social e acadêmico, em vez de características individuais dos alunos. VanDerHeyden sugere que os psicólogos da escola devem:

  • Chegar junto
  • Conhecer a combinação certa dos ingredientes para facilitar as condições corretas que possam garantir uma intervenção eficaz
  • Saber como empregar (ou treinar outros para implementar) intervenções baseadas em evidências
  • Saber como sustentar uma intervenção até que os efeitos sejam significativos e duradouros

Como pode ser extraordinariamente  penoso para professores e psicólogos recém-formados ingressarem em sistemas escolares complexos e disfuncionais e informar mudanças significativas, muitos dos candidatos mais bem treinados procuram emprego em escolas que já são de alto desempenho. O primeiro componente acima apresentado  é fundamental, porque em muitas escolas que estão prontas para uma mudança de paradigma psicólogos qualificados não estão aparecendo.  Alunos vulneráveis à exposição a taxas mais altas de instrução inadequada, conflito e violência, tumulto social e emocional e trauma podem estar mais propensos a ser rotulados ou receber diagnósticos, mas não menos propensos a receber acomodações de apoio que teriam sido de outra forma devidos a padrões desatualizados na prática.

Variações significativas na capacidade do professor em se adaptar às necessidades dos alunos contribuem para a importância da gestão da qualidade em relação à prática social, emocional e de ensino, e os psicólogos escolares estão em uma posição única para atender à necessidade de uma melhor gestão. No entanto, se o treinamento é discrepante com a pesquisa atual, focando em intervenções para indivíduos e grupos pequenos, e se psicólogos escolares talentosos não estão pensando em casar com pesquisa e prática, as escolas continuarão a se apegar a métodos obsoletos apenas porque é isso que foi feito no passado.

****

VanDerHeyden, A. (2018). Why Do School Psychologists Cling to Ineffective Practices? Let’s Do What Works. School Psychology Forum, 12(1), 44-52. (Link) 

A Vida após as Drogas Psiquiátricas: Laura Delano

0

Will HallComo as pessoas podem sair de medicamentos psiquiátricos da maneira mais segura? Quais são as principais lições e ingredientes vitais para deixar a assistência psiquiátrica? Existe vida depois que se deixa de tomar remédios? Laura Delano passou 14 anos como paciente psiquiátrica antes de deixar para trás seus diagnósticos psiquiátricos e se reabilitar. Hoje ela é Diretora da Iniciativa Inner Compass e do The Withdrawal Project, trabalhando para apoiar a retirada de drogas e construir uma comunidade além do sistema de saúde mental.

Entrevista com Laura Delano:

Laura Delano 1

http://www.madnessradio.net/?powerpress_pinw=2201-podcast

 

Links Importantes:

he Inner Compass Initiative

The Withdrawal Project

TWP Connect

Medication Liberation: Laura Delano

Laura Delano: conectando as pessoas através de Inner Compass Initiative e The Withdrawal Project

0

James MooreEsta semana, Laura Delano é a entrevistada. Laura é co-fundadora e diretora executiva de The Inner Compass Initiative (ICI) e do The Withdrawal Project, que visa criar espaços seguros para as pessoas se conectarem e a oportunidade de aprender e ser guiada pelo processo de ir além do sistema de saúde mental e das drogas psiquiátricas.

A paixão que Laura sente pela missão e visão do ICI surge dos quatorze anos gastos por ela perdida no sistema de saúde mental, e igualmente pelo percurso que ela tem feito desde 2010, quando optou por deixar para trás uma identidade de ser alguém ‘mentalmente doente’ e os diversos tratamentos que veio com essa identidade, e como gradualmente começou a redescobrir e a reconectar-se com quem ela realmente é e o que significa sofrer, lutar e ser humano neste mundo.

Laura DelanoDesde que se tornou uma ‘ex-paciente’, Laura tem escrito e falado sobre suas experiências pessoais e sobre as questões sociais e políticas mais amplas que estão no centro da ‘doença mental’ e ‘saúde mental.’ Desde 2011, ela tem trabalhado tanto dentro como para além do sistema de saúde mental.

Na área de Boston, ela trabalhou por quase dois anos para uma grande organização comunitária de saúde mental, apoiando e defendendo os direitos dos indivíduos, em salas de emergência, hospitais psiquiátricos e ambientes institucionais de ‘grupo doméstico’. Depois de deixar de estar ‘dentro’ do sistema de saúde mental, ela começou a dar consultas a pessoas e famílias que procuravam ajuda durante o processo de retirada das drogas psiquiátricas; deixar de tomar drogas psiquiátricas é o maior desafio para quem um dia foi diagnosticado como ‘doente mental’.  Laura também tem dado palestras e workshops na Europa, na América do Norte e mais recentemente no Brasil. Tem organizado grupos de ajuda mútua para pessoas em processo de retirada das drogas psiquiátricas, bem como organizado várias conferências e eventos públicos, como o Mad in America International Film Festival.

Nesta entrevista, tivemos tempo de conversar sobre as experiências pessoais de Laura sobre o sistema de saúde mental e o que a levou a co-fundar a Iniciativa Inner Compass e o Withdrawal Project.

Lembrando que no dia 28 de maio, segunda-feira, Laura estará dando uma palestra no auditório internacional da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/RJ), das 14:00 às 16:00. Haverá transmissão ao vivo.

Neste episódio nós discutimos:

  • As experiências de Laura como paciente no sistema de saúde mental, iniciando o tratamento aos treze anos e deixando o sistema para trás aos 27 anos.
  • Como ela passou a maior parte do tempo sendo uma paciente complacente, tomando os medicamentos e seguindo o conselho de seus médicos.
  • Que, em 2010, ela estava usando 5 medicamentos (Lítio, Abilify, Lamictal, Effexor e Ativan) e passou a última década piorando e incapaz de se envolver com a vida.
  • Como ela chegou a ler Anatomia de uma Epidemia, de Robert Whitaker, o que foi um momento profundo de tomada de consciência.
  • Que Laura decidiu assumir o controle de sua vida e ficou determinada a abandonar as drogas o mais rápido possível.
  • Quão traumático foi tomar consciência de que quase tudo o que lhe havia sido dito durante o tratamento era excessivamente simplista ou incorreto.
  • Que Laura passou a experimentar sentimentos de ser uma vítima da psiquiatria, e percebeu que isso apenas aumentava sua dependência emocional à psiquiatria e que, para se sentir livre, seria necessário ela ir para o além disso.
  • Que essas experiências a deixaram apaixonada pelo seu próprio processo de cura e de redescoberta de si mesma, e a passar a ajudar os outros a encontrar o caminho de volta para si mesmos – depois de haverem sido psiquiatrizados.
  • Ao curar-se, mudou-se para um espaço de aceitação e de gratidão, e sentiu que no período de cerca de três anos, estando fora das drogas, foi quando começou a se sentir realmente viva e motivada novamente.
  • Laura acha que, se quisermos ir além do sistema de saúde mental, devemos ajudar as pessoas a perceberem que não precisam desse sistema, a encontrar alternativas e a criar espaços físicos onde possam se unir os que têm experiências em comum.
  • Como Laura fundou a The Inner Compass Initiative (que em português seria algo como Iniciativa da Bússola Interna) e o The Withdrawal Project (Projeto de Retirada), que visam criar espaços seguros para as pessoas se conectarem e como oportunidade de aprender e ser guiadas pelo processo de ir além do sistema de saúde mental e das drogas psiquiátricas.
  • Que o projeto de abstinência foi destacado em um recente artigo do New York Times, onde a retirada do antidepressivo é discutida.
  • Como ICI e TWP apresentam informações sobre muitos aspectos das drogas psiquiátricas e a sua retirada, para ajudar a orientar e informar as pessoas que querem começar a jornada fora de suas drogas psiquiátricas e longe do sistema de saúde mental.
  • O TWP Connect é uma plataforma de rede gratuita de mútua ajuda, que permite que as pessoas que tenham experiências semelhantes se conectem umas com as outras.
  • Como um sistema semelhante de mútua ajuda está disponível no ICI, para permitir conversas sobre ir além do sistema de saúde mental.
  • Que Laura quer encorajar as pessoas a não desistirem, porque podemos nos curarmos das drogas psiquiátricas e que precisamos espalhar essa mensagem por toda parte.
  • A necessidade de aprender e desaprender, quando nos aproximamos de como recuperamos nosso poder e o controle de nossas vidas após o tratamento psiquiátrico.
  • Quão importante é se preparar adequadamente antes de começar a reduzir as drogas psiquiátricas, e como o Projeto de Retirada (Withdrawal Project) pode permitir essa preparação.
  • O ‘paradoxo da velocidade’ quando se trata de drogas psiquiátricas.
  • Como as pessoas podem descobrir mais sobre a Iniciativa Inner Compass e o The Withdrawal Project.
  • Que Laura está empenhada em apoiar as iniciativas da comunidade local para que comecem esse processo.

Links Importantes:

The Inner Compass Initiative

The Withdrawal Project

TWP Connect

Learn about psychiatric drug withdrawal

Inner Compass Initiative’s The Withdrawal Project Gets Mention in The New York Times—Is the Tide Finally Turning?

The New York Times – Many People Taking Antidepressants Discover They Cannot Quit

Read more about Laura’s journey into and out of the mental health system

Laura’s presentation in Alaska, 2015

Anatomia de uma Epidemia, 2017

Noticias

Blogues