Tempo para uma mudança de paradigma nas intervenções de psicologia escolar

Por que processos ineficazes de classificação e intervenção persistem na psicologia escolar e quais as alternativas?

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SadieEm uma recente análise publicada no Fórum de Psicologia Escolar da Associação Nacional de Psicólogos Escolares, Amanda VanDerHeyden aborda padrões de práticas ultrapassadas no campo da psicologia escolar, apesar do aumento de alternativas efetivas, viáveis e baseadas em evidências. Primeiro examinando a categoria de classificação de incapacidade de aprendizagem específica (SLD), através de uma lente crítica, e depois considerando práticas comuns sem apoio empírico, VanDerHeyden pede mudanças dentro do sistema de educação dos EUA.

Psicologia Escolar
Photo Credit: Flickr

VanDerHeyden, que trabalhou como pesquisadora, consultora e instrutora em vários distritos escolares, e é editora associado da School Psychology Review, expõe a lacuna problemática entre o conhecimento adquirido com a avaliação dos alunos e as formas de apoio aos alunos. Ela também chama a atenção para os riscos potenciais associados à atribuição de rótulos na ausência de instrução e serviço de qualidade em todas as escolas. Em muitos casos, intervenções consideradas eficazes em amostras pequenas e homogêneas de estudantes são generalizadas para apoiar diversas populações, e é necessária uma maior atenção aos efeitos e à adequação das intervenções para melhorar as experiências dos alunos nas escolas.

De acordo com VanDerHeyden, a classificação ‘incapacidade de aprendizagem específica’ (SLD) foi designada, desde a sua origem na década de 1970, como uma categoria para incluir uma variedade de alunos com diferentes tipos de atrasos de desempenho. Quando um aluno demonstra dificuldade de leitura ou com matemática, e deixa de se encaixar perfeitamente em uma outra categoria de classificação, não é incomum que o aluno receba um rótulo de SLD. Apesar das preocupações em torno da validade da classificação SLD, e questões sobre até que ponto ela representa déficits de desempenho dos alunos versus déficits de instrução e fraquezas da escola, ela é aplicada liberalmente em nível nacional.

“Diagnósticos de SLD dispararam, mesmo quando estudos científicos após estudos científicos que têm surgido sublinhem as falhas fundamentais no construto e os resultados pobres para os alunos que receberam o rótulo SLD”, escreve VanDerHeyden.

Nos últimos anos, assistiu-se a um movimento no sentido da adoção de sistemas de apoio multicamadas (MTSS), caracterizados por um aumento de iniciativas acadêmicas e socioemocionais em todas as escolas, em oposição a planos de apoio individualizado e de classificação. A melhoria geral da qualidade do ensino e o apoio comportamental reduzem os padrões de classificação excessiva.

No entanto, apesar do enorme apoio empírico para a resposta à intervenção (RtI), ao MTSS e à prática de avaliar e responder aos pontos fortes e fracos dos alunos em vez de se ficar buscando déficits inatos, muitos psicólogos escolares se apegam a rótulos e intervenções ultrapassadas. Em alguns Estados, a avaliação cognitiva tem sido excluída do uso para determinações de incapacidades, mas essa abordagem é usada em abundância em outras.

 “Psicólogos escolares estão otimistas de que seus esforços podem funcionar, e otimismo é útil, porém continuando a esperar que um tratamento com poucas evidências venha a funcionar não passa de um hábito que sai caro e diminui a eficácia geral da psicologia escolar como profissão”, ela escreve. “Esse hábito está infiltrado em nossos programas de treinamento, e os estudantes são formados sendo treinados para conduzir práticas que são de pouco ou nenhum valor demonstrável para as crianças.”

A principal explicação de VanDerHeyden para a implementação contínua de programas desatualizados de psicólogos escolares não é que os apoios escolares viáveis e baseados em evidências não estejam disponíveis, mas sim “porque eles foram treinados para fazer isso”. Universidades e cursos de treinamentos não alcançaram a esmagadora maioria das pesquisas que desafiam os modelos tradicionais de classificação e intervenção.

O melhor e mais eficiente suporte para o maior número de alunos é realizado por meio de ajustes nos ambientes de aprendizado social e acadêmico, em vez de características individuais dos alunos. VanDerHeyden sugere que os psicólogos da escola devem:

  • Chegar junto
  • Conhecer a combinação certa dos ingredientes para facilitar as condições corretas que possam garantir uma intervenção eficaz
  • Saber como empregar (ou treinar outros para implementar) intervenções baseadas em evidências
  • Saber como sustentar uma intervenção até que os efeitos sejam significativos e duradouros

Como pode ser extraordinariamente  penoso para professores e psicólogos recém-formados ingressarem em sistemas escolares complexos e disfuncionais e informar mudanças significativas, muitos dos candidatos mais bem treinados procuram emprego em escolas que já são de alto desempenho. O primeiro componente acima apresentado  é fundamental, porque em muitas escolas que estão prontas para uma mudança de paradigma psicólogos qualificados não estão aparecendo.  Alunos vulneráveis à exposição a taxas mais altas de instrução inadequada, conflito e violência, tumulto social e emocional e trauma podem estar mais propensos a ser rotulados ou receber diagnósticos, mas não menos propensos a receber acomodações de apoio que teriam sido de outra forma devidos a padrões desatualizados na prática.

Variações significativas na capacidade do professor em se adaptar às necessidades dos alunos contribuem para a importância da gestão da qualidade em relação à prática social, emocional e de ensino, e os psicólogos escolares estão em uma posição única para atender à necessidade de uma melhor gestão. No entanto, se o treinamento é discrepante com a pesquisa atual, focando em intervenções para indivíduos e grupos pequenos, e se psicólogos escolares talentosos não estão pensando em casar com pesquisa e prática, as escolas continuarão a se apegar a métodos obsoletos apenas porque é isso que foi feito no passado.

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VanDerHeyden, A. (2018). Why Do School Psychologists Cling to Ineffective Practices? Let’s Do What Works. School Psychology Forum, 12(1), 44-52. (Link)