Pesquisador desafia a eficácia clínica dos antidepressivos

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Peter SimonsEm um novo artigo, Michael P. Hengartner, psicólogo clínico da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, escreve que os antidepressivos são “amplamente ineficazes em todo o espectro de gravidade”. O artigo, publicado on-line antes da publicação no BMJ Evidence-Based Medicine, aborda as más interpretações comuns da pesquisa de eficácia sobre medicamentos antidepressivos.

Hengartner observa que um grande estudo recente reivindicou ter encontrado que os antidepressivos são medicamentos eficazes para a depressão, com efeitos similares, independentemente da gravidade dos sintomas de depressão. Estas conclusões foram amplamente relatadas nos meios de comunicação de massa como evidência de que os antidepressivos “funcionam”. No entanto, outros pesquisadores criticaram as conclusões deste estudo.

“Obviamente, comentaristas e autores querem disseminar a mensagem de que os antidepressivos são um tratamento eficaz para a depressão leve a moderada e que as diretrizes práticas devem incorporar essas descobertas”, escreve Hengartner. “No entanto, nem o artigo original nem o editorial fornecem, de fato, evidências de que as drogas são clinicamente eficazes para qualquer forma de depressão.”

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Nestes estudos recentes, os efeitos dos antidepressivos são de fato similares, seja no tratamento de depressão leve, moderada ou grave; no entanto, o efeito em si é incrivelmente pequeno e não é clinicamente significativo. De fato, os pesquisadores relatam uma diferença entre placebo droga de 1,6 pontos no HRSD de 52 pontos (escala para medir a gravidade da depressão). Ou seja, em média, as pessoas que tomam o remédio não melhoraram 2 pontos a mais do que as que tomam uma pílula falsa.

“De fato”, escreve Hengartner, “o que as descobertas deles e as relacionadas revelam é que os antidepressivos são amplamente ineficazes em todo o espectro de gravidade, porque uma diferença de 1,6 ponto entre o placebo e o medicamento é um efeito insignificante”.

A “resposta clínica tem sido definida na literature de pesquisa como uma melhora entre 10 e 12 pontos, e estudos prévios têm focalizado que os clínicos são incapazes de até mesmo detectar uma melhora de 7 pontos no HRSD.

Outro estudo publicado este ano por Hengartner, com Jules Angst e Wulf Rossler, descobriu que, após 30 anos, as pessoas que tomaram antidepressivos tiveram piora dos sintomas ao longo do tempo. O achado permaneceu o mesmo após o controle de múltiplas variáveis de confusão, incluindo a gravidade da depressão. Ou seja, as pessoas com o mesmo nível de diagnóstico de depressão se saíram melhor se não estivessem tomando antidepressivos.

Um recente artigo publicado no Mad in Brasil abordou esse estudo no contexto da pesquisa, mostrando resultados piores, pesquisas tendenciosas e a carga de efeitos colaterais que acompanha o uso de antidepressivos. Mad in Brasil também publicou uma  entrevista com Hengartner, na qual ele explicou com mais detalhes seu estudo sobre os efeitos a longo prazo dos antidepressivos.

“Em vez de pedir mais prescrições de medicamentos, sugiro que os pesquisadores examinem se os antidepressivos funcionam para qualquer forma de depressão de maneira clinicamente significativa, equilibrando riscos e benefícios”.

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Hengartner, M. P. (2018). What is the threshold for a clinical minimally important drug effect? BMJ Evidence-Based Medicine, Epub ahead of print: [7 Sept, 2018]. doi:10.1136/ bmjebm-2018-111056 (Link)

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Peter Simons MIA-UMB News Team: Peter Simons tem formação em ciências humanas onde estudou inglês, filosofia e arte. Agora está em seu doutorado em Psicologia de Aconselhamento, sua pesquisa recente tem se concentrado em conflitos de interesse na literatura de pesquisa psicofarmacêutica, o uso de medicamentos antipsicóticos no tratamento da depressão, e as implicações filosóficas e sociopolíticas gerais da taxonomia psiquiátrica no diagnóstico e tratamento.